sexta-feira, 31 de agosto de 2012

"VIOLETAS PARA VIOLETA"


Violetas para Violeta...
Muito interressante é o resultadode uma cinebiografia quando a biografado já de antemão se mostra maior que qualquer material que vai tentar decifra-lo ou desvendá-lo. Assim é em “Violeta se Fue a los Cielos” (Vileta foi para o céu) do Chile. O filme de Andrés Wood, do interressante "Machuca" narra de formar não linear a a vida da cantora Violeta Parra e tras na bagagem o Grande Prêmio do Júri Internacional no Sundance Film Festival 2012. Viloleta Parra, foi uma mulher a frente de seu tempo. De temperamento dificil, com um engajamento natural pra politica sem ser "politica", fez de sua vida e sua obra uma espécie de grito contra o conformismo latino. Dela conhecemos pelo menos muito bem duas composições, "Gracias a la vida" que foi gravada por Elis Regina e "Volver a los 17", cantada por Milton Nascimento e Mercedes Sosa, sua maior divulgadora. No filme, a infancia de Violeta de mostrada e falsh-back, onde o diretor subverte o roteiro e a montagem numa desconstrução da narrativa clássica cronológica e com o tradicional começo, meio e fim. Wood faz, sim, um filme organicamente cronológico e com começo, meio e fim, mas despedaçado e unido pela fragmentação dos eventos e, principalmente, da narrativa. Tudo mostrado com as andaças de Parra pelo mundo, que de forma muito natural é levada pela força de suas composições a ser reconhecida no mundo inteiro, principalmente pelo momento vivido na America Latina com a subida da esquerda puxada por Fidel e Che Guevarra. A interpretação da atriz Francisca Gavilán, é forte e imprimi densidade dramática a esta mulher, que repetimos, fez politica como ordem natural dos oprimidos. Cantora, compositora, ceramista, tapaceira, folclorista e artista plástica foram algumas das profissões de Violeta del Carmen Sandoval (1917-1967), a chilena Violeta Parra. Mas, ainda assim, esse conjunto de artes seria ínfimo para definir uma das mulheres mais brilhantes da história das nações ao sul da América. Daí, acrescente-se que foi ela a fundadora da música popular do Chile. Filha de camponeses – o pai professor de música e a mãe guitarrista e cantora -,Violeta nasceu e conviveu com a miséria, superou as tragédias familiares e através das artes aprendeu a amar o seu país com um fervor tão nacionalista quanto anti-estadunidense, não aceitando e rejeitando com veemência o sistema capitalista. O filme é forte e fundamental quando se discute o papel da arte como objeto de transformações e lutas. Corra ! (Ismaelino Pinto)

"PAVOR NOS BASTIDORES"DE HITCHCOCK NA SESSÃO CULT DIA 01/09/12


Morte no palco
Marlene Dietrich ilumina “Pavor nos Bastidores”,filme que encerra o ciclo em homenagem à Hitchcock O público que frequenta o Cine Líbero Luxardo pediu e a Associação de Críticos de Cinema do Pará resolveu programar mais um filme de Alfred Hitchcock para a sessão Cult. Durante o mês de agosto, um ciclo em homenagem ao mestre do suspense ocupou diversos espaços da cidade exibindo “Suspeita”, “Tortura do Silêncio” e “Assassinato!”. Neste sábado, a obra escolhida data de 1950 e conta com ninguém mais do que Marlene Dietrich no papel principal: a diva é envolta numa trama ardilosa em “Pavor nos Bastidores”. Ela é Charlotte Inwood, estrela dos palcos que fica viúva misteriosamente. A suspeita acabando recaindo sob o seu amante, Jonathan (Richard Todd) e a amiga dele, a estudante de teatro Eve Gill (Jane Wyman), começa a ir atrás de evidências que ajudem a inocentá-lo.
A história se assemelha um pouco com a de “Assassinato!”, filme que ‘Hitch’dirigiu em 1930 onde um ator tem que buscar argumentos para defender a amiga atriz da acusação de ter cometido um crime. Aqui também se busca responder a pergunta ‘quem matou?’ sendo que, nesse caso, as intrigas são melhores arquitetadas. Jonathan tem certeza de que Charlotte é a assassina. Porém, há muito mais nas feições de Dietrich - uma das grandes estrelas da história do cinema -, do que as câmeras podem capturar. Sedutoramente ela vai contribuindo para que o cerco se feche em torno do amante, com revelações que o deixam numa situação complicada. Dietrich veste lindos figurinos de Dior enquanto se desvencilha da culpa, seduz o ex-amante e consegue fascinar até Eve. Mesmo com as maquinações, não é possível afirmar que ela matou o marido. Afinal, no mundo de Alfred Hitchcock, os teatros são bem mais perigosos do que aparentam, os personagens nunca são o que parecem ser e a última cortina pode cair a qualquer momento. Essa tradição um tanto perversa da dramaturgia, impera no clima de“Pavor nos Bastidores”. Com um humor negro bem colocado em algumas cenas carregadas de ‘Hitch’, o filme contem doses de suspense e ação na mesma medida, apoiado pela engenhosidade do cineasta, que transforma um teatro em um palco de morte com brilhantismo. O elenco que tem grandes atores britânicos como Alastair Sim, Sybil Thorndike, Joyce Grenfell e Kay Walsh – além da própria filha do diretor, Patricia Hitchcock interpretando papeis de relevância na trama. Hitchcock, que se vivo estivesse teria completado 113 anos, merece ser reverenciado por gerações não apenas por ter estabelecido as regras para um gênero cinematográfico, mas pela habilidade em tornar o cinema aprazível para uma gama maior do público, sem ofender a inteligência jamais. Por isso e por tantas outras razões é que a ACCPA prestou a homenagem a esse cineasta que recentemente teve o seu "Um Corpo que Cai" alçado ao primeiro posto da lista de melhores filmes de todos os tempos produzida pela revista britânica Sight and Sound.

SERVIÇO
Sessão Cult apresenta “Pavor nos Bastidores”, de Alfred Hitchcock.
Neste sábado, 01, às 16h, no Cine Líbero Luxardo - Centur (Av. Gentil Bittencourt, 650). Entrada franca. Após o filme, debate entre o público e membros da Associação de Críticos de Cinema do Pará.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

"PONTO DE MUTAÇÃO" NO CINE SARAIVA DIA 30/08

Um passeio pelo pensamento humano “Ponto de Mutação”, instigante filme baseado em obra de Fritjof Capra, na sessão ACCPA/APC da Saraiva Uma discussão moral, política, filosófica que acaba encontrando seu ponto definitivo no debate sobre a complexa Teoria dos Sistemas. Esse é o cerne de “Ponto de Mutação”, de Bernt Amadeus Capra. Adaptação da obra The Turning Point, do físico Fritjof Capra (pai do cineasta), o filme será exibido nesta quinta-feira, na Livraria Saraiva, na sessão que é realizada pela Associação de Críticos de Cinema do Pará e pela Academia Paraense de Ciências. Fritjof Capra tornou-se mundialmente famoso graças ao “Tao da Física”, onde faz um paralelo entra a física moderna e as filosofias orientais, buscando pontos de contato entre as abordagens da realidade de cada lado. Esse tema, essa busca por um entendimento do todo que é a base do pensamento sistêmico, está condensada em “Ponto de Mutação”. Totalmente fiel a visão do pai, ele concentra-se no encontro entre Jack Edwards (Sam Waterston), um político, Thomas Harriman (John Heard), um poeta e Sonia Hoffman (Liv Ullmann), uma cientista, na cidade francesa de Saint Michel. Durante uma visita turística a um prédio medieval, eles vão mostrando suas ideias. Antes, Jack e Thomas discutiram questões políticas, profissionais e existenciais. Com Sonia a conversa se expande e incorpora questões científicas. Ela é o contraponto a linha de raciocínio vigente. Ao longo de uma caminhada pelas edificações medievais e pelo ambiente natural da ilha, Bernt vai tornando o que já é didático mais palatável, fazendo os personagens exporem o pensamento humano desde René Descartes, passando pelo pensamento mecanicista, até aos dias de hoje, já com o paradigma cientifico plenamente identificado com a Física Atómica ou Quântica. No livro, Capra defende que todo ponto de mutação consiste na passagem do velho para o novo, no renovar o já envelhecido. E é um duelo sobre a forma que cada um tem de perceber o mundo que se constrói no filme, entre os três. O cineasta, para além de apimentar o filme com conhecimentos de física "de ponta", aprimora mais os seus argumentos associando conceitos sociais desta nova era ‘holística’. O argumento se fortalece em torno da ideia da vida como um só organismo vivo, o Campo Unificado. “Ponto de Mutação” investiga as implicações e impactos do que tomava a forma de uma mudança de paradigmas, com seu ponto de partida na observação de que os principais problemas visíveis do século passado - ameaça nuclear, destruição do meio ambiente, desigualdades e exploração gritante entre o hemisfério norte e o hemisfério sul. Esses são todos sintomas ou aspectos diversos do que, no fundo, não passa de uma única crise fundamental, que é uma crise de percepção. Um grande empecilho para a humanidade e que só a revolução através da física pode superar.

SERVIÇO
 Sessão ACCPA/APC apresenta “Ponto de Mutação”, de Bernt Capra.
Nesta quinta, 30, às 17h, no espaço Benedito Nunes da Livraria Saraiva (Boulevard Shopping, 2º piso).
Entrada Franca. Após o filme, debate entre o público e membros da Associação de Críticos de Cinema do Pará e da Academia Paraense de Ciências.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

'O ESPELHO" NO CC ALEXANDRINO MOREIRA DIA 03/09/12

"O ESPELHO"
Título Original: Zerkalo
Ano de Produção:1975
Direção: Andrei Tarkovsky
Roteiro: Aleksandr Misharin,Andrei Tarkovsky.
Sinopse : “O Espelho” é o filme mais autobiográfico filme do diretor Andrei Tarkovsky (autor de “Solaris”, "O Sacríficio" e “Andrei Rublev”) onde o personagem principal, o garoto Alexéi, vive os mesmos problemas, alegrias e dificuldades que o diretor passou. O filme é um estudo da vida espiritual do homem contemporâneo, suas buscas e resoluções e recentemente foi eleito um dos maiores filmes da história do cinema.Após o filme, debate entre o público presente e críticos da ACCPA.
SESSÃO ACCPA/IAP
CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA
"O ESPELHO"
(AUDITÓRIO DO IAP - INSTITUTO DE ARTES DO PARÁ)
SEGUNDA-FEIRA DIA 03/09/12
HORÁRIO : 19H
ENTRADA FRANCA
APOIO : ACCPA (ASSOCIAÇÃO DOS CRÍTICOS DE CINEMA DO PARÁ)

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

"OS GRAUS DA VIDA EM MOVIMENTO"

Em 1950, o diretor alemão radicado na França, Max Ophuls (“Carta de uma Desconhecida”, 1948 etc.), dirigiu “La Ronde” (“Conflitos de Amor”), com base em uma peça homônima (de 1857) do escritor austríaco Arthur Schnitzler. Em 97 minutos, eram contadas várias histórias sobre casos amorosos na vivência interligada de personagens do início do século. A montagem da narrativa se acerca de um carrossel, sendo movido por um narrador ou corifeu que manobrava o objeto mostrando os pares em ação, interrompendo e comentando os romances conforme sua própria escolha. Construiam-se, então, vários episódios conectados entre sí a partir das sequências desenroladas das histórias. O corifeu era o ator Anton Walbrook e o elenco all star revelava-se grandioso concorrendo Danielle Darrieux, Simone Signoret, Serge Reggiani Gérad Philipe entre tantos outros. O filme recebeu o BAFTA de melhor filme em 1952. É considerado um clássico. Com base na mesma história, o brasileiro Fernando Meirelles dirigiu “360” (Brasil, Austria, UK, França, 2012) onde aproxima, contemporaneamente, os episódios, dividindo a narrativa em nove histórias vividas por onze pessoas comuns que em determinado momento definem suas próprias vidas, sendo captadas entre quatro países e seis linguas faladas. São histórias transversalizadas com protagonismo integrado de todos, sem fixação em um só personagem, mesmo que se tenha na conta nomes de atores como o de Jude Law, Anthony Hopkins, Rachel Weisz, os mais conhecidos, além dos brasileiros Maria Flor e Juliano Cazarré. Inicia-se sem a roda gigante, mas em um episódio marcante que é a decisão de uma jovem em busca de uma profissão, no caso, usando seus pendores de beleza para chamar clientes sobre esses dotes, transformando-se em prostituta chamada Blanka, expondo-se em um site na internet, contando com um “cafetão” que extrai o dinheiro das vítimas. Nesse quadro, um tipo profissional se desloca do século XIX para os dias atuais, como se vê, e se entrelaça no cotidiano urbano e internacional. Mostram-se então: traições em perspectiva (Jude Law é o primeiro contratante da prostituta, apesar de jurar amor eterno à esposa); traições em processo (a esposa de Law, Raquel Weisz, transando com o brasileiro Cazarré, o Rui); expectativas de fidelidade (Maria Flor ou Laura, desencantada com o noivo Rui com quem viera para Londres e descobrindo que o mesmo estava traindo-a); buscas de mudanças (Hopkins a procura da filha que se indispôs com ele e há mais de 20 anos desaparecera; Maria Flor que retorna ao Brasil e se encontra, no avião, com Hopkins, e com um condenado por estupro, Tyler, que tenta se redimir); redefinição de posições sociais (o motorista russo que se cansa de ser chamado de cachorro, pelo patrão, e a irmã de Blanka que também vê, na encruzilhada entre a espera da irmã e o convite de fuga do russo, uma nova vida); e, ainda, o desencanto com o amor ( Valentina, esposa do motorista russo - mais fiel ao chefe do que a ela, ama o patrão mulçumano que a descarta por seus principios religiosos); recomeços (Valentina se apresenta no endereço do fotógrafo para uma pose sensual em vista da nova profissão a assumir, a de Blanka, que se vê rica de repente saindo de cena). Disseram que “360” tratava sobre traições amorosas, mas, embora transversalizando alguns casos desses, o que se vê como proposta de Fernando Meirelles e seu roteirista de outros filmes, Peter Morgan , é o olhar sobre a vida cotidiana atual que se desloca de um lado a outro compondo episódios que se tornam, muitas vezes, mudanças das trajetórias dos personagens. Mas não deixam de ser ficções. Este vai-e-vem no tempo e no espaço define o nome do filme: 360 graus, ou a volta completa em torno de alguma coisa, no caso, do amor. O diretor de fotografia Adriano Goldman, nos dá excelente exposição de imagens e o montador, Daniel Rezende, tem um trabalho exemplar na criação das sensações e circunstâncias que promovem as ações humanas. No final, o espectador conserva o resultado de situações que passaram num tempo e em vários espaços, onde sempre ocorrem: momentos de encantamento da vida. Ruins ou bons são peças de decisões das pessoas. Meirelles é um senhor diretor. Palmas pra ele.(Luzia Álvares)

"360"

“360” é um La Ronde modernoso e longe da classe e malicia que pariu o filme de Max Ophuls. Lembro que ao ver o filme no antigo cinema Moderno estava o amigo e professor Francisco Paulo Mendes que voltou no meu ônibus elogiando o que viu. Era a belle époque dissecada pelo escritor Arthur Schnitzier e pela classe do ator Anton Walbrook que no prólogo vestia casaca e dizia “-Vocês já devem ter adivinhando que vamos tratar de amor”.E ao girar um carrossel cantava “Tourne, tourne, mes personages/la Terre tourne en jour et en nuit...” No filme de Fernando Meirelles,a ronda é dos espertos. Diz uma figura: “-A gente deve aproveitar a oportunidade que a vida oferece”. Uma prostituta apanha, mas aproveita da morte do cliente e do cafetão para fugir com mala cheia de euros.A irmã dela conhece o leão de chácara do cliente da mana, revoltado por ser capacho do patrão, e sai com ele mundo afora. Uma garota brasileira quase é vitima de um maluco sexual e conhece um senhor que procura a filha desaparecida. Um muçulmano perde a mulher que lhe inspirava paixão. Enfim, vários tipos, vários países, várias situações e pouco humor. Uma virada (360 graus) que chega a cansar. Olhei o relógio. Não olhei vendo o “comercial” de um psicólogo em “Um Divã Para Dois”, ou “Esperada Primavera”(Hope Spring) onde Meryl Streep pouco chora (é raro) e Tommy Lee Jones não desamarra a cara. Pelo menos os dois divertem como casados em jejum de amor. No vídeo, “Amizades Particulares”prova que Jean Dellanoy sabia fazer cinema acessível a todos – fato que irritava a turma da “nouvelle vague”. E em bluray “Naufrago”é um prazer. Gosto muito do filme de Robert Zemeckis.(Pedro Veriano)

"O DITADOR"

A comédia de Sacha Baron Cohen lembra a de Olsen & Johnson(com direção de H.C.Potter) exemplificada em “Pandemônio”(Hellzapoppin/1941). A diferença reside na liberdade de expressão. Os comediantes antigos não podiam nem mesmo dizer “merda”. Cohen deixa neste seu novo filme, “O Ditador”(The Ditactor) uma sequencia em que o herói faz um parto e espalha tudo o que daria infarto no Sr, Hayes o autor do Código de Produção que vetava até mesmo mulher grávida e cama de casal. Mas a anarquia do cômico inglês judeu que vende a imagem de árabe antissemita volta a perder unidade, como nos seus filmes anteriores . Apesar de agora haver uma história com principio meio e fim, isto não implica numa linha narrativa que endosse as piadas do ditador guinado a cidadão americano comum. Falta coesão de situações no argumento e sobram excessos no roteiro. Tudo bem que “Pandemônio” sofria do mesmo mal. Mas de propósito. O clássico de Olsen & Johnson é metacinema o tempo todo. Lembro do momento hilariante em que o projecionista troca as partes do filme e entra numa sala de baile a cavalaria de faroeste. A anarquia em “O Ditador” fica na fase do funcionário de loja que joga inadvertidamente a lata de lixo em cinema de um carro que passa e mete o pé na bunda de um garoto que lhe faz uma afronta (lembrança de W.C.Fields). Na verdade “O Ditador” só traz de novo os termos chulos dos diálogos e a citada sequencia do parto. Um leve aceno a critica política está no discurso do personagem principal sobre democracia, aludindo a males que atacam os países ditos democráticos. Mas nada impede um “happy end” bem tradicional que no caso é uma excrescência.(Pedro Veriano)

"PONTO DE MUTAÇÃO"


“Ponto de Mutação” Ponto de Mutação (Mindwalk, EUA, 1990), dirigido por Bernt Capra, tem roteiro de Floyd Byars e Fritjof Capra, baseado no livro Ponto de Mutação (The Turning Point), de Fritjof Capra; a história para o cinema foi escrita pelo próprio diretor. Jack Edwards (Sam Waterston), um ex-candidato à presidência dos EUA, Thomas Harriman (John Heard), poeta em crise de meia idade e Sonia Hoffman (Liv Ullmann), uma cientista que se acha em recesso, afastada das atividades por decepção com o uso bélico de seu trabalho, encontram-se na cidade de Saint Michel, na França, aonde Thomas mora. O encontro entre os três se dá durante uma visita turística a um prédio medieval, na sala onde ainda está em funcionamento um enorme relógio mecânico, com grandes engrenagens e um pêndulo, ocupando parte do compartimento. Antes, Jack e Thomas discutiram questões políticas, profissionais e existenciais. Com Sonia a conversa se expande e incorpora questões científicas, com Descartes, com a seguinte afirmação de Sonia: “- Bem, ele [Descartes] foi o primeiro arquiteto da visão do mundo como relógio, uma visão mecanicista que ainda domina a maior parte do mundo e, especialmente, para mim, vocês políticos.” Ao longo de uma caminhada pelas edificações medievais e pelo ambiente natural da ilha, a conversa vai do mundo mecanizado, mecanicista, mecânico firmado inicialmente, até chegar à Teoria dos Sistemas (System Theory, The Theory of Living Systems) que, segundo Sonia “coloca todas as idéias ecológicas [...] numa estrutura científica coesa e coerente. [...] Todos os seres vivos bem como os sistemas sociais e os ecossistemas. [...]” O filme torna-se fluente porque envolve significativamente a realidade dos personagens e traz à tona, além de questões científicas, políticas, filosóficas e ecológicas, os sentimentos, as frustrações, as expectativas de cada um, enfim, a vida. Sonia, na verdade, acha que Descartes “foi uma dádiva divina para o século XVII, mas os tempos mudaram.” Ela exemplifica inicialmente com a evolução do próprio relógio, e em seguida apresenta o problema da superpopulação. Fala das crianças que morrem no mundo de desnutrição e de doenças evitáveis. Argumenta que tal situação é “parte de um sistema maior, que envolve a economia, o meio ambiente e, sobretudo, a grande dívida do terceiro mundo” e que “o fardo dos empréstimos frenéticos não recai sobre quem tem contas no estrangeiro ou empresas, mas, sim, sobre os que não têm nada.” A reflexão sobre este tema é contundente e passa pela destruição da floresta. E toca-se fogo na floresta. E vem o efeito estufa enquanto se gasta na corrida armamentista. O que há é uma crise de percepção. Sonia diz que Francis Bacon julgou bruxas no reinado de Jaime I e fala mais contra o cientista: “[...] Bacon usou metáforas ao escrever que a natureza devia ser caçada, posta para trabalhar, escravizada. [...] Notou como ele se refere à Mãe Natureza como mulher? Como se ela não passasse de uma bruxa?” Sonia é contundente na continuação do raciocínio: “- Mas a ciência moderna, a tecnologia, os negócios não fizeram o que Bacon sugeriu, torturar o planeta? Não é a velha idéia patriarcal do homem dominando tudo?” Thomas, por ele próprio considerado um marido fracassado, um poeta faminto e um mau professor, reage em relação à idéia patriarcal defendida por Sonia e com exemplos afirma que “patriarcal” é o mal nas mulheres e nos homens. Sonia rebate o poeta com veemência falando de dois princípios em todo ser vivo, o masculino, agressivo e o feminino, gentil. Sonia, chega a ficar furiosa: “- Estou dizendo que tais princípios costumavam estar equilibrados e agora o homem, sim, o homem, criou ferramentas e armas físicas e intelectuais para desequilibrá-los totalmente. Demos ferramentas mecanizadas a pessoas sedentas de poder! Estou dizendo que vocês homens perderam o controle! [...]” Sonia insere Newton em suas considerações: “- Descartes tinha um sonho. Foi Isaac Newton que o concretizou, que o transformou em teoria científica, em poder. [...] Era um feito tão incrível para a época, que as Leis de Newton logo foram adotadas como a teoria correta da realidade, as leis finais da natureza. [...] Sonia fala da natureza da luz e para isso descreve a composição da matéria. Ela a esmiúça em detalhes. Julius Robert Oppenheimer, o físico americano que dirigiu o Projeto Manhattan para o desenvolvimento da bomba atômica, Harry S. Truman, o presidente dos EUA que ordenou o lançamento das bombas em Hiroshima e Nagasaki entram nos diálogos de Sonia. Afinal, quem é responsável pela destruição causada pela aplicação dos conhecimentos científicos? Qual a responsabilidade do cientista? Após citar trechos de Pablo Neruda, Thomas indaga: “- E as outras pessoas em seu sistema Sonia? As que você ama. E esses turistas aos quais nos achamos tão superiores, também não são como peixes presos dentro do vento? Talvez seja pior para eles, pois não tem como descrever isto. Diga-me, onde é o nosso lugar lá dentro, o das pessoas reais, com suas qualidades, desejos, fraquezas? [...].” Ponto de Mutação não é uma aula e nem uma palestra filmadas, é de fato um filme de bom cinema, é para ser visto e revisto por cientistas, por políticos e por poetas, por todos nós seres reais neste mundo tornado tão complexo pela ação de todos nós.(Arnaldo Prado Junior)

*O filme “Ponto de Mutação” será exibido dia 30/08 no Cine Saraiva (Livraria Saraiva) às 17h.

"FEBRE DO RATO"


“Febre do Rato” de Cláudio Assis.
Quando vejo um filme de Cláudio Assis, sempre saio do cinema com a impressão de que o cinema brasileiro precisa de diretores que sejam polêmicos, atrevidos e desafiadores. Não gosto de todos os filmes de Assis mais vejo no seu cinema algo particular, algo autoral que somente ele poderia fazer hoje no cinema brasileiro. Posso discordar do cinema de Assis, mas ele sempre se joga, se e se revela em seus trabalhos. Dessa forma ele é, deseja ser, será, um diretor autoral por mais que seu cinema não seja apreciado pela maioria. “Amarelo Manga” e “Baixio das Bestas” são dois trabalhos fortes, reais e que mostraram as intenções deste pernambucano com o chamado novo cinema brasileiro. Mas é com “Febre do Rato” que ele se define e se completa até agora. Febre do Rato é uma expressa popular de Recife que revela quando alguém está fora de controle, está “danado”. “Febre do Rato” é um filme sem controle, danado, que mistura realismo, poesia, personagens à beira do fim e do começo, inconformados com tudo e com todos. É um filme anarquista, graças à Deus, que promove a loucura através da arte para se chegar à qualquer lugar. E tenha certeza que qualquer lugar é muito para os personagens deste filme. Assis não faz concessões. Não quer que o espectador se identifique com seus personagens mais sim, que saiba que eles existem aqui fora e de alguma forma, também dentro de cada um de nós. Sexo e poesia, loucura e liberdade, certo(?) e errado (?). Uma nova forma de vida, de viver, de se relacionar com a vida. É isto que Assis indica em “Febre do Rato”. Cabe ao espectador acompanhar ou não esta jornada proposta por este diretor que merece total atenção de quem gosta de cinema. Destaque mais do que especial para a delirante fotografia em preto e branco de Walter Carvalho.(Marco Antonio Moreira)

"SHAME"


“Shame” de Steve McQueen.
Novo mundo, novas tecnologia, novos comportamentos, mesmo drama. O ser humano continua em busca de respostas. Os grandes cineastas sabem disso e refletem em seus trabalhos estas perguntas. O diretor Steve cQueen captou em “Shame” um drama humano típico deste início do século. Um homem obcecado por sexo, vaga pela cidade em busca de algo que não sabe, não compreende. Suas emoções são profundas mais ele prefere ficar na superfície, na sua superfície, usando o sexo como uma fuga para outra realidade, que quando termina, só aumenta sua instrospecção e dúvidas sobre quem é e quem quer ser. Sua relação com a irmã é a única coisa real na sua vida. Mas ele não sabe lidar com os sentimentos que tem por ela. Será paixão, sexo? Ou é mais uma fuga para não pensar em quem é?Mcqueen é um dos bons diretores do cinema do momento. “Hunger”, realizado em 2008, é sensacional, revelando um cineasta que usa a linguagem do cinema diretamente conectada com as intenções da sua história, do seu contexto. Polêmico, talvez até atrevido demais para alguns espectadores, “Shame” provoca e incomoda. E para mim, isto é um bom começo. Destaque especial para a atuação de Michael Fassbander, simplesmente genial. Veja sem falta. (Marco Antonio Moreira)

"BATMAN"


"Batman : O Cavaleiro das Trevas Ressurge” de Christopher Nolan.
Quando o diretor Christopher Nolan (Amnésia/Insônia) foi chamado para fazer uma nova trilogia do personagem Batman para o cinema, acreditei que ele faria um bom trabalho. Sendo um dos autores do roteiro dos filmes, Nolan soube resgatar o mistério, a dualidade e a humanidade deste personagem. Mais do que isso, Nolan “quebrou” a fantasia dos espectadores com relação à Batman quando seu enredo contextualiza Gotham City como uma cidade real, possível, aqui, agora. Esta sensação de realidade está presente em toda a trilogia feita por Nolan e por isso Batman cresceu como um personagem em busca da justiça com seu lado sombrio, captando momentos da nossa realidade. Gotham City é aqui agora. O Coringa, de alguma forma, está em nossas ruas e o vilão Banes mais ainda por ser um personagem movido pela vingança, um dos sentimentos mais bárbaros do homem que muitos cineastas valorizam quando deveriam questionar. Em “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, Nolan consegue fechar o ciclo de todos os personagens da história criando uma trama que mistura terrorismo com fanatismo, vingança com redenção e principalmente, humanidade com a nossa realidade tão sombria ou pior que a de Gotham City, uma cidade sitiada pelo medo e por personagens destrutivos e em busca de poder (alguma diferença do mundo real?). É incrível com o diretor consegue levantar tantas questões relevantes e ao mesmo tempo realizar um “blockbuster” que faturou milhões de dólares. É possível equilibrar entretenimento e conteúdo ? Nolan provou que sim. Completa a trilogia, tudo indica que outro personagem vai continuar a luta pela justiça de Batman. Seja como for, Nolan deu o seu recado resgatando um personagem extremamente interessante que nos últimos tempos perdeu sua força e significância. Ressuscitando Batman, Nolan ressuscitou as esperanças de que o cinema comercial pode e deve ser mais provocativo e instigante para o espectador.(Marco Antonio Moreira)

CINE LÍBERO LUXARDO EXIBE "VIOLETA FOI PARA O CÉU"


O drama biográfico de Andrès é um mergulho na vida de Violeta Parra, compositora, cantora e folclorista chilena que representa uma paixão em seu país. A trama não segue uma linha cronológica, focando-se em diversos momentos da vida de Violeta, como a infância humilde na província de Ñuble, suas viagens pelo interior do Chile, França e Polônia, o romance com o suíço Gilbert Favre, passando pela intensid ade de suas contradições internas, falhas e paixões. O filme, baseado no romance homônimo de Angel Parra, filho de Violeta, é inteiramente intercalado com trechos de uma entrevista concedida à televisão em 1962.

Título original: "Violeta se fue a los Cielos" (Chile, 2011) Direção: Andrés Wood Elenco: Francisca Gavilán, Thomas Durand, Christian Quevedo, Gabriela Aguilera, Roberto Farías, Marcial Tagle Gênero: Drama Classificação: Livre
Datas: 29 a 31/08 - 19h 01/09 - 19h 02/09 - 17h e 19h 05 a 08/09 - 19h 09/09 - 17h e 19h

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

FESTIVAL DE GRAMADO - 40 ANOS EM CENA


Festival de Gramado – 40 anos me cena.
Ao longo de quarenta anos, o Festival de Cinema de Gramado já está consolidado como o mais antigo e importante evento de categoria no Brasil e América Latina. Dos anos 70 até aqui, quando a indústria, se assim se pode chamar, apareceu, o cinema brasileiro cresceu e se tornou visível ao  grande publico, ganhou as redes de televisão, foi ao mercado de home-video e já é fato. Esse status deve-se muito a Gramado, que dá visibilidade e cria uma atmosfera midiática aos filmes concorrentes. Também nestes quarenta anos, o evento já viu o renascimento, o luto e quase morte da cinematografia. Da derrocada quase fatal imposta pelo governo Collor, que fechou a Embrafilme e todos os mecanismos de incentivo a produção ao volta por cinema com o chamado “renascimento”, o festival foi palco de debates, protestos e acima de tudo não se deixou abalar com os reveses de uma política “balseira”, digamos assim, que sobrevive de acordo com os ventos que nela sopram. O festival está aí, vivo e vigoroso, como uma janela de horizonte infindável, pronto para a resistência. Hoje sua configuração é nacional e latina, o que lhe dá uma caráter mais importante ainda dentro do contexto da cena mundial. Nos últimos anos, é bom dizer, que o evento andou vestindo uma capa mais voltada para a “cena midiática”, deixando talvez em segundo plano sua essência original, mas nada que tenha arranhado sua história. Nesta edição, a orientação buscou voltar à origem de tudo e o resultado foi completamente alcançado. Mais filmes de qualidade na tela, uma estrutura enxuta e de administração ágil obteve êxito total. Comprimiu-se o excesso e relevou o necessário. Se o resultado na tela não agradou a critica especializada, principalmente na categoria de melhor filme, o júri, que devemos lembrar é soberano na sua escolha, fez o que achou certo, podemos discutir as escolhas em nosso ponto de vista, porém jamais radicalizar e querer impor. Discute-se civilizadamente, mas a imposição em todas as hipóteses é descabida. O certo é que agora com novos rumos, este jovem senhor quarentão ainda tem muito a mostrar ao mundo que já é primordial para a cultura cinematográfica do Brasil e do continente sul-americano. Vida longa ao Festival de Gramado.Leia a lista de premiados:
Curtas-metragens
Melhor desenho de som
Entrega: Fernanda Moro
Vencedor: Gabriela Bervian / Casa Afogada
Melhor Trilha Musical
Entrega: Fernanda Moro
Vencedor: Marcos Azambuja / Funeral à Cigana
Melhor Direção de Arte
Entrega: Fernanda Moro
Vencedor: Iara Noemi e Gilka Vargas / Casa Afogada
Melhor Montagem
Entrega: Fernanda Moro
Vencedor: Di Melo – O Imorrível / Gustavo Forte Leitão
Melhor Fotografia
Entrega: Fernanda Moro
Vencedor: Bruno Polidoro / Casa Afogada
Melhor Roteiro
Entrega: César Troncoso
Vencedor: Marcelo Matos de Oliveira / Menino do Cinco
Melhor Atriz
Entrega: César Troncoso
Vencedor: Sabrina Greve / O Duplo
Melhor Ator
Entrega: César Troncoso
Vencedor: Thomas Vinícius de Oliveira e Emanuel de Sena/ Menino do Cinco
Prêmio Especial do Júri
Entrega: César Troncoso
Vencedor: A mão que Afaga / Gabriela Amaral Almeida
Melhor Filme Júri Popular
Entrega: Jorge Mautner
Vencedor: Menino do Cinco / Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira
Melhor Diretor
Entrega: César Troncoso
Vencedor: Gilson Vargas / Casa Afogada
Melhor Filme
Entrega: César Troncoso
Vencedor: Menino do Cinco / Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira
Prêmio Canal Brasil – Melhor Filme
Entrega: Rodrigo Fonseca
Vencedor: Menino do Cinco / Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira
 
Longa-metragem Estrangeiro
Melhor Fotografia
Entrega: Ingra Liberato
Vencedor: Boris Peters e Larry Peters/ Leontina
Melhor Roteiro
Entrega: Ingra Liberato
Vencedor: Eduardo del Llano Rodríguez / Vinci
Melhor Ator
Entrega: Ingra Liberato
Vencedor: Jorge Esmoris / Artigas, la Redota
Menção Especial
Entrega: Ingra Liberato
Vencedor: Artigas, la Redota / Direção de Arte de Daniel Fernández e Mariana Pereira e Vinci / Trilha Sonora de Ricardo Pérez
Melhor Filme Júri Popular
Entrega: Ingra Liberato
Vencedor: Artigas, la Redota / César Charlone
Melhor Diretor
Entrega: Ingra Liberato
Vencedor: César Charlone / Artigas, La Redota
Melhor Filme
Entrega: Ingra Liberato
Vencedor: Artigas, la Redota
 
Júri da Crítica
Melhor Curta-metragem
Entrega: Mônica Kantiz
Vencedor: Menino do Cinco / Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira
Melhor Longa Estrangeiro
Entrega: Mônica Kantiz
Vencedor: Artigas, la Redota / César Charlone
Melhor Longa Brasileiro
Entrega: Mônica Kantiz
Vencedor: O som ao redor / Kleber Mendonça Filho
Longa-metragem brasileiro
Melhor Desenho de Som
Entrega: Daniela Escobar
Vencedor: Kleber Mendonça Filho e Pablo Lamar / O Som ao Redor
Melhor Trilha Musical
Entrega: Daniela Escobar
Vencedor: André Abujamra / Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now!
Melhor Direção de Arte
Entrega: Daniela Escobar
Vencedor: Zenor Ribas / Colegas
Melhor Montagem
Entrega: Daniela Escobar
Vencedor: Leyda Napoles / Jorge Mautner – o filho do holocausto
Melhor Fotografia
Entrega: Daniela Escobar
Vencedor: Gustavo Hadba / Jorge Mautner – o filho do holocausto
Melhor Roteiro
Entrega: Daniela Escobar
Vencedor: Pedro Bial / Jorge Mautner – O Filho do Holocausto
Melhor Atriz
Entrega: Daniela Escobar
Vencedor: Fernanda Vianna / O Que Se Move
Melhor Ator
Entrega: Daniela Escobar
Vencedor: Marat Descartes / Super Nada
Prêmio Especial do Júri
Entrega: Daniela Escobar
Vencedor: Breno Viola, Rita Pokk e Ariel Goldenberg / Colegas
Melhor Filme Júri Popular
Entrega: Arnaldo Jabor
Vencedor: O Som ao Redor
Melhor Diretor
Entrega: Arnaldo Jabor
Vencedor: Kleber Mendonça Filho / O Som ao Redor
Melhor Filme
Entrega: Arnaldo Jabor
Vencedor: Colegas / Marcelo Galvão
(Ismaelino Pinto)



PERDAS E GANHOS

Sobre obras pequenas de uma riqueza exuberante o cinema se move. “O Que Se Move” produção paulista de Caetano Gotardo é o silencio que grita em vários tons e sobreton
 s. Nele, três núcleos familiares, em três diferentes situações, se movem e precisam lidar com mudanças súbitas em suas vidas, envolvendo alguma perda ou um reencontro, o ganho do pretendido-pensado que virá. Há longas esperas, pontuadas por planos extensos, de olhares, movimentos solos e de maternal ternura. Há uma verberação do afeto, mesmo que ele esteja implícitos por espantos de não conformação. A direção de Gotardo surpreende pela forma, pela cadência, pela simplicidade sem arroubos bruscos, típico de cineastas mais jovens, há uma sutileza na condução. O elenco é magistral, que coloca densidade em tudo, como da cantora Cida Moreira. A vida parece ser longa de momentos tão curtos e este é um filme pra se ter o tempo de mastigar em nosso coração e mente. (Ismaelino Pinto)

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

"A TORTURA DO SILÊNCIO" DE HITCHCOCK NO CC ALEXANDRINO MOREIRA DIA 20/08


"A TORTURA DO SILÊNCIO"
Original: I Confess-EUA,1953
Direção de Alfred Hitchcock
Roteiro de George Talbori e William Archibald baseado na peça de Paul Anthelme
Elenco: Monthomery Clift, Anne Baxter, O.E. Hasse, Karl Malen, Brian Aherne.
Argumento: padre católico recebe a confissão de um assassinato. Como é segredo ele não pode revelar o assassino mesmo que este silêncio o implique no crime.
Importância Histórica: O filme pertence à uma fase muito rica de Hitchcock. A peça chamada “Nos Deux Conscience”(Nossas Duas Consciências) foi vista por Hitchcock em Londres nos anos 30. Ele e sua mulher , Alma, escreveram om argumento e passaram a procurar financiamento para a produção. Ela só veio através da Warner já com o diretor morando nos EUA. E foi tão bem sucedida que Hitchcock chegou a ser candidato à Palma de Ouro, em Cannes no ano da realização.
Homengem ao diretor Alfred Hitchcock

SESSÃO ACCPA/IAP
CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA
"A TORTURA DO SILÊNCIO"
(AUDITÓRIO DO IAP)
DIA 20/08/12
 HORÁRIO : 19H
ENTRADA FRANCA
APÓS O FILME, DEBATE COM CRÍTICOS DA ACCPA

"SUSPEITA" DE HITCHCOCK NA SESSÃO CULT DIA 18/08

"SUSPEITA"
Original: Suspicion-EUA, 1941
Direçao de Alfred Hitchcock
Roteiro de Samson Raphaelson, Joan Harrrison e Alma Reville com base no livro “Before the Fact” de Anthony Berkeley.
Elenco: Joan Fontaine, Cary Grant,Cedric Hardwick, Nigel Bruce.
Argumento: Jovem da classe media alta casa com um homem muito solicitado pelos colunistas sociais contra a vontade paterna que vê nele um caça-dotes. Com o passar do tempo ela começa a desconfiar que o pai tenha razão e que o marido quer matá-la para ficar com sua fortuna.
Importância Histórica : Hitchcock ainda estava sob contrato com David O.Selznick que mandou lhe buscar da Inglaterra para fazer “Rebecca”. Mas a escolha do argumento foi dele e a sua mulher, Alma, uma das roteiristas. O problema é que a RKO, na época dirigida por Selznick, mudou o final. Hitchcock não pôde fazer nada, pois estava agindo como contratado. Curioso é que o novo final ficou muito interessante e por isso elogiado pela critica. A suspeita não se exauria com um plano imaginado pelo diretor que seria o de uma carta caindo na caixa de correio contando que o personagem vivido por Cary Grant era, de fato, um criminoso. Selznick teria desejado livrar Grant de um papel antipático de vilão. Se assim foi, ajudou a manter um suspense que em muito ajudou o filme.Outro detalhe: Hitchcock sempre “assinava” seus filmes americanos aparecendo em algumas seqüencias. Mas ele não é visto em “Suspeita’ o que se entende que este recurso só aconteceu depois que proclamou independência dos grandes produtores.

SESSÃO ACCPA/CINE LÍBERO LUXARDO
"SUSPEITA"
SESSÃO CULT
SÁBADO DIA 18/08/12
HORÁRIO : 16H
 ENTRADA FRANCA
APÓS O FILME, DEBATE COM CRÍTICOS DA ACCPA
APOIO : ACCPA (ASSOCIAÇÃO DE CRÍTICOS DE CINEMA DO PARÁ)

MARILYN E NIAGARA

Em 1951 o termo “torrentes de paixão” era moda. A canção imortalizada por Elizete Cardoso, chamada “Canção de Amor”, dizia assim: “Saudade, TORRENTE DE PAIXÃO emoção diferente que aniquila a vida da gente com uma dor que não sei de onde vem...” Pois se deu a “Niagara”,o filme de Henry Hathawy, o titulo brasileiro “Torrentes de Paixão”. E no caso a catarata famosa seve de matáfora para o drama conjugal vivido por Marilyn Monroe e Joseph Cotten, ela sensual e adultera, ele o tigre adormecido que “acorda” para a vingança de um adultério. O filme tinha roteiro de “cobras” como Charles Brackett , Walter Reisch e Richard Breen. Comparava o par formado por MM e Cotten com o de Jean Peters e Max Showater(ator que não decolou além de episódio da série “Além da Imaginação”). O primeiro era a própria torrente no modo como se deixava destruir pela paixão. O segundo era o modelo da época, mulher bonitinha e boazinha, marido pateticamente lerdo. Essas figuras alojadas no espaço turístico da queda d’agua viviam dramas cruzados pelo contraste entre eles. E Marilyn pela primeira vez utilizava o estereotipo da mulher sensual, andando como quem dança com um vestido colante que exibia o relevo de suas curvas. Alias foi o primeiro filme que MM apareceu em evidencia.Até então era coadjuvante bonitinha. “Torrentes...”não é o melhor de Hathaway, chamado “mestre do semidocumentário” por um critico brasileiro que aplaudiu o seu “Sublime Devoção”(1948), drama de um advogado que toma a si, sem visar pagamento, o caso do filho de uma faxineira. Também de “Horas Intermináveis”(1951) onde Marilyn era uma das espectadoras de um quase suicida, o homem que ameaçava se atirar do alto de um prédio. Mesmo não ampliando suas conquistas formais o diretor conseguiu dar vivacidade a um melodrama corriqueiro. E entrou na história com a moldagem de uma “vamp” moderna. Daí em diante, La Monroe passou a ser símbolo sexual de uma geração. Rever o filme é interessante. Reabre o cineclube que leva o meu nome. Tudo por conta dos 50 anos de morte da atriz.(Pedro Veriano)

CINE ESTAÇÃO EXIBE "FEBRE DO RATO" E "ROCK BRASILIA"

Nesta quarta-feira, feriado de 15 de agosto - Adesão do Pará à Independência do Brasil, o Cine Estação das Docas exibe dois filmes brasileiros contemporâneos: “Febre do Rato” e ”Rock Brasília – Era de Ouro”. Com uma fotografia sensível e detalhista de Walter Carvalho, o longa narra a história do poeta Zizo (Irandhyr Santos) e o mundo de abismos em que vive no Recife. Alimentado de poesia e da publicação do fanzine “Febre do Rato” que, para ele, serve como porta voz dos inquietos e agoniados, Zizo vive de inconformismo e em constante luta. No documentário “Rock Brasília – Era de Ouro”, o cineasta Vladimir Carvalho investiga as origens das grandes bandas de rock que tomaram de assalto o cenário musical brasileiro a partir de 1980, como Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude, Paralamas do Sucesso e outras.
Confira os horários: Febre do Rato Direção: Cláudio Assis. 110 min, P&B, 18 anos. Com Irandhir Santos, Matheus Nachtergaele, Juliano Cazarré e Ângela Leal.  15 (quarta-feira) e 16 (quinta-feira): às 20h30. 19 e 26 (domingos), às 10h e 20h30. Rock Brasília - Era de Ouro Documentário. Duração: 111 min. Com Renato Russo, Herbert Vianna, Bi Ribeiro, Dinho Ouro Preto, Caetano Veloso, Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá.Direção: Vladimir Carvalho. Censura: 12 anos 15 (quarta-feira) e 16 (quinta-feira): às 18h

MUDANÇA DOS VENTOS...

Cinema é cinema, mas dos gêneros que mais me ocorre é o documentário, um tipo de filme que ao invés de representa-lo, mostra, expõe. “Leontina” (de Boris Peters) produção chilena , que está na competição de longas latinos aqui no Festival de Gramado, é um documentário sobre Leontina Miranda Sandoval, uma mulher que viveu isolada no sul do Chile durante 82 anos. Separada da sua família e sem conexão com a modernidade, ela viveu sozinha em seu próprio mundo. O filme revela suas memórias, intimidades e sua visão do mundo. Uma homenagem do neto de Leontina, que resolveu contar a história de sua vó. Mas do que a história de uma mulher, é sobre o silêncio da solidão que vem com a velhice. O filme provoca estranhamentos, impacta por aquilo que sabemos existir, mas nos negamos a ter que passar. Não há um sofrimento no que se vê, mas é lúgubre a atmosfera deste tempo que chegará, daí o incomodo, a sugestão de que aquilo está fora de nós. Há uma pontuação musical que as vezes cresce na atmosfera da solidão. Há também muitos silêncios, falta de som da alma que talvez seja uma ação que recorre neste tempo. “Leontina”, me submeteu a um estado de contemplação e melancolia, mas me alegrou ao mesmo tempo em saber que alguns passam por ele com a vontade de comtemplar a vida.(Ismaelino Pinto)

terça-feira, 14 de agosto de 2012

FILMES DE HITCHCOCK EM DVD


Em 13 de agosto, Sir Alfred Joseph Hitchcock ou simplesmente Alfred Hitchcock nascia em Londres, precisamente no ano de 1899. Poucos diretores de cinema ganharam a preferência do público a ponto de inserirem seus nomes nas marquises e nos anúncios dos filmes. Mesmo em países de idiomas diferentes do inglês, o nome passou a ser pronunciado. E, diga-se de passagem, não era tão fácil para quem, no caso brasileiro, chamava Tirone Povér ou Ava Gardinér para lembrar a marcha carnavalesca de uns quarenta anos atrás. Depois de realizar “The Lodger”(1926) em sua terra natal, Hitchcock passou a ser conhecido como um especialista de filmes de suspense. E como sabia usar a linguagem cinematográfica para esse fim, logo foi reconhecido como o mestre do gênero. Aliás, suspense é um termo polissêmico, havendo inúmeras definições que aderem à psicologia do sentir, mas, na obra literária, era visto como um gênero menor. Aristóteles, em seu livro “Poética”, diz que suspense é uma construção literária importante. Em termos de filmes, a preocupação maior é o sentido provocador de uma reação na expectativa de ocorrências variadas, desde algum acontecimento ruim ou ao processo de reconhecer através de sucessivos eventos uma dada realidade seja em torno de pessoas ou de fatos. Hitchcock fez cerca de 30 filmes em Londres. Em 1940, quando “...E O Vento Levou” estreava com sucesso nos EUA, o produtor (e autor, pois controlou todos os setores da produção) David O.Selznick, comprou os direitos do romance “Rebecca” de Daphne du Maurier, convidando o jovem inglês Alfred para dirigi-lo em Hollywood. O filme, interpretado por Laurence Olivier e Joan Fontaine, venceu o Oscar e foi um grande sucesso de bilheteria. Mas o diretor foi ignorado pela Academia de Artes e Ciências de Hollywood. Não só neste caso, mas sempre. Logo a seguir, “Suspeita”, outro filme que ele realizou para Selznick deu o prêmio a Joan Fontaine e Hitchcock só fez comparecer à entrega do troféu. Nos EUA o cineasta realizou cerca de 40 filmes de longa metragem para cinema e muitos para a TV criando dois programas muito vistos: “Alfred Hitchcock Presents”(1955/61) e “Alfred Hitchcock Hour”(1962) Quando os filmes passaram a ser gravados e a época era da nova técnica, o VHS, os títulos do mestre inglês começaram a aparecer em diversos países, inclusive o nosso. Com a chegada do DVD também foi surgindo a produção inglesa. Hoje, poucos títulos permanecem inéditos. E todos da primeira fase, ou seja, dos que foram realizados nos estúdios britânicos. Para quem quer rever Hitchcock nesta época de seu aniversário há um grupo de filmes imprescindíveis. Não é só pelo fato de seu “Um Corpo que Cai” ter sido saudado, agora, por uma publicação de sua terra, a revista “Sigth & Sound”, como o melhor de todos os tempos. Há clássicos legítimos que merecem (e sempre) a atenção do cinéfilo. Hoje menciono alguns que me parecem excelentes. Da fase inglesa menciono: “A Mulher do Fazendeiro” (The Farmer’s Wife/1928), ”Chantagem e Confissão” (Blackmail/1929), ”Assassinato’(Murder!/1930), ”O Homem Que Sabia Demais”(The Man Who Knew too Much/1934), ”Os 39 Degraus”(The 39 Steps/1935), “Agente Secreto”(Secret Agent/1936), ”O Marido Era o Culpado”(Sabotage/1936) e ”A Dama Oculta”(The lady Vanish/1938).Todos podem ser encontrados em locadoras de vídeo. Da fase norte-americana já é possivel escolher todos os filmes de longa metragem, até a comédia “Um Casal do Barulho” (Mr and Mrs Smith/1941), com a atriz Carole Lombard, grande amiga do diretor. Recomenda-se, especialmente: “Rebecca, a Mulher inesquecível”(Rebecca/1940), investigação sobre a morte de uma mulher cuja memória é cultuada na mansão onde morou e desafia a conduta do marido que se casa de novo. Joan Fontaine foi candidata ao Oscar, mas a Academia deixou-a em pausa para receber no ano seguinte por “Suspeita”(Suspicion), este um dos melhores filmes do mestre Hitchcock, segundo uma história de Anthony Berkeley chamada “Before the fact”. Cary Grant protagoniza o marido enigmático que pode ser um assassino. A suspeita devotada ao personagem não termina com o filme. Mas o final foi criação do produtor (Selznick). Mesmo assim marcante. Da fase americana há: “A Sombra de uma Duvida”(1943), “Pacto Sinistro”(1951)“A Tortura do Silencio”(1953), ”Disque M Para Matar”(1954), ”A Janela Indiscreta”(1954), ”Um Corpo que Cai”(1958),”Psicose”(1960), “Os Pássaros”(1963) e “Frenesi”(1972).(Luzia Álvares)

À NÓS A LIBERDADE !

Gosto de filmes com temáticas politicas seja ele de natureza libertária. O politico de legenda me enoja, acho o engajamento partidário uma chatice, aliás em todas as vertentes. Ontem no Festival de Gramado vimos "Dez vezes venceremos", produção chilena. O filme, um documentário é de uma simplicidade que me ganhou. Conta a história de Pichún, um jornalista e comunicador de origem mapuche (uma tribo das montanhas do Chile) que luta na clandestinidade contra os invasores de sue território, estes grandes madeireiros e grupos economicamente fortes e arrasadores, como vivenciamos na Amazônia. A sua voz e luta é propagada através de uma pequena rádio clandestina. Pichún vai ser preso e sabe disso, mas "a luta continua" bem ao lema dos ativistas sejam eles de que maneira forem. Não há arroubos de retóricas politicas, não há um discurso terceiro-mundista sobre a luta da "classe trabalhadora e oprimida", isto é um mérito. Há momentos familiares de natureza bastante intima, de reconhecimento da causa, do cotidiano de quem tem seu direito logrado, de puro deleite daqueles que estão sofrendo abuso de natureza social. O panfletarismo e o discurso não cabe em nenhum momento pois no filme ele inexiste. Tai uma forma de lutar sem ter que criar engajamento "do contra" só pela forma de agir daqueles que estão em luta. Cinema é isso, saber, propor e assumir uma causa sem que necessariamente estejamos de acordo com ela, a isso eu chamo de politica do bem. (Ismaelino Pinto)

domingo, 12 de agosto de 2012

"FEBRE DO RATO" NO CINE ESTAÇÃO


Cláudio Assis retrata Recife com poesia em Febre do Rato “Depois do medo, vem o mundo. É isso que a gente do filme acredita” Nanda Costa, atriz de “Febre do Rato Finalmente estreia no Cine Estação das Docas, o mais novo filme do pernambucano Cláudio Assis, “Febre do Rato”, agora com novas datas e horários. A primeira sessão acontece neste sábado, às 20h30. No domingo, a tradicional sessão matinal às 10h e 20h30. Com uma fotografia sensível e detalhista de Walter Carvalho, o longa narra a história do poeta Zizo (Irandhyr Santos) e o mundo de abismos em que vive no Recife. Alimentado de poesia e da publicação do fanzine “Febre do Rato” que, para ele, serve como porta voz dos inquietos e agoniados, Zizo vive de inconformismo e em constante luta contra os interesses das classes dominantes. Quando conhece Eneida, uma jovem que desacredita nas convicções do poeta e não cede à sua inteligência e encanto, aos poucos, Zizo vai ficando mais instigado, insatisfeito com ele mesmo e suas certezas se tornam dúvidas. Zizo encontra o caos na sua relação com o espaço urbano e os que nele vivem (aqueles leitores de suas publicações).“Febre do Rato” é uma expressão popular típica da cidade do Recife que designa alguém quando está fora de controle, alguém que está danado. O filme de Cláudio Assis abriu o Festival Janela Internacional de Cinema do Recife no ano passado e com 8 prêmios, incluindo o de melhor filme, ator e atriz e de crítica, foi o grande vencedor do 4º Paulínia Festival de Cinema. Nanda Costa, que interpreta Eneida no filme, citou uma frase de Clarice Lispector ao agradecer ao prêmio: “Depois do medo, vem o mundo. É isso que a gente do filme acredita”. O pernambucano Cláudio Assis já se consagrou no cinema nacional por suas obras, entre curtas, documentários e longas que retratam um universo bem brasileiro. Do início de sua carreira como ator e cineclubista em Caruaru, até a direção do primeiro longa-metragem “Amarelo Manga” (2002), Cláudio Assis tem se destacado pelo estilo único, uma leitura muito intensa sobre as origens da violência, tanto física quanto psicológica, utilizando-se de uma estética que prioriza os cenários decadentes. Em seu marcante “Baixio de Bestas” (2006), o diretor apontou sua câmera para o campo, onde a violência contra a mulher é evidente, tratada como uma realidade abusiva e cruel no interior nordestino. O poético “Febre do Rato”, que provocou filas de espectadores quando foi exibido na capital pernambucana, divide a pauta de agosto do Cine Estação com outro sucesso de público:“Rock Brasília – Era de Ouro”, de Vladimir Carvalho, em últimas exibições.

Serviço
Febre do Rato Direção: Cláudio Assis. 110 min, P&B, 18 anos. Com Irandhir Santos, Matheus Nachtergaele, Juliano Cazarré e Ângela Leal.
Novas sessões de Febre do Rato com as últimas exibições de Rock Brasília: 11/08 - (sábado) 18h: Rock Brasília – Era de Ouro 20h30: Febre do Rato 12/08 - (domingo) 10h; Febre do Rato 18h: Rock Brasília - Era de Ouro 20h30: Febre do Rato 15/08 (quarta-feira) 18h: Rock Brasília - Era de Ouro 20h30: Febre do Rato 16/08 (quinta-feira): 18h: Rock Brasília – Era de Ouro 20h30: Febre do Rato 19/08 (domingo) 10h: Febre do Rato 20h30: Febre do Rato 26/08 (domingo) 10h: Febre do Rato 20h30: Febre do Rato

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

ELDORADO 61

Na data de hoje (9 de agosto) filmei pela primeira vez. Explico: ganhei de presente de aniversário do meu pai uma pequena câmera marca Bell &Howell 16mm para 50 pés de filme. O presente foi como aquele candelabro que uma família pedia para a pombinha mágica em “Milagre em Milão” quando não tinha teto na sua barraca para dependurar o objeto. Eu não sabia fotografar, era nulidade em tudo que se relacionava à prisão de imagens. O dono da foto onde meu pai fez a compra disse-me que seria preciso eu ganhar também um fotômetro. Que diabos era isso? Mas não esmoreci. Soube que se filmasse com o diafragma da maquina quase fechado (f11 ou f16) teria foco. Bastava usar a luz do dia. E assim filmei um clipe com a turma de casa. Não satisfeito bolei uma ficção a que chamei de “Um Caso Dificil”. Surpresa: a fotografia saiu boa. Nascía a Eldorado Filmes. Com o tempo e o conhecimento de Fernando Melo, fotografo dos filmes de Libero Luxardo e dono de uma oficina onde eu levava meu projetor Revere para consertar (e os pregos eram frequentes), passei a filmar com assiduidade. Fazia de tudo, mas o que hoje me impressiona é como montava na filmagem. Tudo para não cortar a película positiva.Uma ginástica que me fazia correr de um lado a outro para dar continuidade à sequencia. Cinema era minha praia. Contratar, exibir, produzir. Do muito filmado sobrou pouco. Mas tem uma película de 1952 que eu não gostava na época: “O Desastre”. Foi telecinada no MAM. Guardo até quando possa fazê-lo. Hoje gravo em digital competindo com minhas filhas. Há muitas ideias jogadas em cena. Só peco na edição, que ainda não domino. Mas vou levando uma Eldorado sessentona.(Pedro Veriano)

O CAVALEIRO DAS TREVAS

O cinema norte-americano ressente-se da falta de vilões. Com o fim da guerra fria, a opção para lutar contra os super-heróis ficou nos extraterrestres e nos diversos terroristas. Por isso, surpreendeu a imagem de Bane, a figura enjeitada que se vinga do mundo em “Batman, O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (The Dark Knight Rises/EUA,2012). Ele age como um revolucionário de esquerda quando, ao sentir que está ganhando a luta, espera transformar Gothan City numa cidade“socialista” onde a população é como que amparada pelo Estado e as grandes marcas do capitalismo são, simplesmente, destruídas como a Bolsa de Valores e as grandes corporações. Bane (Tom Hardy) era um garoto filho de prisioneiros do sistema de Pietra Dura, nascido num poço onde viviam seus pais desde que banidos da sociedade. Sua figura surge em primeira aparição na revista “Batman: The Vengeance of Bane”, em janeiro de 1993, tornando-se conhecido, entretanto, por ter sido o único inimigo de Batman a causar-lhe sérios dados físicos quebrando-lhe a espinha, deixando-o paraplégico, relato feito na história “Batman Knightfall” (edição nº 497 da revista “Batman”, julho de 1993). Sua presença nesse novo filme tem o tom de vingança após sair da Prisão Blackgate, para onde fora enviado ao ser derrotado e preso por Azrael ou Jean Paul Valley- que assumiu o posto do homem-morcego (escolhido por este) após a desdita que se abateu sobre o herói. Bruce Wayne (Christian Bale) é visto no início do filme abatido, machucado (sem poder mover direito uma perna) e preocupado com a crise econômica que atinge sua firma. Ao seu lado está o sempre assistente Alfred (Michael Caine) e, no laboratório de uma de suas indústrias, o também veterano Fox (Morgan Freeman). Com o cenário ruim, inclusive porque o comissário Gordon (Gary Oldman) está hospitalizado, a presença de Batman se torna importante. Mesmo porque Bane está atuando e não se pode contar com a fidelidade da Mulher Gato (Anne Hathaway). Para piorar a situação, uma funcionária da firma de Wayne não é pessoa de confiança, Miranda (Marion Cottilard). O espectador já se acha ansioso, quando Batman reaparece. Com nova máscara (segundo a produção a que se ajusta melhor facilitando o ator mexer o pescoço), ele não demora em encontrar seu adversário Bane e com este sair para a briga. Mas, para decepção dos que sempre torcem pelo “mocinho”, o Homem Morcego apanha feio na série de socos. E acaba sem a máscara, muito batido, no fundo do poço da prisão de onde teria saido o adversário. Todo quebrado ouve deste: “Quando Gothan virar cinzas, aí sim você terá a minha permissão para morrer”. A história em nada surpreende. Nem mesmo no final, quando o herói viaja no seu “batplano”carregando uma bomba atômica que jogará no meio do mar. Nessa hora, a idéia é de que o “cavaleiro das trevas” foi mesmo eliminado. Engano? Não vou cometer m spoiler e deixar que a aventura se torne menos estimulante para quem vai assistí-la. No roteiro de Nolan, seu jovem irmão Jonathan e por David S.Goyer (autor do argumento junto com o diretor do filme), o mundo que Bane idealiza é pontilhado de uma tentativa de reversão da era capitalista por uma sociedade popular (explodem-se as grades da prisão e a multidão se liberta), procurando romper as ordens da padronização a que fora levada pelo Comissário Gordon (Gary Oldman) que após a morte de Harvey Dent (desfecho de O Cavaleiro das Trevas), instituiu uma lei zerando a criminalidade local, daí, supostamente, Gotham vive dias de paz. Há uma seqüencia emblemática: uma criança canta o hino norte-americano na abertura de uma partida de rugby (ou futebol americano). Nessa hora, o vilão ataca a explode o campo. O pânico se instala e ele aparece numa atitude demagógica dizendo-se o defensor do povo. O filme é uma superprodução cheia de CGI(efeitos especiais) seguindo as que são rentáveis hoje em dia nesse campo. Mas deixa muitos temas para o debate, como a questão da cidade. Gothan City capitalista é para ser arrazada pela corrupção que campeia. Mas é a cidade que Batman ama e defende. Daí... O final sugere outra aventura embora Chris Nolan diga que é a última de Batman. Mas tudo é calculado: forma bem estruturada, fecho ambíguo (aparentemente) e até um suposto Robin se apresentando. Presentemente, Christian Bale informa que não fará um Batman com Robin. Quem assistir a este Batman com certeza terá outra perspectiva.(Luzia Álvares)

MARILYN MONROE

Nascida Norma Jean Masterson, Marilyn Monroe faleceu em dia 5 de agosto de 1962. Poucas atrizes de cinema foram tão conhecidas ou mesmo cultuadas. Lembro-me do amigo Edwaldo Martins que a prezava especialmente chamando-a de “Mariazinha”. A imagem de Marilyn, ou simplesmente MM, começou moldada pelo estúdio da 20th Century Fox, empresa que a contratou quando o roteirista, diretor e produtor Joseph L. Mankiwicz a levou para participar do elenco de “A Malvada”(All About Eve, 1950). Nesse ano, MM já aparecera em 11 filmes de companhias como a Columbia e Metro. Mas sempre na sombra das grandes estrelas. Foi na Fox que a atriz incorporou o estereotipo da“femme fatale”, embora não imediatamente. Antes atuou em filmes como “Almas Desesperadas”(1952) e “O Inventor da Mocidade”(1952) ainda em papéis secundários. Foi também emprestada à companhia RKO, momento em que participou de “Só a Mulher Peca” (Clash by Night/1952), dirigido por Fritz Lang. O tipo sedutor viria em 1953 sob a direção de Henry Hathaway em “Torrentes de Paixão”(Niagara, 1953). O filme e a atriz fizeram sucesso. A crítica viu a analogia da mulher sedutora que ameaçava a harmonia de um jovem casal em lua de mel próximo à catarata de Niágara (Jean Peters e Max Showater), com a própria queda d’água. Este é , alías, o único filme dos muitos que MM atuou em que o amante morre (interpretado por Joseph Cotten). E ela estaria na pele de uma autêntica vilã. Os cinéfilos mais exigentes não viam MM como uma atriz de talento. Seria mais uma figura moldada por Hollywood tentando quebrar o rígido sistema de censura chamado Código Hays. Mas ela compreendeu isso e lutou contra. Considerou seu bom desempenho na comédia e fez parte, em seguida, do elenco de “Os Homens Preferem as Louras”(1953), ”Como Agarrar um Milionário”(1953),“O Mundo da Fantasia” (1954) e “Adorável Pecadora”(1960), deixando espaço para os dramas leves como “O Rio das Almas Perdidas”(1954) e “Nunca Fui Santa”(1956). Mas foi fora da Fox que agradou em cheio os críticos na obra de Billy Wilder:“Quanto Mais Quente Melhor”, feita para a United Artists em 1959. Wilder já era seu conhecido em “O Pecado Mora ao Lado”(1955), lançando a imagem da saia levantada pelo vento que vinha do subway em Nova York. Mas foi ao lado de Tony Curtis e Jack Lemmon que Marilyn mostrou como aproveitar o arquétipo de “sex simbol” numa trama cômica. Tentando sempre mostrar que tinha talento, ou que podia mostrar que não era apenas “um corpo”, filmou com esforço próprio “The Prince and the Show Girl”(aqui “O Principe Encantado”, 1957), na Inglaterra, com o respeitado ator (e cineasta) shakespeariano Laurence Olivier. Para isso, contou com o marido de então (o seu terceiro com quem foi casada de 1956 a 1961), o escritor Arthur Miller. O fracasso do filme levou-a de volta à comédia e foi aí que estrelou “Quanto Mais Quente...”(1959) e ”Adorável Pecadora”. Seu último trabalho finalizado foi “The Misfist”(Os Desajustados, 1961) de John Huston, filme em que também se despediriam os colegas Clark Gable e Montgomery Clift. MM ainda começou a filmar “Something’s Got to Give”chegando a ser punida por faltar em horas de filmagem. Na época (1961) falava-se de um romance com os irmãos Kennedy (o presidente John e o ministro Robert). Uma de suas últimas aparições adiante de uma câmera foi cantando para o presidente numa festa de aniversário. A atriz teria sofrido o resultado de overdose ou intoxicação por mistura de remédios. Realmente poucas mulheres que fizeram cinema são tão lembradas 50 anos depois da morte. Entre nós, a ACCPA vai homenagea-la exibindo “O Pecado Mora ao Lado”, numa sessão “cinemateca”do Cine Olympia e, “Torrentes de Paixão”, reabrindo o Cine clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem).(Luzia Álvares)

PARA WOODY COM AMOR

Quando tiver que fazer comparações, sempre fuja. Na arte então, onde o componente da subjetividade é essencial, elas são absolutamente risíveis. No amor, nunca existirá amor melhor do que o outro, porque afinal todos eles foram amor, simples assim!. Falo isto por conta do mais recente filme de Woody Allen,”Para Roma com amor”, agora sendo comparado ao penúltimo “Uma noite em Paris”. Com suas elegias as cidades símbolos do mundo ocidental, Allen como criador traça sua visão de extrema inteligência em modos e fazeres destes lugares. Em Roma, ele embala ao “Volare”, clássico da musica italiana, pra contar sobe amor, dando um viés cômico como é do seu feitio, a onda crescente do “instante celebrty”, aos mecanismos da mídia casal e até com m “alter-ego”, que solta pérolas como: “Se estiver conversando com Freud, peça meu dinheiro de volta” ou “um diretor não quer que você entenda”, total cara deste diretor quase gênio, que ao longo do tempo fica melhor e mais engraçado. “Para Roma...” é uma delicia pra rir e relaxar, nele estão Alek Baldwin, Roberto Begnini, a veterana woodialiana, digamos assim, Judy Davis e o próprio Allen, em momentos de “pastelão caricatural” que valem pelo filme todo. Corra !(Ismaelino Pinto)

AS TREVAS DA DIVERSÃO

O filme Batman (O cavaleiro das trevas ressurge) é provavelmente um trabalho sobre superioridades. Assim como o personagem, ele vem para ser supremo. O cinema americano atual, cinema grandioso, feito para massas é superior em vários aspectos. Neles estão as superioridades tecnológicas, a dominação de uma técnica capaz de nos levar e transportar por algumas horas para um universo cheio de formas, conteúdos e conceitos, que pode não existir, mas a imposição nos faz parte de tudo aquilo que se vê. Há um mundo projetado que é parecido com o nosso, feito de pessoas como nós somos. Nesta nova versão, a Cavaleiro das Trevas ressurge mais humano, os seus coadjuvantes nesta história são “gente como a gente”. A história tem até citações bíblicas como se seus “deuses” fossem cultuados como o nosso. Christopher Nolan, o diretor, é hábil, não há como negar sua inteligência. Mesmo dentro de uma mega estrutura consegue ser “intimo” como diretor de cena, mesmo na massa sobrepõe o individuo desta aventura que arrebata, contagia pela mentira absolutamente verdadeira. O elenco, cheio de bons e ótimos atores como: Michael Caine, Gary Oldman, Anne Hathaway, Tom Hardy, Morgan Freeman, Joseph Gordon-Levitt e Marion Cottilard, todos a serviço desta “verdade inexistente” e que lhe permite dar uma carga real ao que se vê. Isto é manipular de forma inteligente nossa pequena capacidade de duvidar. Talvez este seja um dos filmes mais emblemáticos dos últimos tempos, pra quem não está atento a sua particular forma de contar uma história, taí um dos grandes espetáculos de dominação daquilo que se pode chamar de diversão. Corra !(Ismaelino Pinto)

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O MELHOR EM DVD

Com poucos filmes realmente bons nas telas dos cinemas comerciais resta ao cinéfilo o DVD e os títulos da programação extra. No DVD, ou cinema doméstico, está o tesouro enterrado na memória de tantos que elegeram o cinema como seu “hobby” ou a sua arte preferida. Esta semana, revi alguns títulos que me agradaram quando de uma primeira visão. O mais especifico não é nenhuma obra-prima, mas é desses filmes simples sobre gente simples que de alguma forma cativam o espectador. O caso de “Corações Enamorados” (Young at Heart/EUA, 1954) da dupla Henry Blank (produtor) e Gordon Douglas (diretor), a mesma que fez no ano seguinte “O Semeador de Felicidade”(Sincerily Yours/EUA,1955), único com o pianista Liberace (sucesso de público em Belém). Corações...”é o filme que reuniu duas vozes aclamadas: Frank Sinatra e Doris Day. No filme, Sinatra é um compositor amargurado e Doris a caçula de 3 irmãs filhas de um diretor de conservatório musical. O romance é tempestuoso (e surpreendente) mas, pelo menos duas canções marcaram: a que abre e fecha o filme (e lhe dá o titulo original) e a que Doris canta num piquenique na praia (creio que se chama “Hold me in your arms”).Minhas filhas ainda elegem o filme entre os seus preferidos. É “a cara” de um tempo (anos 50/60). Douglas era um diretor eclético tendo trabalhado diversos gêneros, até ficção cientifica(“O Mundo em Perigo”/Them, 1952). Vale a pena rever ou conhecer. “O Homem que Queria ser Rei”(The Man Who Would be a King/UK 1975) é uma aventura bem humorada que só subiu de conceito por ter John Huston na direção. Ele se dizia um aventureiro, e descreveu suas peripécias num livro de memórias. Aqui ele segue Rudyard Kipling, o autor de “Mogli” e de “Se...”(If), detalhando a historia de 2“vigaristas’ ingleses que vivem do trafico de armas e acabam conquistando a confiança de tribos do Kafristão seguindo para o Himalaia e um deles confundido com o filho de Alexandre Magno. Sean Connery e Michael Caine defendem muito bem os papéis e o final é de uma ironia sedutora. Uma superprodução meritória candidata a 4 Oscar. O que pretendeu Kipling foi fazer uma crítica ao imperialismo britânico. “Cova Rasa”(Shallow Grave/UK,1994) é o primeiro filme que Danny Boyle(“Quem quer ser um Milionario?”, “172 Horas”)dirigiu. Produção modesta que nos extras do disco se sabe em detalhes como conseguiu ser realizada, trata de 3 amigos que abrigam um estranho em seu apartamento, este morre e deixa maleta cheia de dinheiro. Obviamente se trata de roubo e não demora quem procure o “ladrão de ladrões”. Mas os donos do apartamento, dois rapazes e uma jovem, pensam em ocultar tudo, enterrando o morto com o cuidado de não deixar impressões digitais. Há muito de humor negro no roteiro de John Hodges e desempenhos corretos de Ewan McGregor, Kerry Fox e Christopher Eccleson. O ritmo ágil propicia um suspense digno de Hitchcock. “Conflito das Águas”(Tambien la Lluvia/Espanha,2010) mostra uma equipe de filmagem tentando rodar um longa-metragem sobre a descoberta da America em Cochabamba, na Bolívia. Mas nesse momento a água que serve à população, a maioria descendente de índios, é reclamada pelo governo. Há uma revolta e um dos protagonistas é preso. O diretor de produção tenta salvá-lo em meio ao caos que se instala na região. Nesse momento, não há como deixar de lado a visão de como o grupo de cinema procura intervir nas discrepâncias de tratamento dão pelos líderes do governo ao grupo minoritário. De uma visão sobre a arte, a arte de viver é o mote dos que têm consciência política e não conseguem deixar de se comprometer com a situação. Procede a escolha do personagem do diretor do filme em ajudar os seus “atores” em uma outra hora. Muito bom.Filme detentor de 16 prêmios, inclusive no Festival de Berlim do ano passado. Dos atores conhecidos destacam-se Gael Garcia Bernal e Luis Tosar. Inédito nos cinemas de Belém.(Luzia Álvares)

A LISTA QUE CAIU COM O CORPO

Saiu outra lista de melhores filmes de todos os tempos. Agora é da revista inglesa “Sight & Sound” que de vez em quando comete esse tipo de coisa. A lista de agora, de 50 títulos, é uma piada. Só tem um filme de Chaplin(Luzes da Cidade) assim mesmo no 50º posto. E tira “Cidadão Kane”, que era o preferido de outros carnavais para votar “Um Corpo que Cai”,ou melhor, “Vertigo”(o nome brasileiro é um replay do ridículo que fizeram com outro filme de Hitchcock: Sabotage, que virou “O Marido é o Culpado”(1936). Eu acho graça dessas listas. Melhor foi a turma que editou o livro “1000 Filmes Para Ver Antes de Morrer”. O titulo do livro parece coisa da Hammer Films, empresa inglesa especializada em terror. Mas até que cabia o cinema que eu prezo. Essa listinha do pessoal da “Sight & Sound”é uma coisa que esquece Griffith, o pai do cinema, que esquece o expressionismo alemão, que minimiza o neorealismo italiano, que nem sabe do cinema francês de gente como Marcel Carné e Abel Gance (cadê “Les Enfants du Paradis” e “Napoleon”?), que joga fora o próprio Hitchcock de “A Janela Indiscreta”, “Pacto Sinistro”, “Suspeita” e “A Sombra de uma Duvida”, esnobando a comédia sofisticada americana de Capra, Preston Sturges. Hawks e outros mestres. Daqui a pouco vai ter careta fazendo sua listinha dos filmes mais chatos da história do cinema. Aí sim, quem fez a lista atual ganha vez...(Pedro Veriano)

GENERAL BATMAN


Vendo este “Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge”, debaixo de um frio polar que os compressores da sala de projeção ofereciam, pensei que o morcegão deve ter alguma patente do governo norte-americano. Se existe um Capitão América, o ufanismo do filme de Chris Nolan indica um General Batman. A promoção vale pela demonstração de patriotismo dada em sequencias como aquela em que um garotinho canta, contrito, o hino nacional, e o campo de rugby onde ele está vira farelo. A destruição e a seguinte demonstração dos planos governamentais do vilão da historia é pura guerra fria. Gothan City seria socialista. Antes de explodir um estádio ele,vilão, explodiria a Bolsa de Valores e grandes industrias (e casas de comércio). Só não explodiria Hollywood, é claro. Contra esse estado de coisas Batman sai do exílio, machucado várias vezes, até saco de pancada do bandidão chamado Bane (podia ser um banen de site da Warner) e volta a ser o superheroi que vai ganhando a peleja até no final quando, apesar de ter levado uma facada, pilota o batplano para jogar no mar uma bombinha atômica. O filme é um mimo de efeitos especiais, de iluminação, de edição. Mas a troco de mesmice datada dos 50. Tudo bem que isso é uma prova de coerência: Batman foi criado em 1939 e alimentado depois de um estágio em 1948 por festejada série de TV e depois o filme de Tim Burton com Jack Nicholson feito “o homem que ri”, menos Victor Hugo & Conrad Veidt (como quis Bob Kane o pai do herói na HQ) e mais um Coringa (Joker)a melar qualquer jogo. Li que se falou deste filme no páreo dos Oscar. Tudo é possível. Até mesmo se Terrence Malick chegar com o seu novo trabalho que abre agora o Festival de Veneza. Sei lá, mas qualquer dia aparece uma refilmagem de “Fui Comunista para o FBI”com o nome “Fui Terrorista para a CIA”. E se a gente pode esperar “Batman e Robin “(de novo) também pode esperar o Super Homem ,ou Superman, ensinando que o seu planeta, o Krypton, foi pras cucuias porque tinha terrorista agindo. E o “homem de aço”vai ter que exorcizar esse mal enrolando os fragmentos de seu mundinho na bandeira americana....(Pedro Veriano)

"TORRENTES DE PAIXÃO" NO CC PEDRO VERIANO DIA 14/08/12


"TORRENTES DE PAIXÃO"
Original: Niagara – EUA,1953
Direção de Henry Hathaway
Elenco: Marilyn Monroe, Joseph Cotten, Jean Peters.
Argumento: Um casal em lua de mel hospeda-se num motel perto da catarata de Niágara e testemunha um conflito conjugal que leva um marido traído à uma missão de vingança.
Importância Histórica : Com um argumento que Hitchcock gostaria de assumir, o filme inaugura o estereotipo de mulher sensual que Marilyn Monroe passou a usar. Filmado na cena da ação mostra um gradativo suspense na direção experimentada de Henry Hathaway. O final foi muito discutido na época de estreia, mas usa bem a beleza e o medo que inspira uma das maiores quedas-d’agua do mundo. Homenagem à Marilyn Monroe.

SESSÃO ACCPA/CASA DA LINGUAGEM
CINECLUBE PEDRO VERIANO
(Auditório da Casa da Linguagem - Assis de Vasconcelos com Nazaré)
"TORRENTE DE PAIXÕES"
TERÇA-FEIRA
DIA 14/08/12
HORÁRIO : 18H
ENTRADA FRANCA
APOIO : ACCPA

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