quinta-feira, 29 de novembro de 2012

"CONTOS DA LUA VAGA" NO CC ALEXANDRINO MOREIRA DIA 03/12/12

"CONTOS DA LUA VAGA" 
Direção : Kenji Mizoguchi
Ano de produção : 1953
Sinopse: Durante a guerra civil japonesa, no século 16, o pobre oleiro Genjuro e seu cunhado Tobei viajam com as respectivas mulheres à capital da província onde vivem, nas redondezas do lago Biwa, para vender utensílios de cerâmica. Com as vendas, Tobei compra armas e se torna samurai, abandonando a esposa. Genjuro, por sua vez, acaba passando vários dias no castelo da misteriosa Lady Wakasa, quando vai entregar as mercadorias. Filme ganhou o Leão de Prata no Festival de Veneza de 1953.

SESSÃO ACCPA/IAP
"CONTOS DA LUA VAGA"
CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA
 (AUDITÓRIO DO IAP - INSTITUTO DE ARTES DO PARÁ)
DIA 03/12/12 (segunda-feira)
Sessão às 19 h
Entrada Franca
Debate após a exibição com críticos da ACCPA.
APOIO : ACCPA (ASSOCIAÇÃO DOS CRÍTICOS DE CINEMA DO PARÁ)

sábado, 24 de novembro de 2012

INDICAÇÕES EM DVD

Os novos cinéfilos desconhecem o cineasta Preston Sturges (1898-1959). Mas a chegada de seus filmes em DVD certamente o fará conhecido. Preston tinha uma imaginação prodigiosa revelada nas histórias que escrevia antes mesmo de tentar o cinema. Na 1ª.Guerra Mundial ele serviu como soldado. Na volta do front fez várias invenções a começar com um batom “à prova de beijo”. Sua incursão nas artes cênicas deu-se com a peça “The Guinea Pig”.Sem sucesso, tentou o cinema. A Paramount deu-lhe abrigo e foi feliz no primeiro filme que escreveu: ”The Great McGinty” (1940, “O Homem que se Vendeu”).Daí em diante chegou a escrever 44 roteiros e dirigir 13 filmes. Como os últimos começaram a fracassar nas bilheterias, acabou filmando na França o que seria seu último titulo: “As Memórias do Major Thompson” (Les Cornets du Major Thompson/1955). A arte de Preston Sturges está sintetizada em“Contrastes Humanos” (Sullivan’s Travells/1942) onde um cineasta realista passa a viver como mendigo para filmar a vida dessa classe social. O tipo era vivido por Joel McCrea como em outros filmes que realizou. E McCrea está no titulo que chegou agora às locadoras: “Mulher de Verdade” (The Palm Beach Story/1942). Mescla da comédia visual do período mudo, com os personagens em situações embaraçosas, como um tiroteio dentro de um trem promovido por velhos caçadores que experimentam seus rifles. O filme mostrou uma Claudette Colbert hilariante, saída do êxito conseguido em “Aconteceu Naquela Noite” (It Happened One Night/1934) de Frank Capra(vencedor dos 4 principais Oscar). Sturges também realizou o ultimo filme do comediante Harold Lloyd (um dos grandes interpretes da comédia visual dos anos 20), “Trapalhadas do Haroldo”(Mad Wednsday/1946). Outras relíquias foram editadas agora em DVD no Brasil estando dois filmes com Gary Cooper: “As Aventuras de Marco Polo”(Marco Polo/1938) de Archie Mayo, e “Os Inconquistáveis”(Unconquered/1947) de Cecil B. De Mille. Episódios e personagens históricos moldados ao gosto das bilheterias da época. Ainda na faixa de clássicos conta-se “Flores do Pó”(Blossoms in the Dust/EUA 1942), de Mervyn Le Roy. Uma biografia romanceada de Edna Glavey, dona de creches no Texas do inicio do século XX e responsável pela mudança ocorrida nas certidões de nascimento que antes registrava quem era “filho ilegítimo”. Greer Garson e Walter Pidgeon são os protagonistas. “Flores...” ganhou o Oscar de direção de arte e a atriz chegou a ser candidata na categoria. De Nicholas Ray, um filme pouco visto: “A Bela do Bas-Fond”(Party Girl/1958). A veterana atriz Cyd Charisse interpreta a personagem-título e Robert Taylor, num papel diverso de tudo o que protagonizou antes, o de um advogado de gangsters. O roteiro de George Wells de uma história de Leo Katcher não apresenta muitas novidades, mas o diretor consegue um raro exemplo, na época, de “filme noir”, a cores. Há uma boa criação de ambiente e um rendimento excepcional do elenco. Vale a pena conhecer.(Luzia Álvares)

"ARGO"

A primeira sequencia do filme “Argo”(EUA/2012) de Ben Affleck mostra uma síntese da história contemporânea do Irã, lembrando que o país era a antiga Pérsia e seus governos sucessivos extrapolaram ações repressoras culminando com as atrocidades cometidas pelo xá Reza Pahlavi, deposto e refugiado nos EUA para tratamento de um câncer. O relato termina com a situação atual quando os aiatolás assumiram o governo e o povo passou a revidar os maus tratos sofridos odiando, especialmente, os norte-americanos, pelo asilo dado ao ditador deposto. A narrativa se inspira em um fato real, quando alguns funcionários da diplomacia norte-americana ao viverem a invasão da sua embaixada por revoltosos iranianos se refugiaram na embaixada do Canadá. Ali permaneceram sem poder sair, pois os que os odiavam estavam nas ruas, esperando-os. Basicamente o enredo é a operação idealizada por um agente da CIA que simula a realização de um filme de ficção cientifica em território iraniano e, para isso, cria equipe de produção & tudo o que tem direito numa empresa holiwwdiana e, na terra estrangeira, seria formada pelos seis refugiados de seu país. Este plano é meticuloso, mas poucos acreditam que dê resultado. Consultando pessoas de cinema, Tony (Ben Affleck) consegue mostrar aos interessados um roteiro e um “storyboard”, assim como pede que cada um dos refugiados decore o que deve dizer das tarefas de filmagem (há um diretor, uma roteirista, um produtor etc.). Tudo caminha para a realização do plano quando o Departamento de Estado do governo Jimmy Carter, resolve mudar as regras e ativar uma tropa militar para liberar de qualquer forma os mais de 70 reféns que já haviam sido presos, incluindo os outros seis nessa nova campanha militar. A medida seria perigosa, talvez mais do que a realização do filme de mentira arquitetado por Tony. Em vista disso ele resolve contrariar os superiores e seguir avante em seu plano. O filme é extremamente bem narrado dando a impressão, em alguns momentos, de um documentário. Mas o que eleva o resultado é uma direção de atores eficiente, a mescla de locação com cenas de estúdio, e tudo resolvido por uma edição exemplar. Para que se tenha uma ideia de como a trama funciona basta levar em conta a emoção que gera num crescendo, chegando à agonia do suspense nos planos semifinais. Há cortes de segundos detalhando expressões em closes e alternando movimentos manuais de câmera que sugerem uma cine-reportagem. Affleck não só trata do que a personagem diz “filme de mentirinha”, ou o filme dentro do filme, como elabora o suspense em alta dosagem. Os tipos sabem que se algum detalhe for percebido, na fuga para um avião suíço, eles estarão mortos. O crescente ódio dos iranianos contra os norte-americanos é demonstrado em momentos como numa feira onde um homem idoso reclama da foto captada por uma das personagens e evoca a sua condição de pai de uma vitima das atrocidades de Reza Palahvi acobertado pelos americanos. Na hora do embarque, no aeroporto, é“tudo ou nada”, com o espectador na ponta da poltrona torcendo para que os guardas locais aceitem a ideia de um filme popular e até se entusiasmem com os desenhos de cenas. O que falha em “Argo”, e este nome deriva da ficção que seria filmada no Irã (um plano detalhado em cima de um processo ardiloso e falso) é não só a sequencia de fecho onde se vê o agente da CIA em casa, com a família e, no plano de fundo, a bandeira americana tremulando. Ele, “herói”, não havia sido reconhecido oficialmente como tal, mas a condição “patriótica” ganha corpo como forma de homenagear a coragem de um filho da América. Coisa da velha Hollywood. Além dessa sequencia há toda a dimensão “de bastidores” contada em fragmentos sobre o enriquecimento de empresas norte-americanas e as atrocidades cometidas em nome do imperialismo. O filme de Afleck é daquele tipo de dá lição de como se organiza a ideologia de direita em função da convicção de que “só estamos vendo um filme....” Aliás, ele deve ir ao próximo Oscar com muita chance de ganhar. Está fazendo a cabeça dos eleitores e de quantos não têm acesso ao que o ocidente oprime o oriente. Mas as criticas são favoráveis a ponto de um site que faz o balanço dessas critica adjetivar que é “extraordinário”.(Luzia Álvares)

"NOIR"

O critico francês Nino Frank foi quem primeiro escreveu o termo “film noir”. Seria o filme escuro, geralmente os policiais rodados em preto e branco. A estética derivava do expressionismo alemão e não à toa entre os percussores do gênero estavam cineastas vindos da Alemanha ou da Áustria como Fritz Lang e Billy Wilder. Quando eu comecei a escrever sobre cinema tinha com o exemplo de “noir” aquelas aventuras de detetives tipo Philip Marlowe (concebido por Raymond Chandler). Lia esse tipo de história na revista X-9 e nos “pocket-books”. E via os filmes em que Humprey Bogart, especialmente, andava de capa comprida, chapéu de feltro e cara amarrada. Os noir derivaram do ciclo de gangsteres vindos dos anos 30. Paul Muni foi Al Capone no tempo em que o traficante ainda vivia (“Scarface”). James Cagney moldou muito bem o tipo no soldado vindo da 1ª.Guerra que ficava desempregado e achava o melhor meio de ganhar dinheiro na proibição de bebidas alcoólicas advinda da crise de 1929(“Heróis Esquecidos” é fundamental). Como esses filmes pediam uma fotografia contrastada, e até porque a censura proibida que se visse sangue, a identificação com o expressionismo dos anos 20 levou a que os críticos chamassem a coisa de “negra”. Engraçado foi um que viu nisso a economia de eletricidade usada por Jack Warner na Warner Bros, diminuindo os refletores(spots). Uma revisão dos “noir” vai ser feita hoje no Olympia pela ACCPA. Do grupo de filmes escolhidos eu gosto de “Relíquia Macabra”(ou “Falcão Maltês”),”O Segredo das Joias”(ambos dirigidos por John Huston) e não sei se está “Um Retrato da Mulher” de Fritz Lang. Ah sim, tem o “Laura” de Otto Premminger onde Clifton Webb desafiou a homofobia de Daryl F. Zanuck, o chefão da 20th Century Fox por imposição do diretor. Um grande desempenho que quase dá o Oscar ao ator. Essas mostras que estão sendo apresentadas no nosso cinema-vovô são interessantes para quem gosta e estuda cinema. Eu espero a de ficção cientifica. Acompanhei o gênero desde criança. Vivia no mundo da lua sem a careta edificada por George Mèliés. Durante este programa, a ter lugar em dezembro (desde que o mundo não acabe no dia 21 desse mês), vai figurar um curta que eu fiz: “O Maia Brasileiro”. Vou estar lá.(Pedro Veriano)

"PROMETHEUS"

Revi “Prometheus” ,agora em DVD. Confesso que aturei melhor o filme de Ridley Scott. O problema é que a gente ao se defrontar com dilemas filosóficos dentro de ficção cientifica é guinado a lembrar o “2001” de Kubrick. Digo Kubrick pois o filme superou o texto de Arthur C.Clarke. Ali o nosso possível ancestral é encontrado, ou nos encontra, e refaz a humanidade produzindo um feto que irá marcar a nova etapa da evolução biológica. No filme de Scott, astronautas chegam a um mundo que foi, pode-se dizer, uma das casas de criaturas que iriam marcar presença na Terra. Há influencia de “2001”. Na primeira sequencia vê-se um homem atlético (ou um mutante) à beira de um abismo, abrindo uma espécie de concha de onde sai uma substancia, ou um ser vivo, que o leva a cair no abismo. No futuro não muito longe (marcam 2069, uma ousadia profética), humanos vão achar numa caverna em um planeta de outro sistema solar as marcas desses seres que nos precederam. Mas sem um robô malévolo como HAL, o filme lança mão de criaturas hibernadas que despertam para eliminar quem as despertou, ou pretendendo estar em tempo de invadir o mundo onde estiveram (e parece terem sido mal recebidos). São os vilões disponíveis. Scott faz uma festa cenográfica com a sua espaçonave. E vai bem na amostragem de seu planeta desértico embora com uma atmosfera acessível ao pessoal da Terra. Não especifica quem é parecido com os seres humanos ou quem lembra o seu alien (do filme “Alien,O Oitavo Passageiro”). Continua tratando da penetração de genes anômalos, no caso uma astronauta que engravida de um colega que já tinha um desses aliens incorporado. Na confusão pensa-se que navegaram pelo espaço grotescas coleções de células e o mais próximo da nossa constituição. Por aí não entra mais Kubrick.A Terra abrigaria monstros em meio a seus “homo sapiens”. Parece dizer que,em tom bíblico, o bem e o mal ganhariam o mundo. Mas a missão de uma astronauta, particularmente, não termina com “Prometehus”(nome da nave). Ela fica no estranho planeta atrás de mais evidencias de quem nos gerou, ou “de onde viemos”. Isto quer dizer que os tipos da caverna extraterrestre não são constituem o nosso “ovo”. Há mais adiante. Certo um novo filme. “Prometheus” é blockbuster e quer sempre se pagar e dar lucro. O tema é explorado como uma aventura nas estrelas sem necessariamente uma guerra (e menos uma fantasia).É um terror que troca fantasmas com avôs de criaturas dignas do dr. Frankenstein. Mas até ai roteiro de Scott é insuficiente: o tipo de Mary Shelley é um castigo religioso. O homem só faz o homem com amor na com pedaços de cadaveres. Isto no século em que viveu a escritora (hoje tem proveta & cultura celular&clones). Na ficção do cinema moderno a mocinha teima em usar um cordão com um crucifixo.Persiste a fé em Deus criador. E continua buscando Adão. Fosse um filme dos Monty Phyton encontraria o Golem. Mas aguardemos. Enquanto não chega o “Prometeus 2” deliciemo-nos com este coquetel de informações apressadas de um cineasta administrador .Pelo menos ele instiga a imaginação.(Pedro Veriano)

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

"NO CALOR DA NOITE" NA SESSÃO CINEMATECA DIA 25/11


Oscarizado, “No Calor da Noite” reinaugura a sessão Cinemateca Um drama policial sobre racismo, em plenos anos 60. Dirigido por Norman Jewison, um cineasta que nunca se desviou de temas arenosos – anos mais tarde, ele dirigiria Al Pacino no filme de tribunal sobre um crime de estupro “Justiça para Todos” -, como em “No Calor da Noite”, em exibição neste domingo, na sessão Cinemateca do Cine Olympia. Realizado pouco tempo depois das leis segregacionistas terem sido extintas nos Estados Unidos, é um filme corajoso e conservador na medida, como a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas sempre apreciou. Conta a história de Virgil Tibbs, que, ao chegar até a cidadezinha de Sparta, no Mississipi, é preso como suspeito do assassinato de um empresário local. O xerife Bill Gillespie (Rod Steiger) descobreque Virgil é um detetive da polícia da Filadélfia, que visitava sua família. Expert em homicídios, Virgil recebe ordens superiores de auxiliar no caso, o que desagrada Bill. Para deixar mais tensa a situação Leslie Colbert (Lee Grant), a viúva da vitima, vê a ineficiência da polícia de Sparta e exige a presença de Virgil. Gillespie, racista, odeia a idéia, mas há uma grande pressão para o caso ser solucionado. Aos poucos, vai surgindo um respeito entre eles, mas um detetive negro envolvido em uma investigação numa região muita racista pode ser um barril de pólvora prestes a estourar. Sidney Poitier, o primeiro ator a ganhar um Oscar, viveu seu auge com esse filme e com o também engajado , “Adivinhe Quem Vem para Jantar”, de Stanley Kramer, pelo qual ganhou a estatueta dourada.
Apenas cinco anos após ter estreado na direção, o fato de “No Calor da Noite” ter saído como o grande vencedor da festa do Oscar de 1968, com cinco prêmios, representou uma guinada na carreira de Norman Jewison. No total, foram 22 prêmios e 12 outras indicações para o filme, inclusive os Bafta para melhor direção e ator não britânico para Rod Steiger, mais os Globos de Ouro na categoria drama para melhor filme, ator para Steiger e roteiro. Engajamento político - Jewison é mais conhecido por haver dirigido “Jesus Cristo Superstar”, o épico da Broadway que mostra um Jesus cristo hippie em conflito com romanos políticos que é traído por um Judas negro. Mas, esse canadense sempre demonstrou preocupações com causas políticas e sociais e direcionou, na medida do possível, sua carreira nessa direção, mesmo regularmente tendo enfrentado dificuldades em distribuir os filmes ou comunicar-se com um público mais amplo.

SERVIÇO: Sessão Cinemateca apresenta “No Calor da Noite”, de Norman Jewison. No domingo, dia 25, às 16h, no Cine Olympia (Av. Presidente Vargas, 978 - Campina). Entrada Franca. Inadequado para menores de 12 anos.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

"VINCERE" NO CINE SESC BOULEVARD DIA 14/11


A paixão de um ditador “Vincere” aborda os dramas vividos pela amante de Mussolini
Uma mulher independente, que vendeu o que tinha para financiar o jornal do homem que ama. O que ela não sabia é que ele viria a se tornar um dos mais virulentos ditadores que o mundo já viu. Focando na juventude do personagem histórico, quando este ainda era um jovem jornalista, “Vincere” é um filme vigoroso do veterano Marco Bellocchio, que será exibido nesta quarta-feira, 14, no Cine SESC Boulevard. Concorrente à Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2009, o drama histórico, com roteiro assinado pelo próprio Bellocchio e por Daniela Ceselli, mostra como, Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno) conheceu Mussolini (Filippo Timi). Ambientado inicialmente na primeira guerra mundial, o filme aborda a transformação de Benito Mussolini de homem idealista a uma criatura transtornada pela guerra, que acredita que a única solução é a bélica. Voltando para a Itália, ele deixa Ida e o filho que tiveram antes de partir, e fica com a esposa (Michela Cescon) e demais filhos, cuja existência era desconhecida de Ida. Logo faz uma aliança com o então rei italiano, Vittorio Emanuele III, que sela sua ascensão ao poder. Com a passagem de tempo, o interprete do ditador se altera, mas não para outro ser físico. Recursos como retratos, telefilmes e noticiários são utilizados para evocar o homem baixinho e temido que gesticulava com eloqüência. O uso de materiais de arquivo é muito bem feito e ilustra como a história de amor é cancelada pelo historicismo oficial. Ida é uma mulher, não apenas esmagada por um homem cruel, mas por uma ideologia fascista sombria que não a deixa reivindicar os direitos do filho. Ela não aceita o rompimento brusco e sua obsessão amorosa a leva as raias da loucura. No hospício, enxerga apenas o homem que a mídia mostra, o mito assombroso que em nada lembra o doce e idealista Benito na juventude.
Frio e rigoroso, o filme trabalha com cores densas e sombrias, em que às vezes se coloca também um tom vermelho, "Vincere" empresta seu nome do lema fascista que cobra a vitória constante e a qualquer preço. Acima de qualquer pessoa ou sentimento. A ótima direção de arte reconstitui a época com impressionante precisão, recuperando a estética dos filmes fascistas, com seus lemas grandiloquentes projetados em imensas letras maiúsculas em primeiro plano. Sete anos após “Bom dia, boa noite”, onde aborda a tragédia que se abateu sob a Itália na forma das brigadas vermelhas fascistas, Bellochio reinveste no tema colocando em foco seu principal personagem com maestria. Um dos poucos cineastas vivos da geração pós neo realista, ele entrega mais um belo filme político, feito sob o signo da Itália de Berlusconi. “Vincere” é um filme nos mostra que a arte, como as ideologias, pode ser grande mesmo quando tudo, ao seu redor, parece menor.

SERVIÇO: Sessão ACCPA/SESC apresenta “Vincere”, de Marco Bellocchio. Nesta quarta, dia 14, às 19h, no Centro Cultural Sesc Boulevard (Av. Boulevard Castilho França, 522/523 - Campina). Entrada Franca. Inadequado para menores de 14 anos.

domingo, 11 de novembro de 2012

AMAZONAS FILM FESTIVAL

Filho de operários, Ken Loach vem dedicando sua obra cinematográfica à descrição das condições de vida da classe operária. Deixando de lado a descrição simplista, o cinema deste britâ... nico que vive na Escócia é permeado por tipos que, independente de qual localidade no mundo na qual vivem, sofrem algum tipo de repressão. Aí temos os personagens revolucionários de “Pães e Rosas”, a neta de alma nômade e o avô que sofreu com o fascimo em “Terra e Liberdade”, o menino que não se insere em lugar algum de “Kes” ou os esfarrapados soldados irlandeses de “Ventos da Mudança”. Juntando-se a essa galeria de personagem, estão os ‘desajustados sociais’ de “A parte dos Anjos”, o mais recente longa-metragem ficcional de Loach. Já tendo sido exibido na Mostra de São Paulo, a comédia delicada e um tanto ‘nonsense’ começa com a distribuição das penas de Robbie, Mo, Albert e Rhino. Eles são jovens moradores da cidade de Glasgow, punidos pelo governo e condenados a prestar serviços sociais. O foco de Loach vai se ajustando em Robbie, o jovem com ares de delinquente juvenil que carrega a mácola de ser um fracassado sem chances de prosperar. Filho de pai alcoolatra, ele é perseguido pelo pai da namorada grávida e por rivais, mesmo quando tenta se afastar de confusão.
Mais uma vez a temática dos párias, daquelas pessoas que, por um abandono institucional, não possuem perspectivas de uma vida melhor, conduz a narrativa de Loach. Quando parece que a história vai ganhar os contornos de mais um contundente drama do cineasta, ele dá um giro e transforma o destino e transforma o destino de Robbie, com a ajuda do funcionário público Harry. Responsavel por tutelar Robbie e seus amigos, Harry os introduz no fascinante – e bastante escocês – universo dos apreciadores do whisky, o que rende momentos engraçadíssimos de ‘familiarização’ com a bebida. Mais sagaz do que seus companheiros, Robbie vê no talento aguçado que vai desenvolvendo no trato com a bebida, uma oportunidade. Talvez a única de dar uma guinada na sua vida. Repleto de bons diálogos e situações bem orquestradas, quando a ‘gangue’ de robbie pratica um grande roubo que é fundamental para o rumo que a história toma em sua definição, a “Parte dos Anjos” ainda possui uma delicadeza na caracterização desses personagens fracassados tão humana que é impossível não torcer para que mais uma, talvez a última transgressão, dê certo. Ken Loach preenche de frescor sua filmografia com mais um filme acima da média.(Lorenna Montenegro)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

"A FRATERNIDADE É VERMELHA" NO CC ALEXANDRINO MOREIRA DIA 12/11

Laços constituídos do rubro sangue
A conclusão da trilogia de Kieslowski dilacera destinos na complexidade da relação humana Após utilizar os matizes de azul e branco para ilustrar como a vida tem muito de tragédia, comicidade, melancolia e leveza, Krzysztof Kieslowski resignifica as dores e os prazeres do mundo acrescentando uma dose de compaixão e acaso. Com “A Fraternidade é Vermelha”, considerado por muitos o filme mais sublime da trilogia das cores, ele encerra o fluxo contraditório da vida exaltando os significados das cores da bandeira francesa na metáfora da condição humana. Em exibição novamente no Cineclube Alexandrino Moreira (IAP), que exibiu “A Liberdade é Azul” e a “Igualdade é Branca”, essa terça parte se debruça sobre uma situação um tanto insólita: uma jovem atropela uma cadela, vai atrás de devolvê-la para o seu dono e se depara com uma pessoa peculiar, com a qual irá se relacionar e que irá afeta-la profundamente. Novamente, uma personagem ‘expatriada’ – seja de seu território ou de suas expectativas em relação a vida – é o elemento que conduz a narrativa do filme de cores.
Em “A Fraternidade é Vermelha”, Iréne Jacob é a jovem modelo suíça que vive radicada em Paris e, de certa forma, ausente de tudo que a cerca. Ela procura o dono da cadela e vem a descobrir que ele é um juiz aposentado que passa seus dias espionando quem o cerca, cujos relacionamentos se desenvolvem de forma indireta. A validade moral das escolhas que são feitas no afã do momento, é o cerne da relação que Valentine vai solidificando com o juiz, novamente com a ‘cor’ vermelha ressaltando o estado de espírito e o ‘calor’ que ela vai trazendo para vida e o apartamento gélido dele. Enigmático e poético, sem ser distante, é um filme galgado na sutileza dos diálogos e dos silêncios que se situam entre os dois novos amigos. Iréne Jacob, que já havia trabalhado com Kieslowski em “A Dupla Vida de Veronique”, faz o papel de musa que exprime a relação semiótica entre a cor e os sentimentos que dela decorrem na percepção funcional de Kieslowski, como fizeram Binoche e Delpy nas outras duas partes da obra. Mas ela emprega uma fragilidade que é tocante e desarma a incompreensão do juiz com sua doçura. Aí não há mais incomunicabilidade, mas sim aproximação e o surgimento daquele que, talvez, seja o sentimento mais fraterno: a cumplicidade.
Conjunto da obra – Coeso e complementar, “A Fraternidade é Vermelha” agrega sentido a tríplice obra de Kieślowski que, não por acaso, permeia o filme com símbolos que remetem à comunicação – ou à falta de. E a sua filosofia se espraia pelo abismo das relações humanas com a força poética que sustenta sua estética e narrativa, com frases contemplativas e a tal ‘fotografia –prazer’ dos olhos, como definia Truffaut. Força das cores - Parece estranho pensar nas três palavras do lema da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade) que prime pela humanidade de seus personagens sem abrir mão do teor político. Mas essa era a marca do cinema desse grande cineasta polonês, que surgiu como documentarista e logo imprimiu seu estilo e ideologia em obras ficcionais.
 Quando se fala em Kieslowski logo se pensa nas palavras sendo substituídas por uma poesia imagética. Realizados em 1993, 1994 e 1995, os filmes da trilogia das cores são os últimos da carreira do polonês, que acabaram o tornando famoso internacionalmente. Nela, ele conseguiu colocar todos os elementos que vinha aprimorando, utilizando as cores como ambientação psicológica e estética e abrigando temas e motivações correlatas entre os personagens dos três filmes, prova irrefutável da sua genialidade. (Lorenna Montenegro)

SERVIÇO: Sessão ACCPA/IAP apresenta “A Fraternidade é Vermelha”, de Krzysztof Kieslowski. Nesta segunda, 12 de novembro, às 19h no Cineclube Alexandrino Moreira. Endereço: Instituto de Artes do Pará (Praça Justo Chermont, 216 – ao lado da Basílica de Nazaré). Entrada Franca. Após a exibição, debate entre os críticos da ACCPA e o público.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

"DEUS DA CARNIFICINA" NO CINE ESTAÇÃO


Segundo Alan (Christophe Waltz), o deus da carnificina – que segundo a mitologia está sempre acompanhado de Deimos, o terror, e de Phobos, o medo – aparece junto com os deuses da discórdia ou da guerra para arrasar/desestabilizar o que está no caminho. Dessa forma, assegura-se como vai terminar a visita que o casal Alan e Nancy Cowan (Kate Winslet e Waltz) faz a Penélope e Mark Longstreet (Jodie Foster e John C. Reilly) depois que o filho do primeiro atingiu o filho do segundo casal, com um objeto que o feriu na face machucando o maxilar, numa discussão pós-aula em campo aberto. O mito que personifica (ou deifica) a violência é a base da peça teatral de Yasmina Reza que Roman Polanski filmou ano passado sem esconder a sua origem dos palcos. “O Deus da Carnificina”(Carnage/UK, França, 2011) é uma experiência de cinema usando outra modalidade artística – o teatro – atingindo o grau a que William Wyler conseguiu chegar na realização de “Chaga de Fogo”(Dectetive Story/EUA, 1951) este extraído de uma peça de Sidney Kingsley, pelos roteiristas Philipp Yordan e Robert Wyler. A dificuldade de o cinema em sua essência atingir sua narrativa com a câmera permanecendo em um aposento, limitando o elenco em 4 atores, paira na mobilidade e graduação dessa (ou dessas câmeras, posto que mais de uma) e do talento dos intérpretes.
Roman Polanski escolheu um naipe de grande qualidade para essa sessão performática que deu conta do recado. E a sequência que determina a visita dos pais do garoto agressor ao casal que teve o filho agredido vai, gradativamente, da cordialidade que deve presidir um encontro social à brutalidade que surge quando os instintos são liberados e a hipocrisia afunda na sinceridade, estremecendo a afabilidade formalizada em gestos e palavras. O filme inicia com um grande plano dos meninos no campo, justamente na hora da agressão. Começa e termina aí. E são as únicas cenas de fora das quatro paredes do apartamento dos pais do menino agredido. O corte, leva à chegada de Alan e Nancy, bem recebidos e até convidados para um drinque na hora em que já estavam de saída. As falas cordiais começam a mudar quando Mark afirma ter colocado para fora de casa um hamster (da família dos roedores), bichinho de estimação da filha. Nem a esposa sabia disso. Nancy revela-se de imediato protetora dos animais e repele a atitude do dono da casa com veemência. Ele não se desculpa e a esposa não se diz magoada com a surpresa de sua atitude. Começam as palavras ofensivas. Busca-se o que possa ferir cada um e em dado momento Nancy diz que “meu filho fez bem em largar a porrada no seu”. E num impulso de raiva atira as flores de um jarro que a dona do apartamento usa como enfeite em uma mesa.
A força dos diálogos consegue prender a atenção do espectador. Mas o esforço maior de Polanski é dar agilidade às tomadas, procurando os mais instigantes ângulos e usando uma iluminação que dá força às tonalidades, o que coloca, então, a cor, dentro da ação como um elemento de linguagem que inexiste no teatro. A ideia é de que o filme foi realizado num só dia e milhares de imagens capturadas (hoje, a película pode ser substituída pela imagem digital) na corrida pelo melhor enquadramento (ora planos médios, ora closes, poucos planos-conjuntos e um único grande plano importantíssimo porque é o detonador das demais sequências). No teatro, o público veria a ação num só ângulo, sem observar as feições dos interpretes em detalhes, salvo a fala ríspida e o gestual agressivo que aos poucos está sendo vetor da situação. No cinema pode-se ver, por exemplo, Jodie Foster franzir a testa a ponto de realçar seus vasos sanguíneos. Mas essas conquistas específicas da cinematografia passam de forma a que o espectador não as perceba. Interessa dimensionar a ação. E isto é conseguido no brilhante “tour de force”. Um desafio de 80 minutos a ser visto sem falta. Filme Imperdível.(Luzia Álvares)

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

VER EM CASA

O cinema doméstico tem várias significações. O que se pretende aqui tratar é de home movies, aquele que se assiste em casa, no espaço privado. Mas interesante também entendê-lo com outros significados. Interessante o texto de Luis Nogueira (2008) “Cinema Doméstico na Era da Internet” (www.doc.ubi.pt/ Revista Digital de Cinema Documentário) sobre essa questão, mesclando esse olhar com o doméstico como imaginário na realização. O texto refere: “Na primeira sessão cinematográfica apresentada pelos irmãos Lumière em 1895, um dos filmes mostrados não poderia ser mais emblemático da questão que aqui nos ocupa: o cinema doméstico. Trata-se da curtametragem “Le repas du bebé” e nela vemos nada mais do que um casal a alimentar o seu infante. Este episódio, absolutamente prosaico, haveria de ser repetido vezes sem conta, com pequenas variações, nos filmes caseiros que o futuro se encarregaria de produzir. A presença deste filme na sessão pública inaugural do cinematógrafo não deixa de ter, portanto, um elevado valor simbólico, ainda que de algum modo acessório: a infância era um dos temas da infância do cinema. Este efeito de espelho é tão mais interessante quanto remete para a questão (...): como se constituiu o doméstico enquanto tema artístico e, para o que aqui nos interessa, cinematográfico, ou seja, como ocorreu o nascimento deste imaginário?” Mas vou me ater à exibição e não a realização.
Um dos aspectos iniciais da projeção privada se dá em películas em 16mm, bitola criada no período da 2ª.Guerra Mundial para, entre outros, levar esta arte & diversão aos soldados aliados no front. Com a chegada do vídeo, primeiramente o VHS, esta forma de ver filmes intensificou-se. E com o DVD ganhou maior impulso. Hoje há a facilidade de serem vistas as produções lançadas nos cinemas comerciais na tecnologia 3D. Com isso, o cinéfilo ganha o respaldo de observar as obras em seu original, longe da dublagem que falseia os tipos através de vozes que não correspondem a eles (e está se tornando rotina) Na coluna da semana passada mencionei os títulos de uma nova distribuidora de DVD que está lançando filmes antigos, especialmente de Hollywood. O problema dessa empresa é manter o logotipo “clássico” nas imagens projetadas, supondo-se uma cópia de TV.
Em um dos filmes dessa empresa, por sinal, surgiu o logotipo do canal TCM. Uma afronta. Mas na área dos clássicos, o melhor está mesmo com as distribuidoras veteranas como a Versátil, Classline (esta cearense), Cult-Classic e Paragon (há outras, mas com menos títulos). A Versátil esta lançando um estojo chamado “Hollywood Contra Hitler”. Traz 6 filmes, de 1939 a 1943, realizados por cineastas de peso. Há, pelo menos, 3 obras impecáveis: “Tempestades D’Alma”(The Mortal Storm/1940) de Frank Bozarge, “Horas de Tormenta”(Watch on the Rhine/1943) de Herman Schumin, e “A Sétima Cruz”(The Seventh Cross/1944)de Fred Zinnemann. Oportunamente tratarei deles.
Esta semana assisti alguns. Repasso: “O Sorgo Vermelho”(Hon Gao Liang/China, 1987) é um filme de Zhang Yimou, um dos mais prestigiados cineastas chineses (dele “Lanternas Vermelhas”). Em foco, um episódio histórico sobre camponeses chineses que assistem o cenário de suas vidas ser maculado pela investida do exército japonês. A narração oral focaliza My (Gong Li), jovem guinada pela família a casar-se com um homem rico, leproso e no caminho do encontro com ele é violentada. Engravida, volta para o seu ponto de origem e sofre as perseguições de bandoleiros e dos soldados nipônicos. Produção competente e fotografia explorando eficientemente o drama narrado, perdoando-se os estereótipos, mantendo o interesse do espectador. O filme ganhou 7 prêmios internacionais inclusive do Festival de Berlim. “Em Casa Para o Natal”(Hjem til jul/2010), um raro filme norueguês premiado em festival europeu, abordando varias historias, a lembrar Robert Altman. Pessoas esperam o Natal de diversas maneiras, desde garotos que dizem não festejar a data (um muçulmano, outro incrédulo) a um médico que na noite de Natal é obrigado a atender uma parturiente e se sensibiliza sabendo que o casal fugiu da guerra na Bósnia. Há o aparente mendigo, expulso do trem, sendo reconhecido por uma mulher, e há o homem solitário que busca amigos. Todos os quadros são tratados com visível preocupação de ressaltar o aspecto sentimental do enredo, sempre revelando o cuidado artesanal do diretor Bent Hamer (de “Caro sr. Horton), também autor do roteiro. Imperdível.(Luzia Álvares)

"CONTATO"

Revi, agora em Blu Ray, “Contato”(Contact) que Robert Zemeckis fez do livro de Carl Sagan(1934-1996). De aplaudir. Conheço o livro do astrônomo e apresentador da série “Cosmos”e o que muda mais intensamente é a troca da mãe pelo pai de Eleanor(Jodie Foster). É a mãe que ela vê num espaço intermediário para onde é jogada quando viajando na maquina desenhada pelos habitantes do mundo que orbita a estrela Vega. Mas é o que menos importa. O filme e o livro ultrapassam os limites da sci-fi como o “2001” de Kubrick. Entra a filosofia, e discute-se a presença do ser inteligente no mundo. A começar com a resposta do pai (ou mãe) da principal personagem quando ela pergunta se ele (ela) acredita em vida fora da Terra: “-São tantos mundos no universo que se estamos só é um grande desperdício”. O tema tem coragem de invadir o terreno da fé. Quando Eleanor pede ao teólogo amigo/amante Jess (Mathew McConaughey) uma prova da existência de Deus ele responde perguntando: “-Você amava o se pai?” Ela responde: ”-Amava”. “Então prove”. Sou fã do gênero, antes de ser comentarista de filmes fazia parte da Associação de Amadores de Astronomia, tinha um telescópio mirim e devorava livros e filmes que me lançassem no “mundo da lua’”. Por isso sou um pouco exigente com o tema. Tive um amigo, Helio Titã, que também curtia essas coisas e se dizia coomólogo. Por tudo isso “Contato” sempre me impressionou. E a sacada critica quando o mundo sabe que as imagens vindas do espaço são da própria Terra de anos antes, iniciando com Hitler abrindo as Olimpíadas de 1936, é sensacional. As pessoas reagem de acordo com suas culturas & sensibilidades. É o lado cômico da história, o enfoque da estreiteza mental de tantos. Sagan abria uma brecha no seu ceticismo evocando um cenário que se pode ver como espiritual. Arthur Clarke via dessa forma o encontro com o extraterreno que mobiliava um quarto para o astronauta “se sentir em casa”. Errava no tempo (a decoração era da época de Luis XV).
Mas em “Contato”é a mesma forma de não amedrontar o viajante (o “túnel” descrito pela autor pode ser um buraco negro – como pode ser aquela descrição de um quase morto que se vê saindo do plano físico, imagem que alguns interpretam como a memória do feto ao atravessar o canal vaginal da mãe). O que seja é interrogado pela jovem que volta sem ter ido. Ou que foi e não sabe dizer como, onde e o que fez(resta a estática gravada por muitas horas no aparelho que levava para registrar som e imagem). Muito bem dirigido, o filme de Zemeckis é um de meus preferidos. Revejo sempre que posso. Em alta definição de imagem faz a vez do que vi anos atrás em tela grande. Por aí uma (outra) viagem no tempo.(Pedro Veriano)

O AMOR DO ARLEQUIM PELA COLUMBINA

A cidade-luz é o cenário do poético “O Boulevard do Crime”, clássico considerado o maior filme francês da história Paris, 1830. O Boulevard du Temple é o local dos teatros, dos cabarés e da vida boêmia da capital francesa. É neste cenário que desenrola o tumultuado triângulo amoroso formado pelo mímico Baptiste a atriz Garance e o ator Lemaitre. Filme-símbolo do realismo poético, “O Boulevard do Crime”, de Marcel Carné, será exibido nesta terça-feira, 6, no Cineclube da Casa da Linguagem, pela Associação de Críticos de Cinema do Pará. Principal corrente estética do cinema francês nas décadas de 30 e 40, o realismo poético fez florescer o talento do cineasta Marcel Carné, que em colaboração com o poeta Jacques Prévert, realizou grandes obras como “Cais das Sombas”, “Trágico Amanhecer” e “O Boulevard do Crime”. Realizado em 1945, o ‘Boulevard...’ foi eleito o maior filme francês do século XX, em votação que reuniu críticos, cineastas, atores e intelectuais franceses. A história romântica e trágica mostra Garance (Arletty) divida entre o amor de Fréderick Lemaitre (Pierre Brasseur) e a devoção de Baptiste (Jean-Louis Barrault). Elel, que trabalha como mímico, é o personagem mais fascinante da obra, com sua emoção que ultrapassa qualquer necessidade de fala. Baptiste cresceu como o menino mudo e sonhador, que enxerga o mundo de maneira onírica e busca a perfeição, que acredita haver encontrado em Garance. A saga inicia em 1828, no período pós Bonaparte.
O triângulo na verdade, é um quadrangulo quando entre em cena o escrivão Lacenaire (Marcel Herrand ), o vilão da história. Frio, Lacenaire é um homem que não encontra compreensão no mundo que o cerca. Acha-se superior a tudo que o rodeia e não se importa com nada. É o contraponto à doçura de Baptiste. De todo jeito, Baptiste e Garance são dois marionetes, jogados ao meio de toda uma gama de complicados e maldosos personagens do universo teatral e mundano de então. São manipulados por estes e pelo destino que os separa. Todo rodado em estúdio, o filme de propósito confunde a vida real e a teatral, dentro daquele princípio shakespeariano de que o mundo é um palco. Será que o mímico conquistará o amor da atriz? Perdida em um turbilhão de máscaras, em meio ao carnaval, Garance tem como confidente Nathalie (Maria Casares), que lhe revela a verdade que busca ocultar, no desfecho da obra. A segunda parte de “O Boulevard do Crime” sera exibida na próxima terça-feira, dia 13, no mesmo horário.
Curiosidade - O título original, “Les enfants du paradis”, (as crianças do paraíso) consiste numa referência à linguagem do teatro, indicando, na gíria da época, os pobres (‘les enfants’) que não podiam pagar mais e, por isso, sentavam nas filas de trás (‘paradis’), onde mal ouviam as vozes do atores.
SERVIÇO: Sessão ACCPA/CPV apresenta “O Boulevard do Crime - parte 1”, de Marcel Carné. Nesta terça, 06 de novembro, às 18h no Cineclube da Casa da Linguagem (Avenida Nazaré, 31 – esquina com a Travessa Assis de Vasconcelos). Entrada Franca. Após a exibição, debate entre os críticos da ACCPA e o público.(Lorenna Montenegro)

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