quarta-feira, 31 de outubro de 2012

GONZAGAS : O FILME

Nos meus verdes anos eu era colecionador de discos (aqueles de cera). E a maioria era da nossa musica popular. Foi o tempo em que se lançou “Baião” de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira com interpretação de Luiz. O depois deputado Raimundo Noleto, que morava em minha casa, achava, vaidoso, que a letra mencionava a sua cidade natal, Xerente (Go). Não deu para contestar, mas o disco fez sucesso. E o que Luiz gravou a seguir também. Lembro-me de “Qui Nem Jiló” com saudade de um tempo em que sanfona, digo acordeom, era moda. No Mosqueiro, onde minha família se refugiava nos períodos de férias, as moças amigas de meus pais tocavam isso. Eram as “gonzaguinhas”, quando, na verdade, já seguiam Mário Mascarenhas, aquele que apareceu tocando sobre uma carroça no último filme de Humberto Mauro “O Canto da Saudade”(a música era “O Canto do Pagé” de Villa-Lobos).
O mundo musical de Lua (Luiz Gonzaga) surge no filme “Gonzaga: De Pai Pra Filho” escrito e dirigido por Breno Silveira. Vi contendo a emoção. Mas rendi meu senso critico no final quando surgiu, acompanhando os créditos, “O Que é O Que é” de Gonzaguinha. Ali está a síntese do drama que rolou entre pai e filho. Mas o filme cobre a infância do pai, dá conta do agreste, consegue a cor nordestina, e mesmo fazendo locações turísticas no Rio(o Pão de Açúcar em segundo plano para efeito de exportação), deixa a ideia de como foi sacrificada a vida do compositor& instrumentista & cantor. O drama real passa na rapidez da linguagem direta como um (bom) melô. A vida é assim mesmo e o filho do sanfoneiro diz bem que ela “podia ser melhor e será, mas é bonita, é bonita e é bonita”. Daí um quase fecho apoteótico com o show dos dois músicos se reconciliando no tom e no abraço. Antes, o primeiro abraço deixa o sol no fundo. Recursos velhos de linguagem que ainda fazem efeito. Ninguém deixa de fazer cinema do tempo da “cena muda” por vergonha de ser “demodée”. Gosto desta opção do Bruno Silveira. Nos filmes dele “não há vergonha de ser feliz”(ainda a canção do Gonzaguinha). E até por isso o filme não chega às mortes dos personagens, tão próximas uma da outra. Gostei do que vi. Cheguei a conter as lágrimas incitadas pelo encadeamento dos fatos. E os atores foram tão parecidos com os tipos vividos (especialmente Julio Andrade no Gonzaguinha adulto) que espantou. Espero que o publico prestigie o filme. Já chega de lotar cinema só com neopornochanchadas.(Pedro Veriano)

JAMES BOND NA PROGRAMAÇÃO


Grandes atrações estreiam esta semana em Belém: “007 Operação Skyfall” e “Gonzaga de Pai pra Filho”. Eses filmes devem estar em salas dos dois circuitos comerciais nos shoppings da cidade. Na área extra prossegue “Fausto”, de Alexandr Sokurov, no Cine Estação (de hoje a domingo), já considerado um dos melhores filmes deste ano pela critica local. E, no Olympia, segue a mostra de melodramas com títulos que marcaram época.
“007 Operação Skyfall” (EUA, 2012) é o 23º filme do personagem criado por Ian Fleming. Com exceção de Tarzan ele é o mais duradouro tipo em aventuras filmadas. Desde 1962, ou seja, exatamente há 50 anos, quando estreou “O Satânico Dr No”(Dr No), essa figura já teve as caras dos atores: Sean Connery (6 filmes), George Lazenby (1), Roger Moore (7), Timothy Dalton (2), Pierce Brosnan (4) e agora Daniel Craig(3). O personagem 007 ganhou fama quando o então presidente John Kenneedy disse,numa entrevista, que seu livro de cabeceira, na época, era “Dr No”. Logo os produtores Harry Saltzman e Albert Broccoli assumiram a tarefa de levar a trama ao cinema e escolheram o ator escocês Sean Connery para o papel principal. Iniciava-se a grande franquia que resistiu ao autor da obra literária original e hoje se adapta às novas tecnologias adentrando pelo terreno da ficção cientifica. O novo filme, um detalhe do passado de Bond (Daniel Craig), leva-o a um conflito com M (Judi Dench), sua chefa imediata, e um motivo de suspense quando entra em cena M16. Alias, o diretor Sam Mendes evitou contar a trama para a imprensa internacional. O trailler já mostra que Bond fica em perigo de morte. Mas isso não é novidade. Resta saber como esse perigo vai prender o espectador na poltrona do cinema por mais de duas horas.
“Gonzaga De Pai Pra Filho”(Brasil, 2012) é dirigido por Breno Silveira (de “Os Filhos de Francisco” e do recente “Na Beira do Caminho”) e se baseia em entrevista com Gozaguinha, o filho do Rei do Baião, falecido prematuramente em um desastre. Há menção ao relacionamento tumultuoso entre pai e filho e a infância difícil do músico. Muito se espera desta homenagem ao compositor e sanfoneiro que faria 100 anos neste 2012. As filmagens foram feitas na terra dele, Exu (Pe), e no Rio de Janeiro. O filme ganha lançamento nacional e tem Júlio Andrade como Gonzaguinha e Nivaldo Expedito de Carvalho como Gonzagão (ou Lua). No cinema Olympia encerra-se a mostra de melodramas clássicos hoje com “Madame X” e amanhã com “Amar foi Minha Ruína”.
No domingo haverá um programa especial de filmes de animação (curta metragem) homenageando o dia consagrado a esse gênero de cinema. E na 3ª feira inicia uma nova mostra, desta vez dedicada aos melhores filmes dirigidos por Alfred Hitchcock. Serão exibidos: “O Homem que Sabia Demais”, “Intriga Internacional”, “Janela Indiscreta”, “Os Pássaros”, “Um Corpo que Cai” e “Psicose”. “Amar foi minha Ruina”(Leave her to Heaven/EUA,1946) baseia-se no livro de Bem Ames Williams e focaliza uma socialite (Gene Tierney) que se casa com um homem(Cornel Wilde) que conheceu numa viagem de trem desprezando o interesse que por ela tinha um politico (Vicent Price) em ascensão. Desfazer o casamento sem perder status, além de alimentar ciúmes da irmã (Jeanne Crain), faz com que ela tome atitudes dramáticas. O desempenho de Tierney foi muito elogiado e ela chegou a ter uma indicação(a única de sua carreira)ao Oscar. Direção de John M. Stahl. “Madame X” (1966), filme de David Lowe Rich deu motivo a uma das primeiras telenovelas brasileiras (“A Ré Misteriosa”, na TV Tupi). No filme, Lana Turner protagoniza a mulher fracassada no casamento que se torna criminosa e é defendida em júri pelo filho que não sabe ser ela a sua mãe. As sessões do Olympia são sempre às 18h30 e o ingresso é gratuito. (Luzia Álvares)

"O LIVRO DE CABECEIRA" NO CINE SARAIVA DIA 01/11

“Livro de Cabeceira”, filme do britânico Peter Greenaway, será exibido amanhã (01) Peter Greenaway nunca foi um cineasta dado a convencionalismos. Quando aborda a história de uma menina japonesa que cultiva o ritual da escrita corporal, ele o faz de uma maneira onírica, passional e filosófica. “O Livro de Cabeceira” transforma essa particularidade singular numa força catalisadora entre dois mundos, o do ocidente e do oriente. O filme poderá ser conferido nesta quinta-feira, 01 de novembro, no Cine Saraiva – programação da Associação de Críticos de Cinema do Pará. Desde pequena, Nagiko (Vivian Wu) é brindada pelo pai escritor (Ken Ogata) com um presente: saudações são escritas belamente em seu rosto e nuca. Ela passa a entender aquilo como uma tradição, como se a pele fosse o papel através do qual o pai dava vazão aos sentimentos pela filha. Mas a trama começa a ganhar um significado diferenciado quando um livro erótico (homônimo) datado do século 10, é dado de presente a Nagiko por sua tia (Hideko Yoshida). Estamos no Japão, em plena década de 1970 do século 20, quando o sexo é livre, mas as mentes são dominadas pelo politicamente correto. Nesse contexto, a moça se utiliza dos aprendizados do livro para usar o corpo de seus amantes e fazer das suas peles, o seu livro de cabeceira. Imagem e letra, prazer e dor vão se alternando num arcabouço estético quando a história de Nagiko é transformada em imagens pelo esteta Greenaway. Ele utiliza o enredo para explorar a relação entre o homem e a arte, primordialmente a anatomia humana. Com um estilo visual inovador e estonteante, observamos como, para ela, escrever nos corpos é tão importante como respirar.
O movimento da câmera acompanha o deslizar das tintas no corpo, que por sua vez penetram na pele e perpassam o patamar de fetiche. Pois se é o corpo, as mãos, que escrevem, nada mais natural que, a partir delas, as letras e símbolos voltem para a derme. Não é possível acompanhar o que se passa em cada ‘frame’ que Greenaway produz assim como a leitura de uma palavra sobre a outra dentro do suporte literário, tem que estar encadeada num conceitou ou ideia. E aí os ideogramas orientais ganham ainda outra significância – Eisenstein em seu “A forma do filme”traçou um paralelo entre a imagem de cinema e um ideograma. Quando surge Jerome, o escritor e tradutor britânico interpretado por um jovem Ewan McGregor, Nagiko parece ter alcançado no amor, uma resposta à existência, dentro de um caráter que beira o inexplicável sem abandonar o que é intrínseco a toda uma compreensão racional da vida. Ela não consegue escrever no corpo dele com precisão e entrega o seu corpo a ele para que seja preenchido por palavras numa língua que não é a sua. Apesar de alguns momentos mórbidos e estranhos, é o filme mais romântico de Greenaway e talvez um dos mais acessíveis. (Lorenna Montenegro)

SERVIÇO:
Sessão ACCPA/Saraiva apresenta “O Livro de Cabeceira”, de Peter Greenaway. Nesta quinta, 01, às 19h, no espaço Benedito Nunes da Livraria Saraiva ((Boulevard Shopping, 2º piso). Entrada Franca. Após o filme, debate entre o público e membros da Associação de Críticos de Cinema do Pará.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

ÚLTIMO FILME DE ROMAN POLANSKI NO CINE ESTAÇÃO



O cineasta Roman Polanski está de volta ao circuito cinematográfico da cidade com “Deus da Carnificina” (Carnage), com Kate Winslet, Christoph Waltz e Jodie Foster, que tem estreia confirmada no Cine Estação das Docas a partir do desta quinta-feira, 1º de novembro. O filme é uma adaptação da peça homônima de Yasmina Reza, ganhadora do Tony Awards, e acompanha a história de dois casais que se encontram depois de seus filhos se envolverem em uma briga na escola. O encontro é um desastre, mas serve para dar início a uma análise conjugal dos casais e um estudo cínico sobre conceitos como educação e civilidade.
 A princípio, o encontro tem a intenção de selar a paz entre os garotos e colocar um ponto final na história. A cordialidade lentamente transforma-se em alfinetadas que culminam em hilárias situações e ofensas grotescas. Comédia de humor negro, “Deus da Carnificina” presta tributo as suas origens teatrais, sendo filmado em um só cenário para uma espécie de encontro de máscaras que vai se destruindo pouco a pouco a partir de uma bolsa jogada ao alto, um celular sempre interrompendo as conversas, alguns goles de uísque e um hamster abandonado. Impedido judicialmente de entrar nos EUA,
Roman Polanski é considerado um dos melhores diretores do mundo em atividade, responsável pela famosa trilogia do apartamento ("Repulsa ao Sexo", "O Bebê de Rosemary" e "O Inquilino"), o thriller noir “Chinatown”, a coreografia macabra de “A Dança dos Vampiros”, e um passeio por gêneros distintos que renderam a realização de “Tess”, a pegada hitchcockiana de “Busca Frenética” e “O Escritor Fantasma”, o humor sinistro de “O Último Portal”, dramas contundentes como “O Pianista” e “A Morte e a Donzela”, entre outros títulos.

Serviço Deus da Carnificina De Roman Polanski. Com Kate Winslet e Jodie Foster. 80 min. 18 anos. Cor 1º (quinta): às 18h e 20h30 2 (sexta): às 18h e 20h30 3 (sábado): às 18h e 20h30 4 (domingo): às 10h, 18h e 20h30 16 (sexta): às 18h e 20h30 17 (sábado) às 18h e 20h30

domingo, 28 de outubro de 2012

PROGRAMAÇÃO ACCPA - NOVEMBRO/2012

PROGRAMAÇÃO ACCPA - NOVEMBRO/2012 


CC ALEXANDRINO MOREIRA - 19 h
DIA 05 - A IGUALDADE É BRANCA (k. Kielowski)
DIA 12 - A FRATERNIDADE É VERMELHA (k. Kieslowski)
* filmes da Trilogia das Cores

CC CASA DA LINGUAGEM - 18 h
DIA 06 - O BOULEVARD DO CRIME (Marcel Carné)(1ª PARTE)
DIA 13 - O BOULEVARD DO CRIME (Marcel Carné)(2ª PARTE)

CINE SARAIVA
DIA 01 - O LIVRO DE CABECEIRA (Peter Greenway)- 19 h
DIA 29 - 2001 UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO (Stanley Kubrick) (Parceria com a Academia Paraense de Ciências) - 17 h

CINE SESC BOULEVARD - 19 h
Dia 14 - VINCERE (Marco Bellocchio)

CINE LÍBERO LUXARDO - SESSÃO CULT (EXIBIÇÃO NA SALA DA FONOTECA)- 16 h
DIA 24 - ANTES DO AMANHECER (Richard Linklater)
* em dezembro será exibido a sequência ANTES DO POR-DO-SOL

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

HOLYWOOD CONTRA HITLER

A Versatil Home Video lançou um pacote de DVDs com o nome ‘Hollywood Contra Hitler”. São 6 filmes rodados pouco antes e durante a 2ª.Guerra Mundial. São eles: “Confissões de um Espião Nazista”(1939) de Antaloe Litvak, “Uma Aventura em Paris”(1942) de Jules Dassin, “Tempestade D Alma”(1940) de Frank Bozarge, “Horas de Tormenta”(1943) de Herman Shumin, “A Sétima Cruz”(1944) de Fred Zinnemann e “Os Filhos de Hitler”(1943) de Edward Dmityrk. Do grupo eu só não gostei do que eu não conhecia: “Os Filhos de Hitler”. Mas todos merecem aplausos. E emocionam hoje como ontem. “Tempestade D’Alma” e “A Sétima Cruz” são cruciais na demonstração do terror de uma ditadura. O primeiro focaliza a família de um pacato professor (Frank Morgan) que não vê, a principio, ameaça na eleição de Hitler para Primeiro Ministro. O quadro político vai se firmando no fanatismo gerado por uma xenofobia só explicada na ânsia dos alemães em superar a crise econômica pós-Primeira Guerra e na lenda de Sigfried onde se prega a supremacia racial (como se os jovens alemães pensasse, que eram como dizia Hitler, um povo superior por determinação eugênica). O professor é preso e morre. A filha é seguida pela história na sua fuga do país. Mas o filme não pousa no romantismo de Hollywood. É cruel. Como cruel é o drama do fugitivo de um campo de concentração que sempre espera favor dos amigos e encontra uma aventura amarga – mesmo antes do furor nazista. Filmes bem realizados, com ótimos atores e o cuidado de produção que cercava a velha Hollywood onde ao invés de locações se lavava o mundo para dentro dos sets. De parabéns a distribuidora pelo lançamento.(Pedro Veriano)

DISCUSSÃO EM FAMÍLIA


Raro experimento de Roman Polanski na área do teatro, “O Deus da Carnificina” (Carnage/UK, EUA,2011) foi adaptado de uma peça da francesa Yasmina Rez, lançada em Londres. Focaliza duas famílias discutindo em uma sala o desentendimento entre seus filhos. O que pode se restringir a uma conversa civilizada que apare arestas acaba se transformando numa espécie de “campo de batalha” onde as pessoas deixam vazar sua violência interior. O filme foi premiado nos EUA (Boston), Espanha, França e Veneza, além de ter sido candidato a 11 outros prêmios. Salientam-se as atrizes Jodie Foster e Kate Winslet, mães que se digladiam por seus filhos e que acabam por expor simpatias que nunca haviam exteriorizado. No elenco, ainda, Christoph Waltz e John C. Relly. Interessante é como Polanski mantém a unidade de lugar (tudo se passa entre quatro paredes) e, mesmo assim, faz cinema com a movimentação intensa de câmera e oportunidade dos cortes. Ao que se sabe, a realização se deu em pouco tempo, como se o diretor filmasse a peça do modo como foi encenada. Só que usou várias câmeras. Filme inédito nos cinemas locais.
Filmes que recentemente estiveram nos cinemas comerciais chegam às locadoras de DVD. Entre outros: “Branca de Neve e o Caçador”, “Prometheus”, “A Era do Gelo 4”, “Sombras da Noite”, e “Battleship, A Batalha dos Mares”. Todos comentados aqui na coluna quando de seus lançamentos em tela grande. Nada de excepcional. Outro exemplar em DVD que ainda prende a atenção depois de 72 anos de editado é “Tudo Isto e o Céu Também”(All This and Heaven Too/EUA, 1940). A super-atriz Bette Davis, longe da imagem de megera que deixou em títulos como “A Malvada” (1950), “Pérfida”( 1941), “O Que Terá Acontecido á Baby Jane”(1962), neste filme representa uma jovem que na Paris do século XIX se emprega como governanta de um duque (Charles Boyer), incitando o ciúme doentio da esposa deste (Barabara O”Neil). O relacionamento acaba em tragédia e a historia é contada em “flash-back” pela principal personagem feminina quando professora nos EUA. Narrando os acontecimentos que a vitimaram consegue dissipar a antipatia das alunas moldada no que a mídia registrou do conflito passado. Uma direção segura de Anatole Litvak (“A Noite dos Generais”, ”Anastácia”) mantém o melodrama potencial em um plano que vence os cacoetes comuns no gênero e na época da produção. “Anjo da Rua”(Street Angel/EUA, 1928) é um dos últimos filmes de sucesso da fase silenciosa. Janet Gaynor, atriz de “Aurora”(de Murnau) chegou a morar no Brasil por um tempo. Protagoniza uma jovem pobre que necessita de dinheiro para comprar remédio para a mãe doente e não hesita em roubar para isso. É presa, foge, mete-se num circo, ganha a simpatia de um pintor, mas um acidente leva-a às ruas e com muito sacrifício consegue reverter um quadro doloroso. Direção de Frank Bozarge, cineasta que se tornou famoso no gênero deste “Anjo...”.
Outro filme de décadas passadas que teve seu momento de gloria é “Duas Semanas de Prazer” (Holiday Inn/EUA, 1942) de Mark Sandrich (“O Picolino”). Fred Astaire e Bing Crosby revezam romances e números musicais de Irving Berlin. Foi o filme que lançou a canção “White Christmas”, premiada com o Oscar. Este espaço tem propiciado a referência somente a filmes que são lançados nas locadoras. Mas em casas que comemrcializam DVDs acompanho e tenho adquirido cópias de produções importantes como “Para Sempre Mozart” (1996) de Jean-Luc Godard, filme que faz parte das nove obras que ele chamou de Histórias do Cinema realizadas entre 1996-1998; “O Livro de Cabeceira” (1996), de Peter Greneway; “Segredos do Poder” (1998), de Mike Nichols sobre campanhas eleitorais norte-americanas. Na próxima segunda feira vou tratar deles, haja vista que estão a disposição dos que têm sua sala particular de cinema.(Luzia Álvares)

PARANORMALIDADE E CINEMA

A paranormalidade, condição ou situação de quem ou do que é paranormal, diz respeito a fenômenos não explicados rotineiramente pela ciência, sobrenaturais. O cinema tem se valido desses fenômenos a partir do medo que gera o desconhecimento. Um evento não explicado ocorrendo em determinado ambiente é implicitamente um fato que amedronta. E filmes como “Atividades Paranormais” se apegam a isso. Essas “atividades”, que já atingem a quarta edição, seguem uma linha narrativa sem roteiro, imitando o cinema amador na busca de um realismo que possa estimular o medo. Sempre em foco dependências de uma casa, pessoas de uma família, crianças e objetos que se movem de forma barulhenta principalmente à noite. A regra é nunca “mostrar” o fantasma, ou, se for preciso, deixar que se veja um vulto, uma nuvem, nada de monstros ou qualquer figura bizarra que se evidencia pelo aspecto físico. O pavor surge, por exemplo, de um objeto que cai, de um rosto que aparece de súbito em primeiro plano seguido de um acorde brusco, ou de uma diferença de iluminação (também súbita) no quadro. O quarto episódio dessa série de filmes faturou a maior bilheteria da semana nos EUA.
O custo da “brincadeira” é baixissimo, mas, a julgar pelo que rende, pode-se afirmar que a fórmula não se exauriu – e nem adianta mencionar diretor ou atores, visto que tudo faz parte de uma engrenagem harmônica que seduz produtores ávidos de lucro fácil. O título do flme já referenda a amostragem de fenômenos de psicocinese, como o movimento de objetos físicos etc., sem qualquer explicação para o público no esquema dos ruidos demonstrados. É só isso e nada mais. Um filme que discute a paranormalidade, “Poder Paranormal” (Red Lights/Espanha, EUA, 2012, 1h53m) teve rápida passagem em uma sala de cinema distante do centro da cidade. Talvez porque não tenha como objetivo assustar os espectadores (que se divertem gritando ou segurando o parceiro de poltrona). O roteiro (também a direção, a edição e a produção) do espanhol Rodrigo Cortés trata de dois cientistas, uma veterana (Sigourneyy Weaver) e seu assistente Tom Buckley (Cillian Murphy) que visitam casas onde os moradores afirmam existir fantasmas circulando nas dependências. A primeira seqüencia trata disso. Mas é reticente. Diz-se de recursos para levantar mesas em reuniões mediúnicas forjadas, mas não se conclui a observação. Os pesquisadores preparam-se para enfrentar um famoso médium, afastado de todos há 30 anos desde a morte de uma pessoa em uma de suas sessões.
O personagem (Robert De Niro) é cego e a sua volta em um teatro com ingresso pago, leva multidão a assisti-lo trazendo admiração em meio à expectativa. Margaret, a pesquisadora de meia idade, guarda do médium que ora volta à cena uma conversa com ela quando seu filho sofre um desastre entrando em estado de coma. Ela não quer desligar os aparelhos, pois espera encontrar, com suas pesquisas, indicios de uma existência além da vida. Mas o médium afirma estar vendo uma criança, próxima da pesquisadora, que pedia que a libertasse. “-Deixe-a ir”, diz ele. Isso a leva a ter prudência em um novo encontro com o medium. E seu colega segue essa prudência. Fatos acontecem que levam o filme à uma sequencia apoteótica, criticada pelos céticos observadores. De fato, Cortés apresenta duas variantes de linguagem. A primeira é moldada no ceticismo dos cientistas e vê de longe os chamados fenômenos paranormais. A segunda é uma licença ao recurso formal de espetáculo. Isso realmente destoa. Ainda mais quando o que seria certamente explicado pelo espectador atento ganha um aspecto redundante na fala de um personagem. Mas “Poder Paranormal", ou “Luz Vermelha”(Red Lights) da tradução original, está acima desses ensaios de franquia sem qualquer responsabilidade seja cinematográfica seja cientifica. É um filme sério, procura ser antidogmático, e o diretor de “Enterrado Vivo” torna a mostrar que tem imaginação e sabe fazer cinema. Felizmente não aderiu ao “caça níquel” dos atuais colegas norte-americanos.(Luzia Álvares)

A OBSCURA MENTE DE UM MATEMÁTICO

Com a ficção científica “π” Darren Aronofsky estreia em Hollywood imprimindo um estilo muito peculiar A perturbação numérica vivenciada por um jovem gênio é o foco de “Pi”, primeiro filme de Darren Aronofsky, que vem construindo uma carreira como cineasta afeito as imagens e sensações que povoam os pesadelos. Em exibição na sessão Ciência desta quinta-feira, 25, na Saraiva, a obra em preto e branco não é um programa fácil, mas dá muita margem para argumentações, o que é do interesse da Academia Paraense de Ciências, que programa a sessão juntamente com a Associação de Críticos de Cinema do Pará.
Numa ora solar, ora enevoada Manhattan reside Max (Sean Gullette), um matemático genial que trabalha com computação e, à semelhança de um vampiro, anda pelas sombras. A visão do astro-rei lhe provoca náuseas e constantes dores de cabeças, assim como ruídos estridentes – como o de conversas –, por isso evita o contato com pessoas. Em busca de um padrão numérico universal, ele finalmente se depara a resposta aos seus estudos sobre as combinações provenientes da Bolsa de Valores de Wall Street. É uma questão de tempo até que ele passe a ser perseguido por magnatas e yuppies que desejam ganhar mais dinheiro através da sua descoberta. Para Max, a resposta vai além do entendimento físico. Para ele, o padrão é chave para compreender a natureza. Ele acredita que a Matemática é a linguagem da natureza. Ao mesmo tempo, um grupo de judeus acha que o que matemático encontrou foi na verdade um padrão no Torá então ambos tentam fazer com que Max lhe explique sobre sua descoberta.
Em meio a intricada trama investigativa, Max é aconselhado pelo seu mentor Sol Robeson – que na vida real era um grande matemático e jogador de golfe - a tomar cuidado, pois sua pesquisa pode levá-lo a consequências muito graves. Realizado logo após a formação na Universidade de Harvard, Aronofsky explorou nesse filme os conhecimentos obtidos na academia em interpretação, animação e montagem, aliadas a uma linguagem cinematográfica rebuscada e que bebe na fonte do expressionismo alemão. Em fevereiro de 1996 começou a criar o conceito de “π”, que levou dois anos para ser lançado e lhe rendeu o prêmio de melhor diretor do Festival Sundance de Cinema, o que lhe gabaritou para dirigir um projeto maior. A marca registrada de Aronofsky é uma técnica conhecida como hip hop montage. Essa técnica mostra imagens ou ações mais com velocidade aumentada, acompanhada de efeitos sonoros, tentando simular alguma ação. (Lorenna Montenegro)

SERVIÇO: Sessão ACCPA/APC apresenta “Pi (π)”, de Darren Aronofsky. Nesta quinta, 25, às 17h, no espaço Benedito Nunes da Livraria Saraiva ((Boulevard Shopping, 2º piso). Entrada Franca. Após o filme, debate entre o público e membros da Associação de Críticos de Cinema do Pará e da Academia Paraense de Ciências.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

UM RETRATO DA FOME QUE NÃO TEM COR




“Garapa” é uma contundente e dolorida obra sobre a vida de algumas famílias miseráveis do nordeste Lançado em 2009, o documentário “Garapa”, de José Padilha será exibido no SESC Boulevard nesta quarta-feira (24), com debate mediado pela Associação de Críticos de Cinema do Pará. É oportunidade de ver um filme único, que teve sua pré estréia na 32ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, participou da Berlinale e provou a versatilidade do cineasta brasileiro, que atualmente roda a super produção “Robocop”. Após o estrondoso sucesso de “Tropa de Elite”, José Padilha foi descansar e voltar as raízes documentais. O que se sucedeu foi a vontade de ir ao nordeste documentar a seca e a fome conseqüente da miserável paisagem. Acompanhando a vida de três famílias que passam fome no estado do Ceará, Padilha fez de “Garapa” um dos mais dolorosos filmes, cuja dureza ainda foi um tanto amenizada pela fotografia em preto e branco.
Durante quatro semanas, Padilha e sua pequena equipe registraram o cotidiano das famílias e especialmente de suas crianças que vivenciavam um estado de segurança alimentar grave. A ‘garapa’, uma mistura de água com açúcar, é aquecida e dada como alimento, muitas vezes o único, durante dias de inanição e seca. Enganar o estômago e dar energias aos que estão em fase de desenvolvimento, reflete a aspereza com que Padilha enfrenta a realidade cruel com sua câmera. Em entrevista concedida na época do Festival de Berlim, ele disse que “Garapa” se tratava do retrato da fome sem ‘filtro intelectual’. “A questão é que isso não resolve o problema. Essas crianças crescem sem condições de aprender ou disputar espaço no mercado de trabalho”, assinalou. O programa do governo Federal de erradicação da miséria, o Fome Zero também tem espaço no filme. Apenas uma das famílias entrevistadas recebem o benefício, cerca de 50 reais por mês. A voz de Padilha surge em off para questionar como é usado o recurso ínfimo.
A verdade é que “Garapa” é uma das produções mais violentas e incômodas que o cinema brasileiro já produziu - isso sem derramar uma gota de sangue. A miséria que vemos na tela é a mesma que atinge mais de 10 milhões de brasileiros, de acordo com as estatísticas e estudos do Governo Federal. E Padilha buscou alinhavar realidades ao fazer um retrato simples, com o mínimo de alegorias e informações que fossem além da história das famílias. Em meio a mais de 45 horas de material filmado, ele entregou um filme que é difícil de descolar da retina, mas que precisa ser visto e pensado pelos que almejam um país menos desigual. (Lorenna Montenegro)

SERVIÇO: Sessão ACCPA/SESC apresenta “Garapa”, de José Padilha. Nesta quarta, 24 de outubro, às 19h, no Centro Cultural SESC Boulevard (Av. Boulevard Castilho França, 522/523 - Campina). Entrada Franca. Após a sessão, debate com os membros da ACCPA.

O HOMEM DA CICATRIZ EM SUA PRIMEIRA APARIÇÃO

“Scarface” dá sequencia ao ciclo Howard Hawks na Casa da Linguagem
Bem menos famoso do que a versão dirigida por Brian de Palma e estrelada por Al Pacino em 1983, “Scarface – a vergonha de uma nação” é um dos primeiros filmes noir da história, uma obra de valor artístico e histórico irrefutável que leva a assinatura de Howard Hawks. Como o prolífico cineasta americana esta sendo homenageado em uma ciclo na Casa da Linguagem, o filme será exibido nesta terça-feira, numa programação da Associação de Críticos de Cinema do Pará. Paul Muni carrega de expressividade a interpretação do papel-título, um gangster cruel e cheio de atitudes infantis que, após eliminar o chefão do crime, toma o seu lugar.
Livremente inspirado na vida de Al Capone – que ainda era vivo e estava na ativa -, o mais famoso fora-da-lei dos Estados Unidos nos anos 20, é personificado em Tony Camonte. Vemos como o ex-capanga monta o seu império e começa a preocupar outros mafiosos como Jonnhy Loro (Osgood Perkins) e Cesca (Ann Dvorak), sua irmã e grande paixão. Ela acaba ajudando na derrocada de Camonte ao se envolver com Gunio Rinaldo (George Raft), um de seus homens de confiança. Em meio às balas, a tragédia se desenha na vida de Scarface, envolto em sombras numa Chigaco engolida pela criminalidade e o jazz. Com este filme Hawks definiu as bases do gênero filme de gangster, com um naturalismo quase documental, muita violência, algum drama e um banho de sangue no fim. Com isso, “Scarface” também consolida um tipo de personagem que viria a ser muito explorado no gênero noir e se tornaria comum no cinema contemporâneo, que é o anti-herói. Ninguém nega que Scarface seja um bandido, mas Muni e Hawks nos levam a ter piedade do homem engolido pela sua fúria e ganância.
Nota-se uma paixão por cinema vinda de Hawks que, nos minutos iniciais do filme, presta uma singela homenagem ao cinema mudo expondo "cartelas" e mostrando um salão onde houve uma festa de gangsteres, que está completamente destruída. Uma narração totalmente descritiva dá conta do que ocorreu, sem quebrar o ritmo da narrativa. A sua capacidade de alcançar temas diversos levou-o a focalizar com maestria a depressão do final dos anos 20 com os gangsteres surgidos à margem. E mesmo nos primórdios da montagem, “Scarface” mantem um ritmo quase frenético, apoiado em personagens fortes que vão movendo a trama e capturando a atenção.
E por falar nisso, atenção para a participação do grande Boris Karloff (de “Frankstein” e “A múmia”) como o asqueroso Gaffney. Sobre o ciclo – Homenageando um cineasta versátil por excelência - Howard Hawks (1896-1977) - o ciclo já exibiu “Onde Começa o Inferno”, provando a multiplicidade de temas e gêneros que o americano abordou, com uma linguagem rica e ao mesmo tempo popular. Amigo de atores como John Wayne,e o casal Humphrey Bogart e Lauren Bacall,( de quem se colocava como Cupido pois apresentou ela a ele durante as filmagens de “Aventura na Martinica”), gostava particularmente da comédia e do western. Na comédia foi considerado um dos “pais” do chamado “screwball”, que foram sucesso de bilheteria assim como boa parte dos seus filmes. (Lorenna Montenegro)
SERVIÇO: Sessão ACCPA/CPV apresenta “Scarface – A vergonha de uma nação”, de Howard Hawks. Nesta terça, 23 de outubro, às 18h no Cineclube da Casa da Linguagem (Avenida Nazaré, 31 – esquina com a Travessa Assis de Vasconcelos). Entrada Franca. Após a exibição, debate entre os críticos da ACCPA e o público.

domingo, 21 de outubro de 2012

"GARAPA" NO CINE SESC BOULEVARD DIA 24/10


"Garapa" é um documentário brasileiro lançado em 2009, dirigido pelo cineasta José Padilha (Tropa de Elite). O documentário tem como tema a fome no mundo, e teve a sua pré-estréia na 32ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
O filme é fruto de mais de 45 horas de material filmado por uma pequena equipe que, durante quatro semanas, acompanhou o cotidiano de três famílias no estado do Ceará em estado de insegurança alimentar grave.
A produção representou o Brasil na categoria documentários no Festival internacional do filme de Berlim de 2009.

CINE SESC BOULEVARD
"GARAPA"
QUARTA-FEIRA DIA 24/10/12
 HORÁRIO : 19H
ENTRADA FRANCA
APOIO : ACCPA

"PI" NO CINE SARAIVA DIA 25/10

"Pi" (EUA, 1998), escrito e dirigido por Darren Aronofsky, é um filme instigante, intrigante e perturbador. Pode ser, em princípio, estimulante para matemáticos, físicos e cientistas da computação, depois para psicólogos e psiquiatras e, mais, para admiradores de uma complexa trama cujo centro é um cientista obcecado que pesquisa a Matemática na busca de padrões em tudo na natureza; ele acredita na proposição: A Matemática é a linguagem da natureza. Maximillian Cohen (Sean Gullette), quando criança, recebera da mãe uma advertência: não olhar para o Sol. Aos seis anos ele olhou, ficou sem enxergar e os médicos não sabiam se ele recuperaria a visão. “– Fiquei apavorado naquela escuridão. Devagar a luz do dia penetrou através das ataduras e consegui ver. Mas algo mudara dentro de mim. Naquele dia, tive minha primeira dor de cabeça.” Com o relato desse fato feito por Max, começa o filme, que tem história de Darren Aronofsky, Sean Gullette e Eric Matson, Matthew Libatique como diretor de fotografia, montagem de Oren Sarch e música original de Clint Mansell.Max tem excepcional capacidade para efetuar contas com grandes números, de memória. Logo no início, de posse de uma pequena calculadora de mão que já tem a conta efetuada com o resultado no visor, a garotinha Jenna pergunta-lhe: “- Quanto é 322 x 491?” E ele em instantes: “- 158.102. Certo?” É o que registra a máquina de calcular. Para exemplificar a existência de padrões na natureza Max cita: o ciclo das epidemias, o aumento e a diminuição da população de caribus, os ciclos das manchas solares, a cheia e a baixa do Nilo. Ele vai além ao afirmar que na bolsa de valores há também um padrão. Max faz seus estudos com o apoio de um computador mainframe, o Euclid, que ele utiliza na construção de inúmeras séries de números e algarismos na busca de padrões, imprimindo-os em seguida para analisá-las. Inesperadamente Max recebe uma ligação telefônica, é de Marcy Dawson (Pamela Hart), sócia da Lancet-Percy, firma de estratégias de previsão e que tenta marcar um encontro com ele. Também inesperadamente, enquanto bebe chá em uma lanchonete e analisa listagens produzidas no computador de seus estudos sobre a bolsa de valores, surge Lenny Meyer (Ben Shenkman), como Max um judeu. Lenny é praticante, Max não liga para religião. Lenny também trabalha com números, nada tradicional, trabalho com o Torá. O personagem que mantém com Max a sustentação teórico/científico/filosófica do argumento é Sol Robeson (Mark Margolis), ex-professor de Max, aposentado e que já sofreu um derrame cerebral, mas mantém ativa a capacidade cerebral de raciocínio. A inserção do ambiente externo é utilizada por Darren Aronofsky; feita de um modo criativo, é um elemento importante em uma narrativa na qual as palavras são utilizadas intensivamente em reflexões, análises, ponderações e explicitação de conceitos matemáticos, científicos e religiosos. Ao mesmo tempo em que alivia a carga verbal, é importante ao mostrar o mundo exterior que cerca Max. A utilização de ilustrações desenhadas, algumas feitas durante o filme pelos personagens, reforçam a compreensão de explicações matemáticas minimizando a aridez de alguns conceitos. O uso do jogo Go, um jogo estratégico que utiliza um tabuleiro e pedras brancas e pretas, nas discussões entre Max e Sol, permite visualização e melhor compreensão de alguns aspectos de parte das teorias em discussão. O filme é em preto e branco, com fortes contrastes entre o claro, muito iluminado artificialmente, e o escuro, dando à fotografia um papel importante no conjunto. A imagem é granulada e reforça o clima de irrealidade em muitos momentos. A música tem papel funcional sobretudo no reforço às cenas mais dramáticas.Computadores entram nas reflexões de Max e Sol e de um modo extremamente inusitado. Mestre e discípulo examinam situações de erro da máquina, de bug. O que Sol explica, ou tenta explicar, é um novo encaminhamento para as especulações e ações no filme: “- [...] minha suposição é que certos problemas prendem os computadores em determinado loop [laço]. O loop faz queimar. Mas antes eles se tornam conscientes da própria estrutura. O computador, ciente da sua natureza de silício imprime seu conteúdo.” Na verdade, Max não é apenas um pesquisador preso a uma busca obsessiva. Ele apresenta sério problema de saúde. Tem fortes ataques que se iniciam com tremores na mão direita e vão á exaustão, à perda de consciência. Para controlá-los, ele toma remédio via oral e aplica injeções em si mesmo. Os encontros finais de Max com Marcy Dawson e Lenny Meyer e o destino do computador mainframe Euclid complementam de modo exemplar as extensas reflexões abertas em várias direções e níveis durante os momentos anteriores.O final do filme, para mim, na verdade, é ao mesmo tempo relaxante e intrigante. Max perdeu a capacidade de acertar, de memória e rápido, o resultado de contas com números grandes. Novamente testado pela garotinha Jenna para responder sobre o resultado de contas, Max diz que não sabe o resultado, e não sabe mesmo. Ele olha para o céu, com ar de satisfação, o foco da câmera, que é o que ele vê, é nas folhas de uma árvore, os galhos balançando com o passar do vento. Lentamente a câmera vai se afastando, a música é dolente. A tela escurece. (Arnaldo Prado Junior)

*”Pi” é o primeiro filme dirigido pelo cineasta Darren Aronofsky (Cines Negro/Réquiem de um Sonho) será exibido quinta, dia 25/10, no Cine Saraiva (Livraria Saraiva) às 17 h na parceria da ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará) e APC (Academia Paraense de Ciências) com debate após a exibição.

SUCESSOS DE ONTEM

Dois filmes interpretados pelo ator Gregory Peck chegam em DVD às locadoras: “Miragem” (EUA, 1965) e “Pavilhão 7”. No primeiro, Peck protagoniza um homem que durante um blecaute, em NY, fica confuso e, ao se encontrar com uma mulher (Dian Baker) ao descer a escada de um prédio sem energia elétrica percebe que ela o conhece e, na descida, passa por 3 andares no subsolo. Logo depois vem a saber que esse local não existe conforme ele descreve. Este mistério embala algo muito mais sério integrado a um estado de amnésia parcial do personagem devido a uma série de acontecimentos envolvendo, inclusive, a manipulação de fórmulas químicas e industria farmaceutica que podem ser perniciosos à humanidade. Outros eventos interligados fazem do filme um thriller sempre interessante. A direção é de Edwad Dmitryk e o roteiro de Peter Stone baseado no livro de Howard Fast. O outro filme, “Pavilhão 7” (Capitain Newman MD/EUA,1963), anterior a “Miragem”, Peck personifica o Capitão Newman, um médico encarregado da enfermaria psiquiátrica de um hospital militar, no ultimo ano da 2ª Guerra Mundial. O enfoque maior é o coronel Norval Bliss (Eddie Albert), internado contra a vontade dos superiores do médico, mas mantido no hospital por ser responsável pela morte de muiitos soldados levados a uma missão difícil, episódio trágico causado por um surto de insanidade do militar. No plano romântico, há o tipo feminino interpretado pela atriz Angie Dickinson, investida de enfermeira militar e assessora de Newman. O filme é dirigido por David Miller e foi candidato aos Oscar de roteiro, som e de melhor ator coadjuvante a Bobby Darin, numa “ponta” que não justifica tanto entusiasmo. O diretor realizou mais de 50 filmes de gêneros variados, do melodrama juvenil “Vida de Minha Vida”(Our Very Own/1950) a suspense como “A Teia da Renda Negra”(Midnight Lace/1960). Interessante é observar que o filme chama atenção para a atitude dos militares de alta patente em relação aos soldados que enfrentam o front da guerra e que desabam em depressão no ambiente que têm que permanecer, sendo chamados de fracos e covardes ao apresentarem sintomas mórbidos.
“Uma Estranha Mulher” (La Truite/França,1982) é o penúltimo filme do diretor Joseph Losey (1909-1984). É protagonizado por Isabelle Huppert investida de uma jovem que deixa a sua província para ir ao Japão onde vive um romance com um homem casado (Jean Pierre Cassel). A esposa deste é interpretada por Jeanne Moreau. Não é nem de longe um dos melhores trabalhos do diretor de “O Menino de Cabelos Verdes”(1948), “Cerimonia Secreta” (1968) e “O Assassinato de Trotsky”(1972). Notícia muito boa é que uma nova distribuidora está lançando uma série de filmes dos anos 1930/40. Há um titulo de um tempo anterior que estimula o cinéfilo: “Ouro e Maldição”(Greed/1924) de Erich Von Stroheim. Este ganha 2 discos que devem perfazer os quase 300 minutos da obra que em sua concepção gerou mais de 5 horas e foi radicalmente reduzida por conta dos produtores. O tema serviu mais tarde a outro clássico: “O Tesouro de Sierra Madre”(The Treasure of Sierra Madre/1948) de John Huston.
Dentre os outros filmes dessa nova distribuidora, M.D.V.R. chegam obras que se tornaram marcos da historia do cinema em diversos setores. Entre eles: ”O Véu Pintado” (1934), de Richard Boleslawski, com Greta Garbo; “Tudo Isto e o Céu Também” (1940), com Charles Boyer e Bette Davis; “Seis Destinos” (1942) com um grande elenco sob a direção de Julien Duvivier; “Piloto de Provas”(1938) com Clark Gable; “Bola de Fogo”(1941), de Ernst Lubitsch, com Gary Cooper; e “Anjo da Rua”(1928) com Janet Gaynor e a atriz brasileira Lia Torá. A distribuidora chega em boa hora nessa revisão da Hollywood de um período profícuo e geralmente elogiado pelos críticos (e hoje historiadores de cinema) (Luzia Álvares)

NA FRENTE DAS TELAS


“A Entidade”(Fearless) ouve cantar o galo. Tudo o que se passa com o escritor que em busca de ambiente para um livro de sucesso defronta-se com uma lenda macabra é ligado a cinema. Ele vê em filmes Super 8 os mortos e desaparecidos. Uma caixa com esses filmes é o convite para o personagem adentrar no mundo de horror. E ele acaba virtualmente dentro de um desses filmes. Infelizmente o diretor Scott Derrickson rende-se a formula do susto fácil. É o tipo do programa pra ver com a namorada. Cada objeto despencando é um ruído que assusta. E as meninas procuram os braços dos acompanhantes. Medo & amasso fazem a festa. Chance de cinema inventivo desaparece nas sombras das muitas noites da história. E poucos filmes exibem tantas noites... “Os Infratores”(Lawless) lembra os filmes de gangster onde James Cagney reinou. A família de fabricantes de uísque na época da Lei Seca(anos 30) existiu mesmo e o roteiro vem de um livro do neto de um dos traficantes. O público é convidado a torcer pelos bandidos. Aliás, a trama se divide no confronto entre mais e menos bandidos. Fosse aqui teríamos o “uiscão”(posto que temos o mensalão). Mas os 3 irmãos que saciam os bêbados americanos do governo Roosevelt não são parentes de Bonny e Clayde e por isso não morrem no fim do filme. Ao contrário: terminam bem com mulheres e filhos em cenários aprazíveis.
Um trabalho de reconstituição de época acima da média, uma boa direção (John Hiklcoat) e atores competentes tiram o resultado da vala comum. “Fausto” de Sokurov é criativo, puxa pela arquitetura dos fotogramas mas é chato. A lenda que serviu ao melhor de Goethe passa na linguagem de cágado do diretor de “A Arca Russa”. Perdoem-me os críticos “profissionais” (eu nunca me considerei assim - nem amador) mas cinema,para mim, é movimento, é filho da Cinemática. Sokurov assim como Tarkovsky,seu ícone, fazem (faziam no caso do último)filmes extremamente contemplativos, lentos, recheados de detalhes que desviam o interesse do espectador. Engraçado é que o canadense David Cronemberg embarcou nessa canoa. Seu “Cosmopolis”(não creio que chegue a estrear por aqui) divaga através de um milionário dentro de sua limusine. Ele quer ir ao barbeiro mas até chegar esbanja filosofadas que lembram aqueles preceitos soviéticos de evidenciar desigualdades sociais. Curioso é ver Robert Pattinson, o vampiro da série “Crepúsculo” no papel “sério” ou de “filme de arte”. Há momentos em que a gente pede que ele volte a cheirar o pescoço da coleguinha Kristen Stewart.
Detesto filme chato. Antes eu ainda aturava, pois achava que cinema também era passível de dissertações intelectuais capazes de torrar neurônios. Felizmente me vacinei disso. Meus melhores filmes deste ano começam com “O Artista”, “A Invenção de Hugo Cabret” e “Os Intocáveis”. Os dois primeiros tratam do próprio cinema. Cinema como eu conheci e me fez espectador assiduo.(Pedro Veriano)

MELODRAMAS

Volta ao Olympia “Sublime Tentação” (Versão de Douglas Sirk com Rock Hudson e Jane Wyman). Eu me lembro de quando fui exibir um filme em cópias de 16mm no Colégio Santa Rosa por volta de 1958. Fui para ver a minha namorada, Luzia, aluna do internato. Levei comigo Orlando Costa, então dirigente do Cine Clube “Os Espectadores” e o filme “Amanhã Será Tarde Demais”de Luciano Emmer, premiado em festivais. Dezenas de jovens aplaudiram Pier Angeli fugir com o namorado. Mas o interessante foi um debate após a projeção. Perguntei qual o filme que elas preferiam dentre os recentes estreados nos cinemas comerciais. Foi um coro: ”Sublime Obsessão”. O ator que elas admiravam: Rock Hudson(não sabiam que o ator, por sinal um notório canastrão, era homossexual). Um escândalo para os cinéfilos projecionistas. Na época o filme do diretor Douglas Sirk era considerado de tremendo mediocre. Hoje é elogiado desde que um francês adepto da “nouvelle vague” escreveu amável citica na revista “Cahiers du Cinéma”. Mas a explicação para a preferência foi puro extrato de romantismo. Ou de uma sexualidade fechada forte nos preceitos religiosos que faziam o roteiro de casa e colégio.
Rever os melodramas antigos é muito interessante se a gente pensar na plateia que movia esse lado da indústria cinematográfica. As meninas da classe média aplaudiam o que saía de Hollywood. As menos favorecidas ficavam com os mexicanos que seguiram o clássico “Pecadora”(1948). Mas qualquer garota gostava de bolero. E os boleros traduziam o potencial romântico de cada uma. No festival de agora há um titulo que marcou a historia do próprio Olympia:”Amar foi minha Ruína”. Quando este filme estreou as cópias que chegavam à Belém eram quase sempre deterioradas e as interrupções de projeções eram constantes. Os vereadores que estreavam uma câmara ausente no tempo da ditadura Estado Novo queriam fechar o cinema se continuassem os intervalos. Eles não entendiam que a culpa era das cópias. Nesse tempo o “seu Chico”, revisor da empresa proprietária do casa exibidora, fez trabalho de relojoeiro na cópia que chegou do nordeste caindo aos pedaços. Conseguiu que passasse sem acenderem as luzes no meio da sessão. Vitória. O filme é um dos raros melodramas sem “happy end”. Gene Tierney faz uma vilã pouco imitada e ficou celebre a sequencia em que se joga de uma escada, grávida, para perder o filho do odiado marido (Cornel Wilde). O melodrama fazia as espectadoras chorarem.
Esta resposta emotiva deu até samba.Nossa resposta aos boleros de Augustin Lara e seguidores. Um programa coerente na festa. (Pedro Veriano)

A MELANCOLIA DO IMENSO AZUL



Ousadia de associar a liberdade à morte de pessoas amadas rende filme intenso e humano Primeiro episódio da celebrada Trilogia das Cores, baseada nos ideais da Revolução Francesa, “A Liberdade É Azul” será exibido na próxima segunda-feira, 19, às 19h no Cineclube Alexandrino Moreira. Obra concebida pelo cineasta polonês Krzysztof Kieslowski (1941-1996), o filme é sucedido por “A Igualdade é Branca” e “Fraternidade é Vermelha”. Mas voltando ao “A Liberdade É Azul” (Bleu), temos Juliette Binoche dando vida a Julie, uma bela mulher que sobrevive a um acidente de carro no qual perde o marido Patrice, um famoso compositor, e a filha pequena. Traumatizada, perde a vontade de viver e tenta apagar os laços com o passado. É um filme sensorial que traz Kieslowski em plena maturidade. Atento observador dos paradoxos da vida, o polonês coloca personagens em encruzilhadas éticas e morais, no eterno dilema em viver uma vida apática ou morrer para aliviar a alma.
Mais do que palavras, são as delicadas imagens e a música erudita que transportam a narrativa. A música desse filme é algo a parte, com uma trilha composta pelo também polaco Zbigniew Preisner que é impactante fúnebre ao mesmo tempo. E vai além. Pelo fato do marido ser compositor, Julie se tortura com a encomenda de finalizar uma composição para o coro e orquestra que havia sido encomendada para o marido. E é nesse momento de criação que a dor nela se apaziga e dá lugar a uma lucidez. Julie começa a conhecer o trabalho dele e mergulhar na vida daquele que acreditava conhecer. Com a ajuda de um amigo que é apaixonado por ela, a jovem compõe uma música que ressalta as suas emoções e de um continente num momento-chave. A versão de Patrice da “Canção pela Unificação da Europa” é, de certa forma, um bálsamo para a mulher e para os europeus, por toda a dramaticidade e urgência que contém. Força das cores - Parece estranho pensar numa trilogia baseada nas três cores da bandeira francesa, e nas três palavras do lema da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade) que prime pela humanidade de seus personagens sem abrir mão do teor político.
Mas essa era a marca do cinema de Kieslowski, que surgiu como documentarista e logo imprimiu seu estilo e ideologia em obras ficcionais. Contratado por uma emissora de TV ele ousou e realizou Decálogo, um filme para cada mandamento da bíblia, tendo como foco os conflitos morais e contradições humanas. Contemplativo, ele foi aprimorando a forma narrativa ao usar uma quantidade mínima de diálogos e apostar no poder e perpetuidade das imagens. Quando se fala em Kieslowski logo se pensa nas palavras sendo substituídas por uma poesia imagética. Realizados em 1993, 1994 e 1995, os filmes da trilogia das cores são os últimos da carreira do polonês, que acabaram o tornando famoso internacionalmente. Nela, ele conseguiu colocar todos os elementos que vinha aprimorando, utilizando as cores como ambientação psicológica e estética e abrigando temas e motivações correlatas entre os personagens dos três filmes, prova irrefutável da sua genialidade. (Lorenna Montenegro)

SERVIÇO:
Sessão ACCPA/IAP apresenta “A Liberdade é Azul”, de Krzysztof Kieslowski. Nesta segunda, 22 de setembro, às 19h no Cineclube Alexandrino Moreira. Endereço: Instituto de Artes do Pará (Praça Justo Chermont, 216 – ao lado da Basílica de Nazaré). Entrada Franca. Após a exibição, debate entre os críticos da ACCPA e o público.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

"A LIBERDADE É AZUL" NO CC ALEXANDRINO MOREIRA DIA 22/10

"A LIBERDADE É AZUL"
(Trois couleurs: Bleu, 1993)
Direção: K. Kieslowski
Com Juliete Binoche
 Sinopse: Julie Vignon (Juliette Binoche) é uma famosa modelo que decide renunciar à vida após a morte do marido e da filha em um acidente de carro. Porém, depois de uma tentativa frustrada de suicídio, Julie encontra uma obra inacabada do marido, um grande músico, e se interessa por ela. Primeiro filme da TRILOGIA DAS CORES do diretor polonês K. Kieslowski. Os outros filmes da trilogia (A Igualdade é Branca/A Fraternidade é Vermelha) serão exibidos no cineclube Alexandrino Moreira em Novembro e Dezembro, respectivamente.

CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA
(AUDITÓRIO DO IAP - INSTITUTO DE ARTES DO PARÁ)
"A LIBERDADE É AZUL"
SEGUNDA DIA 22/10/12
HORÁRIO : 19 H
ENTRADA FRANCA
APÓS O FILME, DEBATE ENTRE O PÚBLICO E CRÍTICOS DA ACCPA
APOIO : ACCPA (ASSOCIAÇÃO DOS CRÍTICOS DE CINEMA DO PARÁ)

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

"FAUSTO" NO CINE ESTAÇÃO A PARTIR DE 18/10


Leão de Ouro no Cine Estação
O vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, “Fausto”, de Aleksandr Sokurov, será exibido no Cine Estação das Docas a partir desta quinta-feira, 18 de outubro, em sessões às 18h e 20h30, com direito a matinal de domingo às 10h. O filme, que tem Hanna Schygulla no elenco, encerra a tetralogia sobre o poder segundo Sokurov: Moloch (1999), O Touro (2000) e O Sol (2004), apresentando respectivamente Hitler, Lênin e o Imperador Hirohito. Agora o diretor russo aborda a relação do homem com o que existe de mais sombrio dentro de si.
O engate da produção foi o clássico “Fausto”, renomada obra de Goethe publicada em 1806, tratando-se então da lenda popular alemã sobre o pacto com o demônio. Fausto é um pensador, rebelde e pioneiro, mas também um ser humano anônimo feito de carne e sangue, governado por impulsos internos, cobiça e luxúria. Neste contexto, o poema épico narra a trajetória do Dr. Fausto, um cientista que, incapaz de acreditar no conhecimento de seu tempo, é levado a pactuar com Mefistófeles, que o enche de energia e paixão pela técnica e progresso.
As filmagens de “Fausto” aconteceram na República Tcheca e Islândia, tendo pós-produção na Rússia, sendo interpretado em alemão, no idioma do texto original. A grandiosidade da obra, uma das mais esperadas na 35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, mostra como Aleksandr Sokurov, aclamado por filmes como Arca Russa (2002), continua intrigando seus espectadores com obras visionárias em um país como a Rússia, que, novamente, desperta para o cinema mundial.
As datas de exibição no Cine Estação:
Fausto (2011) Diretor: Aleksandr Sokurov
Elenco: Johannes Zeiler e Hanna Schygulla Roteiro: Aleksandr Sokurov, Marina Koreneva, Yuri Arabov 134 min. 18 anos. Cor 18 (quinta), às 18h e 20h30 19 (sexta), às 18h e 20h30 20 (sábado), às 18h e 20h30 21 (domingo), às 10h, 18h e 20h30 25 (quinta), às 18h e 20h30 26 (sexta) às 18h e 20h30 28 (domingo) às 10h, 18h e 20h30

domingo, 14 de outubro de 2012

MOSTRA "TARZAN - O FILHO DAS SELVAS" - DE 16 À 21/10/12


MOSTRA "TARZAN - O FILHO DAS SELVAS" - DE 16 À 21/10/12
Em homenagem ao personagem TARZAN que completou 100 anos em 2012, o cine Olympia exibirá uma mostra de filmes de aventura deste personagem que ficou famoso pela interpretação do ator Johnny Weissmuller.
 Confira a programação:
 Dia 16 - TARZAN O FILHO DAS SELVAS (1932)
Dia 17 - A COMPANHEIRA DE TARZAN (1934)
Dia 18 - A FUGA DE TARZAN (1936)
Dia 19 - O FILHO DE TARZAN (1939)
Dia 20 - O TESOURO DE TARZAN (1941)
 Dia 21 - TARZAN CONTRA O MUNDO (1942)
Sessão às 18:30 H com entrada franca.
Livre

CINE BANDEIRANTE

O meu Cine Bandeirante (1950-1984) atendeu ao meu amor pelo cinema. Exibiu filmes em 16mm alugados de distribuidoras locais e de cineclubes como ‘O Espectadores”(1955-1956). A”sede” era na garagem de minha casa (Av S Jerônimo, hoje José Malcher). E as sessões eram frequentadas pelos vizinhos, que ajudavam no pagamento dos alugueis dos filmes. Ali foram exibidos de clássicos a boleros mexicanos. Valia tudo. E eu aprendi cinema assim, vendo de a joia e o lixo. Quando Orlando Costa criou “Os Espectadores”, primeiro cineclube local, levava os filmes para que eu os exibisse no Bandeirante contentando quem iria fazer apresenção na sede da SAI (Sociedade Artística Internacional, hoje sede da Academia Paraense de Letras). Frequentadores, além dos vizinhos, lembro de Waldemar Henrique, Benedito e Maria Sylvia Nunes, Francisco Paulo Mendes, Carlos Coimbra, Silvério Maia, um grupo de intelectuais que arrumavam suas cadeiras adiante de uma parede pintada de branco. O Bandeirante também lançava os filmes da Eldorado, ou minha “produtora”, como se fosse uma “premiére” de Hollywood. Os atores iam ver e nem sempre aplaudir. Bem, essas considerações seguem agora, pois andei lendo que o nome do cineminha tinhas um “s” no fim (BandeiranteS) e era restrito a cineclubismo. Nada disso. O nome veio do pioneirismo na exibição domestica do 16mm e do avião que trouxe do Rio o primeiro projetor (um Bandeirante da frota da Panair do Brasil). Penso botar essas considerações em um livro de memórias. É preciso o pingo nos ii pois a Historia que não se registra é, como alguém já disse, a prostituta que todo mundo pega e nem sempre paga.(Pedro Veriano)

"TED"

Quando eu era criança ganhei de meus pais um urso de pelúcia. Chamei de Totó .Ainda guardo o brinquedo num armário. Mas ele nunca falou comigo. Nem quis conversar com ele. Cada macaco no seu galho. Mas o urso do norte-americano John do filme “Ted” de Seth MacFarlane, não só falou com o dono como passou a andar com ele e a monitorar sua adolescência e sua vida sexual na idade adulta. Farlane foi animador do grupo Hannah & Barbera e andou pela Disney. Fez na TV coisas como “Familia da Pesada”. É um quarentão bem humorado. Seu filme provocou gargalhadas no cinema como eu não ouvia há muito tempo. Quem pensa que é coisa de menininho, de conto de fadas, quebra a cara. É sacanagem bem administrada como disse o Lorde Cigano(José Wilker) no “Bye Bye Brasil” de Cacá Diegues. Quem adora pensar em cinema vai descobrir muita coisa em “Ted”. Ali está a criança intimidada, o adolescente ingênuo, o homem maduro que só o é na idade (35 anos , se diz). E a repercussão do fato de existir um brinquedo falante e móvel passa meteoricamente pela mídia. Dá a entender que as coisas bizarras são tantas no mundo moderno que um ursinho fazer a vez de gente, até mesmo curtindo droga e fazendo sexo (com o “dispositivo” a seu alcance) não causa uma perene admiração. Vendo assim o roteiro critica o comportamento de uma sociedade acomodada que só se admira do fato que é noticia. E a noticia morre quando perdura. Também se fala (ou se vê) como o “happy end” funciona em propostas surrealistas. A plateia ficaria revoltada se no fim do filme “matassem” o Ted. Para ele, uma cirurgia de pluma e agulha de crochê dá conta de um milagre. E para isso mostra-se até as “estrelas cadentes” que a cultura ocidental acata como motivo para se pedir uma graça. Legal o filme. Quem pensou, como um deputado, que é “imoral”, não vê a violência diária das imagens difundidas em todas as vias de acesso público e quer ser o próprio menino a busca de um brinquedo falante. Eu sugeria a ele um Pinóquio.(Pedro Veriano)

"TARZAN" NO CINE OLYMPIA

Não esqueço uma vez em que fui ao escritório da Aerovias Brasil buscar um filme 16mm com o programador da empresa Paramazon, o já idoso Gurjão (parente distante do general).Ele reclamou o desvio da encomenda argumentando: “-É uma fita de Tarzan, uma fita caríssima....” Eu ri porque sabia que os filmes desse herói criado por Edgar Rice Burroughs eram baratos, feitos em selva de estúdio com bichos emprestados de documentários e a macaquinha que em alguns exemplares era macaquinho. Mas tudo bem: “fita” de Tarzan era lucro certo para o distribuidor & exibidor. Eu curti as “fitas caríssimas” no velho cinema Moderno, ou no Iracema (ambos no Largo de Nazaré). Johnny Weissmuller falava fino e tudo bem, pois pouco falava. Maureen O’Sullivan, que seria mãe de Mia Farrow, era Jane, a companheira que a censura da época permitia não ser casada. Depois passou o útero para Brenda Joyce. E tinha o filho adotivo do casal, o “Boy”(Johnny Sheffield), que depois fez filme sozinho como Bomba (e era mesmo uma bomba). A gente, e eu digo a tropa da minha idade, comprava gibi na porta do cinema e ia torcer pelo “homem macaco” macaqueando nas poltronas sem estofo. O Moderno tinha duas classes (cada uma com um preço de ingresso) divididas por uma tabua sendo a segunda com bancos no lugar das poltronas que representavam o “luxo”da primeira. Foi quando eu vi/ouvi, antes de saber de Marx(o Karl não o Grouxo) uma “luta de classes”. Jogava-se papel amassado e até pedrinhas de uma para outra. Na tela, Tarzan gritava para Tantor (o elefante) salvar quem torcia no seu time ecológico das garras de caçadores malvados. O final feliz era festejado no plano de Cheeta fazendo gracinha com a sua dentadura impecável. Uma festa. Hoje se comemora o centenário do herói de tantas gerações. Burroughs nunca foi à África, começou escrevendo ficção cientifica, e descobriu a mina num espasmo criador pensando em Rômulo & Remo e naquele moleque que Truffaut filmou em “L’Enfant Sauvage”. Ficou rico. Pudera, até na selva amazônica se jurava o mato de Tarzan.Lá pras bandas do Quênia devia ser a mesma coisa. Sem ir ao cenário descrito, o jornalista norte-americano caçou a fera. E marcou gerações. Os moleques tufavam o peito e se diziam tarzans. Eu nunca fui isso (sempre exibi meus ossos), mas gostava dos filmes e livros desse herói. E uma das piadas que mais acho graça é aquela de Tarzan jogando pingue-pongue e pedindo a macaca sua amiga para buscar a bola caída no chão próximo. Quando Cheeta voltava estava um trapo. Toda quebrada. Tarzan, com a fala econômica, aconselhava firme: “- Cheeta, Tarzan disse bola de pingue-pongue não de King Kong”. No também centenário Olympia vai acontecer um programa dedicado a Tarzan. São 6 filmes a serem exibidos na base de um por dia. Todos da fase da Metro (anos 30/40)com Johnny Weissmuller(depois tudo passou para a RKO). Acompanhem (os). (Pedro Veriano)

"BUSCA IMPLACÁVEL 2"

No primeiro “Busca Implacável” a filha do agente americano era sequestrada por árabes terroristas (?) e o pai dela matava todos os sequestrados para libertar a garota. O filme deu dinheiro e Luc Besson, cineasta francês que começou fazendo “filme de arte”, achou que uma sequencia também daria . Fez este “Busca Implacável 2” onde pai e filha lutam para libertar a mulher/mãe sequestrada pelo pai dos primeiros sequestradores, agora desejoso de vingar a morte dos filhos na primeira aventura. É isso: o filme de hoje, com direção de Olivier Megaton no lugar de Pierre Morel (da primeira busca),é apenas uma troca de lugares, ou “a volta dos que não foram”. Resultado pratico: no fim de semana passada deu US$49.5 milhões nas bilheterias dos cinemas norte-americanos (custou apenas 80 mil). Liam Neeson é pau pra toda obra e assim como fez aquela lista (de Schindler)e esteve entre os sobreviventes de um desastre aéreo em “A Perseguição”, dá conta do recado. Imune às balas dos antagonistas, bom de soco no confronto com um atleta árabe, pula telhados ao lado da filha, ostenta apenas uma cicatriz na cara, e sorri no fim quando a moça reapresenta seu namorado, antes indesejado por ele. Ah sim: Neeson volta às boas com a mulher de quem estava separado. Moral da coisa: remédio para divorcio é sequestro de um dos conjugues. O pior de tudo é que a coisa diverte.
Prudentemente curta(pouco mais de 90 minutos)não me fez consultar o relógio. A montagem acelerada caça a chatice. Por sinal que o diretor montou nas costas do editor. Bem dizia Kubrick: a edição é a arma especifica do cinema (só ele tem este recurso criador). E penso na minha ignorância nesse quesito da produção. Em meus vídeos de hoje peço penico para netas editoras. E espero sentado que elas falam uniam de pedacinhos de imagens roubadas daqui e dali...(Pedro Veriano)

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

AVISO - ALTERAÇÃO NA PROGRAMAÇÃO DO CC ALEXANDRINO MOREIRA

AVISO
Informamos que as exibições programadas para o Cineclube Alexandrino Moreira neste mês de Outubro serão alteradas devido ao funcionamento do IAP (Instituto de Artes do Pará) no período do Círio. Novas datas serão informadas em breve.
Com isso, os filmes A LIBERDADE É AZUL e CONTOS DA LUA VAGA não serão exibidos nas datas anunciadas (dias 15 e 22, respectivamente).

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

CICLO HOWARD HAWKS NO CC DA CASA DA LINGUAGEM

CICLO HOWARD HAWKS
 Howard Hawks (1896-1977) foi um cineasta versátil por excelência. Abordou quase todos os gêneros com uma linguagem rica e ao mesmo tempo popular. Amigo de atores como John Wayne,e o casal Humphrey Bogart e Lauren Bacall,( de quem se colocava como Cupido pois apresentou ela a ele durante as filmagens de “Aventura na Martinica”), gostava particularmente da comédia e do western. Na comédia foi considerado um dos “pais” do chamado “screwball” ou “comédia sofisticada”, irritando os censores em títulos como “A Noiva Era Ele”(I Was a Male War Bride/1949). E no western rivalizou com Ford em clássicos como “Rio Vermelho”(Red River/1948), “Onde Começa o Inferno”(Rio Bravo/1959) ou “El Dorado”(1962).
Os filmes assinados por Hawks eram geralmente sucesso de bilheteria e também de critica (fato raro desde muitos anos). A sua capacidade de alcançar temas diversos levou-o também a se inscrever entre os que melhor focalizaram épocas criticas da história americana como a depressão do final dos anos 20 com os gangsteres surgidos à margem. É dele o antológico “Scarface”(1932) feito numa época em que o “biografado” Al Capone ainda era vivo e ativo. Dois filmes ilustrarão a obra de Hawks no Cine Clube Casa da Linguagem: os citados “Onde Começa o Inferno” e “Scarface, a Vergonha de uma Nação”. ]
“Onde Começa o Inferno” focaliza a coragem de um xerife, um bêbado e uma corista em prender o irmão de um notório pistoleiro. John Wayne,como de habito, é a força a serviço da lei, mas o que impressionou foi o papel de Dean Martin, ator que iniciou carreira como parceiro de Jerry Lewis em comédias especificas, ele fazendo o “Folgado” da dupla “O Biruta e o Folgado”, mais tarde uma revelação como cantor, não à toa da “troupe” de Frank Sinatra. Martin é o alcoólatra que é obrigado a impor a ordem, mas não consegue, muitas vezes, nem se equilibrar de pé. No papel da mocinha valente está Angie Dickinson. Western maior de qualquer época.
“Scarface” trata dos que se aproveitaram da “lei seca” nos idos de 1929/30 para ganhar dinheiro e intimidar concorrentes. Nessa época cresceu o prestigio de Alfonso Capone, marcado por um cicatriz no rosto que lhe dava a alcunha de “Cara Cortada”(Scarface). Como o personagem real ainda estava nas ruas, o roteiro de Ben Hetch baseado no livro de Armitage Trail deu-lhe o nome de Tony. Foi uma brilhante criação do ator Paul Muni (que fez mais tarde o professor de Chopin em “À Noite Sonhamos”). O filme acabou inscrito entre os primeiros grandes da série que deu margem a um “subgênero”(filme de gangster) ao lado do que se conhece como “filme noir”. Os dois filmes servem de iniciação à obra de um cineasta que marcou a indústria cinematográfica na fase sonora. Indispensáveis a cultura cinematográfica.(Pedro Veriano)

CICLO HOWARD HAWKS
"ONDE COMEÇA O INFERNO" (dia 09/10)
"SCARFACE : VERGONHA DE UMA NAÇÃO" (dia 23/09)
Cine Clube da Casa da Linguagem (Assis de Vasconcelos com Nazaré)
Horário : 18h
Entrada Franca
Apoio : ACCPA (ASSOCIAÇÃO DOS CRÍTICOS DE CINEMA DO PARÁ)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

"Post Tenebras Lux" de Carlos Reygadas


"Depois das trevas, luz”, é o significado em latim do título do novo filme do diretor mexicano Carlos Reygadas, vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Cannes, e é um dos seus filmes mais polêmicos devido a sua narrativa fragmentada e fora dos tradicionais padrões cinematográficas, e sem dúvida, o trabalho mais radical de sua carreira. No entanto, o diretor é um dos poucos no mundo a criar imagens e sons de altíssimo impacto que demoram a sair da mente dos observadores. O filme começa com uma menina como que perdida em um ambiente rural cercada por vacas e cachorros, enquanto uma tempestade se aproima, filmada com um enquadramento 4:3 e distorção nas bordas do quadro. Somente essa sequência de abertura já faz de “Post Tenebras Luz” um dos filmes com imagens mais poderosas e aterradoras vistos recentemente. É um ponto de vista da natureza humana, das relações entre as pessoas, entre a elite mexicana e o povo, entre ricos e pobres de qualquer lugar, entre passado e futuro, entre amor e sexo. Seja vaiado, criticado ou chamado de esnobe, arrogante, é um dos filmes que merece ser visto tanto pela ousadia, como por suas inúmeras implicações sobre as as diferenças da vida, entre o sagrado e o profano, e como a luz e as trevas convivem tão perto umas das outras. 

*Fernando Segtowick direto do Festival do Rio 2012

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

PROGRAMAÇÃO ACCPA - OUTUBRO 2012


PROGRAMAÇÃO ACCPA – Outubro/2012
ENTRADA FRANCA

CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA - Segundas às 19 h:
Dia 15 - A LIBERDADE É AZUL (K. Kieslowsky) (primeiro filme da trilogia das cores com A IGUALDADE É BRANCA sendo exibido em Novembro e A FRATERNIDADE É VERMELHA em Dezembro)
Dia 22 - OS AMANTES CRUCIFICADOS (K. Mizoguchi)

CINECLUBE DA CASA DA LINGUAGEM – Terças às 18h:
Ciclo HOWARD HAWKS
Dia 09 - ONDE COMEÇA O INFERNO
Dia 23 - SCARFACE: VERGONHA DE UMA NAÇÃO

CINE SARAIVA – Quintas às 19 e 17h:
Dia 04 – IRACEMA: UMA TRANSA AMAZÔNICA” (Jorge Bodansky e Orlando Senna) – 19h
Dia 25 - PI (Darren Aronofsky) (parceria com a APC) - 17h

CINE SESC BOULEVARD – Quarta-feira às 19h
Dia 24 - GARAPA (José Padilha)


WWW.ACCPARA.COM.BR
Cinema é Cultura

"IRACEMA: UMA TRANSA AMAZÔNICA" NA SESSÃO ACCPA/SARAIVA DIA 04/12


Uma india a margem do progresso Filme que conta com a paraense Edna de Cássia como protagonista continua sendo vigoroso no mundo atual. O ano era 1974. O slogan, "Pra Frente Brasil". O progresso estava ali, virando a esquina. A amazônia era a última fronteira e talvez a mais importante para os militares que reinavam no país. E eis que então, dois jovens realizadores - Orlando Senna e Jorge Bodanzky - ousaram mais do que deviam e fizeram um filme único, reconhecido mundo afora como um dos maiores exemplos da vigorosa cinematografia brasileira.
 "Iracema - Uma Transa Amazônica", o filme em questão, é citado como referência por nomes como Hector Babenco, Alfonso Cuarón e Fernando Meirelles. Mas o que tem de tal especial essa obra, que ficou sob o julgo da censura durante anos? Tudo tornou-se realidade em outubro de 74, quando meia dúzia de pessoas saía de São Paulo dentro de uma Kombi com destino a Belém. Além de Orlando e Jorge, o produtor Wolf Gauer e outros três integrantes da equipe de filmagem do road movie. Na sinopse, o caminhoneiro Tião Brasil Grande (Paulo Cesar Pereio) vai à Região Norte do país, onde conhece Iracema (Edna de Cássia), uma índia prostituída. Juntos percorrem a região amazônica, cenário da expansão da rodovia Transamazônica, usada como propaganda do governo da ditadura militar. No caminho, interagem com moradores e observam os problemas provocados pela estrada, que, em vez do progresso prometido, trouxe desmatamento, queimadas, trabalho escravo e prostituição infantil para a região.
Cinefilo de carteirinha, o pesquisador e historiador Jorge Ramos possui um projeto que discorre sobre a nossa filmografia e aponta essa obra como visionária. "Iracema foi proibido pela ditadura e salvo pelo cineclube Tarumã, da Universidade do Amazonas, para ser exibido nos difíceis anos de 1970, num Brasil cujo lema estampa o para-brisa do caminhão de Tião – ‘ame-o ou deixe-o’", contou. Numa verdadeira 'expedição' rumo ao desconhecido, o grupo pouco conhecia a região e por imaginar que o trânsito não seria fácil, trabalhou apenas uma câmera Eclair muito leve, uma lente zoom, um tripé, negativos em 16 mm e algumas lâmpadas. Cerca de 40 dias depois, estava de volta. À medida que as filmagens se desenrolavam, os negativos eram enviados para a Alemanha - mais precisamente para a sede da ZDF, emissora pública de TV que financiava a empreitada. Em dezembro daquele ano, a versão final de Iracema ficou pronta. O longa de 90 minutos se atrevia a retratar um fenômeno raríssimas vezes abordado na época: a devastação da floresta amazônica. A ousadia fez com que o governo militar o proibisse no país até 1980. Mas isso não impediu que a obra corresse o mundo e se tornasse uma lenda. Mesmo no Brasil, cinéfilos conseguiam vê-la em sessões clandestinas na casa de Bodanzky e em alguns cineclubes.
 Muito por conta dessa proposta revolucionária de temática, a estetica jogou a favor da liberdade autoral e este foi um dos primeiros filmes a ser classificados como ficção/documentário. "Iracema e Tião Brasil grande nos desvendam uma Amazônia que ainda vive se não aqueles mesmos problemas, então as suas consequências. "Iracema" é documentário porque denuncia e é ficção porque é metáfora, porque é diagnóstico. É cinema", decreta Ramos.
CÍRIO
Belém, como não poderia deixar de ser, serviu como locação desse obra seminal. A pequena equipe cinematgográfica cobriu a grande procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, onde, misturada à multidão, Iracema é a protagonista da saga de tantas mulheres paraenses tragadas pelo sistema que subjulga os mais pobres. Recém chegada do Marajó, Iracema está no genese para se tornar prostituta, mas tem fé num futuro melhor, indo na corda como romeira, perdida na maré de rostos, dores e esperanças. E assim, o filme que tinha tudo para não ser feito se tornou um clássico cultuado. "Iracema" foi, como Jorge frisou, proibido no Brasil por anos. Foi exibido pela primeira vez no país no Festival de Brasília de 1980, onde ganhou quatro prêmios, incluindo o de melhor filme e logo tornou-se premiado no exterior e um baluarte do cinema sem amarras nem fronteiras.

SERVIÇO:
Sessão ACCPA/Saraiva apresenta “Iracema - Uma Transa Amazônica”, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna. Nesta quinta, 04, às 19h, no espaço Benedito Nunes da Livraria Saraiva ((Boulevard Shopping, 2º piso). Entrada Franca.
Após o filme, debate entre o público e membros da Associação de Críticos de Cinema do Pará, com a participação do historiador Jorge Ramos.
(Lorenna Montenegro)

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