sábado, 28 de fevereiro de 2009

DESPERTAR AMARGO

O sonho americano, um presente de Morfeu ao governo Roosevelt na época do New Deal, hoje é desacatado pela geração Prozac, ou Valium, ou um sonífero mais forte. Para cineastas como o inglês Sam Mendes, sonhar só a peso de barbiturico, e nesta vida de violências recíprocas (marido e mulher vivem numa arena disputando cetros de pesos diversos), o melhor será usar o despertador, ou ingerir o lendário Pervitin, pílula largamente consumida pelos estudantes de 50 anos atrás.
“Foi Apenas um Sonho” (Revolutionary Road) é um pesadelo vivido por um casal da classe média nos anos 50. O filme começa quando ele e ela se conhecem, e vai até ao pico de uma crise onde um dos dois forçosamente desaparece. Não é uma intriga policial a terminar com um crime engendrado pelo marido ou pela mulher. É um longo papo sobre desencontros, das pequenas coisas ao trabalho de um e de outro, ele empregado numa firma que detesta (até porque o pai nunca subiu de posto nessa firma), ela uma atriz que se deu mal e nunca mais pisou num palco.
O casal pensa em fugir. Ela planeja uma viagem a Paris com ele deixando o emprego e ela se empregando num escritório americano na capital francesa. Seria a formula para cada um aprender a gostar da vida. Mas ele não se maldiz, até porque é adultero. E ela é forçada, em determinado momento, a traí-lo. Os dois têm um casal de filhos e espera um terceiro. A guerra paira sobre este feto que amadurece.
Ninguém faz mais filmes como “Lar Meu Tormento” ou qualquer outra comédia interpretada por Gary Grant. O que era sonho, hoje parece piada. O livro de Richard Yates de onde veio o filme de Mendes, descrê de uma união perene, da monogamia, da compreensão à base da licença que uma pessoa dá a outra, perdendo e ganhando para manter o quadro de uma igualdade de desiguais. E o diretor, marido da atriz Kate Winslet, gosta desse caos ou desse “amargo despertar”(nome de filme). Ele havia feito antes “Beleza Americana”, um quadro ainda pior da sociedade estadunidense.
O que vale no filme atual são os atores. Leonardo DiCaprio e Kate Winslet estão irrepreensíveis nos papeis que exigem uma certa postura teatral (Mendes é diretor de teatro). Mas não se diga que teatralizam os papeis. Defendem bem suas posturas e falas. O diabo é que tudo está a serviço de um pessimismo doentio. No fim, uma das mulheres massacradas pela estereotipagem fala da casa onde moraram as figuras centrais da história (ela sevia de corretora) e o marido, prudentemente, desliga o seu aparelho auditivo. Fosse um filme mais corajoso e se desligaria a câmera. Dá vontade.(Pedro Veriano)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

"O SEGREDO DO GRÃO" EM ÚLTIMA EXIBIÇÃO DIA 01/03 NO CINE ESTAÇÃO

"O SEGREDO DO GRÃO"
(La Graine et le Mulet - Drama, França, 2007)
Dirigido por: Abdelattif Kechiche
Elenco: Habib Boufares, Hafsia Herzi, Farida Benkhetache, Abdelhamid Aktouche
Duração: 151 min.
Classificação Indicativa: 14 anos
Sessões: Dia 01/03 (domingo), às 10h e 20h
Sinopse:Slimane Beiji (Boufares) tem 60 anos e enfrenta um divórcio após anos de casamento. Sem emprego nem salário, ele é obrigado seguir dependente de sua família, transformando-o num homem inútil para a sociedade e fracassado. Até que decide mudar esta situação e vai atrás de seu maior sonho: abrir um restaurante.
Premiações: Melhor filme, Melhor diretor, Melhor roteiro original e Melhor revelação feminina (Hafsia Herzi) do 33º César.

APOIO : ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)

"UM HOMEM PERDIDO" NO MOVIECOM ARTE DE 27/02 À 05/03/09


"UM HOMEM PERDIDO"
Direção: Danielle Arbid
Duração: 96 minutos
Genêro: Drama
Classificação Etária: 14 anos
Sala: Moviecom Castanheira – Sala 04 – Projeção Digital
Horário: 17:10 h
Sinopse:O fotografo francês Thomas Koré (Melvil Poupaud) viaja ao redor do mundo à procura de experiências extremas. Quando o solitário Fouad Saleh (Alexander Siddig) cruza seu caminho, o fotógrafo, intrigado, tenta descobrir a história desse homem, experiência que muda seu destino para sempre.
APOIO:
ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

"OSCAR"


“Quem quer ser Milionário?” de Danny Boyle acabou sendo o grande vencedor da noite do “Oscar” deste ano. O filme ganhou 8 prêmios incluindo melhor filme e direção. O filme é ótimo e quem sabe, pode ser o início de uma aproximação do cinema de Hollywood com o cinema que se faz na Índia e que leva milhares de indianos aos cinemas ao ponto dos filmes deste país independerem do mercado externo para ter lucros nas bilheterias. Claro que esta aproximação seria em cima do chamado cinema comercial indiano.
A premiação de Sean Penn por “Milk” (foto) surpreendeu quem apostava no favoritismo de Mickey Rourke em “O Lutador”. Já Kate Winslet é uma atriz que há anos tem boas atuações e já merecia ser lembrada pelo “Oscar”. Sobre Meryl Streep, acredito que ela deveria estar há anos numa categoria especial. Suas atuações quase sempre são geniais e por isso merecia estar num outro patamar. O maior perdedor da noite acabou sendo “Frost/Nixon” de Ron Howard que não levou nenhum prêmio apesar a qualidade do filme. A premiação póstuma de Heath Ledger por “Batman – O Cavaleiro das Trevas” foi merecida e foi um dos momentos altos da noite. Já Penélope Cruz venceu merecidamente por “Vicky Cristina Barcelona” mas agradeceu mais a Pedro Almodovár do que o diretor do filme, Woody Allen. Independente disso, é uma grande atriz que já deveria ter ganho o prêmio por “Volver”.
A cerimônia em si foi ótima. Dinâmica e cheia de momentos interessantes, foi a melhor dos últimos anos. O formato da entrega dos prêmios foi interessante (com atores já premiados apresentado cada indicado), as edições dos filmes do ano passado por gênero foi criativa e nada foi exagerado, nem mesmo os números musicais. Espero que este formato continue e seja mais desenvolvido ano que vem.
Enfim , para os melhores do cinema americano, o "Oscar" deste ano foi acima da média, seja nos filmes selecionados, seja na sua cerimônia de premiação. Resta agora ver o que virá ano quem vem.

Marco Antonio Moreira

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

OSCAR 2009


O Oscar 2009 devolveu-nos a pompa que tinha sumido há bem uns 30 anos. E o fez de roupa nova: ao invés de apresentar um numero de canto e dança para cada canção concorrente, optou por uma coletânea bem ritmada e clips de gêneros. Mas o que abafou foi a apresentação dos prêmios de ator e atriz feitos por quem já segurou prêmio igual. Isto valeu para principais e coadjuvantes. Comoveu Sophia Loren elogiar Meryl Streep, Shirley MacLaine fazer o mesmo com Anne Hathaway ou Anthony Hopkins acenar para Mickey Rourke (atores que encarnaram tipos bem diferentes) ou ainda Ben Kingsley tratar de Sean Penn (o premiado). Isto e outros trocados, como um prêmio a Jerry Lewis, não o ideal, pois foi endereçado ao trabalho social do comediante e não à sua obra.
Hugh Jackman penitenciou-se do fraco “Austrália” imitando Fred Astaire. Também não saturou com aquelas piadas de e para americano. Tudo bem orquestrado como Wall-E vendo os concorrentes ao Oscar de animação na sua telinha de caverna, aquela que no belo trabalho de Andrew Stanton ele vê o abacaxi “Hello Dolly”(quem sabe por aí chega a ironia de aparecer o panda do kung fu).
Valeu madrugar. E até que não foi o record de tempo na TV. Tudo acabou às 2 da matina com os indianos festejando como no fim de “Quem quer ser um milionário”,o simpático filme de Danny Boyle que deu um banho de otimismo no cinema atual.
Ah sim: Boyle imitou Tom Cruise no sofá de Ophra pulando com a sua estatueta na mão. E quem não pularia ?(Pedro Veriano)

sábado, 21 de fevereiro de 2009

ACCPA FAZ PARCERIA COM O CINE LÍBERO LUXARDO NA PROGRAMAÇÃO DA SESSÃO CULT

A ACCPA firmou uma parceria com a direção do Cine Líbero Luxardo e a partir de março estará programando a SESSÃO CULT que sempre que possível tera um debate após a exibição dos filmes, no mesmo modelo do que já se faz no Cine Clube Alexandrino Moreira no IAP.
A SESSÃO CULT será realizada quinzenalmente aos sabádos às 17:00 h, com entrada franca, sempre procurando ter a presença de um dos críticos da associação para a efetivação dos debates. A programação dos filmes da ACCPA na SESSÃO CULT terá como foco filmes importantes na história do cinema, incluindo clássicos pouco vistos e filmes pouco conhecidos de grandes diretores do cinema.
Contamos com o apoio do público paraense em mais esta ação da ACCPA.

Marco Antonio Moreira

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

CACHORRO INDIANO


Os indianos não gostaram de chamar Jamal., o herói do filme de Danny Boyle “Quem Quer ser Um Milionário ?” de cachorro de favela (slumdog). Mas se o menino que vai responder num programa de TV sobre diversos assuntos sendo pouco escolarizado cresceu numa favela de Bombaim, cachorro, no caso, é força de expressão. Há cachorro que vive nababescamente nas casas de madames e nem por isso participa de sucursais de “O Céu é O Limite”(nem fez o filme “Absolutamente Certo” do Anselmo Duarte)..
Boyle mostrou sua habilidade contando as peripécias de dois irmãos, Jamal e Salim, que vivem com a mãe em um barraco até que uma revolta de cunho religioso cobra a vida da senhora. Soltos na favela os dois tentam de tudo, caindo nas malhas de um sujeito inescrupuloso que explora meninos cantores. E o pior: cega os meninos.Segundo ele, ceguinho canta melhor.Um motivo para os irmãos fugirem e continuarem fugindo, lamentando apenas a separação de uma companheira de folguedos e desdita, Latika. Ela é quem vai dar o tom romântico ao filme, estimulando Jamal a ganhar na TV. Isto sofrendo nas mãos de um cafetão que não lhe dá folga.
Vocês lembram de Melina Mercouri em “Nunca aos Domingos?” Ela conta as tragédias gregas a seu modo, dizendo que tudo acaba na praia. Pois em cinema indiano, ou da Bollywood, cinema dramático acaba em música. Não dá outra em “... Milionário”. Um happy-end é festejado com todos os atores dançando numa estação ferroviária. Mamma mia, que beleza! Eu gostei do que vi, e mais: torci pelo garoto na hora do programa que vai decidir se ele vira um milionário ou volta a ser cachorro de favela.
Brincadeira fora, o filme de Boyle é muito bem orquestrado por uma edição exemplar. Edição, ou montagem, é como Stanley Kubrick dizia: o quesito básico do cinema (a única das artes a usar este recurso). E como eu dizia, Boyle saiu de uma excelente science-fiction (“Sunshine”). Nada mais diferente nesta investida indiana. De aplaudir. (Pedro Veriano)

"BANQUETE DE SANGUE" NA SESSÃO MALDITA DO CINE LÍBERO LUXARDO

"BANQUETE DE SANGUE"
Direção : Herschell Gordon
Título original: "Blood Feast"
Diretor: Herchell Gordon Lewis.
Gênero: Terror
País: EUA
Elenco: Thomas Wood, Lyn Bolton, Mal Arnold e Connie Mason
Ano: 1963
Duração: 70 min.
Sessão Maldita - Sábado – 21 de fevereiro
Horário : 22:00 h
Entrada Franca
SINOPSE : Um maníaco mata e mutila mulheres sem deixar pistas. Enquanto isso, num restaurante de comidas exóticas, Fuad Hamses cultua Isthar, a bela deusa egípcia que se alimenta de sangue.
SERVIÇO :CINE LÍBERO LUXARDO e APJCC (Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema - SESSÃO MALDITA - Organização: Fellinianos
CINE LÍBERO LUXARDO - Fundação Tancredo Neves - Centur
Endereço: Av. Gentil Bitencourt, 650, Térreo (esquina com Rui Barbosa)
Informações: tel(91)3202-4321
E-mail: cll@fcptn.pa.gov.br ou http://br.mc551.mail.yahoo.com/mc/compose?to=cinelibero@gmail.com
Blog: http://cineliberoluxardo.blogspot.com/

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

"LEMON TREE" NO MOVIECOM ARTE DE 20 À 26/02/09


"LEMON TREE"
Direção: Eran Riklis
Duração: 106 minutos
Genêro: Drama
Classificação Etária: 14 anos
Sala: Moviecom Castanheira Sala 04 – Projeção Digital
Horário:16:15 h
Sinopse:Salma, uma viúva Palestina, vê sua plantação ser ameaçada quando seu novo vizinho, o Ministro de Defesa de Israel se muda para a casa ao lado. A Força de Segurança Israelense logo declara que os limoeiros de Salma colocam em risco a segurança do ministro e por isso precisam ser derrubados. Salma leva o caso à Suprema Corte de Israel para tentar salvar a plantação.

APOIO:
ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)

"O SILÊNCIO DE LORNA"


"O SILÊNCIO DE LORNA"
Certo cinema segue amarras de uma narrativa propícia a uma trama delineada para a empatia do espectador. Desde que o espetáculo foi criado pelos irmãos Lumiere essa visão de episódios contados trouxe a atração/aproximação com o público. Mas a linguagem evoluiu, incorporaram-se novos conteúdos e hoje a forma de fazer cinema diferencia-se. O chamado “cinemão” já tem a fórmula própria e adequa o gosto do público em imagens com a abordagem tradicional de “contar história”. Isso é mais palatável ao sabor das platéias e mais rentável. E o pior, muito cobrado por esse público.
“O Silêncio de Lorna” (Le Silence de Lorna, - Bélgica, Reino Unido, França, 2008), escrito e dirigido pelos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne foge à regra. No enredo, Lorna (Dobroshi), imigrante albanesa, naturalizada belga devido o casamento com Claudy (Jérémie Renier), um viciado em drogas, se acha às voltas com um esquema de união, agora com um russo, arquitetado por um amigo taxista, cujo plano é eliminar o marido de Lorna com uma overdose e realizar o novo contrato dela com o pretendente. O sonho anterior da jovem de deixar o Kosovo obtendo a nova nacionalidade inclui, agora, montar uma lanchonete com o namorado real, Soko (Alban Ukjai), e para isso terá que conseguir recursos. Com a morte de Claudy, a transação quase fechada e os acordos negociados, Lorna descobre que está grávida e que não quer perder a criança. Uma reviravolta em sua pretensão dá outra tonalidade á racionalidade mantida na atitude anterior.
O processo narrativo do filme controla a forma de exposição dos personagens na trama. Explora o tipo frio de Lorna no relacionamento profissional, em casa com o marido, na transação com o taxista mafioso, observando o ir e vir das atitudes da jovem e quando nas seqüências finais do filme é supostamente definido o caráter da personagem num comportamento esperado, um último elemento consagra o imponderável. O que se supõe estar determinado apresenta mudanças.
Claudy mescla as imagens do tipo do viciado com aquele que tenta fugir das drogas na expectativa de conviver com a mulher que ama. Contudo, depende desta a nova vida (a premência em solicitar favores a Lorna, por exemplo, ou a decisão em isolar-se em casa para fugir aos traficantes que o perseguem), mas o esquema montado pelos mafiosos já decidiu seu destino. Se inicialmente é possível reconhecer a adesão de Lorna ao jogo para chegar a consecução de seu sonho após a união com o namorado, aos poucos vai sendo reprocessada essa atitude, seja como meio de ganhar a confiança de Claudy e conseguir o que quer, seja porque foi seduzida pela dependência dele a ela.
A narrativa é um modelo de economia de planos. Não há nada supérfluo e muitas vezes uma seqüência é interrompida para dar lugar à outra que começa “do meio”, uma das características da singularidade da produção. A exemplo: vê-se um plano aberto de Lorna despedindo-se do marido que compra uma bicicleta e sai pela rua. Ela corre atrás até certo ponto e se despede ciente de que vai encontrá-lo em casa depois do trabalho. O corte é para uma cena no IML quando Lorna reconhece o corpo de Claudy. O semblante fechado compreende o jogo dos mafiosos. E o que se segue é uma lenta ameaça, um processo que se corporifica a partir da reação da jovem albanesa ao novo contrato de casamento. Ainda mais quando sabe que a gravidez está fora do contrato. A opção por não abortar revela a outra Lorna, decidida a manter a lembrança da única pessoa que a amou, inscrita no seu corpo.
O final do filme foi motivo de reclamos tanto de críticos internacionais como de certo público. O fecho reticente seguiu o interesse dos Dardenne em afastar-se do esquema novelesco e ver a sua personagem fugir ou morrer. É esse o plano do imponderável, ou seja, o crédito das possibilidades de mudança na atitude das pessoas quando estas se singularizam por acreditarem na dignidade humana. Só no final Lorna percebeu a afinidade que tinha com Claudy e com indignação repele o novo crime. Embora se surpreenda com a overdose que matou o marido não havia sido tão incisiva contra a premeditação do assassinato. Não é a visão da culpa a pedir remissão a manutenção da gravidez, mas o respeito pelo que significou entre planos de armação comercial e o afeto percebido como fraqueza e instabilidade de um viciado que queria mudar de vida por causa dela. Esse é o mote que os irmãos diretores sempre revelam em seus filmes para tratar da condição humana e denunciar a mercantilização social. Conferir sobre isso a argumentação de seu filme “A Criança” (2005) quando o foco se dá sobre um casal jovem e o padrão “normal” de sentimentos desconectados da condição de serem pais, com uma negociação em jogo. Entre a racioalidade das les sociais e a forma de vivência dos humanos, o caráter anárquico não os despoja do afeto e do desejo.
O filme não seria o mesmo sem o desempenho da Arta Debroshi aqui em seu terceiro filme como intérprete. Ela impressiona a partir de uma máscara que traduz os sentimentos, mesmo que a pessoa em foco, no fim de contas, sinta a ambigüidade e, como referi acima, fique no ângulo do “no trespassing” sobre Lorna. A exemplo: são significativos os planos em um bar onde ela é forçada a dançar com o russo que lhe destinam para segundo marido. Ao se levantar da mesa e sair à pista com ele, ora em close, ora em plano médio, seguindo-se o momento que fala de sua suposta gravidez, tudo se concentra mais nas expressões do que nas palavras. E o filme inteiro é trabalho nas imagens. A câmera se movimenta de uma forma tão singela que o espectador, acompanhando a trama, nem sabe distinguir o perfil das tomadas, sentindo apenas os cortes bruscos.
Cotação: **** (Muito Bom)

Luzia Miranda Álvares

"QUEIME DEPOIS DE LER"


"QUEIME DEPOIS DE LER"
Os irmãos Ethan e Joel Coen não se furtam a demonstrações de humor, mesmo quando os seus roteiros implicam em cenas de violência. É certo que se tornou um pouco difícil rir de algum momento no premiado “Onde os Fracos Não Tem Vez”. Mas o filme manteve a ironia ao extravasar as nervuras de uma sociedade numa radiografia inversa do país. A comédia foi principal objeto do filme seguinte desses criativos irmãos cineastas: “Queime Depois de Ler”(Burn after reading/EUA, 2008).
O argumento trás para a cena o odisséia do agente da CIA Osborne Cox (John Malkovich) que é convidado a sair do setor de inteligência acusado de alcoolismo. Ele deixa o emprego e decide escrever suas memórias. A esposa Katie/Tilda Swinton está em vias de pedir o divorcio, sendo aconselhada pelo advogado a organizar o inventário dos bens do marido. Casualmente o disquete com a relação dos pertences de Cox é perdida e achada por Chad (Brad Pitt), funcionário de uma academia de ginástica e, junto com a colega Linda (Frances McDormand) decidem chantagear o ex-agente pensando que se trata de grandes planos de espionagem. Como há relutância do objetivado, o dois vão à embaixada russa tentar vender o disquete. Linda quer dinheiro para fazer várias cirurgias plásticas. Entrementes, Harry Pfarrer (George Clooney), amante de Katie, mantém uma relação virtual com Linda e entra na história ao invadir o apartamento da amante e, deparar, surpreso, com Chad dentro de um armário. Um tiro mata o funcionário da academia e começa uma ronda violenta que envolve toda a cúpula da CIA e as demais figuras que se fazem tanto de chantagistas quanto de espiões.
A trama de “esconde-esconde” satiriza a famosa agência de espionagem, os resquícios de guerra fria, a cupidez de algumas pessoas, a volubilidade de outras, os desencontros dramáticos que por serem coincidentes geram o riso.
Tratar de um “imbróglio” desse jeito precisa ter um bom roteiro enxuto e conciso para não se perder a ação em vertentes inúteis (e desviar o ritmo). E, naturalmente, uma boa direção onde se inclui não só o processo narrativo como a condução do elenco. Nada disso falta aos Coen. Pode-se achar que Francês McDormand e George Clooney resvalam para a caricatura, mas não se pode pedir outra postura quando o objetivo é uma comédia de erros.
O filme deve ser visto com atenção para não se perder detalhes, e são muitos a costurar uma intriga volumosa em apenas 90 e poucos minutos de projeção. O elenco “all star” em um projeto basicamente modesto é uma prova do prestigio dos Coen. E só quando eles estavam filmando “Queime Depois de Ler” é que souberam da premiação ao imediatamente anterior “Onde os Fracos...”. Vale dizer que os irmãos gozam de grande consideração na indústria e pode-se esperar muito mais a enriquecer uma filmografia que abriga títulos marcantes como “Gosto de Sangue”, “Arizona Nunca Mais”, “Barton Fink”, “Fargo”.
Programa imperdível.
Cotação: ****(Muito Bom).

Luzia Miranda Álvares

"OPERAÇÃO VALQUÍRIA"


"OPERAÇÃO VALQUÍRIA"
Em 20 de julho de 1944 oficiais alemães executaram um atentado contra o ditador Adolf Hitler, chefiados pelo coronel Claus Von Stauffenberg, uma vitima da guerra (perdera um olho e uma das mãos em um bombardeio aliado) e um avaliador das ações bélicas negativas tomadas pelo “fueher” em nome do povo alemão. O plano apossava-se da Operação Valquiria ordenada pelo próprio Hitler para usar tropas alternativas quando fosse necessário. Na versão dos oficiais rebeldes, aproveitando ordens assinadas pelo “fueher”, seria um modo de imediatamente após o atentado mudar radicalmente as rédeas do governo.
A organização do atentado previa a elaboração de uma bomba acondicionada em uma maleta e levada pelo coronel Stauffenberg para o local de uma reunião ampliada onde Hitler e auxiliares discutiriam o fracasso das tropas nazistas na frente russa. Numa encenação inicial, houve instabilidade no mando entre os “cabeças” do atentado. A ação visava deixar a bomba sob a mesa, bem próxima do objetivo – Hitler – seguindo-se a saída de Stauffenberg alegando que precisava telefonar. No segundo momento, o plano deu certo e, da cabine telefônica, o coronel presenciou a explosão. A magnitude dava margem a pensar no sucesso do plano e imediatamente foram acionados os militares que aguardavam impacientes o resultado. Mas Hitler não morreu. Nem ficou gravemente ferido. Com a roupa rasgada e ligeiras escoriações partiu, imediatamente, para a revanche. O corte da linha de comunicação com todos os líderes no comando identificou o informante de sua “morte”. Além do que, os autores já montavam o novo governo em Berlim e as tropas já estavam divididas, dados que levaram aos oficiais suspeitos do golpe, com a prisão e execução de todos.
O fato histórico já foi alvo do cinema em pelo menos um filme marcante: “Aconteceu em 20 de Julho” ( Es Geshachah am 20 Juli/Alemanha, 1955) de G. W. Pabst. A dispendiosa produção atual, bancada pelo ator Tom Cruise com poucas inclusões para um acabamento comercial recebeu a direção de Ryan Singer (de “X-Men”) e o roteiro preso ao assunto, de Christophe McQuarrier.
“Operação Valquiria” (o nome vem de uma ópera de Wagner e há uma citação da preferência de Hitler pelo compositor) é uma obra de indústria, bem administrada, com o cuidado de não fugir dos fatos históricos. Essa perspectiva, não deixa de ser um elogio posto que não houve outra pretensão além da evidenciada. E as criticas, no caso, caberiam ao “mais”, que foi omitido, como o fenômeno do nazismo em si, aos motivos que levaram o povo alemão a seguir de forma apaixonada um ditador paranóico, ao balanço dos atentados que Hitler sofreu na sua carreira política, apenas um deles, dentre os conhecidos (o filme cita 15 embora outras fontes só mencionem 4 importantes) cometido por um civil: um carpinteiro de nome Georg Elser que em 1939 planejou explodir uma cervejaria freqüentada pelo já chanceler alemão (o plano falhou porque um discurso de Hitler, esperado para terminar às 22 horas, acabou mais cedo). Também não foram especulados os motivos que levaram a oficialidade a tentar o golpe antes do previsível fim da guerra (que ocorreu dez meses mais tarde). Em julho de 1944, os aliados já haviam invadido o front de guerra pela Normandia, fato ocorrido em junho, e os exércitos nazistas estavam em retirada em várias frentes. Precipitar o fim das coisas seria uma forma de salvar Berlim de um desastre total, o que aconteceria com a entrada das tropas russas ou norte-americanas na capital do país. Mas as falas do filme deixam reticências, preferindo jogar a idéia para o coronel mutilado, a seu ver o herói (elogiado pelo “fueher”) que já cumprira a sua missão de soldado e passara a achar tudo aquilo um sacrifício em vão.
O roteiro prefere, como o filme de Pabst, concentrar-se no atentado de 20 de julho. E a condução narrativa não furta o espectador de um suspense, mesmo que saiba como a história terminou. Pode-se dizer que Tom Cruise fez um grande esforço no papel, embora o seu tipo físico não se enquadre com Stauffenberg que era alto e sem o porte de galã do ator de “Missão Impossível”.
Curioso é que “Operação Valquíria” não fez uma boa carreira comercial nos EUA. Lançado no final do ano passado ocupou na primeira semana o 4º lugar nas bilheterias e logo caiu vertiginosamente. O prejuízo foi evitado no mercado externo, com boas rendas, inclusive na Alemanha. Cruise veio ao Brasil ajudar na divulgação de seu trabalho. E deve ter conseguido alcançar seus objetivos, a julgar pela procura de ingresso nos cinemas lançadores.
Quanto ás filmagens, foram feitas na cidade de Brandemburgo, na Alemanha, com alguns planos em estúdio. O governo alemão colaborou na cessão de “extras”, mas, mesmo assim, o projeto saiu por US$ 60 milhões, quase um orçamento de “blockbuster”.
Sem que haja evidente referência nos pôsteres e material de divulgação do filme, observa-se o ator-cineasta Kenneth Branagh (“Henrique V”, “Hamlet”, ”Frankenstein e Mary Shelley”) no papel do Major General Henning Von Treskow. Também está no elenco um bom ator inglês que tem demonstrado a sua versatilidade em dramas (“Sonho de Cassandra”), romances (“Razão e Sensibilidade”) e comédias (“A Importância de Ser Ernesto”): Tom Wilkinson (interpreta o Major Friedrich Fromm).Um programa interessante, especialmente para os que gostam de filmes de guerra.
Cotação: *** (Bom).

Luzia Miranda Álvares
luziamiranda@gmail.com
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"O CARREGADOR DE ALMAS"


"O CARREGADOR DE ALMAS"
Filme muito interessante e de temática reflexiva é este "O Carregador de Almas" (Soul Carriage/Inglaterra,China,2006) assinado por um diretor inglês estreante, Conrad Clark, 30 anos, além de roteirista de uma história de Saleh Karama., tendo no currículo a fotografia e produção de "Love Struck", de 2005.
A trama capta o dia a dia de uma construção civil na Kangai dos dias de hoje, onde circulam os operários das várias áreas. Um destes, Jaio (Yiung Chen), pede ao patrão uma pequena quantia para comemorar o seu aniversário. O patrão nega. A única forma de ganhar algum "extra" é conduzir o corpo de um colega fatalmente acidentado até a casa deste, numa província do interior. Dirigindo uma caminhonete, o rapaz passa mais de um dia para chegar ao endereço estipulado, mas encontra uma festa de casamento. O morto seria filho do dono da casa. Levado para reconhecer o cadáver, o pai acaba negando o parentesco ou mesmo o conhecimento de quem seja. A alternativa seria encontrar uma provável namorada do morto, que é cantora num bar próximo. Não é muito fácil achar esta figura, mas, ao encontrá-la, surge outra negativa. Embora amiga do morto reconhece não ter havido um relacionamento intimo entre eles. Mas informa que a namorada seria outra cantora, procurada e encontrada a qual indica a aldeia onde morariam os familiares do jovem. O próximo passo seria deixar o corpo com a mãe do rapaz, na região de montanha. O cansaço de um íngreme percurso de dois dias leva o carregador a uma estrada intransitável com máquinas obstruindo o espaço.
Tal como em "Em Busca da Vida" (Sanxia Haoren/China,2006) de Zhang Ke Jia, o país é um quintal de obras. Restaria abandonar a "encomenda" numa rua. Segue-se uma cena altamente dramática: bebendo "sakê" até se embriagar, o carregador conversa com o cadáver incitando-o a beber com ele. Resta um monologo que evidencia a solidão de quem fala. Está chovendo e a câmera, em plano médio, denuncia o sentimento de exclusão porque passa o homem que se julga um "morto em vida". No plano seguinte vê-se a caminhonete em movimento levando o morto, mas sem o motorista. Este fica observando, molhado. Daí segue-se uma comemoração chinesa em um edifício, com a objetiva descendo do alto ao térreo desse prédio.
Conrad Clark estréia com este filme que em nada revela a sua origem. A narrativa compassada, os enquadramentos e cortes econômicos (observem a seqüência inicial quando o operário pede dinheiro ao patrão, desdobrada em dois planos fixos: ele na sala do patrão, que é visto de costas, e uma tomada do lado de fora com o ângulo tomando os personagens numa extremidade do quadro) são recursos de linguagem que lembram a produção oriental. Percebe-se que o cineasta procurou valorizar a cultura da região onde se passa a história, privilegiando sempre os moradores das comunidades, focalizando com primazia o seu herói.
"Soul Carriage" é uma observação sutil de um solitário que adentra pelo terreno de "road movie" numa forma nada convencional. Há dois enfoques: o do transportador de cadáver e dos tipos que encontra por onde viaja, estes contornando o perfil do morto. No fim da jornada, que na realidade não chega a ser um fim, o carregador pensa em deixar a missão abandonando o corpo na estrada. Mas retrocede e acaba criando uma cerimônia exclusiva para si próprio e para o morto a quem oferece bebida numa cena pungente. O plano dos dois homens na chuva, o vivo e o morto, com o primeiro tentando uma comunicação com o segundo, é um dos mais pungentes do cinema moderno. Jaio quer que o colega beba com ele, forçando-o a sorver os goles da bebida. Possíveis lágrimas diluem-se na chuva.
A vida carregando a morte e conscientizando que o limite entre as duas partes se atenua na ciência de que nem uma nem outra, ou especificamente nem um nem outro personagem, gozam de estima de alguém, podem estar mortos sem que isso faça alguma diferença. Se todos procuraram esquecer o acidentado, o colega que passa com ele mais de dois dias sente-se também esquecido. Afinal, a festa de aniversário se transformou num longo e estranho funeral.
Conrad Clark foi premiado no Festival de San Sebastian. Mas seu filme foi pouco visto mundo afora. Ou pouco comentado. É uma dessas produções independentes que chegam aos festivais fora da órbita dos maiores do gênero existentes no calendário especifico. Em Belém ganhou uma exibição que seria pouco provável não existisse um programa como o recente MoviecomArte (e não houvesse o recurso da projeção digital, que dilui as despesas). Mesmo assim, mesmo com o nosso público sendo alvo de um régio presente, observei um fato curioso na sessão em que estive. Cerca de 12 pessoas deixaram a sala antes do final do filme. Exatamente seis casais. E uma platéia incomum, em numero, esteve presente. Talvez pensasse, pelo titulo, que se tratava de algum filme de terror onde um herói qualquer conduzia mortos-vivos na esteira dos de George Romero, ou, bem atrás no tempo, de Boris Karloff no clássico "Túmulo Vazio". Deparando com um filme lento, escuro, falado em chinês, com atores desconhecidos e ação minimizada pela observação psicológica dos tipos, o espectador achou que havia se enganado de sala. Os que ficaram até a fim saíram reclamando. Infelizmente cinema denso ainda é produto cultural endereçado à platéia restrita. O outro lado da medalha está em coisas como "Noivas em Guerra" , já comentado aqui.
Cotação - **** (Muito Bom).

Luzia Miranda Álvares
luziamiranda@gmail.com

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

"O SEGREDO DO GRÃO" NO CINE ESTAÇÃO


O SEGREDO DO GRÃO
(La Graine et le Mulet - Drama, França, 2007)
Dirigido por: Abdelattif Kechiche
Elenco: Habib Boufares, Hafsia Herzi, Farida Benkhetache, Abdelhamid Aktouche
Duração: 151 min.
Classificação Indicativa: 14 anos
Sessões:15/02 (domingo), às 10h e 20h28/02 (sábado), às 20h01/03 (domingo), às 10h e 20h
Sinopse:Slimane Beiji (Boufares) tem 60 anos e enfrenta um divórcio após anos de casamento. Sem emprego nem salário, ele é obrigado seguir dependente de sua família, transformando-o num homem inútil para a sociedade e fracassado. Até que decide mudar esta situação e vai atrás de seu maior sonho: abrir um restaurante. Premiações: Melhor filme, Melhor diretor, Melhor roteiro original e Melhor revelação feminina (Hafsia Herzi) do 33º César.
Apoio : ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

"LUGARES DO AFETO" NO CINE OLYMPIA DE 17/02 À 01/03


"LUGARES DO AFETO"
Roteiro e Direção: Jorane Castro
Produção:Cabocla Produções / TV Cultura do Pará
Genêro: Documentário
Duração: 72 minutos
Sinopse: A fotografia de Luiz Braga constituiu-se pela busca incessante de uma linguagem que traduza o imaginário profundo da vida amazônica. Ele captura a cultura de sua região, com um olhar de conhecedor, não de um visitante. Ele registra a realidade contemporânea, não o exótico, retratando a sutil sensualidade do amazônida. “Lugares de Afeto” acompanha o seu processo criativo, desvenda a construção de seu olhar, encontra seus personagens, em seus lugares, no mesmo horário crepuscular de sua predileção, no seu universo e com a sua luz.
Local : Espaço Municipal Cine Olympia - De 17/02 à 01/03/09
Horário : 18:30 h
Entrada Franca

APOIO : ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)

"O SILÊNCIO DE LORNA" NO MOVIECOM ARTE DE 13 À 19/02/09


"O SILÊNCIO DE LORNA"
Direção: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne
Duração: 105 minutos
Genêro: Drama
Classificação: 16 anos
Sala: Castanheira Sala 04 - Projeção Digital
Horário: 17:00 h
Sinopse: Uma mulher se casa com o capanga de um mafioso para adquirir a nacionalidade belga. Tempos depois ela precisa se casar novamente, mas para tanto precisará eliminar seu atual marido.
Vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes 2008.

APOIO:
ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

"ASAS" NO CINE CLUBE ALEXANDRINO MOREIRA DIA 16/02


"ASAS"(Wings)
EUA-1927
Direção de William A. Wellman
Roteiro de William A. Wellman John Monk Saunders eHope Loring.
Fotografia de Harry Perry
Edição de E.Lloyd Sheldan e Lucien Hubbard.
Elenco:Charles “Buddy”Rogers, Clara Bow, Richard Arlen, Jobyna Ralston eEd Brendel
Argumento: Jack (Charles “Buddy”Rogers) e David(Richard Arlen),rapazes da classe média da mesma cidade, resolvem se alistar na aviação quando eclode a 1ª.Guerra Mundial. Sylvia(Jobyna Ralston) é a namorada de David mas ao preparar um retrato para a carteira deste recebe a visita de Jack que pensa ser para ele a foto. Mary (Clara Bow) gosta de Jack e o ajuda no seu “hobby” que é o automobilismo(ele e ela preparam um carro que chamam de “Estrela Cadente”).De Mary o rapaz leva também uma foto. E David leva da mãe um pequeno urso de pelúcia que foi seu brinquedo de infância. Os dois fazem heróicos combates, mas às proximidades da volta David morre, sendo reconhecido pelo pequeno urso. O regresso de Jack à sua terra natal é extremamente dramático.
Importância histórica: O filme foi o único da fase silenciosa a ganhar um Oscar. O primeiro a ser conferido pela Academia de Artes e Ciências de Hollywood. Revela um pouco da carreira do diretor como piloto de guerra. A intriga que engloba velhos amigos em situações perigosas foi novamente abordada por ele em “Beau Geste”(1939). O traço melodramático característico do cinema mudo está presente assim como as expressões teatrais dos intérpretes para suprir a falta de diálogos.Mas as cenas de combate aéreo, utilizando miniaturas e aviões de verdade, chamaram a atenção. Dois anos depois o tema “aviação” serviria a Howard Hughes para o seu “Anjos do Inferno”. Observe-se a curiosidade que este tema despertava nos primeiros anos dos aviões e na estréia desses engenhos como arma de guerra.“Asas”fez grande sucesso de público e de critica em seu tempo.
Horário : 19 h
Entrada Franca
Local : IAP (ao lado da Basília de Nazaré)
Apoio : ACCPA/Instituto de Artes do Pará
PRÓXIMO PROGRAMA:
“No Tempo das Diligencias”(Stagecoach/1939) de John Ford
Pedro Veriano

domingo, 8 de fevereiro de 2009

"O CARREGADOR DE ALMAS" NO MOVIECOM ARTE DE 06 À 12/09


"O CARREGADOR DE ALMAS"
Em exibição de 06 à 12/02/09
Direção : Conrad Clark
Com Jia Hong
Duração : 88 minutos
Genêro : Drama
Classificação Etária : 12 anos
Sala : Moviecom Castanheira Sala 04 – Projeção Digital
Horário: 17:55 h
Sinopse : Na China contemporânea, um jovem empregado de uma construtora não tem dinheiro para comemorar seu aniversário. Quando pede um empréstimo ao seu chefe, acaba sendo escalado para cuidar do corpo de um funcionário morto em serviço. A partir daí, o jovem carrega o defunto em sua van na tentativa de entregá-lo a família. A estréia do inglês Conrad Clark na direção lhe rendeu um prêmio no Festival de San Sebastian.

APOIO:
ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)

"O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO" NO CINE ESTAÇÃO


Um dos mais importantes exemplares do Cinema Novo estréia neste domingo (8), no Oi Cine Estação, em versão restaurada. Vencedor de vários prêmios internacionais, brasileiro "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro", de Glauber Rocha, será exibido neste domingo (8) em duas sessões, às 10h e 18h. O filme volta em cartaz nos dias 15 e 28/2 e 1º/3, sempre no Cine-Teatro Maria Sylvia Nunes, da Estação das Docas. A programação é uma realização da Organização Pará 2000, Secult e Governo do Estado, com patrocínio da Oi.
"O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro", primeiro filme colorido com som direto, é uma obra prima do cineasta Glauber Rocha. O filme conquistou inúmeras premições – dentre elas, se destaca o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes de 1969, entregue por Michelangelo Antonioni.
Rodado em som direto, "O Dragão..." impôs novos desafios a Glauber, que naquele momento lutava pela ampliação do mercado através da produção de filmes sintonizados com o universo mítico do homem latino-americano. Tamanha foi a repercussão na época que o filme tornou-se capa da prestigiosa revista francesa "Cahiers du Cinema" se tornando o maior sucesso de público da carreira do autor.
Os negativos originais do filme foram destruídos em um incêndio, dia 25 de junho de 1973, no Laboratório GTC em Paris. O restauro digital da imagem foi realizado a partir de uma cópia com versão sonora francesa no Laboratório Prestech, na Inglaterra, com curadoria de João Sócrates Oliveira e Supervisão de Fotografia de Affonso Beato. Por este motivo, as cenas das canções, que não foram dubladas, contêm legendas em francês. Na reconstrução da versão sonora em português feita na Cinemateca Brasileira e no Estúdio JLS, sob curadoria de José Luiz Sasso, foram utilizadas, contudo, cópias de diferentes suportes.
Responsável pelo projeto, a curadoria do Tempo Glauber, pelo valor documental, decidiu preservar o texto introdutório do filme existente na versão francesa que serviu de base para a restauração, traduzindo na íntegra, o seu conteúdo. Os créditos da equipe técnica e do elenco passam a constar nos letreiros finais do filme, devidamente traduzidos e corrigidos.

A história
Glauber transpôs de forma alegórica para o sertão nordestino sua paixão pelo cinema mítico de John Ford dialogando com a narrativa de cordel para refletir o embate entre o arcaico e o moderno, os cangaceiros, jagunços, beatos e o poder oligárquico dos coronéis. "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro" (drama, Brasil, 1969) se passa em uma cidadezinha chamada Jardim das Piranhas. Lá, aparece um cangaceiro que se apresenta como a reencarnação de Lampião. Seu nome é Coirana. Anos depois de ter matado Corisco, Antônio das Mortes (personagem de "Deus e o Diabo na Terra do Sol") vai à cidade para ver o cangaceiro. É o encontro dos mitos, o início do duelo entre o dragão da maldade contra o santo guerreiro.
"O Dragão é inicialmente Antonio das Mortes, assim como São Jorge é o cangaceiro. Depois, o verdadeiro dragão é o latifundiário, enquanto o Santo Guerreiro passa a ser o professor quando pega as armas do cangaceiro e de Antonio das Mortes. Em suma, queria dizer que tais papéis sociais não são eternos e imóveis, e que tais componentes de agrupamentos sociais solidamente conservadores, ou reacionários, ou cúmplices do poder, podem mudar e contribuir para mudar. Basta que entendam onde está o verdadeiro dragão", comenta o diretor Glauber Rocha.
Outros personagens vão povoar o mundo de Antônio das Mortes. Entre eles, um professor desiludido e sem esperanças; um coronel com delírios de grandeza, um delegado com ambições políticas; e uma linda mulher, Laura, vivendo uma trágica solidão. O filme traz no elenco Maurício do Valle, Odete Lara, Othon Bastos, Hugo Carvana, Jofre Soares e Lorival Pariz. Com duração de 95 minutos, o longa-metragem tem classificação indicativa para 14 anos.
Serviço
"O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro" estréia neste domingo (8), às 10h e 18h, no Oi Cine Estação (Cine-Teatro Maria Sylvia Nunes, da Estação das Docas). O filme será exibido novamente nos dias 15/2, 28/2 e 1/3, sempre às 18h. Realização: Pará 2000, Secult e Governo do Estado. Patrocínio: Oi. Ingressos a R$ 5, com meia-entrada para estudantes. Informações: (91) 3212-5615/ 5660.
APOIO :
ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

MONIZ VIANNA(1924-2009)

Morreu no dia 31 de janeiro o médico e jornalista baiano Antonio Moniz Vianna , um dos mais festejados críticos de cinema no Brasil dos anos 50/60 e 70.
Moniz escrevia no “Correio da Manhã”, matutino carioca fechado depois do golpe de 1964 quando cedo atuou na oposição ao governo instalado no país. Era um critico que procurava ser sempre pessoal, usando de um estilo de fácil acesso ao leitor médio (aquele que não se vê como “entendido em cinema”) para defender posições alicerçadas na sua sensibilidade, no seu modo de ver a arte que tocava a sua sensibilidade.
Pode-se dizer que muitos críticos brasileiros formaram-se no modelo de Vianna. Até no modo apaixonado como ele defendia a sua visão de um filme. Ele era capaz de dizer que detestava o “cinema novo” brasileiro, que aqui “não se fazia filme, mas difilm”(Difilm era o nome da produtora do movimento, empresa de Glauber Rocha, de c Walter Lima Jr, e de outros nomes que saíram da coletânea “5 Vezes Favela”). Elogiava o western, seu gênero preferido, e tinha John Ford como o maior dos diretores. Também elogiava o cinema japonês de Kurosawa, as comédias sociais de Frank Capra, a produção britânica especialmente do Ealing Studio de Michael Balcon, exibia um grupo de cineastas preferidos, não tinha “pudor” em mandar alguns clássicos à vala comum e elogiar o comum que desejava jogar entre os clássicos (e hoje está acontecendo nas locadoras de vídeo).
Vianna não chegava a macular filmes básicos com as “bolas pretas” que alguns colegas tiravam da cartola à guisa de cotação (como Rubem Biáfora e Mauricio Gomes Leite). Nem jogava confeti à toa em cabeças coroadas. Sabia achar virtudes em obras toscas, aparentemente defeituosas.
Há pouco mais de 4 anos algumas de suas criticas foram publicadas em um livro com seleção organizada por Rui Castro: “Um Filme por Dia”(Companhia das Letras/2004) .Realmente Moniz criticava um filme por dia de 1946, quando estreou sua coluna de cinema no “Correio...” a 1973, no fim do jornal. Foi um largo período para analisar praticamente a história de uma arte. Lá esteve comentado o cinema mudo com as suas “escolas”, o falado com as dele, os novos de diversos países, as comunicações às vezes diretas da cinematografia com a política.
A ACCPA rende seu tributo de divida para com a persistência de Moniz Vianna. Pouca gente gostou tanto de ver filmes e de comentar filmes. Este prazer é o que norteia uma associação de cinéfilos, ou cinemaniacos, ou o nome que se dê a quem não sinta remorso, e sim prazer de passar boa parte da vida numa sala escura vendo uma tela iluminada.
PARANOIA AMERICANA

“Queime Depois de Ler”(Burn after reading/EUA,2008) é uma volta dos irmãos Joel e Ethan Coen à comédia de erros, linha que trilharam desde “Arizona Nunca Mais”, um de seus primeiros filmes.
O roteiro é a grande estrela do trabalho. Amarra de forma inspirada elementos que traduzem a mania de perseguição que segue o americano médio desde 11/09/2001. Basta citar a seqüência em que George Clooney pensa que Frances McDormand, com quem tem um caso, está ligada a CIA e por tabela à morte de uma pessoa a quem ele, de alguma forma, acabou ligado. Apavorado, afastando-se dela,ele olha para os lados em um parque de Washington (onde se vê ao longe o Obelisco e o Capitólio), pensa que as pessoas o estão observando, ora fotografando, ora filmando, ora simplesmente direcionando olhar, e sai correndo aos gritos. Frances, por sua vez, ao dirigir seu carro, pensa a mesma coisa e vê até no vôo de rotina de um helicóptero um “espia” de seus movimentos.
Toda a parafernália começa quando um agente da CIA (John Malkovich) resolve se despedir e escrever as suas memórias. No bojo disso, ele que está com um casamento em ruínas, faz um inventário de seus bens pesando no divorcio iminente e coloca os dados num CD. Quando ele perde o disco, quem acha, um garotão que trabalha numa academia de ginástica (Brad Pitt excelente), pensa que se trata de dados ligados a espionagem e passa a dica para a colega Frances, que no momento quer dinheiro para fazer cirurgias plásticas impensadas por seu plano de saúde. Os dois começam a chantagear o ex-agente, e como este sabe do que se trata, fica furioso por ser importunado por besteira. Mas quando a chantagem não dá certo, Brad (ou Chad, o personagem) e Frances (Linda) resolvem entregar o CD para os russos. Um diplomata russo sentencia: “- Vocês não são nada patriotas...”
Como tudo se trata de bobagens, o giro das coisas traz o ridículo mesmo quando alguns tipos passam a morrer. Os Coen brincam com essas mortes (que não chegam a ser detalhadas). A violência não cabe numa comédia de erros. Para rir basta a cupidez de alguns, a paranóia social, a instabilidade afetiva em casais desencontrados ou pares que se buscam.
O filme é muito engraçado, bastante engenhoso, e pela construção impecável, mesmo usando de caricaturas (Francês McDormand exagera, assim como George Clooney) lembra as “screwball” do tempo de Cary Grant & Priscilla Lane & Kate Hepburn & Howard Hawks & Leo McCarey e o hoje esquecido imerecidamente Gregory La Cava.
O cinema sempre precisa de comédias inteligentes. Esta é uma delas, valendo como um remédio nos dias de hoje onde as coisas estão sendo levadas muito a sério.(Pedro Veriano).

domingo, 1 de fevereiro de 2009

'PATATIVA DO ASSARÉ" NO CINE OLYMPIA DE 03 À 15/02


"PATATIVA DO ASSARÉ : AVE POESIA"
Um filme de Rosemberg Cariry
Vencedor do prêmio de melhor Longa Metragem do 5º Festival de Belém do Cinema Brasileiro
O filme “Patativa do Assaré – Ave Poesia” aborda a vida e a obra do poeta Patativa do Assaré, destacando a relevência de seus poemas, o significado político dos seus atos e sua imensa contribuição à cultura brasileira. Dono de um ritmo poético de musicalidade única, mestre maior da arte da versificação e com um vocabulário que vai do dialeto da língua nordestina aos clássicos da língua portuguesa, Patativa do Assaré é a síntese do saber popular versus o saber erudito.Este documentário é uma obra importante sobre aspectos fundamentais da vida e obra desse poeta popular que se transformou num patrimônio cultural e afetivo do povo brasileiro.
Local : Espaço Municipal Cine Olympia - de 03 à 15/02/09
Horário: 18:30 h
Exibição em DVD
Apoio :
ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)
FIM DE UM TEMPO

Havia uma foto no escritório do Cinema 1 em que apareciam pessoas ligadas ao projeto de 2 salas de exibições e que naquele instante assistiam a cerimônia de colocação da pedra fundamental dessas salas. Podem-se ver o dono do espaço, Alexandrino Moreira, sua esposa Lourdes Moreira Carvalho, os jornalistas Edwaldo Martins, “Mano”Flores, e Rafael Costa, o advogado José Augusto Affonso II (seria juiz do trabalho anos depois), o engenheiro Gelson Silva, o pai dele, Ofir, o cineasta Januário Guedes, e os amigos dos Moreira e críticos de cinema Luzia Miranda Álvares e Pedro Veriano. Do grupo, só restam os três últimos. A maioria está vendo as estrelas mais de perto. Como os cinemas que nasciam.
Não é só nos discursos de presidentes que se diz que “o mundo mudou”. Ontem, cinema era disposto em filas de poltronas quase na horizontal, com os espectadores rezando para que nenhum “gigante” sentasse na sua frente. Hoje o modelo “stadium” põe uma fila em cada degrau de escada. Ontem, o som era mono ou estéreo, percebendo-se mais os agudos na medida em que os operadores que faziam tudo mecanicamente. O “dolby” com suas vertentes para saída de som em caixas laterais exigiu mais dos técnicos e esses culparam a flutuação de energia para dissonâncias como o aumento do som grave a difícil percepção de detalhes. Ontem se podia entrar numa sala pelo meio de um filme e ficar para ver a outra sessão. Hoje os “borderôs” (relatórios do movimento financeiro das casas) são feitos pela Internet, a aferição de ingressos através de códigos de barras, não se podendo dividir público de uma sessão para outra. Ontem era possível ir a uma sessão tarde da noite e sair fagueiro para casa a pé, de ônibus ou de carro particular. Hoje o medo de assalto impede muita gente de fazer programas noturnos de longo alcance. Ontem as distribuidoras de filmes acatavam os exibidores que programavam títulos, datas e horários. Hoje, se um filme está fazendo uma bilheteria compatível com a média estipulada pelo distribuidor ele não pode ser retirado do cartaz. E vice-versa: se um bom filme obteve fraca receptividade na primeira semana de exibições não se tenta uma segunda mesmo sabendo que pode ser descoberto pelo público.
O mundo realmente mudou. A própria industria hoje elimina certos limites entre o que se chamava “comercial” e “artístico”. O nome “cinema de arte” acabou na prática (só os exibidores ainda o consideram). Quem fazia cinema experimental, como, por exemplo, o alemão Werner Herzog, hoje faz trabalhos versáteis como “ O Sobrevivente”. E filmes antes considerados herméticos, hoje são considerados ingênuos.
Belém dos anos 1970 abrigava 4 empresas exibidoras: Severiano Ribeiro, Livio Bruni (que adquiriu a Cardoso & Lopes), Ópera e Cinema de Arte do Pará Ltda. Em 2009 só existem Ópera e Moviecom, este último com sede no sudeste do país.
E o gosto do público é que não mudou tanto. Comédias românticas e aventuras de grande porte de produção ainda atraem. Temas densos são preteridos. A idéia de “diversão” permanece. Com o velho argumento de que “já basta a vida ser difícil para se pensar nisso no escurinho de um cinema”.Argumento que muda um pouco com a juventude mas não desvia gêneros: importa o que seja “legal” (cool). Tendo por isso qualquer ritmo (a música influi) que “badale”, que empolgue.
E amanhã? Bem, amanhã é outro dia...(Pedro Veriano)

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