sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O Sol Tornará a Brilhar

A peça de Lorraine Hansberry “A Rising in the Sun” ganhou um filme em 1961 dirigido pelo então novato Daniel Petrie (1920-2004) com Sidney Poitier. O tema era o preconceito racial nos EUA. Lorraine morreu jovem e só deixou de marcante esta peça que via como um hino à sua gente (o negro americano). Agora (2008), surge uma versão para a TV dirigida por Kenny Leon, cineasta vindo do teatro universitário de Atlanta, atuando também como ator no cinema e na TV.
O novo filme (apesar de feito para o vídeo foi rodado em película) vai além da questão do racismo. O enfoque de uma família negra na Chicago de 1950 chega a ser atemporal em alguns momentos (mesmo com um negro, hoje, candidato a presidência dos EUA). Não é uma questão de etnia: é de dificuldade financeira. Walter (Sean Combs) vive com a mãe, a mulher, a irmã e um filho menor num cubículo. Ele é empregado de um homem rico na qualidade de motorista particular. É o único da família que trabalha. A mulher lava e passa roupa, cozinha, limpa o apartamento. A mãe aposenta-se de tarefas domésticas (era babá de uma menina branca). Todos esperam o dinheiro do seguro do patriarca, falecido há alguns anos.Walter pensa em aplicar esse dinheiro num bar, que montaria com amigos. A mãe, cautelosa, logo que recebe o cheque aguardado, compra uma casa para eles morarem. Mas a casa está localizada num bairro de brancos e logo a família recebe a visita de uma pessoa que oferece compra do imóvel com mais alguns trocados. Questão de “boa vizinhança”. Antes das coisas correrem para esse lado, a mãe socorre o filho em desespero por ela ter se negado a dar-lhe verba para a compra do bar, e ainda por cima a mulher espera outro filho, um fato que leva a ainda jovem futura mãe a procurar uma cabeleireira “curiosa” para praticar o aborto.Cedendo o apelo de Walter a mãe logo sofre outro drama: o tal sócio do bar desaparece com a verba dos comparsas. O primeiro impulso será atender ao racista e vender a casa. Mas a honra da família fala mais alto.
Ninguém está fora de foco numa narrativa ágil que evita que se sinta a origem teatral. Bons atores, sensíveis interpretações, cuidadosa direção de arte, afinal uma surpresa de bom cinema.
O DVD está na praça através da Sony. Não passou ainda nos canais brasileiros (abertos ou de assinatura). Ganhou muitos prêmios, todos justificáveis. Foi um prazer ver um filme inteligente de um tema gasto pelo uso. A meu ver, resultado muito melhor do que a versão de Petri, do mesmo titulo também em português: “O Sol Tornará a Brilhar”. (Pedro Veriano).

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

"LONGE DELA" NO MOVIECOM ARTE


Dentro do projeto MOVIECOM ARTE, que tem o apoio das LOJAS VISÃO e da ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará), será lançado dia 26/09 o filme no Moviecom Castanheira Sala 04 em projeção digital o filme "LONGE DELA", com Julie Christie.
O filme conta a história de uma mulher com mal de Alzheimer que é internada numa clínica, que proíbe visitas nos primeiros 30 dias do paciente no local. Após este período seu marido vai visitá-la, mas ela já não mais o reconhece.
Dirigido por Sarah Polley e com Julie Christie e Olympia Dukakis no elenco. o filme recebeu 2 indicações ao "Oscar" incluindo a categoria de melhor atriz para Julie Christie.
O projeto Moviecom Arte tem um preço especial : R$ 4,00 (inteira) e R$ 2,00 (meia).
Marco Antonio Moreira

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Não Seguraram o Malandro

Vendo “A Casa da Mãe Joana” percebe-se que o veterano Hugo Carvana envelheceu . O filme está longe da comicidade descontraída –e inventiva-de “Se Segura Malandro” e “Bar Esperança”. Basta lembrar o “seqüestro do elevador” em “Se Segura Malandro”, seqüência que o Cacá Diegues achou a mais engraçada da história do cinema brasileiro. E que dizer de Antonio Pedro e o próprio Carvana curtindo bebedeira ao som de “Meu Bem Meu Mal” numa alvorada depois de uma noite no Bar Esperança ? E o elenco todo cantando “Bandeira Branca” no fim do mesmo filme?
Carvana sabia fazer comédia. Aqui ele repete a formula de muitas personagens. Mas não amarra as situações. Elas ficam como que estanques, independentes umas das outras, e chega a um ponto em que o filme não sabe que rumo tomar. Tanto que o final, com a critica aos “sem teto”, perde fôlego.
O que salva “A Casa..” de um desastre total é o elenco. Veteranos como o diretor unem-se a poucos novatos em descontração. Especialmente a mais velha personagem (ou personalidade): Laura Cardoso. Não fosse essa gente que não precisa decorar diálogo e o sono espantaria de vez o sorriso.
Realmente o tempo passa e as imagens que faziam a gente rir restam grudadas na saudade. Não tiveram filhos. Nem foram morar na casa da mãe Joana. (Pedro Veriano)

"DEPOIS DO ENSAIO" TRAZ O TALENTO DE INGMAR BERGMAN


Belo trabalho produzido e dirigido em 1984 (e exibido no Circuito Cinearte em 1985) que o mestre Ingmar Bergman realizou para a televisão sueca logo após a obra-prima “Fanny e Alexandre”(1983). Num palco de teatro, depois do ensaio de sua nova montagem para “O Sonho” de August Strindberg, um velho diretor teatral, Henrik Vogler, se recorda das antigas peças que dirigiu e de suas relações amorosas e familiares. Em mais uma obra confessional, Bergman reflete sobre o amor, a obsessão e a rejeição, desnudando seus personagens de forma envolvente e avassaladora. No elenco, atuações primorosas de Erland Josephson (Cenas de um Casamento), Lena Olin (As Melhores Intenções) e Ingrid Thulin (O Rito). É um dos melhores lançamentos em dvd deste ano.
Marco Antonio Moreira

"LONGE DELA" NO MOVIECOM ARTE


O Próximo filme do projeto Moviecom Arte, que tem o apoio das Lojas Visão e da ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará) será “Longe Demais” (foto) que tem a uma atuação elogiadíssima da veterana atriz Julie Christie. O filme deve ser lançado no dia 26/10. O projeto Moviecom Arte tem um preço especial : R$ 4,00 (inteira) e R$ 2,00 (meia). Confira e aproveite! É mais um espaço dedicado ao cinema de qualidade e que merece ser prestigiado. Detalhe : o filme será exibido em projeção digital. Em breve, mais detalhes da programação do Moviecom Arte serão divulgadas aqui., com o apoio da ACCPA.


Marco Antonio Moreira

"O SANGUE DA PANTERA" NA PARCERIA IAP/ACCPA





Foi muito bem recebida pelo público o início da parceria do Instituto de Artes do Pará (IAP) com a ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará) com a exibição dos filmes de Charles Chaplin. Agora, no dia 29/09, o próximo filme programado pela ACCPA no Cine Clube Alexandrino Moreira será o clássico “O Sangue da Pantera” de Jacques Torneau. Entrada franca às 19 h. Não deixe de ver. É um clássico do cinema francês que influenciou muitos cineastas e que merece ser conhecido pelas novas gerações de cinemaníacos.
Marco Antonio Moreira

OUÇA A TRILHA SONORA DE "NA NATUREZA SELVAGEM"


Um dos destaques do filme “Na Natureza Selvagem” de Sean Penn é a trilha sonora com canções compostas por Eddie Vedder, líder do grupo de rock PEARL JAM. Já respeitado pelo seu trabalho no conjunto, Vedder foi convidado pelo diretor Sean Penn para fazer as canções do filme baseado na vida real de um jovem que largou toda a sua vida civilizada para ficar perto da natureza. Vedder compôs 11 canções que durante o filme pontuam de forma enriquecedora as ações do personagem e sua difícil relação com os pais e com a sociedade. Com músicas simples, belas harmonias e letras fortes como em “Society”, “Hard Sun” e “End of the Road”, Vedder consegue complementar o trabalho artístico de Sean Penn que aqui, realizou seu melhor filme até agora. Ouça a trilha sonora e veja o filme, sem falta. É um dos melhores filmes do ano nos cinemas e em dvd.
Marco Antonio Moreira

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

LONGE DELE

Tudo começa quando Fiona (Julie Christie) coloca a frigideira na geladeira. O marido Grant (Gordon Pinsent) surpreende-se, mas releva o fato. Tudo seria um “cochilo” se Fiona não repetisse esquecimentos. O diagnostico médico é o Mal de Alzheimer, A conduta manda interná-la em uma casa de saúde especializada. E com o tempo Fiona passa a se dedicar a um paciente em pior estado do que ela, Thomas (Michael Murphy), esquecendo Grant. Para o marido que jamais deixou a companheira, o drama é maior. Se Fiona não sofre por esquecer ele sofre por lembrar.
“Longe Dela”(Away from Her/EUA,2006) é uma pequena jóia escrita por Alice Munro (31 anos) com base no conto “The Bear Came Over the Mountain” que ela própria escreveu. A direção é de Sarah Polley(29 anos) e a interpretação de Julie Christie é um exemplo de dedicação a um papel. Por isso ela chegou a ser indicada ao Oscar de 2007 e o filme ganhou 39 prêmios, incluindo Globo de Ouro e 15 candidaturas (2 ao Oscar).
No tema há o exemplo brilhante de “Íris” onde Judi Dench dá a dimensão da doença e o quanto ela representa para uma família. No caso de “Away from Her” é um casamento de 44 anos sem separação de um só dia. A dor da perda pela memória, justamente o que mais ligaria o casal no fim de sua existência. É como esquecer em vida o que se ama. Uma tragédia que é difícil mencionar em cinema mas conseguida no trabalho dessas jovens autoras. (Pedro Veriano)

domingo, 14 de setembro de 2008

O SIMBOLO DO CINEMA

A programação da ACCPA no Cine Clube Alexandrino Moreira pretende exibir e discutir clássicos do cinema. E para tal nada melhor do que começar com um símbolo dessa artindustria: Carlitos.
O tipo criado por Charles Spencer Chaplin logo foi adotado pelos espectadores de todas as partes do mundo. Quando ir ao cinema era ficar de boca aberta, maravilhado com as imagens em movimento, vendo Carlitos o espanto virava gargalhada. Era irresistível o moto-continuo do ator-escritor-diretor que através de um tipo popular defendia os menos favorecidos no tom de comédia. Era como se as pessoas passassem a rir da desgraça. E rir, em qualquer sentido, é continuar vivendo.
No primeiro programa estão os curtas de 1917 feitos para a empresa Mutual:”O Imigrante”, “O Aventureiro”, “O Balneário” e “Rua da Paz”. No primeiro filme, Chaplin já ironizava a terra que adotou como o pobre diabo que chega a Nova York em um navio onde os passageiros eram tratados como gado. A Estatua da Liberdade ao fundo enfatizava essa ironia (a liberdade em que todos ao chegar eram presos, antes de uma identificação). Em “Rua da Paz” era o herói raquítico a enfrentar o Golias malfeitor, um raro momento de Carlitos virar policial, o personagem que era sempre o vilão de seus filmes.
Ver Chaplin é ver cinema. Na verdadeira expressão de arte das imagens em movimento.
Programa de 2ª,Feira, 15 de setembro de 2008 no IAP.(pv)

"LA LÉON" NO PROJETO MOVIECOM ARTE


O próximo filme do projeto Moviecom Arte, que tem o apoio das Lojas Visão e da ACCPA(Associação dos Críticos de Cinema do Párá) será o polêmico "LA LÉON", uma produção da Argentina/França. O filme terá seu lançamento no próximo dia 19/09 no Moviecom Castanheira, sala 04, em projeção digital com preços especiais: R$ 4,00 (inteira) e R$ 2,00 (meia).
A seguir, informações sobre o filme:
"LA LÉON" - Sinopse : Álvaro (Jorge Román) é um solitário pescador homossexual que vive numa remota cidade ribeirinha do interior da Argentina, às margens do Rio Paraná. Quando envolve-se com o truculento El Turu (Daniel Valenzuela), dono da embarcação local - único meio de transporte para os habitantes -, passa a viver com ele uma conturbada relação.
Direção : Santiago Otheguy. Com Jorge Román e Juan Carlos Rivas.
Enquanto "La Léon" não chega, não perca esta semana a exibição no Moviecom Arte, do filme brasileiro "SANTIAGO", um dos melhores filmes do ano.
Marco Antonio Moreira

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

IAP E ACCPA EM PARCERIA


Começa nessa segunda-feira, dia 15/09, a parceria entre o Instituto de Artes do Pará (IAP) e a ACCPA (Associação dos Críticos de Cinemas do Pará) que estarão juntos na programação do Cine Clube Alexandrino Moreira/ACCPA que terá exibições mensais de filmes em DVD com o objetivo de formar uma nova platéia de cinema em Belém, exibindo filmes importantes da cinematografia, estimulando debates e procurando criar um espaço de cinema que seja valorizado pelo espectador de Belém. A ACCPA também apoia as exibições do Cine Clube Alexandrino Moreira em parceria com a programadora BRASIL, com exibições mensais de filmes importantes do cinema brasileiro.Inicialmente, no Cine Clube Alexandrino Moreira/ACCPA haverá duas sessões por mês, no auditório do IAP, com as sessões começando às 19:00. Charles Chaplin será o primeiro grande nome a ser exibido com o programa ‘CHAPLIN NO INÍCIO” com a exibição de alguns de seus primeiros filmes :”O Imigrante”/”O Aventureiro”/”Rua da Paz”/”O Balneário”). A seguir maiores detalhes do programa:

CHAPLIN, NO INICIO
Charles Spencer Chaplin (1889-1977) é considerado “o símbolo do cinema’. E se justifica a partir da definição dessa arte, nome herdado da “cinemática”(do grego “kinema”, ramo da física que estuda o movimento independente da causa que o propiciou). Vindo do “vaudeville”, irmanado ao circo, ele desde cedo aprendeu a “fazer graça” com a expressão corporal. Menino ainda, caia no palco e provocava gargalhadas da assistência. Chaplin, inglês de nascimento e nunca naturalizado americano apesar de passar a maior parte de sua vida nos EUA, foi para a Califórnia com o circo de Fred Karno nos primeiros anos do século XX. Lá descobriu o cinema através de Mac Sennett, o prolífico produtor de comédias mudas. A sua inventividade levou-o cedo a papel principal no gênero quando resolveu usar uma roupa surrada, um chapéu-coco e um sapato rasgado no filme “Kid Auto Races at Venice”(1917) dirigido por Henry Lehrman para a produtora de Sennett. Nascia o vagabundo Carlitios (Charlie),logo conhecido e amado mundo afora.
Quando passou a escrever e dirigir seus filmes, consideração ganha pelo êxito do tipo que criou, Chaplin abriu espaço na história de uma arte. E justamente os mais aplaudidos filmes dessa fase pioneira são os realizados pela a empresa Mutual e que serão vistos ou revistos agora: ”O Aventureiro”(The Adventurer/1917),”Rua da Paz”(Easy Street/1917), “O Imigrante”(The Immigrant/1917) e “O Balneário”(The Cure/1917). Por serem todos realizados no mesmo ano dão a idéia de como o artista produzia com freqüência e como deixava a sua marca sem obrigatoriamente repetir as tramas. Nessa amostragem dos primeiros tempos de Chaplin há o bastante para se avaliar o seu papel como diretor escritor e intérprete, no caso dando chance a que se conheça como Carlitos conquistou as platéias de um cinema que ainda não tinha aprendido a falar e nem mesmo descobrira todo o seu potencial narrativo.

PROGRAMA “CHAPLIN NO INICIO” – Cine Clube Alexandrino Moreira/ACCPA – Segunda-feira, Dia 15/09, às 19 h. Entrada Franca.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Antes que o Diabo Saiba...

Uma leitora do banco de dados IMDB escreveu bem que não viu nenhum filme ruim assinado por Sidney Lumet.O diretor de 84 anos pode-se gabar de ter assinado obras de sempre como “A Colina dos Homens Perdidos”(The Hill), “O Homem do Preho”(The Pawnbroker), “12 Homens e Uma Sentença”(Twelve Angry Men), “Rede de Intrigas”(Network), “Um Dia de Cão”(Dog Day Afternoon),e até brilhantes exemplos de teatro-filmado como “Quando o Espetáculo Termina”(Stage Struck), “Vidas dem Fuga”(The Figitive Kind) e “Um Longo Dia Dentro da Noite”(Long Days Journey into the Night).
Pois é este “velhinho” genial que assina “Antes que o Diabo Diga que Você Está Morto”(Before Devil Knows You’re Dead), instigante drama de dois irmãos em dificuldades financeiras que tentam roubar a joalheria da família sem saber que no dia planejado a mãe deles estará atendendo aos clientes. A mulher é assassinada, os filhos entram em crise, o pai, desesperado, promete achar e matar os assassinos.
Ethan Hawke e Philip Seymour Hoffman fazem os irmãos. Albert Finney o pai. Marisa Tomei a namorada de um dos irmãos.
Lumet começa chocando com uma cena de sexo incomum no cinema americano. Depois, através de Philip Seymour Hoffman, vasculha os demônios da ambição, este o irmão mais aquinhoado, mesmo assim o que incita o outro a praticar o assalto(arranjando um intermediário para entrar na loja).
Não é um simples “thriller” ou uma aventura policial de trágicas coincidências. É um drama familiar ousado, um quadro cruel de uma classe que tenta se manter a todo custo, passando por cima de vínculos afetivos e senso de moral.
Um filme impressionante. É cartaz do programa “Moviecom arte”, apoio da ACCPa e Lojas Visão, cartaz da sala 4 do circuito Moviecom no shopping Castanheira. Esse horário especial (16 h diariamente) tem ainda um beneplácito: custa barato (4 reais a inteira e 2 reais a meia). É de recomendar aos amigos com o entusiasmo que uma raridade requer.

Dois Enfoques da Violência

DOIS ENFOQUES DA VIOLÊNCIA

O bom senso afirma que em cinema toda exposição explicita e gratuita da violência deve ser evitada. Hoje dois filmes em exibição exemplificam a afirmativa : “Procurado” e “Reino Proibido”.
“Procurado”(Wanted/EUA,2008) é tudo o que se deve abominar como amostragem do ato violento. O tema chega a ser sórdido: uma confraria milenar que se especializa em matar pessoas como uma espécie de filtragem do que se tenha por um bom caráter. Nada mais especifico de teoria nazista, ou, mais atrás no tempo, da espartana (em Esparta, as crianças deficientes eram sacrificadas) e da esquimó (primogênitos do sexo feminino eram entregues aos ursos). No caso, um rapaz americano é seqüestrado por representantes dessa facção criminosa pelo fato dele ser filho de um desertor do grupo. E como este personagem era considerado corajoso e bom de briga, o jovem é guinado a ser um digno sucessor, passando a matar quem fosse assim designado pelos chefes.
O original é uma história em quadrinho de Michael Brandt e Derek Hassm também autores do roteiro. A direção é do russo Timur Bekmambetov, o mesmo de “Anjos da Noite”(2004) e uma seqüência (2006). Do cineasta espera-se e chega um artesanato nervoso, seqüências com uma infinidade de tomadas, angulação bizarra e enquadramento que aproveita detalhes do quadro anamórfico. Também se espera o uso da cor de acordo com o assunto desde que se considere certos tons aberrantes como estímulos. Mas o que prevalece é o registro do ato violento. São corpos dilacerados, sangue derramado em abundancia, tiros e facadas em grande escala, e tudo isso sem nenhum pudor, sem nenhum senso de humanismo.
É claro que o mocinho se rebela contra a confraria e fica sabendo da verdade sobre o pai (nada a ver com a versão dos bandidos) Mas a posição do personagem não quer dizer que haja um detalhe moral resumindo a história. Matar por matar, ou por bem ou por mal, é a fotogenia procurada (e alcançada) numa trama absurda inteiramente.
O filme é um absurdo em nome do bom senso. Perdida na guerra da má qualidade está Angelina Jolie, muito magra (antes de engravidar dos gêmeos) e Morgan Freeman, antes de “Batman, o Cavaleiro das Trevas” e do desastre que quase custa a sua vida.
“Reino Proibido”(Forbidden Kingdom/EUA,2008), dirigido por Rob Minkoff de uma história de John Fusco é um conto de fadas sem fadas. Na China de tempos remotos um imperador valente é dominado e transformado em estatua. Quem domina é um homem cruel, que além de sua administração despótica ainda toma de um poção que lhe dá a imortalidade. Nos EUA de hoje um rapaz aficcionado de kung fu encontra no brechó que freqüenta, em Chinatown, um bastão que o dono da casa diz pertencer ao imperador hoje encantado. Uma invasão da loja por marginais leva o jovem a seguirar op bastão e com isso ser transportado no tempo e no espaço para o lugar da China onde está o imperador-estátua e reina o substituto cruel.No caminho, o moço encontra um mestre de artes marciais que só vive bêbado e um monge também especialista em defesa pessoal. Esses personagens vão ajudar na luta pela volta da normalidade na corte chinesa.
O filme conta com a presença de dois “monstros sagrados” do kung-fu: Jackie Chan e Jet Li. Eles vão se enfrentar mais uma vez em duelo, mas como são estrelas de artes marciais não assumem liderança (a luta sempre dá em empate). Mesmo porque nem Chan nem Jet-Li são vilões. O vilão é vivido por Colin Chu. E ainda tem o concurso de mulheres, uma do lado dos mocinhos, outra do lado dos bandidos. É neste gênero que se dão as baixas:morrem tanto a vilã como a heroína. E não se diga que os outros não corram perigo. O personagem do sempre engraçado Jackie Chan chega a ficar semi-morto e é salvo por pendores mágicos.
O interessante é que o filme apresenta muitas brigas, muitas lutas com armas brancas, mas não exibe derrame de sangue nem deformações físicas. A violência chega a ser coreografada, transformando a ação em um “musical sem música”. Por isso, o filme é inócuo, valendo como um espetáculo de ação puro e simples, com hábeis especialistas em um gênero de luta que mostram as suas qualidades como ginastas, nunca como guerreiros.
Os dois filmes estão em cartaz em salas próximas;.O espectador pode averiguar a diferença de tratamento de um determinado tema vendo os dois títulos. Enquanto em “Procurado” o que pesa é a explicitude do ato violento, a amostragem das conseqüências da ação, propondo um tipo de realismo que na verdade é uma composição bizarra do que se vê como sadismo (termo que vai além do que escreveu o Marquês de Sade), em “Reino Proibido” é um tipo de manifestação artística de raiz cultural muito antiga. Eu escrevi que é “um conto de fadas sem fada” e também “um musical sem musica”. As comparações procedem numa visão elegante da defesa pessoal, na fantasia dos vôos dos lutadores e na maestria dos que movem os músculos para derrubar adversário (sem a intenção de matar alguém).
O filme com Jet Li e Jackie Chan nada tem de excelente, mas diverte sem macular o sentido critico natural de um cinéfilo. O interpretado por Angelina Jolie e Morgan Freeman é um visual caprichado de um mau tema com um desenvolvimento que não reduz esse mal.(Luzia Álvares)
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Nevoeiro Apocaliptico

Cercados por uma névoa inexplicada, pessoas de índoles diversas escondem-se em um supermercado até que o tempo melhore. Um pai com o filho de 9 anos chorando a falta da mãe usa a pose de líder. Ele percebe que o gerador da loja está com defeito, que ao chegar a noite o pânico se instalará de forma incontrolável. Para piorar a situação, uma religiosa fanática prega que aquilo é o fim do mundo, que o nevoeiro é um sinal divino, que resta as pessoas entregarem sem resistência as suas almas ao Criador.
A prédica da beata gera uma confraria que aumenta na medida em que as tentativas de deixar o mercado se tornam infrutíferas (quem tenta morre) e o tempo de espera passa de 24 horas.
“O Nevoeiro”(The Mist) saiu da cabeça de Stephen King. No cinema foi dirigido por Frank Darabont, especializado em filmar King desde algum tempo (“A Espera de um Milagre”, é o melhor exemplo). Podia ser um simples “thriller” onde a tônica é o medo crescente que se apodera das pessoas confinadas por uma causa que não explicam. Mas há outras leituras, como a fácil proliferação de idéias em um microcosmo de limites frágeis, a influência malsã de preceitos religiosos traduzidos ao pé da letra, a “anatomia” e “fisiologia” do próprio medo, e a ciência trabalhada em clima experimental sem pesar efeitos colaterais danosos. Isto e mais o militarismo, a pugna pela criação de novas armas como defesa e ataque.
O filme fica na metade do caminho dessas vertentes curiosas. Mas não deixa de incitá-las, e com isso prender o espectador por duas horas e cinco minutos. É um dos mais instigantes King já filmados, mesmo com alguns atores não conseguindo disfarçar os seus limites.(Pedro Veriano)

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