quinta-feira, 2 de outubro de 2014

"NO FUNDO DA FLORESTA"




Há quem veja em “No Fundo da Floresta”(Au Fond des Bois/França, 2010), em exibição no cinema Olympia, uma revisão de “Bela e a Fera”no relacionamento de Josephine,uma jovem da classe média na França do século XVII, com um vagabundo chamado Thimothée, dono de poderes hipnóticos que a fizeram seguir para a floresta próxima de sua casa e com ele viver um longo tempo em sucessivos encontros sexuais. O filme é dirigido por Benoît Jacquot, responsável posteriormente por “Adeus Minha Rainha”(Les Adieux a la Reine/2012) relato histórico sobre a empregada de Maria Antonieta, a rainha da França que foi guilhotinada com o marido Luis XVI. Jacquot e seu roteirista Julien Boivent inspiraram-se no que escreveu Marcela Iacub, texto que ela dizia ter sido uma adaptação de um fato real. Josephine era filha de um médico conceituado no lugar e apesar de muito procura-la desde que sumiu dos arredores da casa onde moravam ele só foi encontra-la meses mais tarde quando conseguiu voltar para casa mas ainda transtornada pelo domínio psíquico do que se poderia ver com sequestrador (e o caso não foi rotulado como um sequestro: Sophie seguiu Thimothée por espontânea vontade). A mascara do ator Nahuel Pérez Biscayart é essencial para que se dimensione o monstro, ou “a fera” que inclusive engravida a Bela (Isilde le Besco).
As sequencias de sexo são apresentadas como um detalhe de terror mesmo que se veja em certos momentos uma atitude compreensiva da mulher. Não há demonstração de amor, e nisso a historia se separa do conto de Leprince de Beaumont varias vezes filmado. Não se deixa, portanto, uma simpatia para com o personagem que ao invés de ser visto como um príncipe encantado é sempre mostrado como um estuprador. O que chega a lembrar o fim do conto de fadas é quando, no final, Bela visita Fera para lhe mostrar o filho de ambos e se observa no monstro, então aprisionado, uma certa compaixão, ou mesmo um aceno de afeto.
Filmado nos locais da historia segundo Iacub, há uma excelente preocupação para com a direção de arte que recria a época e o espaço físico. Mas é no elenco que repousa o melhor do trabalho. Todos os atores comportam-se de forma exemplar, salientando-se a pouca expressividade de Josephine, solicitada para dimensionar a sua condição de presa emocional, e a feiura de Timothée, nada a ver com a Fera do filme atual (Vicent Cassel) e mesmo com a candura por trás da mascara de Jean Marais na versão clássica de Jean Cocteau.
“No Fundo da Floresta” ganhou elogios unanimes da critica francesa.(Pedro Veriano)

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