segunda-feira, 26 de maio de 2014

A PRAIA DE KARIM AÏNOUZ

Por Elias Neves Gonçalves

A exuberante eloquência da fotografia de “Praia do Futuro” (2013) de Karim Aïnouz demonstra muito mais  que uma simples escolha de locação ou tentativa de  situar os personagens social e culturalmente. As ondas do mar, a intensa luz solar, o azul do céu e o forte vento da Praia do Futuro não são suficientes para preencher  as angústias e os anseios de Donato (Wagner Moura), o salva-vidas que perde uma vítima para o traiçoeiro mar de Fortaleza no Ceará. É nesse ponto de trágico encontro que inicia a complexa relação entre o estrangeiro Konrad (Clemens Schick) e Donato. Por outro lado, a cinzenta e fria Berlim de Konrad se mostra um possível porto de felicidade na vida de Donato. Esse contraponto, por meio da fotografia, é de uma beleza ímpar, pois sugere os estados de alma do protagonista no seu jogo de perder-se e encontrar-se  na árdua  busca por um sentido na  vida, pelo amor e pela realização pessoal.

Karim Aïnouz  nos convida  a  mergulhar nesse mar  psicológico do  personagem  Donato que é mais  denso e profundo que o mar que ele tantas  vezes enfrentou e salvou  outras  vidas. Agora, Donato tenta salvar a sua própria vida e tomar decisões, o que  parece ser tarefa  mais  difícil que o seu  próprio ofício de guarda-vidas. O sumiço do corpo do afogado cria uma atmosfera tão enigmática e misteriosa que a cena das  buscas no mar bravio lembrou-me “A Aventura” (1960) de Antonioni, que também mostrava  um desaparecimento como ponto de partida para o envolvimento de paixão entre um  casal e os desdobramentos psicológicos que se desenrolam a partir do sinistro incidente no  grupo de amigos  em uma ilha no mar Mediterrâneo.

Mais uma vez, Karim Aïnouz explora com maestria a complexidade das relações de afeto entre as pessoas. Se em “Abismo Prateado” (2011) acompanhamos Violeta (Alessandra Negrini) em sua dor de amor gerada pelo súbito abandono do marido, em  “Praia do Futuro” há um triângulo amoroso não convencional que envolve o  irmão Ayrton (Jesuíta Barbosa) que é abandonado e esquecido ainda criança na isolada praia pelo irmão mais velho Donato, que decide morar  na Alemanha em  companhia  de  Konrad. A difícil equação das contas que envolvem o amor fraterno de Ayrton e o amor de Donato por Konrad parecem, à primeira vista, não ter uma solução feliz. Há uma contextura de ressentimento e revolta que vão se acomodando à medida que os irmãos se reencontram, anos depois, em Berlim. Já o sentimento de Donato por Konrad não suporta o grande vazio deixado pelas referências e laços de afeto ligados às  origens do brasileiro em seu autoexílio.

É um filme sobre buscas. A busca por conhecer a si mesmo, a busca pelo outro, a busca pelo irmão-herói amado da infância, a busca pela zona de conforto almejada por todos, mas que não está em uma bela paisagem de um país tropical “onde se tem a obrigação de ser feliz” ou na possibilidade de segurança financeira e profissional num país frio e cinzento do primeiro mundo. “Ouvi dizer que no Brasil todas as pessoas são felizes!” – retruca a atendente do pub alemão onde Donato se embebeda.

O filme causou um burburinho desnecessário no Festival de Berlim, nas redes sociais e na mídia aberta por conta  das  cenas  de sexo e  nudez  entre os  dois  protagonistas.  Recentemente, uma rede de cinemas alertava, carimbando nos ingressos a palavra “AVISADO”, caso os  espectadores reclamassem do teor homossexual dos  personagens. Definitivamente “Praia do Futuro” não é um “filme gay”. É um filme sobre a nossa frágil e complexa humanidade. Na sessão em que estive, perdi a conta de tanta gente que abandonou o filme logo nos primeiros 25 minutos  talvez pelo desconforto diante das  referidas cenas. Também pude perceber a reação preconceituosa da plateia com as cenas de sexo. Havia muitos jovens na sala rindo e debochando das atuações de Wagner Moura e Clemens Schick. Acredito que eles entraram no cinema para ver se o “Capitão Nascimento” ressuscitava ou para ver o ator das novelas. Eles não foram ver o ator em seu criativo e desafiador ofício de fazer mais um personagem. Para esse público restam as neochanchadas de gosto duvidoso do atual cinema brasileiro com suas mesmas historinhas cada vez mais rasas e sem conteúdo.

De fato, a praia de Karim Aïnouz não pode e nem deve ser frequentada por qualquer um. Não  por  ser  uma praia  perigosa de ondas grandes. A praia de Karim exige  um  pouco mais de inteligência ou apenas  legitima  curiosidade  dos  seus frequentadores. A praia de Karim Aïnouz  ainda assim está com livre acesso a todos. Bom mergulho!

domingo, 18 de maio de 2014

Carlitos


Em minha casa, eu lembro, havia bibelôs de Carlitos e Gordo e Magro. Minhas idas ao cinema privilegiavam os últimos. Não era fã de Carlitos. E os mais velhos se admiravam e queriam por força que eu risse das quedas do personagem nos filmes mudos. A rigor só fui gostar do “vagabundo” quando vi “Luzes da Cidade”. Ainda acho uma das  mais cristalinas obras-primas do cinema. A graça vinha das menores coisas e a ternura chegava ao plano que rivaliza com a, Gioconda de Da Vinci: Carlitos rindo e chorando ao mesmo tempo quando descoberto pela violeteira. Depois teve aquele extraordinário “Tempos Modernos”onde o século do progresso ganhava a ironia de Noel Rosa (o revolver teve ingresso pra acabar com a valentia”). Engraçado é que só depois desses filmes que marcaram o fim do personagem de Chaplin é que ei revi “Em Busca do Ouro”,para ele o seu melhor momento, “O Garoto”e “O Circo”.Todos esses filmes engrandeceram o cinema. Carlitos fazendo a dança do pão na espera da amada que não vem (“Em Busca...”) ou o apaixonado pela filha do dono do circo que acaba sentado no que resta do picadeiro, tudo é para não deixar corações e mentes. E Jackie Coogan, o garoto que o vagabundo adota e quebra vidraças para que ele conserte ? Bem, parece que eu não gostava era dos curtas. Mas ainda não tinha visto “Vida de Cachorro” nem “O Imigrante”.

Carlitos fez 100 anos. Sua imagem ficou. E hoje é revista pelos velhos e novos espectadores, os primeiros adoçando a memória os segundos descobrindo a pólvora.

Charles Spencer Chaplin era tão poético que morreu num Natal. Eu estava na porta do Gremio Português, em sessão do cineclube que dirigia, quando soube de sua partida.Uma semana depois estava exibindo ali o documentário “O Genial Vagabundo”. No final a platéia se levantou e, em lágrimas, aplaudiu. Foi o momento mais tocante de minha cinemania.

Hoje ajudo na reapresentação dos filmes de Carlitos para marcar o centenário. Nada mais justo. (Pedro Veriano)

A CAÇA é um brilhante ensaio crítico sobre a irracionalidade


Como confiar na opinião de uma criança tão pequena, e achar que criança nunca mente? Na frieza da poltrona do cinema, vendo tudo à distância, é fácil fazer tantos questionamentos ao que seriam "falhas do roteiro". O que talvez alguns não tenham percebido, e aí está um dos principais méritos do filme, é que "A Caça" é justamente um brilhante ensaio crítico sobre a irracionalidade. Texto completo://criticos.com.br/?p=3581#sthash.TZDvi8nL.dpuf
A CAÇA, de Thomas Vinterberg. No Cine Estação Das Docas
https://www.youtube.com/watch?v=CvhBk1MOq24
18 (domingo), às 18h e 20h30
25(domingo), às 10h, 18h e 20h30
Ingressos: R$ 8,00 (com meia-entrada para estudantes). Realização: OS Pará 2000, Secretaria de Estado de Cultura – Secult e Governo do Estado.

CINEMA OLYMPIA apresenta CARLITOS 100 ANOS DE CINEMA

CINEMA OLYMPIA apresenta CARLITOS 100 ANOS DE CINEMA


A composição do visual de Carlitos é uma reunião de elementos que estão presentes na vestimenta comum do final do século XIX: traje completo, com sapatos, calça social, paletó, camisa e colete debaixo do paletó, gravata, chapéu coco e, como foi visto em alguns filmes, havia até um lenço branco no bolso esquerdo. Contudo, suas roupas foram escolhidas para provocar estranheza: as calças eram muito largas, o paletó apertado, uma bengala de bambu servia para atribuir-lhe uma irônica pomposidade em meio à sua miséria e o bigode, que inicialmente era um recurso... Leia mais emhttp://blogchaplin.com/
Homenagem aos 100 anos de Charlie Chaplin no cinema com exibição de vários curtas e longas com o personagem Carlitos:
DIA 18
"O Imigrante" + e 6 curtas da produtora Mutual (1917)
DIA 20
"O Garoto" (1921)
DIA 21
"Luzes da Cidade" (1932)
DIA 22
"Tempos Modernos"
Até 22/05. Sessão às 18:30h. Entrada Franca.

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