sábado, 29 de dezembro de 2012

OS MELHORES DO CINEMA EM 2012 SEGUNDO A ACCPA




ACCPA elege iraniano ‘A Separação’ como o melhor do ano
Associação divulga lista dos melhores filmes exibidos em 2012 por aqui

Uma tradição natalina que já existe há 50 anos, a reunião dos membros da Associação dos Críticos de Cinema do Pará (ACCPA) na noite da última quinta-feira, 27, culminou na eleição dos dez melhores filmes exibidos no circuito comercial e alternativo de Belém em 2012.
A excelência do cinema norte-americano, um tanto alquebrada pela crise criativa que Hollywood atravessa a alguns anos, refletiu na lista de filmes eleitos pelos críticos de cinema paraenses, que contemplou a filmografia francesa, alemã, russa e iraniana.
A história extremamente humana e tensa de um casal que está se separando, deixando a filha dividida entre que rumo tomar e que entra em conflito com a empregada grávida fez “A Separação” colecionar prêmios desde a sua estreia. Deixando o ritmo desacelerado e contemplativo típico do cinema do Irã, Asghar Farhadi dirige e roteiriza esse filme brilhante que teve a atuação de Leila Hatami premiada em Berlim.
Primeiro filme de arte rodado em 3D, “Pina” é uma realização extrema e bela de Wim Wenders. Alemão, ele trata da vida e obra da coreografa e bailarina c ompatriota, Pina Bausch, num recorte amoroso e vigoroso de imagens que bailam na tela, emoções dos principais colaboradores dessa grande artista que executam suas criações com uma carga emocional tátil. O filme chegou ao público de Belém graças a um esforço conjunto da associação juntamente com a distribuidora Imovision e a rede de cinemas Moviecom, mas não teve uma boa bilheteria.
Completando a tríade dos filmes que alcançaram o topo da lista dos melhores está o russo “Fausto”, de Alexandr Sokurov. Sob a patuta do cineasta de “Arca Russa”, a releitura do conto medieval sobre um famoso médico alemão que vende a alma a Mefistófeles, o diabo, transforma-se em um filme de estética muito particular que investiga os jogos de poder e completa a sua tetralogia sobre o assunto.

Literatura que alimenta o audiovisual
“A invenção de Hugo Cabret”, “Drive”, “Precisamos falar sobre o Kevin” e “Cosmopolis” são bons exemplos de adaptações literárias interessantes. O filme de Scorsese é onírico e promove uma viagem sentimental aos primórdios do cinema, através da mística do pioneiro Georges Meliés. Já “Drive” imprime vigor sob uma roupagem oitentista da violência e incomunicabilidade, na persona de um solitário motorista. A climática trilha sonora do filme estrelado por Ryan Gosling também foi eleita a melhor pela ACCPA, assim como a canção “A Real Hero”.
A perturbadora investigação sobre a psique de um jovem que assassina dezenas de pessoas é o cerne da narrativa de “Precisamos falar sobre o Kevin”, obra de Lionel Shriver que na adaptação cinematográfica teve Tilda Swinton eleita como melhor atriz pela sua impressionante atuação como a mãe de Kevin. David Cronenberg dá um salto para o futuro ao dirigir e roteirizar “Cosmópolis”, também presente na lista. Robert Pattinson é um bilionário entendiado que atravessa Manhattan em sua limousine, apenas para cortar o cabelo mas é transformado pelos encontros que tem pelo caminho.
Filme de maior bilheteria da história da França, “Intocáveis” teve uma passagem ligeira pelos cinemas de Belém. A força da obra reside nas cativantes interpretações de François Cluzet e Omar Sy (eleito um dos melhores atores coadjuvantes do ano) como dois homens de classes, cores e pensamentos diferentes que se unem numa amizade sem barreiras.
Falando de interpretações inesquecíveis, Michael Fassbender teve o reconhecimento merecido pela ACCPA, que elegeu a sua atuação em “Shame” como a melhor do ano. Na pele de um homem que tem sua vida consumida pelo sexo, ele provoca uma sorte de sentimentos múltiplos. Esse filme visceral, que ainda tem a bela atuação de Carey Mulligan (melhora atriz coadjuvante) é dirigido por Steve McQueen e foi eleito um dos dez melhores.
Grande vencedor do Oscar 2012, “O Artista” foi exibido por aqui dentro da programação do centenário do Cine Olympia, e considerado também um dos melhores do ano, por sua singela metalinguagem sobre do que é feita a industria de sonhos, através da saga de um ator (Jean Dujardin) que tem que fazer a transição do cinema mudo para o falado.
Os críticos Luzia Álvares, Pedro Veriano, Marco Antonio Moreira, Dedé Mesquita, Augusto Pacheco, Arnaldo Prado Jr., José Otávio Pinto, Francisco Cardoso, Fernando Segtowick, Raoni Arraes, Elias Neves e Lorenna Montenegro votaram ao todo em quinze categorias, que também tiveram contabilizados os votos de Maiolino Miranda.
“Valente”, a animação da Pixar que conta uma fabula sobre uma princesa que não quer assumir a sua função real, faturou nessa categoria. Já o melhor filme brasileiro foi “Transeunte”, documentário experimental e bastante de licado de Eryk Rocha, herdeiro de Glauber.

Menções
Como todos os anos, após a votação foram sugeridas e votadas menções. Todos os membros concordaram  em louvar os100 anos do Cinema Olympia e a programação do centenário repleta de mostras e festivais - o cinema irá receber a mostra dos melhores de 2012 segundo a ACCPA a partir do dia 08 de janeiro.
Ao filme “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios” (de Beto Brant e Renato Ciasca) que foi rodado no Pará, contratou profissionais daqui e cuja produção integrou-se com as comunidades locais.
O cineasta pernambucano Claudio Assis também foi lembrado pela qualidade autoral do cinema com estética marginal de extrema qualidade que ele vem fazendo, em especial pelo filme “A Febre do Rato”; a qualidade da programação do Cine Estação e Cine Líbero Luxardo também foi ressaltada, já que seis dos dez filmes eleitos pela ACCPA foram exibidos nesses espaços.
Os parceiros da entidade que permitem ações da associação referentes a exibição de filmes e formação de plateia foram lembrados e reverenciados -: IAP, Livraria Saraiva (Belém), Sesc Boulevard, Casa da Linguagem e Cine Olympia. E por fim, olhando diretamente para 2013, a menção aos 50 anos de fundação e atuação da ACCPA (antes APCC) dentro do cenário cultural local.


Confira a lista completa:
Melhores Filmes
1) "A Separação" de Asghar Farhadi (75 pontos)
2) "Pina (3D)" de Wim Wenders (71 pontos)
3) “Fausto" de Alexander Sokurov (69 pontos)
4) " A invenção de Hugo Cabret (3D)" de Martin Scorsese (68 pontos)
5)"O Artista" de Michel Hazanavicius
“Shame”, de Steve McQueen (ambos c om 48 pontos)
7) "Drive" de Nicolas Winding Refn (40 pontos)
8) "Intocáveis" de Eric Toledano & Olivier Nakache (35 pontos)
9) “Precisamos falar sobre o Kevin" de Lynne Ramsay
“Cosmopolis” de David Cronenberg (ambos com 34 pontos)

Melhor Diretor: Alexandr Sokurov (Fausto)
Melhor Ator: Michael Fassbender (Shame)
Melhor Atriz: Tilda Swinton (Precisamos falar sobre o Kevin)
Melhor Atriz Coadjuvante: Carey Mulligan (Shame)
Melhor Ator Coadjuvante: empate entre Paul Giamatti (Cosmopólis), Ben Kingsley (A Invenção de Hugo Cabret), Omar Sy (Intocáveis) e Viggo Mortensen (Na Estrada)

Melhor Montagem: Toni Froschhammer (Pina)
Melhor Cenografia: Elena Zhukova (Fausto)
Melhor Fotografia: Bruno Delbonnel (Fausto)
Melhor Figurino: Sandy Powell (A invenção de Hugo Cabret)
Melhor Trilha Sonora: Cliff  Martinez (Drive)
Melhor Canção Original: “A Real Hero” – College &.Electric Youth (Drive)
Melhor Roteiro Original: Asghar Farhadi (A Separação)
Melhor Roteiro Adaptado: Alexandr Sokurov, Marina Koreneva e Iuri Arabov (Fausto)
Melhores Efeitos Especiais: “A invenção de Hugo Cabret” e “As aventuras de Pi”

Melhor Animação: Valente, da Pixar
Prêmio ACCPA - Destaque do Ano - Cinema Brasileiro : "Transeunte” de Eryk Rocha.

Menções Honrosas:
* Os 100 anos do Cinema Olympia e a programação do centenário repleta de mostras e festivais;
* Ao filme “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios” (de Beto Brant e Renato Ciasca) que foi rodado no Pará, contratou profissionais daqui e cuja produção integrou-se com as comunidades locais;
* Ao cineasta pernambucano Claudio Assis pela qualidade autoral do cinema com estética marginal de extrema qualidade que ele vem fazendo, em especial pelo filme “A Febre do Rato”;
*À qualidade da programação do Cine Estação e Cine Líbero Luxardo. Seis dos dez filmes eleitos pela ACCPA foram exibidos nesses espaços;
* Aos parceiros da ACCPA que permitem ações da associação referentes a exibição de filmes e formação de platéia : IAP, Livraria Saraiva (Belém), Sesc Boulevard, Cine Olympia e Casa da Linguagem.
* Aos 50 anos de fundação e atuação da ACCPA (antes APCC) dentro do cenário cultural local.

domingo, 9 de dezembro de 2012

"O SACRIFÍCIO" NO CC ALEXANDRINO MOREIRA DIA 10/12



"O SACRIFÍCIO"
Direção : Andrei Tarkovski
Ano de Produção : 1986
Com Erland Josephson
Sinopse: Família sueca celebra o aniversário do patriarca Alexander (Erland Josephson), escritor e ator aposentado. Esta celebração será marcada para o resto da vida de cada membro da família: na televisão anuncia-se uma catástrofe nuclear. A crise familiar é alimentada pelo desespero, dúvida, angústia física e moral de cada um.

SESSÃO ACCPA/IAP
"O SACRIFÍCIO"
CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA (AUDITÓRIO DO IAP)
SEGUNDA-FEIRA DIA 10/12/12
HORÁRIO : 19 H
ENTRADA FRANCA
APOIO : ACCPA (ASSOCIAÇÃO DOS CRÍTICOS DE CINEMA DO PARÁ)

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

"COSMÓPOLIS" NO CINE ESTAÇÃO

Visão futurista de Cronemberg no Cine Estação
Neste fim de ano, o Cine Estação das Docas exibe um conto visionário e alucinante: “Cosmópolis”, de David Cronemberg, com estreia no dia 9 de dezembro, domingo, em sessão matinal às 10h e sessões noturnas às 18h e 20h30. Baseado no livro homônimo de Don DeLillo, o filme se passa em Nova Iorque, num futuro próximo. Eric Packer, um milionário de 28 anos que sonha viver numa civilização mais avançada do que a atual, assiste a uma transformação que se abate sob o universo de Wall Street. À medida que é conduzido à região de Manhattan para cortar o cabelo na antiga barbearia do seu pai, os olhos ansiosos de Eric são absorvidos pela subida imprevisível da moeda chinesa, o que coloca a sua fortuna em risco. Entretanto, uma atividade anormal irrompe nas ruas da cidade. Petrificado com a possibilidade de o mundo real ameaçar o seu conjunto de convicções virtuais, Eric vê a sua paranoia intensificar-se no curso de vinte e quatro horas durante esta travessia pela cidade.
O último trabalho de David Cronenberg revisita temas da sua filmografia, como a interligação entre o orgânico e o psicológico, e as ansiedades e fobias da sociedade ao reprimir impulsos e permitir que a loucura assuma o controle. Este ano, “Cosmópolis” marcou presença na Seleção Oficial do Festival de Cannes, que premiou o drama “L’amour”, de Michael Haneke, já programado para a temporada 2012 do Cine Estação das Docas.

Serviço
Cosmópolis
Diretor: David Cronenberg
Elenco: Robert Pattinson, Juliette Binoche, Samantha Morton e Paul Giamatti
Roteiro: David Cronenberg
Duração: 106 min.
Ano: 2012
País: França/ Itália/ Canadá/ Portugal Cor: Colorido
Classificação: 16 anos
Dias :  9 (domingo): às 10h, 18h e 20h30 13 (quinta): às 18h e 20h30 14 (sexta): às 18h e 20h30 21 (sexta), às 18h e 20h30 22 (sábado), às 18h e 20h30 23 (domingo), 10h, 18h e 20h30

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

"CONTOS DA LUA VAGA" NO CC ALEXANDRINO MOREIRA DIA 03/12/12

"CONTOS DA LUA VAGA" 
Direção : Kenji Mizoguchi
Ano de produção : 1953
Sinopse: Durante a guerra civil japonesa, no século 16, o pobre oleiro Genjuro e seu cunhado Tobei viajam com as respectivas mulheres à capital da província onde vivem, nas redondezas do lago Biwa, para vender utensílios de cerâmica. Com as vendas, Tobei compra armas e se torna samurai, abandonando a esposa. Genjuro, por sua vez, acaba passando vários dias no castelo da misteriosa Lady Wakasa, quando vai entregar as mercadorias. Filme ganhou o Leão de Prata no Festival de Veneza de 1953.

SESSÃO ACCPA/IAP
"CONTOS DA LUA VAGA"
CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA
 (AUDITÓRIO DO IAP - INSTITUTO DE ARTES DO PARÁ)
DIA 03/12/12 (segunda-feira)
Sessão às 19 h
Entrada Franca
Debate após a exibição com críticos da ACCPA.
APOIO : ACCPA (ASSOCIAÇÃO DOS CRÍTICOS DE CINEMA DO PARÁ)

sábado, 24 de novembro de 2012

INDICAÇÕES EM DVD

Os novos cinéfilos desconhecem o cineasta Preston Sturges (1898-1959). Mas a chegada de seus filmes em DVD certamente o fará conhecido. Preston tinha uma imaginação prodigiosa revelada nas histórias que escrevia antes mesmo de tentar o cinema. Na 1ª.Guerra Mundial ele serviu como soldado. Na volta do front fez várias invenções a começar com um batom “à prova de beijo”. Sua incursão nas artes cênicas deu-se com a peça “The Guinea Pig”.Sem sucesso, tentou o cinema. A Paramount deu-lhe abrigo e foi feliz no primeiro filme que escreveu: ”The Great McGinty” (1940, “O Homem que se Vendeu”).Daí em diante chegou a escrever 44 roteiros e dirigir 13 filmes. Como os últimos começaram a fracassar nas bilheterias, acabou filmando na França o que seria seu último titulo: “As Memórias do Major Thompson” (Les Cornets du Major Thompson/1955). A arte de Preston Sturges está sintetizada em“Contrastes Humanos” (Sullivan’s Travells/1942) onde um cineasta realista passa a viver como mendigo para filmar a vida dessa classe social. O tipo era vivido por Joel McCrea como em outros filmes que realizou. E McCrea está no titulo que chegou agora às locadoras: “Mulher de Verdade” (The Palm Beach Story/1942). Mescla da comédia visual do período mudo, com os personagens em situações embaraçosas, como um tiroteio dentro de um trem promovido por velhos caçadores que experimentam seus rifles. O filme mostrou uma Claudette Colbert hilariante, saída do êxito conseguido em “Aconteceu Naquela Noite” (It Happened One Night/1934) de Frank Capra(vencedor dos 4 principais Oscar). Sturges também realizou o ultimo filme do comediante Harold Lloyd (um dos grandes interpretes da comédia visual dos anos 20), “Trapalhadas do Haroldo”(Mad Wednsday/1946). Outras relíquias foram editadas agora em DVD no Brasil estando dois filmes com Gary Cooper: “As Aventuras de Marco Polo”(Marco Polo/1938) de Archie Mayo, e “Os Inconquistáveis”(Unconquered/1947) de Cecil B. De Mille. Episódios e personagens históricos moldados ao gosto das bilheterias da época. Ainda na faixa de clássicos conta-se “Flores do Pó”(Blossoms in the Dust/EUA 1942), de Mervyn Le Roy. Uma biografia romanceada de Edna Glavey, dona de creches no Texas do inicio do século XX e responsável pela mudança ocorrida nas certidões de nascimento que antes registrava quem era “filho ilegítimo”. Greer Garson e Walter Pidgeon são os protagonistas. “Flores...” ganhou o Oscar de direção de arte e a atriz chegou a ser candidata na categoria. De Nicholas Ray, um filme pouco visto: “A Bela do Bas-Fond”(Party Girl/1958). A veterana atriz Cyd Charisse interpreta a personagem-título e Robert Taylor, num papel diverso de tudo o que protagonizou antes, o de um advogado de gangsters. O roteiro de George Wells de uma história de Leo Katcher não apresenta muitas novidades, mas o diretor consegue um raro exemplo, na época, de “filme noir”, a cores. Há uma boa criação de ambiente e um rendimento excepcional do elenco. Vale a pena conhecer.(Luzia Álvares)

"ARGO"

A primeira sequencia do filme “Argo”(EUA/2012) de Ben Affleck mostra uma síntese da história contemporânea do Irã, lembrando que o país era a antiga Pérsia e seus governos sucessivos extrapolaram ações repressoras culminando com as atrocidades cometidas pelo xá Reza Pahlavi, deposto e refugiado nos EUA para tratamento de um câncer. O relato termina com a situação atual quando os aiatolás assumiram o governo e o povo passou a revidar os maus tratos sofridos odiando, especialmente, os norte-americanos, pelo asilo dado ao ditador deposto. A narrativa se inspira em um fato real, quando alguns funcionários da diplomacia norte-americana ao viverem a invasão da sua embaixada por revoltosos iranianos se refugiaram na embaixada do Canadá. Ali permaneceram sem poder sair, pois os que os odiavam estavam nas ruas, esperando-os. Basicamente o enredo é a operação idealizada por um agente da CIA que simula a realização de um filme de ficção cientifica em território iraniano e, para isso, cria equipe de produção & tudo o que tem direito numa empresa holiwwdiana e, na terra estrangeira, seria formada pelos seis refugiados de seu país. Este plano é meticuloso, mas poucos acreditam que dê resultado. Consultando pessoas de cinema, Tony (Ben Affleck) consegue mostrar aos interessados um roteiro e um “storyboard”, assim como pede que cada um dos refugiados decore o que deve dizer das tarefas de filmagem (há um diretor, uma roteirista, um produtor etc.). Tudo caminha para a realização do plano quando o Departamento de Estado do governo Jimmy Carter, resolve mudar as regras e ativar uma tropa militar para liberar de qualquer forma os mais de 70 reféns que já haviam sido presos, incluindo os outros seis nessa nova campanha militar. A medida seria perigosa, talvez mais do que a realização do filme de mentira arquitetado por Tony. Em vista disso ele resolve contrariar os superiores e seguir avante em seu plano. O filme é extremamente bem narrado dando a impressão, em alguns momentos, de um documentário. Mas o que eleva o resultado é uma direção de atores eficiente, a mescla de locação com cenas de estúdio, e tudo resolvido por uma edição exemplar. Para que se tenha uma ideia de como a trama funciona basta levar em conta a emoção que gera num crescendo, chegando à agonia do suspense nos planos semifinais. Há cortes de segundos detalhando expressões em closes e alternando movimentos manuais de câmera que sugerem uma cine-reportagem. Affleck não só trata do que a personagem diz “filme de mentirinha”, ou o filme dentro do filme, como elabora o suspense em alta dosagem. Os tipos sabem que se algum detalhe for percebido, na fuga para um avião suíço, eles estarão mortos. O crescente ódio dos iranianos contra os norte-americanos é demonstrado em momentos como numa feira onde um homem idoso reclama da foto captada por uma das personagens e evoca a sua condição de pai de uma vitima das atrocidades de Reza Palahvi acobertado pelos americanos. Na hora do embarque, no aeroporto, é“tudo ou nada”, com o espectador na ponta da poltrona torcendo para que os guardas locais aceitem a ideia de um filme popular e até se entusiasmem com os desenhos de cenas. O que falha em “Argo”, e este nome deriva da ficção que seria filmada no Irã (um plano detalhado em cima de um processo ardiloso e falso) é não só a sequencia de fecho onde se vê o agente da CIA em casa, com a família e, no plano de fundo, a bandeira americana tremulando. Ele, “herói”, não havia sido reconhecido oficialmente como tal, mas a condição “patriótica” ganha corpo como forma de homenagear a coragem de um filho da América. Coisa da velha Hollywood. Além dessa sequencia há toda a dimensão “de bastidores” contada em fragmentos sobre o enriquecimento de empresas norte-americanas e as atrocidades cometidas em nome do imperialismo. O filme de Afleck é daquele tipo de dá lição de como se organiza a ideologia de direita em função da convicção de que “só estamos vendo um filme....” Aliás, ele deve ir ao próximo Oscar com muita chance de ganhar. Está fazendo a cabeça dos eleitores e de quantos não têm acesso ao que o ocidente oprime o oriente. Mas as criticas são favoráveis a ponto de um site que faz o balanço dessas critica adjetivar que é “extraordinário”.(Luzia Álvares)

"NOIR"

O critico francês Nino Frank foi quem primeiro escreveu o termo “film noir”. Seria o filme escuro, geralmente os policiais rodados em preto e branco. A estética derivava do expressionismo alemão e não à toa entre os percussores do gênero estavam cineastas vindos da Alemanha ou da Áustria como Fritz Lang e Billy Wilder. Quando eu comecei a escrever sobre cinema tinha com o exemplo de “noir” aquelas aventuras de detetives tipo Philip Marlowe (concebido por Raymond Chandler). Lia esse tipo de história na revista X-9 e nos “pocket-books”. E via os filmes em que Humprey Bogart, especialmente, andava de capa comprida, chapéu de feltro e cara amarrada. Os noir derivaram do ciclo de gangsteres vindos dos anos 30. Paul Muni foi Al Capone no tempo em que o traficante ainda vivia (“Scarface”). James Cagney moldou muito bem o tipo no soldado vindo da 1ª.Guerra que ficava desempregado e achava o melhor meio de ganhar dinheiro na proibição de bebidas alcoólicas advinda da crise de 1929(“Heróis Esquecidos” é fundamental). Como esses filmes pediam uma fotografia contrastada, e até porque a censura proibida que se visse sangue, a identificação com o expressionismo dos anos 20 levou a que os críticos chamassem a coisa de “negra”. Engraçado foi um que viu nisso a economia de eletricidade usada por Jack Warner na Warner Bros, diminuindo os refletores(spots). Uma revisão dos “noir” vai ser feita hoje no Olympia pela ACCPA. Do grupo de filmes escolhidos eu gosto de “Relíquia Macabra”(ou “Falcão Maltês”),”O Segredo das Joias”(ambos dirigidos por John Huston) e não sei se está “Um Retrato da Mulher” de Fritz Lang. Ah sim, tem o “Laura” de Otto Premminger onde Clifton Webb desafiou a homofobia de Daryl F. Zanuck, o chefão da 20th Century Fox por imposição do diretor. Um grande desempenho que quase dá o Oscar ao ator. Essas mostras que estão sendo apresentadas no nosso cinema-vovô são interessantes para quem gosta e estuda cinema. Eu espero a de ficção cientifica. Acompanhei o gênero desde criança. Vivia no mundo da lua sem a careta edificada por George Mèliés. Durante este programa, a ter lugar em dezembro (desde que o mundo não acabe no dia 21 desse mês), vai figurar um curta que eu fiz: “O Maia Brasileiro”. Vou estar lá.(Pedro Veriano)

"PROMETHEUS"

Revi “Prometheus” ,agora em DVD. Confesso que aturei melhor o filme de Ridley Scott. O problema é que a gente ao se defrontar com dilemas filosóficos dentro de ficção cientifica é guinado a lembrar o “2001” de Kubrick. Digo Kubrick pois o filme superou o texto de Arthur C.Clarke. Ali o nosso possível ancestral é encontrado, ou nos encontra, e refaz a humanidade produzindo um feto que irá marcar a nova etapa da evolução biológica. No filme de Scott, astronautas chegam a um mundo que foi, pode-se dizer, uma das casas de criaturas que iriam marcar presença na Terra. Há influencia de “2001”. Na primeira sequencia vê-se um homem atlético (ou um mutante) à beira de um abismo, abrindo uma espécie de concha de onde sai uma substancia, ou um ser vivo, que o leva a cair no abismo. No futuro não muito longe (marcam 2069, uma ousadia profética), humanos vão achar numa caverna em um planeta de outro sistema solar as marcas desses seres que nos precederam. Mas sem um robô malévolo como HAL, o filme lança mão de criaturas hibernadas que despertam para eliminar quem as despertou, ou pretendendo estar em tempo de invadir o mundo onde estiveram (e parece terem sido mal recebidos). São os vilões disponíveis. Scott faz uma festa cenográfica com a sua espaçonave. E vai bem na amostragem de seu planeta desértico embora com uma atmosfera acessível ao pessoal da Terra. Não especifica quem é parecido com os seres humanos ou quem lembra o seu alien (do filme “Alien,O Oitavo Passageiro”). Continua tratando da penetração de genes anômalos, no caso uma astronauta que engravida de um colega que já tinha um desses aliens incorporado. Na confusão pensa-se que navegaram pelo espaço grotescas coleções de células e o mais próximo da nossa constituição. Por aí não entra mais Kubrick.A Terra abrigaria monstros em meio a seus “homo sapiens”. Parece dizer que,em tom bíblico, o bem e o mal ganhariam o mundo. Mas a missão de uma astronauta, particularmente, não termina com “Prometehus”(nome da nave). Ela fica no estranho planeta atrás de mais evidencias de quem nos gerou, ou “de onde viemos”. Isto quer dizer que os tipos da caverna extraterrestre não são constituem o nosso “ovo”. Há mais adiante. Certo um novo filme. “Prometheus” é blockbuster e quer sempre se pagar e dar lucro. O tema é explorado como uma aventura nas estrelas sem necessariamente uma guerra (e menos uma fantasia).É um terror que troca fantasmas com avôs de criaturas dignas do dr. Frankenstein. Mas até ai roteiro de Scott é insuficiente: o tipo de Mary Shelley é um castigo religioso. O homem só faz o homem com amor na com pedaços de cadaveres. Isto no século em que viveu a escritora (hoje tem proveta & cultura celular&clones). Na ficção do cinema moderno a mocinha teima em usar um cordão com um crucifixo.Persiste a fé em Deus criador. E continua buscando Adão. Fosse um filme dos Monty Phyton encontraria o Golem. Mas aguardemos. Enquanto não chega o “Prometeus 2” deliciemo-nos com este coquetel de informações apressadas de um cineasta administrador .Pelo menos ele instiga a imaginação.(Pedro Veriano)

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

"NO CALOR DA NOITE" NA SESSÃO CINEMATECA DIA 25/11


Oscarizado, “No Calor da Noite” reinaugura a sessão Cinemateca Um drama policial sobre racismo, em plenos anos 60. Dirigido por Norman Jewison, um cineasta que nunca se desviou de temas arenosos – anos mais tarde, ele dirigiria Al Pacino no filme de tribunal sobre um crime de estupro “Justiça para Todos” -, como em “No Calor da Noite”, em exibição neste domingo, na sessão Cinemateca do Cine Olympia. Realizado pouco tempo depois das leis segregacionistas terem sido extintas nos Estados Unidos, é um filme corajoso e conservador na medida, como a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas sempre apreciou. Conta a história de Virgil Tibbs, que, ao chegar até a cidadezinha de Sparta, no Mississipi, é preso como suspeito do assassinato de um empresário local. O xerife Bill Gillespie (Rod Steiger) descobreque Virgil é um detetive da polícia da Filadélfia, que visitava sua família. Expert em homicídios, Virgil recebe ordens superiores de auxiliar no caso, o que desagrada Bill. Para deixar mais tensa a situação Leslie Colbert (Lee Grant), a viúva da vitima, vê a ineficiência da polícia de Sparta e exige a presença de Virgil. Gillespie, racista, odeia a idéia, mas há uma grande pressão para o caso ser solucionado. Aos poucos, vai surgindo um respeito entre eles, mas um detetive negro envolvido em uma investigação numa região muita racista pode ser um barril de pólvora prestes a estourar. Sidney Poitier, o primeiro ator a ganhar um Oscar, viveu seu auge com esse filme e com o também engajado , “Adivinhe Quem Vem para Jantar”, de Stanley Kramer, pelo qual ganhou a estatueta dourada.
Apenas cinco anos após ter estreado na direção, o fato de “No Calor da Noite” ter saído como o grande vencedor da festa do Oscar de 1968, com cinco prêmios, representou uma guinada na carreira de Norman Jewison. No total, foram 22 prêmios e 12 outras indicações para o filme, inclusive os Bafta para melhor direção e ator não britânico para Rod Steiger, mais os Globos de Ouro na categoria drama para melhor filme, ator para Steiger e roteiro. Engajamento político - Jewison é mais conhecido por haver dirigido “Jesus Cristo Superstar”, o épico da Broadway que mostra um Jesus cristo hippie em conflito com romanos políticos que é traído por um Judas negro. Mas, esse canadense sempre demonstrou preocupações com causas políticas e sociais e direcionou, na medida do possível, sua carreira nessa direção, mesmo regularmente tendo enfrentado dificuldades em distribuir os filmes ou comunicar-se com um público mais amplo.

SERVIÇO: Sessão Cinemateca apresenta “No Calor da Noite”, de Norman Jewison. No domingo, dia 25, às 16h, no Cine Olympia (Av. Presidente Vargas, 978 - Campina). Entrada Franca. Inadequado para menores de 12 anos.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

"VINCERE" NO CINE SESC BOULEVARD DIA 14/11


A paixão de um ditador “Vincere” aborda os dramas vividos pela amante de Mussolini
Uma mulher independente, que vendeu o que tinha para financiar o jornal do homem que ama. O que ela não sabia é que ele viria a se tornar um dos mais virulentos ditadores que o mundo já viu. Focando na juventude do personagem histórico, quando este ainda era um jovem jornalista, “Vincere” é um filme vigoroso do veterano Marco Bellocchio, que será exibido nesta quarta-feira, 14, no Cine SESC Boulevard. Concorrente à Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2009, o drama histórico, com roteiro assinado pelo próprio Bellocchio e por Daniela Ceselli, mostra como, Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno) conheceu Mussolini (Filippo Timi). Ambientado inicialmente na primeira guerra mundial, o filme aborda a transformação de Benito Mussolini de homem idealista a uma criatura transtornada pela guerra, que acredita que a única solução é a bélica. Voltando para a Itália, ele deixa Ida e o filho que tiveram antes de partir, e fica com a esposa (Michela Cescon) e demais filhos, cuja existência era desconhecida de Ida. Logo faz uma aliança com o então rei italiano, Vittorio Emanuele III, que sela sua ascensão ao poder. Com a passagem de tempo, o interprete do ditador se altera, mas não para outro ser físico. Recursos como retratos, telefilmes e noticiários são utilizados para evocar o homem baixinho e temido que gesticulava com eloqüência. O uso de materiais de arquivo é muito bem feito e ilustra como a história de amor é cancelada pelo historicismo oficial. Ida é uma mulher, não apenas esmagada por um homem cruel, mas por uma ideologia fascista sombria que não a deixa reivindicar os direitos do filho. Ela não aceita o rompimento brusco e sua obsessão amorosa a leva as raias da loucura. No hospício, enxerga apenas o homem que a mídia mostra, o mito assombroso que em nada lembra o doce e idealista Benito na juventude.
Frio e rigoroso, o filme trabalha com cores densas e sombrias, em que às vezes se coloca também um tom vermelho, "Vincere" empresta seu nome do lema fascista que cobra a vitória constante e a qualquer preço. Acima de qualquer pessoa ou sentimento. A ótima direção de arte reconstitui a época com impressionante precisão, recuperando a estética dos filmes fascistas, com seus lemas grandiloquentes projetados em imensas letras maiúsculas em primeiro plano. Sete anos após “Bom dia, boa noite”, onde aborda a tragédia que se abateu sob a Itália na forma das brigadas vermelhas fascistas, Bellochio reinveste no tema colocando em foco seu principal personagem com maestria. Um dos poucos cineastas vivos da geração pós neo realista, ele entrega mais um belo filme político, feito sob o signo da Itália de Berlusconi. “Vincere” é um filme nos mostra que a arte, como as ideologias, pode ser grande mesmo quando tudo, ao seu redor, parece menor.

SERVIÇO: Sessão ACCPA/SESC apresenta “Vincere”, de Marco Bellocchio. Nesta quarta, dia 14, às 19h, no Centro Cultural Sesc Boulevard (Av. Boulevard Castilho França, 522/523 - Campina). Entrada Franca. Inadequado para menores de 14 anos.

domingo, 11 de novembro de 2012

AMAZONAS FILM FESTIVAL

Filho de operários, Ken Loach vem dedicando sua obra cinematográfica à descrição das condições de vida da classe operária. Deixando de lado a descrição simplista, o cinema deste britâ... nico que vive na Escócia é permeado por tipos que, independente de qual localidade no mundo na qual vivem, sofrem algum tipo de repressão. Aí temos os personagens revolucionários de “Pães e Rosas”, a neta de alma nômade e o avô que sofreu com o fascimo em “Terra e Liberdade”, o menino que não se insere em lugar algum de “Kes” ou os esfarrapados soldados irlandeses de “Ventos da Mudança”. Juntando-se a essa galeria de personagem, estão os ‘desajustados sociais’ de “A parte dos Anjos”, o mais recente longa-metragem ficcional de Loach. Já tendo sido exibido na Mostra de São Paulo, a comédia delicada e um tanto ‘nonsense’ começa com a distribuição das penas de Robbie, Mo, Albert e Rhino. Eles são jovens moradores da cidade de Glasgow, punidos pelo governo e condenados a prestar serviços sociais. O foco de Loach vai se ajustando em Robbie, o jovem com ares de delinquente juvenil que carrega a mácola de ser um fracassado sem chances de prosperar. Filho de pai alcoolatra, ele é perseguido pelo pai da namorada grávida e por rivais, mesmo quando tenta se afastar de confusão.
Mais uma vez a temática dos párias, daquelas pessoas que, por um abandono institucional, não possuem perspectivas de uma vida melhor, conduz a narrativa de Loach. Quando parece que a história vai ganhar os contornos de mais um contundente drama do cineasta, ele dá um giro e transforma o destino e transforma o destino de Robbie, com a ajuda do funcionário público Harry. Responsavel por tutelar Robbie e seus amigos, Harry os introduz no fascinante – e bastante escocês – universo dos apreciadores do whisky, o que rende momentos engraçadíssimos de ‘familiarização’ com a bebida. Mais sagaz do que seus companheiros, Robbie vê no talento aguçado que vai desenvolvendo no trato com a bebida, uma oportunidade. Talvez a única de dar uma guinada na sua vida. Repleto de bons diálogos e situações bem orquestradas, quando a ‘gangue’ de robbie pratica um grande roubo que é fundamental para o rumo que a história toma em sua definição, a “Parte dos Anjos” ainda possui uma delicadeza na caracterização desses personagens fracassados tão humana que é impossível não torcer para que mais uma, talvez a última transgressão, dê certo. Ken Loach preenche de frescor sua filmografia com mais um filme acima da média.(Lorenna Montenegro)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

"A FRATERNIDADE É VERMELHA" NO CC ALEXANDRINO MOREIRA DIA 12/11

Laços constituídos do rubro sangue
A conclusão da trilogia de Kieslowski dilacera destinos na complexidade da relação humana Após utilizar os matizes de azul e branco para ilustrar como a vida tem muito de tragédia, comicidade, melancolia e leveza, Krzysztof Kieslowski resignifica as dores e os prazeres do mundo acrescentando uma dose de compaixão e acaso. Com “A Fraternidade é Vermelha”, considerado por muitos o filme mais sublime da trilogia das cores, ele encerra o fluxo contraditório da vida exaltando os significados das cores da bandeira francesa na metáfora da condição humana. Em exibição novamente no Cineclube Alexandrino Moreira (IAP), que exibiu “A Liberdade é Azul” e a “Igualdade é Branca”, essa terça parte se debruça sobre uma situação um tanto insólita: uma jovem atropela uma cadela, vai atrás de devolvê-la para o seu dono e se depara com uma pessoa peculiar, com a qual irá se relacionar e que irá afeta-la profundamente. Novamente, uma personagem ‘expatriada’ – seja de seu território ou de suas expectativas em relação a vida – é o elemento que conduz a narrativa do filme de cores.
Em “A Fraternidade é Vermelha”, Iréne Jacob é a jovem modelo suíça que vive radicada em Paris e, de certa forma, ausente de tudo que a cerca. Ela procura o dono da cadela e vem a descobrir que ele é um juiz aposentado que passa seus dias espionando quem o cerca, cujos relacionamentos se desenvolvem de forma indireta. A validade moral das escolhas que são feitas no afã do momento, é o cerne da relação que Valentine vai solidificando com o juiz, novamente com a ‘cor’ vermelha ressaltando o estado de espírito e o ‘calor’ que ela vai trazendo para vida e o apartamento gélido dele. Enigmático e poético, sem ser distante, é um filme galgado na sutileza dos diálogos e dos silêncios que se situam entre os dois novos amigos. Iréne Jacob, que já havia trabalhado com Kieslowski em “A Dupla Vida de Veronique”, faz o papel de musa que exprime a relação semiótica entre a cor e os sentimentos que dela decorrem na percepção funcional de Kieslowski, como fizeram Binoche e Delpy nas outras duas partes da obra. Mas ela emprega uma fragilidade que é tocante e desarma a incompreensão do juiz com sua doçura. Aí não há mais incomunicabilidade, mas sim aproximação e o surgimento daquele que, talvez, seja o sentimento mais fraterno: a cumplicidade.
Conjunto da obra – Coeso e complementar, “A Fraternidade é Vermelha” agrega sentido a tríplice obra de Kieślowski que, não por acaso, permeia o filme com símbolos que remetem à comunicação – ou à falta de. E a sua filosofia se espraia pelo abismo das relações humanas com a força poética que sustenta sua estética e narrativa, com frases contemplativas e a tal ‘fotografia –prazer’ dos olhos, como definia Truffaut. Força das cores - Parece estranho pensar nas três palavras do lema da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade) que prime pela humanidade de seus personagens sem abrir mão do teor político. Mas essa era a marca do cinema desse grande cineasta polonês, que surgiu como documentarista e logo imprimiu seu estilo e ideologia em obras ficcionais.
 Quando se fala em Kieslowski logo se pensa nas palavras sendo substituídas por uma poesia imagética. Realizados em 1993, 1994 e 1995, os filmes da trilogia das cores são os últimos da carreira do polonês, que acabaram o tornando famoso internacionalmente. Nela, ele conseguiu colocar todos os elementos que vinha aprimorando, utilizando as cores como ambientação psicológica e estética e abrigando temas e motivações correlatas entre os personagens dos três filmes, prova irrefutável da sua genialidade. (Lorenna Montenegro)

SERVIÇO: Sessão ACCPA/IAP apresenta “A Fraternidade é Vermelha”, de Krzysztof Kieslowski. Nesta segunda, 12 de novembro, às 19h no Cineclube Alexandrino Moreira. Endereço: Instituto de Artes do Pará (Praça Justo Chermont, 216 – ao lado da Basílica de Nazaré). Entrada Franca. Após a exibição, debate entre os críticos da ACCPA e o público.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

"DEUS DA CARNIFICINA" NO CINE ESTAÇÃO


Segundo Alan (Christophe Waltz), o deus da carnificina – que segundo a mitologia está sempre acompanhado de Deimos, o terror, e de Phobos, o medo – aparece junto com os deuses da discórdia ou da guerra para arrasar/desestabilizar o que está no caminho. Dessa forma, assegura-se como vai terminar a visita que o casal Alan e Nancy Cowan (Kate Winslet e Waltz) faz a Penélope e Mark Longstreet (Jodie Foster e John C. Reilly) depois que o filho do primeiro atingiu o filho do segundo casal, com um objeto que o feriu na face machucando o maxilar, numa discussão pós-aula em campo aberto. O mito que personifica (ou deifica) a violência é a base da peça teatral de Yasmina Reza que Roman Polanski filmou ano passado sem esconder a sua origem dos palcos. “O Deus da Carnificina”(Carnage/UK, França, 2011) é uma experiência de cinema usando outra modalidade artística – o teatro – atingindo o grau a que William Wyler conseguiu chegar na realização de “Chaga de Fogo”(Dectetive Story/EUA, 1951) este extraído de uma peça de Sidney Kingsley, pelos roteiristas Philipp Yordan e Robert Wyler. A dificuldade de o cinema em sua essência atingir sua narrativa com a câmera permanecendo em um aposento, limitando o elenco em 4 atores, paira na mobilidade e graduação dessa (ou dessas câmeras, posto que mais de uma) e do talento dos intérpretes.
Roman Polanski escolheu um naipe de grande qualidade para essa sessão performática que deu conta do recado. E a sequência que determina a visita dos pais do garoto agressor ao casal que teve o filho agredido vai, gradativamente, da cordialidade que deve presidir um encontro social à brutalidade que surge quando os instintos são liberados e a hipocrisia afunda na sinceridade, estremecendo a afabilidade formalizada em gestos e palavras. O filme inicia com um grande plano dos meninos no campo, justamente na hora da agressão. Começa e termina aí. E são as únicas cenas de fora das quatro paredes do apartamento dos pais do menino agredido. O corte, leva à chegada de Alan e Nancy, bem recebidos e até convidados para um drinque na hora em que já estavam de saída. As falas cordiais começam a mudar quando Mark afirma ter colocado para fora de casa um hamster (da família dos roedores), bichinho de estimação da filha. Nem a esposa sabia disso. Nancy revela-se de imediato protetora dos animais e repele a atitude do dono da casa com veemência. Ele não se desculpa e a esposa não se diz magoada com a surpresa de sua atitude. Começam as palavras ofensivas. Busca-se o que possa ferir cada um e em dado momento Nancy diz que “meu filho fez bem em largar a porrada no seu”. E num impulso de raiva atira as flores de um jarro que a dona do apartamento usa como enfeite em uma mesa.
A força dos diálogos consegue prender a atenção do espectador. Mas o esforço maior de Polanski é dar agilidade às tomadas, procurando os mais instigantes ângulos e usando uma iluminação que dá força às tonalidades, o que coloca, então, a cor, dentro da ação como um elemento de linguagem que inexiste no teatro. A ideia é de que o filme foi realizado num só dia e milhares de imagens capturadas (hoje, a película pode ser substituída pela imagem digital) na corrida pelo melhor enquadramento (ora planos médios, ora closes, poucos planos-conjuntos e um único grande plano importantíssimo porque é o detonador das demais sequências). No teatro, o público veria a ação num só ângulo, sem observar as feições dos interpretes em detalhes, salvo a fala ríspida e o gestual agressivo que aos poucos está sendo vetor da situação. No cinema pode-se ver, por exemplo, Jodie Foster franzir a testa a ponto de realçar seus vasos sanguíneos. Mas essas conquistas específicas da cinematografia passam de forma a que o espectador não as perceba. Interessa dimensionar a ação. E isto é conseguido no brilhante “tour de force”. Um desafio de 80 minutos a ser visto sem falta. Filme Imperdível.(Luzia Álvares)

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

VER EM CASA

O cinema doméstico tem várias significações. O que se pretende aqui tratar é de home movies, aquele que se assiste em casa, no espaço privado. Mas interesante também entendê-lo com outros significados. Interessante o texto de Luis Nogueira (2008) “Cinema Doméstico na Era da Internet” (www.doc.ubi.pt/ Revista Digital de Cinema Documentário) sobre essa questão, mesclando esse olhar com o doméstico como imaginário na realização. O texto refere: “Na primeira sessão cinematográfica apresentada pelos irmãos Lumière em 1895, um dos filmes mostrados não poderia ser mais emblemático da questão que aqui nos ocupa: o cinema doméstico. Trata-se da curtametragem “Le repas du bebé” e nela vemos nada mais do que um casal a alimentar o seu infante. Este episódio, absolutamente prosaico, haveria de ser repetido vezes sem conta, com pequenas variações, nos filmes caseiros que o futuro se encarregaria de produzir. A presença deste filme na sessão pública inaugural do cinematógrafo não deixa de ter, portanto, um elevado valor simbólico, ainda que de algum modo acessório: a infância era um dos temas da infância do cinema. Este efeito de espelho é tão mais interessante quanto remete para a questão (...): como se constituiu o doméstico enquanto tema artístico e, para o que aqui nos interessa, cinematográfico, ou seja, como ocorreu o nascimento deste imaginário?” Mas vou me ater à exibição e não a realização.
Um dos aspectos iniciais da projeção privada se dá em películas em 16mm, bitola criada no período da 2ª.Guerra Mundial para, entre outros, levar esta arte & diversão aos soldados aliados no front. Com a chegada do vídeo, primeiramente o VHS, esta forma de ver filmes intensificou-se. E com o DVD ganhou maior impulso. Hoje há a facilidade de serem vistas as produções lançadas nos cinemas comerciais na tecnologia 3D. Com isso, o cinéfilo ganha o respaldo de observar as obras em seu original, longe da dublagem que falseia os tipos através de vozes que não correspondem a eles (e está se tornando rotina) Na coluna da semana passada mencionei os títulos de uma nova distribuidora de DVD que está lançando filmes antigos, especialmente de Hollywood. O problema dessa empresa é manter o logotipo “clássico” nas imagens projetadas, supondo-se uma cópia de TV.
Em um dos filmes dessa empresa, por sinal, surgiu o logotipo do canal TCM. Uma afronta. Mas na área dos clássicos, o melhor está mesmo com as distribuidoras veteranas como a Versátil, Classline (esta cearense), Cult-Classic e Paragon (há outras, mas com menos títulos). A Versátil esta lançando um estojo chamado “Hollywood Contra Hitler”. Traz 6 filmes, de 1939 a 1943, realizados por cineastas de peso. Há, pelo menos, 3 obras impecáveis: “Tempestades D’Alma”(The Mortal Storm/1940) de Frank Bozarge, “Horas de Tormenta”(Watch on the Rhine/1943) de Herman Schumin, e “A Sétima Cruz”(The Seventh Cross/1944)de Fred Zinnemann. Oportunamente tratarei deles.
Esta semana assisti alguns. Repasso: “O Sorgo Vermelho”(Hon Gao Liang/China, 1987) é um filme de Zhang Yimou, um dos mais prestigiados cineastas chineses (dele “Lanternas Vermelhas”). Em foco, um episódio histórico sobre camponeses chineses que assistem o cenário de suas vidas ser maculado pela investida do exército japonês. A narração oral focaliza My (Gong Li), jovem guinada pela família a casar-se com um homem rico, leproso e no caminho do encontro com ele é violentada. Engravida, volta para o seu ponto de origem e sofre as perseguições de bandoleiros e dos soldados nipônicos. Produção competente e fotografia explorando eficientemente o drama narrado, perdoando-se os estereótipos, mantendo o interesse do espectador. O filme ganhou 7 prêmios internacionais inclusive do Festival de Berlim. “Em Casa Para o Natal”(Hjem til jul/2010), um raro filme norueguês premiado em festival europeu, abordando varias historias, a lembrar Robert Altman. Pessoas esperam o Natal de diversas maneiras, desde garotos que dizem não festejar a data (um muçulmano, outro incrédulo) a um médico que na noite de Natal é obrigado a atender uma parturiente e se sensibiliza sabendo que o casal fugiu da guerra na Bósnia. Há o aparente mendigo, expulso do trem, sendo reconhecido por uma mulher, e há o homem solitário que busca amigos. Todos os quadros são tratados com visível preocupação de ressaltar o aspecto sentimental do enredo, sempre revelando o cuidado artesanal do diretor Bent Hamer (de “Caro sr. Horton), também autor do roteiro. Imperdível.(Luzia Álvares)

"CONTATO"

Revi, agora em Blu Ray, “Contato”(Contact) que Robert Zemeckis fez do livro de Carl Sagan(1934-1996). De aplaudir. Conheço o livro do astrônomo e apresentador da série “Cosmos”e o que muda mais intensamente é a troca da mãe pelo pai de Eleanor(Jodie Foster). É a mãe que ela vê num espaço intermediário para onde é jogada quando viajando na maquina desenhada pelos habitantes do mundo que orbita a estrela Vega. Mas é o que menos importa. O filme e o livro ultrapassam os limites da sci-fi como o “2001” de Kubrick. Entra a filosofia, e discute-se a presença do ser inteligente no mundo. A começar com a resposta do pai (ou mãe) da principal personagem quando ela pergunta se ele (ela) acredita em vida fora da Terra: “-São tantos mundos no universo que se estamos só é um grande desperdício”. O tema tem coragem de invadir o terreno da fé. Quando Eleanor pede ao teólogo amigo/amante Jess (Mathew McConaughey) uma prova da existência de Deus ele responde perguntando: “-Você amava o se pai?” Ela responde: ”-Amava”. “Então prove”. Sou fã do gênero, antes de ser comentarista de filmes fazia parte da Associação de Amadores de Astronomia, tinha um telescópio mirim e devorava livros e filmes que me lançassem no “mundo da lua’”. Por isso sou um pouco exigente com o tema. Tive um amigo, Helio Titã, que também curtia essas coisas e se dizia coomólogo. Por tudo isso “Contato” sempre me impressionou. E a sacada critica quando o mundo sabe que as imagens vindas do espaço são da própria Terra de anos antes, iniciando com Hitler abrindo as Olimpíadas de 1936, é sensacional. As pessoas reagem de acordo com suas culturas & sensibilidades. É o lado cômico da história, o enfoque da estreiteza mental de tantos. Sagan abria uma brecha no seu ceticismo evocando um cenário que se pode ver como espiritual. Arthur Clarke via dessa forma o encontro com o extraterreno que mobiliava um quarto para o astronauta “se sentir em casa”. Errava no tempo (a decoração era da época de Luis XV).
Mas em “Contato”é a mesma forma de não amedrontar o viajante (o “túnel” descrito pela autor pode ser um buraco negro – como pode ser aquela descrição de um quase morto que se vê saindo do plano físico, imagem que alguns interpretam como a memória do feto ao atravessar o canal vaginal da mãe). O que seja é interrogado pela jovem que volta sem ter ido. Ou que foi e não sabe dizer como, onde e o que fez(resta a estática gravada por muitas horas no aparelho que levava para registrar som e imagem). Muito bem dirigido, o filme de Zemeckis é um de meus preferidos. Revejo sempre que posso. Em alta definição de imagem faz a vez do que vi anos atrás em tela grande. Por aí uma (outra) viagem no tempo.(Pedro Veriano)

O AMOR DO ARLEQUIM PELA COLUMBINA

A cidade-luz é o cenário do poético “O Boulevard do Crime”, clássico considerado o maior filme francês da história Paris, 1830. O Boulevard du Temple é o local dos teatros, dos cabarés e da vida boêmia da capital francesa. É neste cenário que desenrola o tumultuado triângulo amoroso formado pelo mímico Baptiste a atriz Garance e o ator Lemaitre. Filme-símbolo do realismo poético, “O Boulevard do Crime”, de Marcel Carné, será exibido nesta terça-feira, 6, no Cineclube da Casa da Linguagem, pela Associação de Críticos de Cinema do Pará. Principal corrente estética do cinema francês nas décadas de 30 e 40, o realismo poético fez florescer o talento do cineasta Marcel Carné, que em colaboração com o poeta Jacques Prévert, realizou grandes obras como “Cais das Sombas”, “Trágico Amanhecer” e “O Boulevard do Crime”. Realizado em 1945, o ‘Boulevard...’ foi eleito o maior filme francês do século XX, em votação que reuniu críticos, cineastas, atores e intelectuais franceses. A história romântica e trágica mostra Garance (Arletty) divida entre o amor de Fréderick Lemaitre (Pierre Brasseur) e a devoção de Baptiste (Jean-Louis Barrault). Elel, que trabalha como mímico, é o personagem mais fascinante da obra, com sua emoção que ultrapassa qualquer necessidade de fala. Baptiste cresceu como o menino mudo e sonhador, que enxerga o mundo de maneira onírica e busca a perfeição, que acredita haver encontrado em Garance. A saga inicia em 1828, no período pós Bonaparte.
O triângulo na verdade, é um quadrangulo quando entre em cena o escrivão Lacenaire (Marcel Herrand ), o vilão da história. Frio, Lacenaire é um homem que não encontra compreensão no mundo que o cerca. Acha-se superior a tudo que o rodeia e não se importa com nada. É o contraponto à doçura de Baptiste. De todo jeito, Baptiste e Garance são dois marionetes, jogados ao meio de toda uma gama de complicados e maldosos personagens do universo teatral e mundano de então. São manipulados por estes e pelo destino que os separa. Todo rodado em estúdio, o filme de propósito confunde a vida real e a teatral, dentro daquele princípio shakespeariano de que o mundo é um palco. Será que o mímico conquistará o amor da atriz? Perdida em um turbilhão de máscaras, em meio ao carnaval, Garance tem como confidente Nathalie (Maria Casares), que lhe revela a verdade que busca ocultar, no desfecho da obra. A segunda parte de “O Boulevard do Crime” sera exibida na próxima terça-feira, dia 13, no mesmo horário.
Curiosidade - O título original, “Les enfants du paradis”, (as crianças do paraíso) consiste numa referência à linguagem do teatro, indicando, na gíria da época, os pobres (‘les enfants’) que não podiam pagar mais e, por isso, sentavam nas filas de trás (‘paradis’), onde mal ouviam as vozes do atores.
SERVIÇO: Sessão ACCPA/CPV apresenta “O Boulevard do Crime - parte 1”, de Marcel Carné. Nesta terça, 06 de novembro, às 18h no Cineclube da Casa da Linguagem (Avenida Nazaré, 31 – esquina com a Travessa Assis de Vasconcelos). Entrada Franca. Após a exibição, debate entre os críticos da ACCPA e o público.(Lorenna Montenegro)

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

GONZAGAS : O FILME

Nos meus verdes anos eu era colecionador de discos (aqueles de cera). E a maioria era da nossa musica popular. Foi o tempo em que se lançou “Baião” de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira com interpretação de Luiz. O depois deputado Raimundo Noleto, que morava em minha casa, achava, vaidoso, que a letra mencionava a sua cidade natal, Xerente (Go). Não deu para contestar, mas o disco fez sucesso. E o que Luiz gravou a seguir também. Lembro-me de “Qui Nem Jiló” com saudade de um tempo em que sanfona, digo acordeom, era moda. No Mosqueiro, onde minha família se refugiava nos períodos de férias, as moças amigas de meus pais tocavam isso. Eram as “gonzaguinhas”, quando, na verdade, já seguiam Mário Mascarenhas, aquele que apareceu tocando sobre uma carroça no último filme de Humberto Mauro “O Canto da Saudade”(a música era “O Canto do Pagé” de Villa-Lobos).
O mundo musical de Lua (Luiz Gonzaga) surge no filme “Gonzaga: De Pai Pra Filho” escrito e dirigido por Breno Silveira. Vi contendo a emoção. Mas rendi meu senso critico no final quando surgiu, acompanhando os créditos, “O Que é O Que é” de Gonzaguinha. Ali está a síntese do drama que rolou entre pai e filho. Mas o filme cobre a infância do pai, dá conta do agreste, consegue a cor nordestina, e mesmo fazendo locações turísticas no Rio(o Pão de Açúcar em segundo plano para efeito de exportação), deixa a ideia de como foi sacrificada a vida do compositor& instrumentista & cantor. O drama real passa na rapidez da linguagem direta como um (bom) melô. A vida é assim mesmo e o filho do sanfoneiro diz bem que ela “podia ser melhor e será, mas é bonita, é bonita e é bonita”. Daí um quase fecho apoteótico com o show dos dois músicos se reconciliando no tom e no abraço. Antes, o primeiro abraço deixa o sol no fundo. Recursos velhos de linguagem que ainda fazem efeito. Ninguém deixa de fazer cinema do tempo da “cena muda” por vergonha de ser “demodée”. Gosto desta opção do Bruno Silveira. Nos filmes dele “não há vergonha de ser feliz”(ainda a canção do Gonzaguinha). E até por isso o filme não chega às mortes dos personagens, tão próximas uma da outra. Gostei do que vi. Cheguei a conter as lágrimas incitadas pelo encadeamento dos fatos. E os atores foram tão parecidos com os tipos vividos (especialmente Julio Andrade no Gonzaguinha adulto) que espantou. Espero que o publico prestigie o filme. Já chega de lotar cinema só com neopornochanchadas.(Pedro Veriano)

JAMES BOND NA PROGRAMAÇÃO


Grandes atrações estreiam esta semana em Belém: “007 Operação Skyfall” e “Gonzaga de Pai pra Filho”. Eses filmes devem estar em salas dos dois circuitos comerciais nos shoppings da cidade. Na área extra prossegue “Fausto”, de Alexandr Sokurov, no Cine Estação (de hoje a domingo), já considerado um dos melhores filmes deste ano pela critica local. E, no Olympia, segue a mostra de melodramas com títulos que marcaram época.
“007 Operação Skyfall” (EUA, 2012) é o 23º filme do personagem criado por Ian Fleming. Com exceção de Tarzan ele é o mais duradouro tipo em aventuras filmadas. Desde 1962, ou seja, exatamente há 50 anos, quando estreou “O Satânico Dr No”(Dr No), essa figura já teve as caras dos atores: Sean Connery (6 filmes), George Lazenby (1), Roger Moore (7), Timothy Dalton (2), Pierce Brosnan (4) e agora Daniel Craig(3). O personagem 007 ganhou fama quando o então presidente John Kenneedy disse,numa entrevista, que seu livro de cabeceira, na época, era “Dr No”. Logo os produtores Harry Saltzman e Albert Broccoli assumiram a tarefa de levar a trama ao cinema e escolheram o ator escocês Sean Connery para o papel principal. Iniciava-se a grande franquia que resistiu ao autor da obra literária original e hoje se adapta às novas tecnologias adentrando pelo terreno da ficção cientifica. O novo filme, um detalhe do passado de Bond (Daniel Craig), leva-o a um conflito com M (Judi Dench), sua chefa imediata, e um motivo de suspense quando entra em cena M16. Alias, o diretor Sam Mendes evitou contar a trama para a imprensa internacional. O trailler já mostra que Bond fica em perigo de morte. Mas isso não é novidade. Resta saber como esse perigo vai prender o espectador na poltrona do cinema por mais de duas horas.
“Gonzaga De Pai Pra Filho”(Brasil, 2012) é dirigido por Breno Silveira (de “Os Filhos de Francisco” e do recente “Na Beira do Caminho”) e se baseia em entrevista com Gozaguinha, o filho do Rei do Baião, falecido prematuramente em um desastre. Há menção ao relacionamento tumultuoso entre pai e filho e a infância difícil do músico. Muito se espera desta homenagem ao compositor e sanfoneiro que faria 100 anos neste 2012. As filmagens foram feitas na terra dele, Exu (Pe), e no Rio de Janeiro. O filme ganha lançamento nacional e tem Júlio Andrade como Gonzaguinha e Nivaldo Expedito de Carvalho como Gonzagão (ou Lua). No cinema Olympia encerra-se a mostra de melodramas clássicos hoje com “Madame X” e amanhã com “Amar foi Minha Ruína”.
No domingo haverá um programa especial de filmes de animação (curta metragem) homenageando o dia consagrado a esse gênero de cinema. E na 3ª feira inicia uma nova mostra, desta vez dedicada aos melhores filmes dirigidos por Alfred Hitchcock. Serão exibidos: “O Homem que Sabia Demais”, “Intriga Internacional”, “Janela Indiscreta”, “Os Pássaros”, “Um Corpo que Cai” e “Psicose”. “Amar foi minha Ruina”(Leave her to Heaven/EUA,1946) baseia-se no livro de Bem Ames Williams e focaliza uma socialite (Gene Tierney) que se casa com um homem(Cornel Wilde) que conheceu numa viagem de trem desprezando o interesse que por ela tinha um politico (Vicent Price) em ascensão. Desfazer o casamento sem perder status, além de alimentar ciúmes da irmã (Jeanne Crain), faz com que ela tome atitudes dramáticas. O desempenho de Tierney foi muito elogiado e ela chegou a ter uma indicação(a única de sua carreira)ao Oscar. Direção de John M. Stahl. “Madame X” (1966), filme de David Lowe Rich deu motivo a uma das primeiras telenovelas brasileiras (“A Ré Misteriosa”, na TV Tupi). No filme, Lana Turner protagoniza a mulher fracassada no casamento que se torna criminosa e é defendida em júri pelo filho que não sabe ser ela a sua mãe. As sessões do Olympia são sempre às 18h30 e o ingresso é gratuito. (Luzia Álvares)

"O LIVRO DE CABECEIRA" NO CINE SARAIVA DIA 01/11

“Livro de Cabeceira”, filme do britânico Peter Greenaway, será exibido amanhã (01) Peter Greenaway nunca foi um cineasta dado a convencionalismos. Quando aborda a história de uma menina japonesa que cultiva o ritual da escrita corporal, ele o faz de uma maneira onírica, passional e filosófica. “O Livro de Cabeceira” transforma essa particularidade singular numa força catalisadora entre dois mundos, o do ocidente e do oriente. O filme poderá ser conferido nesta quinta-feira, 01 de novembro, no Cine Saraiva – programação da Associação de Críticos de Cinema do Pará. Desde pequena, Nagiko (Vivian Wu) é brindada pelo pai escritor (Ken Ogata) com um presente: saudações são escritas belamente em seu rosto e nuca. Ela passa a entender aquilo como uma tradição, como se a pele fosse o papel através do qual o pai dava vazão aos sentimentos pela filha. Mas a trama começa a ganhar um significado diferenciado quando um livro erótico (homônimo) datado do século 10, é dado de presente a Nagiko por sua tia (Hideko Yoshida). Estamos no Japão, em plena década de 1970 do século 20, quando o sexo é livre, mas as mentes são dominadas pelo politicamente correto. Nesse contexto, a moça se utiliza dos aprendizados do livro para usar o corpo de seus amantes e fazer das suas peles, o seu livro de cabeceira. Imagem e letra, prazer e dor vão se alternando num arcabouço estético quando a história de Nagiko é transformada em imagens pelo esteta Greenaway. Ele utiliza o enredo para explorar a relação entre o homem e a arte, primordialmente a anatomia humana. Com um estilo visual inovador e estonteante, observamos como, para ela, escrever nos corpos é tão importante como respirar.
O movimento da câmera acompanha o deslizar das tintas no corpo, que por sua vez penetram na pele e perpassam o patamar de fetiche. Pois se é o corpo, as mãos, que escrevem, nada mais natural que, a partir delas, as letras e símbolos voltem para a derme. Não é possível acompanhar o que se passa em cada ‘frame’ que Greenaway produz assim como a leitura de uma palavra sobre a outra dentro do suporte literário, tem que estar encadeada num conceitou ou ideia. E aí os ideogramas orientais ganham ainda outra significância – Eisenstein em seu “A forma do filme”traçou um paralelo entre a imagem de cinema e um ideograma. Quando surge Jerome, o escritor e tradutor britânico interpretado por um jovem Ewan McGregor, Nagiko parece ter alcançado no amor, uma resposta à existência, dentro de um caráter que beira o inexplicável sem abandonar o que é intrínseco a toda uma compreensão racional da vida. Ela não consegue escrever no corpo dele com precisão e entrega o seu corpo a ele para que seja preenchido por palavras numa língua que não é a sua. Apesar de alguns momentos mórbidos e estranhos, é o filme mais romântico de Greenaway e talvez um dos mais acessíveis. (Lorenna Montenegro)

SERVIÇO:
Sessão ACCPA/Saraiva apresenta “O Livro de Cabeceira”, de Peter Greenaway. Nesta quinta, 01, às 19h, no espaço Benedito Nunes da Livraria Saraiva ((Boulevard Shopping, 2º piso). Entrada Franca. Após o filme, debate entre o público e membros da Associação de Críticos de Cinema do Pará.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

ÚLTIMO FILME DE ROMAN POLANSKI NO CINE ESTAÇÃO



O cineasta Roman Polanski está de volta ao circuito cinematográfico da cidade com “Deus da Carnificina” (Carnage), com Kate Winslet, Christoph Waltz e Jodie Foster, que tem estreia confirmada no Cine Estação das Docas a partir do desta quinta-feira, 1º de novembro. O filme é uma adaptação da peça homônima de Yasmina Reza, ganhadora do Tony Awards, e acompanha a história de dois casais que se encontram depois de seus filhos se envolverem em uma briga na escola. O encontro é um desastre, mas serve para dar início a uma análise conjugal dos casais e um estudo cínico sobre conceitos como educação e civilidade.
 A princípio, o encontro tem a intenção de selar a paz entre os garotos e colocar um ponto final na história. A cordialidade lentamente transforma-se em alfinetadas que culminam em hilárias situações e ofensas grotescas. Comédia de humor negro, “Deus da Carnificina” presta tributo as suas origens teatrais, sendo filmado em um só cenário para uma espécie de encontro de máscaras que vai se destruindo pouco a pouco a partir de uma bolsa jogada ao alto, um celular sempre interrompendo as conversas, alguns goles de uísque e um hamster abandonado. Impedido judicialmente de entrar nos EUA,
Roman Polanski é considerado um dos melhores diretores do mundo em atividade, responsável pela famosa trilogia do apartamento ("Repulsa ao Sexo", "O Bebê de Rosemary" e "O Inquilino"), o thriller noir “Chinatown”, a coreografia macabra de “A Dança dos Vampiros”, e um passeio por gêneros distintos que renderam a realização de “Tess”, a pegada hitchcockiana de “Busca Frenética” e “O Escritor Fantasma”, o humor sinistro de “O Último Portal”, dramas contundentes como “O Pianista” e “A Morte e a Donzela”, entre outros títulos.

Serviço Deus da Carnificina De Roman Polanski. Com Kate Winslet e Jodie Foster. 80 min. 18 anos. Cor 1º (quinta): às 18h e 20h30 2 (sexta): às 18h e 20h30 3 (sábado): às 18h e 20h30 4 (domingo): às 10h, 18h e 20h30 16 (sexta): às 18h e 20h30 17 (sábado) às 18h e 20h30

domingo, 28 de outubro de 2012

PROGRAMAÇÃO ACCPA - NOVEMBRO/2012

PROGRAMAÇÃO ACCPA - NOVEMBRO/2012 


CC ALEXANDRINO MOREIRA - 19 h
DIA 05 - A IGUALDADE É BRANCA (k. Kielowski)
DIA 12 - A FRATERNIDADE É VERMELHA (k. Kieslowski)
* filmes da Trilogia das Cores

CC CASA DA LINGUAGEM - 18 h
DIA 06 - O BOULEVARD DO CRIME (Marcel Carné)(1ª PARTE)
DIA 13 - O BOULEVARD DO CRIME (Marcel Carné)(2ª PARTE)

CINE SARAIVA
DIA 01 - O LIVRO DE CABECEIRA (Peter Greenway)- 19 h
DIA 29 - 2001 UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO (Stanley Kubrick) (Parceria com a Academia Paraense de Ciências) - 17 h

CINE SESC BOULEVARD - 19 h
Dia 14 - VINCERE (Marco Bellocchio)

CINE LÍBERO LUXARDO - SESSÃO CULT (EXIBIÇÃO NA SALA DA FONOTECA)- 16 h
DIA 24 - ANTES DO AMANHECER (Richard Linklater)
* em dezembro será exibido a sequência ANTES DO POR-DO-SOL

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

HOLYWOOD CONTRA HITLER

A Versatil Home Video lançou um pacote de DVDs com o nome ‘Hollywood Contra Hitler”. São 6 filmes rodados pouco antes e durante a 2ª.Guerra Mundial. São eles: “Confissões de um Espião Nazista”(1939) de Antaloe Litvak, “Uma Aventura em Paris”(1942) de Jules Dassin, “Tempestade D Alma”(1940) de Frank Bozarge, “Horas de Tormenta”(1943) de Herman Shumin, “A Sétima Cruz”(1944) de Fred Zinnemann e “Os Filhos de Hitler”(1943) de Edward Dmityrk. Do grupo eu só não gostei do que eu não conhecia: “Os Filhos de Hitler”. Mas todos merecem aplausos. E emocionam hoje como ontem. “Tempestade D’Alma” e “A Sétima Cruz” são cruciais na demonstração do terror de uma ditadura. O primeiro focaliza a família de um pacato professor (Frank Morgan) que não vê, a principio, ameaça na eleição de Hitler para Primeiro Ministro. O quadro político vai se firmando no fanatismo gerado por uma xenofobia só explicada na ânsia dos alemães em superar a crise econômica pós-Primeira Guerra e na lenda de Sigfried onde se prega a supremacia racial (como se os jovens alemães pensasse, que eram como dizia Hitler, um povo superior por determinação eugênica). O professor é preso e morre. A filha é seguida pela história na sua fuga do país. Mas o filme não pousa no romantismo de Hollywood. É cruel. Como cruel é o drama do fugitivo de um campo de concentração que sempre espera favor dos amigos e encontra uma aventura amarga – mesmo antes do furor nazista. Filmes bem realizados, com ótimos atores e o cuidado de produção que cercava a velha Hollywood onde ao invés de locações se lavava o mundo para dentro dos sets. De parabéns a distribuidora pelo lançamento.(Pedro Veriano)

DISCUSSÃO EM FAMÍLIA


Raro experimento de Roman Polanski na área do teatro, “O Deus da Carnificina” (Carnage/UK, EUA,2011) foi adaptado de uma peça da francesa Yasmina Rez, lançada em Londres. Focaliza duas famílias discutindo em uma sala o desentendimento entre seus filhos. O que pode se restringir a uma conversa civilizada que apare arestas acaba se transformando numa espécie de “campo de batalha” onde as pessoas deixam vazar sua violência interior. O filme foi premiado nos EUA (Boston), Espanha, França e Veneza, além de ter sido candidato a 11 outros prêmios. Salientam-se as atrizes Jodie Foster e Kate Winslet, mães que se digladiam por seus filhos e que acabam por expor simpatias que nunca haviam exteriorizado. No elenco, ainda, Christoph Waltz e John C. Relly. Interessante é como Polanski mantém a unidade de lugar (tudo se passa entre quatro paredes) e, mesmo assim, faz cinema com a movimentação intensa de câmera e oportunidade dos cortes. Ao que se sabe, a realização se deu em pouco tempo, como se o diretor filmasse a peça do modo como foi encenada. Só que usou várias câmeras. Filme inédito nos cinemas locais.
Filmes que recentemente estiveram nos cinemas comerciais chegam às locadoras de DVD. Entre outros: “Branca de Neve e o Caçador”, “Prometheus”, “A Era do Gelo 4”, “Sombras da Noite”, e “Battleship, A Batalha dos Mares”. Todos comentados aqui na coluna quando de seus lançamentos em tela grande. Nada de excepcional. Outro exemplar em DVD que ainda prende a atenção depois de 72 anos de editado é “Tudo Isto e o Céu Também”(All This and Heaven Too/EUA, 1940). A super-atriz Bette Davis, longe da imagem de megera que deixou em títulos como “A Malvada” (1950), “Pérfida”( 1941), “O Que Terá Acontecido á Baby Jane”(1962), neste filme representa uma jovem que na Paris do século XIX se emprega como governanta de um duque (Charles Boyer), incitando o ciúme doentio da esposa deste (Barabara O”Neil). O relacionamento acaba em tragédia e a historia é contada em “flash-back” pela principal personagem feminina quando professora nos EUA. Narrando os acontecimentos que a vitimaram consegue dissipar a antipatia das alunas moldada no que a mídia registrou do conflito passado. Uma direção segura de Anatole Litvak (“A Noite dos Generais”, ”Anastácia”) mantém o melodrama potencial em um plano que vence os cacoetes comuns no gênero e na época da produção. “Anjo da Rua”(Street Angel/EUA, 1928) é um dos últimos filmes de sucesso da fase silenciosa. Janet Gaynor, atriz de “Aurora”(de Murnau) chegou a morar no Brasil por um tempo. Protagoniza uma jovem pobre que necessita de dinheiro para comprar remédio para a mãe doente e não hesita em roubar para isso. É presa, foge, mete-se num circo, ganha a simpatia de um pintor, mas um acidente leva-a às ruas e com muito sacrifício consegue reverter um quadro doloroso. Direção de Frank Bozarge, cineasta que se tornou famoso no gênero deste “Anjo...”.
Outro filme de décadas passadas que teve seu momento de gloria é “Duas Semanas de Prazer” (Holiday Inn/EUA, 1942) de Mark Sandrich (“O Picolino”). Fred Astaire e Bing Crosby revezam romances e números musicais de Irving Berlin. Foi o filme que lançou a canção “White Christmas”, premiada com o Oscar. Este espaço tem propiciado a referência somente a filmes que são lançados nas locadoras. Mas em casas que comemrcializam DVDs acompanho e tenho adquirido cópias de produções importantes como “Para Sempre Mozart” (1996) de Jean-Luc Godard, filme que faz parte das nove obras que ele chamou de Histórias do Cinema realizadas entre 1996-1998; “O Livro de Cabeceira” (1996), de Peter Greneway; “Segredos do Poder” (1998), de Mike Nichols sobre campanhas eleitorais norte-americanas. Na próxima segunda feira vou tratar deles, haja vista que estão a disposição dos que têm sua sala particular de cinema.(Luzia Álvares)

PARANORMALIDADE E CINEMA

A paranormalidade, condição ou situação de quem ou do que é paranormal, diz respeito a fenômenos não explicados rotineiramente pela ciência, sobrenaturais. O cinema tem se valido desses fenômenos a partir do medo que gera o desconhecimento. Um evento não explicado ocorrendo em determinado ambiente é implicitamente um fato que amedronta. E filmes como “Atividades Paranormais” se apegam a isso. Essas “atividades”, que já atingem a quarta edição, seguem uma linha narrativa sem roteiro, imitando o cinema amador na busca de um realismo que possa estimular o medo. Sempre em foco dependências de uma casa, pessoas de uma família, crianças e objetos que se movem de forma barulhenta principalmente à noite. A regra é nunca “mostrar” o fantasma, ou, se for preciso, deixar que se veja um vulto, uma nuvem, nada de monstros ou qualquer figura bizarra que se evidencia pelo aspecto físico. O pavor surge, por exemplo, de um objeto que cai, de um rosto que aparece de súbito em primeiro plano seguido de um acorde brusco, ou de uma diferença de iluminação (também súbita) no quadro. O quarto episódio dessa série de filmes faturou a maior bilheteria da semana nos EUA.
O custo da “brincadeira” é baixissimo, mas, a julgar pelo que rende, pode-se afirmar que a fórmula não se exauriu – e nem adianta mencionar diretor ou atores, visto que tudo faz parte de uma engrenagem harmônica que seduz produtores ávidos de lucro fácil. O título do flme já referenda a amostragem de fenômenos de psicocinese, como o movimento de objetos físicos etc., sem qualquer explicação para o público no esquema dos ruidos demonstrados. É só isso e nada mais. Um filme que discute a paranormalidade, “Poder Paranormal” (Red Lights/Espanha, EUA, 2012, 1h53m) teve rápida passagem em uma sala de cinema distante do centro da cidade. Talvez porque não tenha como objetivo assustar os espectadores (que se divertem gritando ou segurando o parceiro de poltrona). O roteiro (também a direção, a edição e a produção) do espanhol Rodrigo Cortés trata de dois cientistas, uma veterana (Sigourneyy Weaver) e seu assistente Tom Buckley (Cillian Murphy) que visitam casas onde os moradores afirmam existir fantasmas circulando nas dependências. A primeira seqüencia trata disso. Mas é reticente. Diz-se de recursos para levantar mesas em reuniões mediúnicas forjadas, mas não se conclui a observação. Os pesquisadores preparam-se para enfrentar um famoso médium, afastado de todos há 30 anos desde a morte de uma pessoa em uma de suas sessões.
O personagem (Robert De Niro) é cego e a sua volta em um teatro com ingresso pago, leva multidão a assisti-lo trazendo admiração em meio à expectativa. Margaret, a pesquisadora de meia idade, guarda do médium que ora volta à cena uma conversa com ela quando seu filho sofre um desastre entrando em estado de coma. Ela não quer desligar os aparelhos, pois espera encontrar, com suas pesquisas, indicios de uma existência além da vida. Mas o médium afirma estar vendo uma criança, próxima da pesquisadora, que pedia que a libertasse. “-Deixe-a ir”, diz ele. Isso a leva a ter prudência em um novo encontro com o medium. E seu colega segue essa prudência. Fatos acontecem que levam o filme à uma sequencia apoteótica, criticada pelos céticos observadores. De fato, Cortés apresenta duas variantes de linguagem. A primeira é moldada no ceticismo dos cientistas e vê de longe os chamados fenômenos paranormais. A segunda é uma licença ao recurso formal de espetáculo. Isso realmente destoa. Ainda mais quando o que seria certamente explicado pelo espectador atento ganha um aspecto redundante na fala de um personagem. Mas “Poder Paranormal", ou “Luz Vermelha”(Red Lights) da tradução original, está acima desses ensaios de franquia sem qualquer responsabilidade seja cinematográfica seja cientifica. É um filme sério, procura ser antidogmático, e o diretor de “Enterrado Vivo” torna a mostrar que tem imaginação e sabe fazer cinema. Felizmente não aderiu ao “caça níquel” dos atuais colegas norte-americanos.(Luzia Álvares)

A OBSCURA MENTE DE UM MATEMÁTICO

Com a ficção científica “π” Darren Aronofsky estreia em Hollywood imprimindo um estilo muito peculiar A perturbação numérica vivenciada por um jovem gênio é o foco de “Pi”, primeiro filme de Darren Aronofsky, que vem construindo uma carreira como cineasta afeito as imagens e sensações que povoam os pesadelos. Em exibição na sessão Ciência desta quinta-feira, 25, na Saraiva, a obra em preto e branco não é um programa fácil, mas dá muita margem para argumentações, o que é do interesse da Academia Paraense de Ciências, que programa a sessão juntamente com a Associação de Críticos de Cinema do Pará.
Numa ora solar, ora enevoada Manhattan reside Max (Sean Gullette), um matemático genial que trabalha com computação e, à semelhança de um vampiro, anda pelas sombras. A visão do astro-rei lhe provoca náuseas e constantes dores de cabeças, assim como ruídos estridentes – como o de conversas –, por isso evita o contato com pessoas. Em busca de um padrão numérico universal, ele finalmente se depara a resposta aos seus estudos sobre as combinações provenientes da Bolsa de Valores de Wall Street. É uma questão de tempo até que ele passe a ser perseguido por magnatas e yuppies que desejam ganhar mais dinheiro através da sua descoberta. Para Max, a resposta vai além do entendimento físico. Para ele, o padrão é chave para compreender a natureza. Ele acredita que a Matemática é a linguagem da natureza. Ao mesmo tempo, um grupo de judeus acha que o que matemático encontrou foi na verdade um padrão no Torá então ambos tentam fazer com que Max lhe explique sobre sua descoberta.
Em meio a intricada trama investigativa, Max é aconselhado pelo seu mentor Sol Robeson – que na vida real era um grande matemático e jogador de golfe - a tomar cuidado, pois sua pesquisa pode levá-lo a consequências muito graves. Realizado logo após a formação na Universidade de Harvard, Aronofsky explorou nesse filme os conhecimentos obtidos na academia em interpretação, animação e montagem, aliadas a uma linguagem cinematográfica rebuscada e que bebe na fonte do expressionismo alemão. Em fevereiro de 1996 começou a criar o conceito de “π”, que levou dois anos para ser lançado e lhe rendeu o prêmio de melhor diretor do Festival Sundance de Cinema, o que lhe gabaritou para dirigir um projeto maior. A marca registrada de Aronofsky é uma técnica conhecida como hip hop montage. Essa técnica mostra imagens ou ações mais com velocidade aumentada, acompanhada de efeitos sonoros, tentando simular alguma ação. (Lorenna Montenegro)

SERVIÇO: Sessão ACCPA/APC apresenta “Pi (π)”, de Darren Aronofsky. Nesta quinta, 25, às 17h, no espaço Benedito Nunes da Livraria Saraiva ((Boulevard Shopping, 2º piso). Entrada Franca. Após o filme, debate entre o público e membros da Associação de Críticos de Cinema do Pará e da Academia Paraense de Ciências.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

UM RETRATO DA FOME QUE NÃO TEM COR




“Garapa” é uma contundente e dolorida obra sobre a vida de algumas famílias miseráveis do nordeste Lançado em 2009, o documentário “Garapa”, de José Padilha será exibido no SESC Boulevard nesta quarta-feira (24), com debate mediado pela Associação de Críticos de Cinema do Pará. É oportunidade de ver um filme único, que teve sua pré estréia na 32ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, participou da Berlinale e provou a versatilidade do cineasta brasileiro, que atualmente roda a super produção “Robocop”. Após o estrondoso sucesso de “Tropa de Elite”, José Padilha foi descansar e voltar as raízes documentais. O que se sucedeu foi a vontade de ir ao nordeste documentar a seca e a fome conseqüente da miserável paisagem. Acompanhando a vida de três famílias que passam fome no estado do Ceará, Padilha fez de “Garapa” um dos mais dolorosos filmes, cuja dureza ainda foi um tanto amenizada pela fotografia em preto e branco.
Durante quatro semanas, Padilha e sua pequena equipe registraram o cotidiano das famílias e especialmente de suas crianças que vivenciavam um estado de segurança alimentar grave. A ‘garapa’, uma mistura de água com açúcar, é aquecida e dada como alimento, muitas vezes o único, durante dias de inanição e seca. Enganar o estômago e dar energias aos que estão em fase de desenvolvimento, reflete a aspereza com que Padilha enfrenta a realidade cruel com sua câmera. Em entrevista concedida na época do Festival de Berlim, ele disse que “Garapa” se tratava do retrato da fome sem ‘filtro intelectual’. “A questão é que isso não resolve o problema. Essas crianças crescem sem condições de aprender ou disputar espaço no mercado de trabalho”, assinalou. O programa do governo Federal de erradicação da miséria, o Fome Zero também tem espaço no filme. Apenas uma das famílias entrevistadas recebem o benefício, cerca de 50 reais por mês. A voz de Padilha surge em off para questionar como é usado o recurso ínfimo.
A verdade é que “Garapa” é uma das produções mais violentas e incômodas que o cinema brasileiro já produziu - isso sem derramar uma gota de sangue. A miséria que vemos na tela é a mesma que atinge mais de 10 milhões de brasileiros, de acordo com as estatísticas e estudos do Governo Federal. E Padilha buscou alinhavar realidades ao fazer um retrato simples, com o mínimo de alegorias e informações que fossem além da história das famílias. Em meio a mais de 45 horas de material filmado, ele entregou um filme que é difícil de descolar da retina, mas que precisa ser visto e pensado pelos que almejam um país menos desigual. (Lorenna Montenegro)

SERVIÇO: Sessão ACCPA/SESC apresenta “Garapa”, de José Padilha. Nesta quarta, 24 de outubro, às 19h, no Centro Cultural SESC Boulevard (Av. Boulevard Castilho França, 522/523 - Campina). Entrada Franca. Após a sessão, debate com os membros da ACCPA.

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