quarta-feira, 27 de novembro de 2013

"BLUE JASMINE" DE WOODY ALLEN ESTREIA DIA 29/11

 

Woody Allen sabe o que quer dizer e como dizer. Afinal, Allen tem mais de 40 anos trabalhando no cinema como roteirista e diretor e já adquiriu um estilo próprio e uma segurança no escrever e filmar que ainda me impressiona. Seu novo filme, "Blue Jasmine", que estreia em Belém sexta-feira dia 29/11, traz uma galeria de personagens que mostram os erros, acertos, decepções e o instinto de sobrevivência de ser humano. Woody Allen consegue em 90 minutos falar sobre tantos assuntos que é admirável como seus filmes sempre serão atuais.
A personagem principal, Jasmine, interpretada magistralmente por Cate Blanchett, é uma mulher que vê seu rico mundo financeiro se quebrar e é obrigada a se reconstruir, buscando ajuda na irmã que é muito diferente do seu jeito de ser e ver o mundo. E essa reconstrução vai se transformando numa odisseia de dor, graça, mentiras e fantasias que acaba deixando o espectador como uma impotente testemunha diaeirnte de tanta ingenuidade/loucura/insegurança desta frágil e ao mesmo tempo forte personagem.
"Blue Jasmine" é um filme sobre como recomeçar, mas recomeçar com muita amargura e não deixando de lado o passado, as dores, os sofrimentos vividos. Afinal, tem que se aprender com os riscos/erros/desastres da caminhada. Mas no final, não sabemos se Jasmine aprendeu. Nunca saberemos e acredito que é exatamente esta dúvida que Woody Allen quer deixar com os espectadores. Não deixe de ver. "Blue Jasmine" é um filme rico de leituras e discussões como todo bom filme de Woody Allen.(Marco Antonio Moreira)

E O MUNDO NÃO FOI AZUL PARA JASMINE

 
Todo bom cinéfilo sabe que o diretor de cinema Woody Allen é incansável. Como explicar tanta criatividade (e genialidade) com ele já passando dos 70 anos? E Allen faz um filme por ano. Um por ano. Quando acabamos de ver o seu mais recente filme, ele, praticamente já está terminando uma nova produção. E Allen tem sempre alguma coisa muito boa para contar. Seu mais recente trabalho é “Blue Jasmine” que chega a Belém no circuito Cinépolis Boulevard nesta sexta-feira, dia 29. Há uma promessa de que o filme ocupe também o Cine Líbero Luxardo em janeiro de 2014. Mas, se me permitem uma sugestão, o filme tem/precisa ser visto logo, não porque é um Woody Allen, mas porque é um Woody Allen em uma de suas melhores performances. A trama aparentemente é simples. Jasmine, nascida Jeanette (Cate Blanchett) é uma mulher linda e fútil, que vive de festa em festa, de chá em chá, de ganhar jóias exuberantes e peles caras, num oferecimento especial do marido Hal (Alec Baldwin), na bela e sofisticada Manhattan, em Nova York. O marido é um apostador do mundo dos negócios e vive de burlar o Fisco americano. Além disso, (e obviamente) trai a mulher com todas as mulheres mais próximas. Um belo dia, Jasmine assume que, sim, o marido a trai, e o confronta. Ele, sem ter por aonde escapar, confessa não só a traição, mas estar apaixonado pela “outra”. Jasmine nem pensa duas vezes e faz o que toda mulher faz (ou pensa em fazer): se vinga. O problema é que a vingança significa também a bancarrota de Jasmine. Tentando refazer sua vida, Jasmine se muda para a casa da irmã, Ginger (Sally Hawkins) que é o oposto dela, na cidade de São Francisco. Sally é aquilo que os americanos costumam chamar de looser, um conceito tão caro a eles que ser chamado assim é uma grande ofensa. Nessa tentativa de readaptação, Jasmine começa por implicar com namorado da irmã (tão looser quanto ela), mas percebe a necessidade de ser útil, por isso, consegue um emprego e começa a estudar computação, mas evidentemente que não deixará de circular com sua bolsa Hermès, muito menos de usar seu casaquinho Chanel, e nunca, jamais, viajará sem ser de primeira classe, com sua bagagem Loui Vuitton. O que a vida ensinou pra Jasmine após tantos percalços e tantas pequenas tragédias? Em um momento, o espectador acha que haverá uma salvação para aquela mulher tão maltratada, mas ainda assim, essa mesma vida parece dizer que não há mais volta e Jasmine ainda passará por outros momentos que justificam o colapso nervoso que ela teve anteriormente. Cate Blanchett brilha no filme. A trama é dela e Allen consegue lhe roubar uma das melhores interpretações da carreira da atriz. Olhando o horizonte, o dourado do Globo de Ouro e do Oscar estão lá, como a esperá-la. E olha que estamos falando de Blanchett, que já foi tudo no cinema, de elfa a Rainha Elizabeth I, passando por Bob Dylan, e interpretando Katharine Hepburn, o que lhe rendeu um Oscar. Ótima participação também no filme é de Sally Hawkins, que vimos muito bem em “Simplesmente feliz”. Mas são nas perguntas que Allen deixa no ar é que residem todas as questões de “Blue Jasmine”. Como não se abater com perdas? Como lidar quando se perde tudo? Como “sobreviver”? Será que Jasmine vai conseguir? Será que a vida dará uma segunda chance àquela mulher? “Blue Jasmine” instiga, pergunta, questiona e você não ficará indiferente a isso. Um dos grandes filmes deste final de ano. Não perca. (Dedé Mesquita)

domingo, 24 de novembro de 2013

"FRANCES HA"


Em “Lola, Corra, Lola” (1998), o diretor alemão Tom Tyker explora uma situação e a resolução desta – Lola deveria correr para conseguir juntar em 20 minutos, certa quantia em dinheiro a fim de salvar a vida de seu namorado. A narrativa utiliza desenho animado para ilustrar a corrida da jovem em alcançar seu objetivo. A função imediata do tipo era esse e salvando isso, a pressa toda teria fim. Há outro filme, “Simplesmente Feliz” (2008), do inglês Mike Leigh, que trata de uma jovem professora primária, Poppy (Sally Hawkins) cujo toque viisual e caracteristicas pessoais convergem para o transitório e o lado positivo. Em vários momentos ela é vista como irresponsável tratando situações sérias na brincadeira. Ao assistir “Frances Ha” (EUA, 2012) lembrei dos dois filmes, mas identifiquei mais em “Lola...”. Embora os nós narrativos e a argumentação diferissem, há contudo, muito que ver como liames entre os dois tipos. Veja-se que Frances Halladay (Greta Grewig) é uma jovem residente em Nova York que sonha com uma vida independente como bailarina. Enquanto espera uma chance de integrar a equipe de balé onde está agregada e aprendendo novas coreografias ela ensina dança para crianças e divide um pequeno apartamento com a amiga de infância Sophie (Mickey Sumner). Quando a amiga encontra um novo namorado e se muda, ela perambula por outros espaços, chega a voltar à casa paterna, passa uns dias em Paris, mas prossegue sonhando com o seu ideal mesmo que seja preciso trabalhar como garçonete para se manter sem precisar de voltar de vez para a família. Mas é nessa circulação entre o sonho de ser contratada para um trabalho estável e a de se manter numa parceria permanente numa determinada moradia, de preferencia com a amiga de infânacia é que reside a ansiedade da jovem, transposta para a maneira de ela ser vista com aquele temperamento sempre a procura de algo, sempre angustiada por conseguir manter a custa da amizade, a proximidade com a amiga de infância. O titulo do filme deriva da dificuldade de Frances colocar todo o seu nome na portaria de seu prédio. Mas não é só isso: é o enquadramento de um temperamento imediatista que pretende viver a vida que escolheu para si sem esmorecer, sem retroagir e sem perder a esperança em buscar seus objetivos, sempre mantendo um temperamento alegre e em grande movimento, em velocidade que angustia o próprio espectador. Com uma narrativa simples, criada por Noah Bumbach, diretor de “Lula e a Baleia”(2005) e “O Solteirão”(2010), títulos que chegaram por aqui embora só em vídeo, “Frances Ha” expressa um tempo de buscas de uma juventude que está às voltas com o provisório, mas ligadissima em afetos duradouros. O filme foi mencionado entre os melhores do ano pelo Casting Society of America e a atriz Greta Grewig ganhou elogios de toda a critica norte-americana (e europeia) sendo comparada, no tipo que representa, a uma figura criada por Woody Allen. Greta atuou em “Para Roma com Amor”(For Rome with Love, 2012) interpretando a personagem Sally. O que interessou ao roteiro do diretor e da própria Greta foi a pintura da personagem principal, a “maluquinha” norte-americana que vive correndo pelas ruas acreditando que o seu ideal vai se concretizar contra todas as adversidades possíveis. E isso o filme consegue mostrar bem, usando o preto e branco e uma movimentação de câmera, seguindo-se a dinâmica de uma edição, e os desempenhos excelentes do elenco. É interessante observar que os pais de Frances são interpretados pelos pais de Greta na vida real, assim como Mickey Sumner (que interpreta Sophie) é filha do cantor Sting, e que Chalotte d’Amboise (que interpreta a chefe da companhia de dança) é uma famosa dançarina da Broadway, filha de Jacques d’Amboise, que foi astro do New York City Ballet e um dos intérpretes do filme de Stanley Donen em Sete Noivas para Sete Irmãos (1954). O diretor é sobrinho de Barbara Turner e do falecido ator Vic Morrow. Esse elo familiar pode ser observado na felicidade com que se mostra o cenário. A Nova York do filme lembra um pouco a Manhattan de Woody Allen e a lembrança de Allen se faz sentir em todo o conjunto. Certamente porque os autores são muito ligados, ou melhor, sabem compreender a cidade. E ela serve muito bem à pintura do tipo principal, não esquecendo a sua posição numa geração da virada do milênio, só deixando pensar na facilidade com que a personagem se movimenta a ponto de viajar pela Europa por poucos dias e voltar ao seu país sem ter muito dinheiro em caixa. Mas até aí serve a “ginástica” de Frances, tentando realizar seu sonho com o pouco que recebe de uma devolução de imposto. Um filme atraente, e que nos chega através de sala alternativa. Está em cartaz no Cine Libero Luxardo em horário regular dessa sala.(Luzia Álvares)

"AMOR PLENO" DE TERRENCE MALICK




O cineasta Terrence Malick pensa o cinema como uma arte com caminhos ainda a serem explorados e provavelmente por isso seu trabalho pode ser interpretado de várias formas, agradando ou não crítica e público. Mas não se pode deixar de perceber que sua intenção como artista é de desafiar o espectador com seus temas e meios de fazer um cinema de exploração, de investigação. O cinema de Malick nos leva sempre a busca do equilíbrio do homem com relação a natureza, elemento real e significativo que prova a sua existência através da sua beleza e complexidade, como se esse fosse o início de uma outra vida, uma outra harmonia, um outro padrão de descoberta humana. Seus filmes direta ou indiretamente revelam esta busca através de histórias de amor, de conflitos, de dúvidas, de perguntas e respostas.
Desde os primeiros filmes de Malick, “Terra de Ninguém”(1975) e “Cinza do Paraiso”(1978), esta busca já tinha sido revelada de forma intensa evoluindo progressivamente até “A Árvore da Vida” (2011) quando o diretor reforçou não somente este seu caminho como artista como também elaborou uma estética cinematográfica única para suas histórias criando uma narrativa muito pessoal para o seu tipo de cinema. A câmera de Malick acompanha seus personagens como se fosse algo místico, uma alma, uma entidade, uma testemunha em comunhão com a natureza, com os personagens e com uma religiosidade que cerca à todos em seus dramas, caminhos, escolhas, encontros e desencontros. A narração dos personagens, dividida constantemente com o espectador, cria uma intimidade clara e proposital. É como se nós fossemos estes personagens de alguma forma. E essa intimidade, esta forma de narrar seus filmes redimensiona seus temas principais: o amor, a fé, a religiosidade, o ser ou não ser e a eterna busca por respostas.
Todos estes temas estão em “Amor Pleno”, onde o cineasta atinge uma maturidade extrema e constrói seu filme/arte com uma maestria, personalidade e sensibilidade raras no cinema de hoje. “Amor Pleno” é filme que em diversos momentos emociona, conquista e espanta com tanta complexidade, exigindo do espectador uma outra postura no seu entender, causando um sentimento de que esta se vendo mais do que um filme mas sim a uma obra de arte. E como em toda obra de arte, merece ser pensada, sentida, refletida, nunca deixando o espectador indiferente. Malick faz um cinema de reflexão e cabe ao espectador seguir ou não sua proposta.
Por essas razões Terrence Malick faz o tipo de cinema que me interessa. Um cinema de exploração, de reflexão, de busca e de elevação do próprio significado do cinema como arte no mundo de hoje. Para muitos, isso pode parecer muita pretensão mas na realidade, Terrence Malick é um grande artista que felizmente escolheu o cinema para expor seu talento. Sorte nossa que admiramos e cultuamos o cinema que ainda prova que pulsa com o talento de cineastas como ele. (Marco Antonio Moreira)

"AMOR PLENO"



O diretor Terrence Malick é um raro exemplo de autor de cinema dentro do esquema industrial de Hollywood. Em 45 anos realizou apenas 10 filmes (3 ainda em fase de edição). Arredio às homenagens que vem recebendo desde seu primeiro longa-metragem, ”Terra de Ninguém”(Badlands, 1973), ultimamente enveredou por uma linha de introspecção, procurando seguir o dificil caminho de traduzir em imagens os seus (ou de seus personagens) sentimentos. Assim criou, há dois anos, o excelente “A Árvore da Vida”(The Tree of Life, 2011) onde procurou dimensionar a vivência de suas personagens a partir da criação do universo. Agora, em “Amor Pleno”(To The Wonder, 2012), segue adiante e procura realizar um filme sobre o amor. Não um romance ou um enfoque científico sobre o relacionamento de duas pessoas. O que interessava era traduzir “amor” em imagens. O argumento trata de Neil (Bem Affleck) e Marina (Olga Kurylenko), um casal que se apaixonou na França e se mudou para uma pequena cidade de Oklahoma (EUA), levando a filha dela. A paixão acaba se restringindo com o tempo e quando Marina é obrigada a retornar para a Europa depois de se extingir o visto de permanência na America, ele encontra uma antiga namorada com quem inicia um novo contato. Paralelo aos conflitos do casal, um padre passa por uma crise de fé, a filha de Marina repele o possível padrasto e prefere se mudar para a casa do pai biológico de quem a mãe estava separada há muitos anos. Observam-se, então, dois blocos expressivos sobre esse argumento. No primeiro, as sequencias do envolvimento emocional que leva às declarações de amor, pelo par, são marcadas por imagens da água corrente em todas as dimensões que esta possa ser mostrada brotando na natureza. No segundo, a decadência da relação de amor influenciada pelas mudanças do próprio ambiente com vistas ao recomeço a partir dessas mudanças, explora imagens percorrem terrenos áridos, matas, “em terra”. No ambiente da igreja vê-se um padre questionando a fé que está perdendo. Ou seja, esse subplano será tratado nesse segundo bloco. Se a linguagem fosse linear, ou seja, se o relacionamento dos personagens fosse narrado de forma explicita, apresentando um começo, meio e fim, o filme seria mais um programa comercial na linha do melodrama que de alguma forma fez escola na indústria cinematográfica. Mas o que Malick pretendeu foi mostrar através da brilhante fotografia de Emanuel Lubeski (e da música incidental de Hanan Townshend) a imagem do amor. Seria, por exemplo, o enfoque da paisagem em meio ao envolvimento do casal em gestual de abraços ou correndo por um campo ou uma praia. Malick deve ter pensado que o que amantes guardam de seus melhores momentos de união passa pela comunhão com a natureza. Não à toa que os poetas buscam na paisagem os seus versos mais comunicativos. Mostrar o “amor pleno” e daí partir para o esvaziamento desse amor é a tarefa básica do trabalho. Não satisfeito, o cineasta volta a um tema sempre presente em sua obra: a questão da fé. O padre católico Quintana (Javier Bardem) claudica em sua missão religiosa. Não consegue ver Deus na velha igreja onde trabalha. E ao acompanhar o que se passa com seus fiéis, no caso Neil e Marina, ele questiona mais alto o seu credo. Evidentemente o filme mergulha numa dimensão desafiadora. Basta lembrar os títulos introspectivos de Antonioni ou Bergman. Mas estes autores não tentam “cinematizar” um sentimento, ou seja, mostrar o amor em imagens diretas, como Malick representa o ato de sentir. Um close de Liv Ullman ou um andar de Monica Vitti diz o que se passa com um amante. Mas o que é que elas sentiram? É como se você tentasse, a lembrar de uma comédia que asssisti há muitos anos, capturar o assovio (não o termo, mas o ato). “Amor Pleno” é um raro exemplo de cinema criativo no ato de capturar novas representações. Vê-lo com paciência é engrandecer o espírito. Mas é preciso isso mesmo: paciência e o reconhecimento desse plano de profunda exposição da pulsão humana. Não é cinema digestivo. É uma peça de reflexão e arte.(Luzia Álvares)

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

"CAPITÃO PHILIPS"

Assim como em “Gravidade, “Capitão Phillips” focaliza uma situação. O enfoque não deixa o personagem principal que acaba sendo o alvo de piratas somalis quando navega por mar africano comandando um cargueiro. Phillips é como se diz “nasceu de novo” pois foi refém dos atacantes e varias vezes sentiu um revolver apontado para a sua cabeça. Fazer um filme sobre um fato sem se deslocar desse fato e sem usar o recurso cômodo de narração em off, não é tarefa muito fácil. O diretor inglês Paul Greengrass sabe disso e enfrenta esse tipo de desafio apelando para dois fatores exponenciais: o enquadramento que leve o espectador para dentro da ação e a montagem que exige tomas curtas e movimentos de câmera nada comportados. A técnica é usar de uma linguagem que se pode chamar de jornalística. É como se um telereporter estivesse ali, na cena, registrando o que passa de forma a permanecer incólume. Evidentemente o arsenal técnico precisa de elementos humanos em foco. E os atores são ótimos. Tom Hanks está bem melhor do que em filmes que lhe deram prêmios. E os coadjuvantes somalis deixam forte impressão. São mascaras que espantam. E não se sabe o que fizeram antes em cinema ou teatro,apenas Barkhad Abdi tem trabalhos na TV mas depois de aparecer em “Capitão Phillips”. Diz-se que em criança fugiu com a família para o Yemem quando a Somália sofreu guerra civil. A produção do filme atual acertou cheio em usá-lo. Um dos melhores filmes deste ano. (Pedro Veriano)

"JOGOS VORAZES : EM CHAMAS"

Não li os livros de Suzanne Collins como também não li os de Stephenie Meyer ambas autoras de best-sellers que entraram firmes no cinema comercial. Mas ao ver os filmes, e confesso que só vi todos os de Collins (até agora) pois a mediocridade do universo de Meyer salta em poucos planos, posso dizer que a autora foi além das aparências, vendo um universo real dentro do futurista exposto com o papel gigantesco e opressor da mídia, o culto à imagem e, enfim, o apreço à violência mesmo banhado pelo medo. “Jogos Vorazes”(The Hunger Games) de Collins está em seu segundo livro. Contando com uma direção dedicada de Francis Lawrence mostra uma cidade em tempo a seguir onde o governador é um manipulador da opinião publica através da televisão e o “circo”é oferecido num certame em que casais de distritos são convocados para se matarem ficando o vencedor com um laurel que o povo aplaude como se ganhasse uma copa de mundo. No segundo filme que estreou em Belém, os vencedores do primeiro jogo, Katniss (Jenniger Lawrence) e Peeta Mellark(Josh Hitcherson) são convocados para uma segunda etapa até por ameaça de seus parentes e amigos serem punidos em caso de desistência. Como se viu antes, Katniss ama Gale(Liam Hemsworth), antigo namorado da província onde mora. Por isso consegue que se afaste o casamento que os donos do poder (não à toa “Capital”) pretendem realizar dela com Peeta dentro do programa de abertura da nova porfia. Mas há um entrave: o povo começa a se rebelar contra os mandantes. E um modo de não fazer da moça um ícone rebelde é matá-la durante o jogo. Por outro lado, a revolução contra o despótico Presidente Snow(Donald Sutherland) se arma englobando um novo mandante sanguinário,Pluarch (Philippe Seymour Hoffman). Claro que o filme numero 2 não fecha a historia. Mas cumpre o seu destino de retratar um mundo louco que se formos analisar é produto de quem se ajoelha diante do que os transmissores de pretensas verdades fazem e acontecem, propagando lideres que pagam os custos. Por sinal que as imagens, apesar da menção à tecnologia apontando recursos tridimensionais saindo do nada, não se omitem a arremedos de bigas romanas e saudações que passam pelas ditaduras da idade antiga e dormem nos cultos a Hitler, Stalin e outros monstros da idade moderna. Com isso a autora diz que o mundo se recicla nos instintos bestiais cultivados. Não há como contestá-la. E tem tido sorte no cinema. Os dois filmes “Jogos Vorazes” pulam adiante dos blockbuster saídos de quadrinhos ou arranhões na mitologia grega. Esperemos o terceiro tempo (Pedro Veriano)

"SERRA PELADA"

Quem esperava, como eu, melhor enfoque no novo filme do diretor Heitor Dhalia (do excelente “A Febre do Ralo”) fica decepcionada com o que vê em “Serra Pelada” (Brasil, 2013), o novo filme do cineasta. As tomadas iniciais prometem uma forte dimensão funcional e de conteúdo, com fotos e cenas de arquivo mostrando a “febre do ouro”, no final dos anos 1970, em território paraense. Mas ao serem apresentados os dois protagonistas da trama, Juliano (Juliano Cazarre) e Joaquim (Julio Andrade), paulistas que resolvem enriquecer com base nas noticias que chegam sobre a “mina” nortista, a expectativa começa a declinar. O primeiro é um professor e pai de família que tende a se esforçar por manter uma conduta moral isenta do jogo que opera naquelas circunstancias vivenciadas, enquanto o amigo Joaquim se adapta ao ambiente de camuflagens onde o maior dos pendores é “tirar as diferenças” com o revolver no coldre. As desavenças emergem e entre os dois se instala a desconfiança enquanto a antiga amizade declina. Os atores não conseguem dar corpo aos tipos a que estão encarregados de viver. Um é o estereotipo do hesitante que ora se mostra valente, pensando na esposa grávida que deixou, em busca de dias melhores, mas quase sempre se mostrando indeciso nas fortes decisões tomadas pelo amigo. Este de uma violência bem característica de vilão de western italiano, embora, por suposto, tenha acumulado a ganância pela riqueza que vê, a cada hora, “bamburrar” diante de seus olhos. Com personagens sem muita estrutura, o filme se apega em coadjuvantes como Matheus Nachtergaele e Wagner Moura (este último também produtor e usando maquilagem que o torna um outro tipo, pouco expressivo, a exemplo de outros personagens que já investiu em dezenas de filmes) e na direção de arte. Neste caso, suficientemente capaz de criar em S.Paulo o ambiente de casebres que seria o da locação (visto em poucos planos). Mas, se há um visual interessante, e eu lembrei mais uma vez dos faroestes “spaghetti” na amostragem de tipos sórdidos e sujos, a ideia de fazer aparência realista com a câmera na mão trepidando como se estivesse sendo feita uma telerreportagem em lugar de difícil acesso, destrói o teor dramático e ainda prejudica o olhar do espectador que fica atarantado de ver imagens, com estas passando rápido e sem definição. “Serra Pelada” poderia ser um bom filme mesmo com o argumento que deu margem ao trabalho de Dhalia. Mas se rende a esquema de bandidos e mocinhos e a uma tentativa desesperada de imprimir “cor local”. Nós, paraenses, esperávamos muito mais do que se alardeou como filmagem na terra, sabendo que uma equipe esteve aqui tratando da produção e consequente locação. A rigor, pouco aparece identificável a quem vive em Belem e sabe do que aconteceu próximo a Marabá. O filme poderia tomar outro sentido (é possivel que a longa narração também tenha prejudicado), pois, mostrou a falta de organização da área com riscos à saude de mais de 60 mil homens na escavação para a retirada de pepitas, enquanto os lucros ficavam para os donos das fazendas que procuravam associar-se a esses pobres homens que mesmo naquele mundo de trabalho só ficavam com poucas gramas de ouro. Estão presentes e fortemente enfocados comportamentos que evidenciam a hierarquia dos “senhores donos das lavras” submetendo os garimpeiros, além da baixa qualidade de vida destes. Ao que eu sei o filme tem tido má receptividade local. Creio que só esteja sendo ainda exibido em salas de shoppings distantes do centro, e em poucas semanas de permanência nas salas dos lançamentos mais ambiciosos. Uma pena, e creio que num aspecto global, o filme não agradou a críticos e espectadores. Mas o mercado exibidor local anda com mais razões que a razão desconhece. “Capitão Phillips”, um filme sucesso comercial que ainda ocupa lugar entre os “10 mais” da bilheteria norte-americana lançado em Belém em poucas salas e em poucas sessões, perde para “Thor 2” exibido em vários espaços, em copias dubladas e legendadas. Certo que a garotada é quem paga os custos, pois, ao ir ver seus “heróis” prediletos é acompanhada de pais ou responsáveis que pagam ingresso junto com ela. E “Thor” é outra mina de ouro da Marvel, hoje do grupo Disney. Quer dizer: cinema comércio, sem nada deixar ao espectador na saída.(Luzia Álvares)

ASSALTO EM ALTO MAR



De um roteiro escrito por Billy Ray baseado no livro, "A Captain's Duty: Somali Pirates, Navy SEALs, and Dangerous Days at Sea”, de Richard Phillips e Stephan Talty, o director Paul Greengrass realizou “Capitão Phillips”(Capitain Phillips, EUA, 2013). O filme foi lançado no Festival de Cinema de Nova York este ano. Um dos autores é o proprio personagem que em 8 de abril de 2009, comandando um navio carregado de contêineres, o Maersk Alabama, foi assaltado por piratas somalis e posto refém quando estes procuraram sair do navio com segurança exigindo dinheiro de resgate. O comandante Phillips sentiu a morte de perto. E o roteiro do filme espelhou isso, mas naturalmente, precisava de apoio técnico para dar ao público a emoção da historia que o livro relatou em minucias. Para isso a Sony (companhia produtora) contratou o diretor inglês Paul Greengrass, conhecido pelo ritmo dado a filmes como “Supremacia Bourne”(2004), “Ultimato Burne”(2007) e, especialmente, “Vôo United 93”(2006) este com base no trajeto do terceiro avião sequestrado em 11/09/2001 e derrubado por ação dos próprios passageiros. Na competência que já marcou outros textos, o diretor Grass imprimiu o seu estilo em duas horas e meia de projeção a ponto de o espectador manter-se concentrado durante esse tempo. E o filme tem várias vantagens na área do “thirller”: não evoca um sentido patriótico fatalmente xenófobo, não coloca o personagem como herói de quadrinhos lutando com os adversários, nem endeusa os marinheiros norte-americanos seja pela presteza de atendimento ao sequestro (o público se inquieta com o retardo desse atendimento), seja pelo papel diante dos piratas, sem a pintura simplória de bandidos sanguinários, embora esta marca se revele desde o começo quando os jovens somalis são atraídos pelos chefes em sua cidade. Se o filme não procura se tornar panfletário, fica estabelecido, entretanto, um parâmetro entre a dimensão do império capitalista norte-americano onde a correção e a normatização de tudo é avaliada pelo Capitão Phillips (cf desde a despedida da esposa, a conversa com ela sobre os filhos e a sua chegada e inspeção ao navio) e o recrutamento dos jovens somalis para “ir em busca de dinheiro no mar”, por chefes armados do submundo do país, mostrando a miséria em que vivem, a estrutura física de cada um, o sentimento de presteza ao serviço. Creio que é essa contrariedade que não deixa o filme cair na lógica da propaganda xenófoba sempre ou quase sempre presente em filmes norte-americanos dessa natureza, mesmo com base no fato real. O filme ganhou muito com os interpretes. Tom Hanks está em seus melhores dias e possivelmente um candidato e, quem sabe, vencedor de Oscar, a sua terceira estatueta. Mas expressivos são os somalianos Barkhad Abdi (como Abduwali Muse, o lider do grupo) ,Barkhad Abdirahman (Bilai), Faysal Ahmed (Nakeel) e Mahat Ali (Elmi). Esses jovens são atores amadores e foram contratados mediante seleção prévia na própria Somalia. Suas máscaras impressionam. Um close de Barkhad Abdi suado, confrontando Hanks, não só compara a desproporção física entre os dois, mas define um tipo de tortura empregada contra Phillips. Os detalhes da vida das personagens, como referi acima, tem a ver com a desproporção entre os dois “times em campo”. Da assepsia familiar do Capitão Phillips cujo diálogo com a esposa reflete desânimo na educação de um dos filhos à varredura na área Somália onde garotos esperam algo olhando o mar, comendo capim, miseráveis, à espera de um “trabalho” que vem logo em seguida ao grito de outro capitão, armado, seguro do que quer: dinheiro. Tudo o que é focalizado prende-se à viagem pelo mar africano e o ataque em alto mar. Sabe-se também que os marinheiros, como o comandante, não portam armas. Ficam a mercê dos atacantes que falam arrastamente o inglês. A limitação do campo de ação lembra o que Cuaròn aplicou em “Gravidade”. Nada além do que se encontra numa situação desesperadora. E Greengrass pinta de forma exemplar esta situação usando com propriedade a câmera manual e os closes. Além da fina crítica ao mundo capitalista. Um filme que prende a atenção e ganha elogios espontâneos. Imperdível. (Luzia Álvares)

AMOR PLENO - O ÉDEN REVISITADO DE MALICK



AMOR PLENO - O ÉDEN REVISITADO DE MALICK

Como fã de Terrence Malick que sou, fica difícil comentar sobre seu “Amor Pleno” (To the Wonder/EUA, 2012) sob pena de parecer indulgente demais, porém o que me tranquiliza é que o diretor de filmes como "Terra de Ninguém"(1973), "Cinzas no Paraíso" (1978) e "A Árvore da Vida" (2011) nunca foi uma unanimidade do cinema. Neste “Amor Pleno”, Malick mostra sua visão muito pessoal (e com toque autobiográfico) sobre o amor e suas contradições e tenta esmiuçar o significado dele através de seus personagens. Se no anterior “A Árvore da Vida”, Terrence Malick também discorreu sobre o tema amor e perda, neste seu “to the wonder” - numa tradução livre algo como “até a maravilha”- , ele volta ao assunto e propõe uma releitura do Éden mas sem cair no óbvio. Nos primeiros minutos do filme ainda sentimos a mesma atmosfera da sua “árvore”. É inevitável o aparente dejá vu no espectador, porém Malick não se repete, pelo contrário nos surpreende com o dilema do casal protagonista e do padre em conflito com a própria fé. Os enamorados passeiam por lugares de paisagens oníricas e de beleza ímpar. Parecem onipresentes através dos sucessivos takes rápidos e com edição ágil. Não é casual a escolha do Monte Saint-Michel como locação - a construção milenar, lugar-símbolo da cultura cristã ocidental erguido em homenagem ao arcanjo Miguel. A belíssima trilha sonora (com temas de compositores clássicos consagrados) embala o paraíso amoroso dos personagens reforçando a ideia de um jardim de delícias para o casal Neil (Ben Affleck) e Marina (Olga Kurylenko) que se conhecem em Paris, ponto de partida do amor entre ambos. No entanto, esse mesmo amor é colocado à prova com a convivência e as contingencias da vida a dois. A dúvida e a insegurança de ser estrangeira no país do companheiro fragilizam a relação entre Marina e Neil. Paralelamente, o conflito de convicções do padre Quintana (Javier Barden) expressa a sua busca pelo amor divino em meio à miséria humana e social .Suas boas obras e o exercício de misericórdia parecem insuficientes como demonstração de sua fé em Deus. É nesse contexto que o amor divino e o amor humano são colocados como discussão principal do filme. Interessante também notar a presença de elementos que remetem à narrativa bíblica do pecado original: a outsider Anna (Romina Mondello) surge de repente na história como a voz astuciosa que incita Marina a provar mais da liberdade, do sonho e do prazer de ser o que quiser, logo as consequências são desastrosas para esta. A própria caracterização do pecado da luxúria denota a ausência do belo. A natureza se degrada, o domo celeste que envolve o mundo perfeito quebra e se desfaz como no Éden. Todavia, a solução para o conflito ocorre através do perdão como forma de redenção para que o mundo e a ordem se restabeleçam – aspecto recorrente nos roteiros de Malick. É inegável que o filme dialoga com alguns trechos bíblicos e em consequência disso a abordagem de Terrence Malick sobre o amor corre o risco de ser equivocadamente taxada de limitada pelo seu forte teor cristão e ocidental. A temática é universal, atinge a todos independente de religião ou da falta dela. Não se esgota e deixa margem para outras reflexões. Cinema espiritual ou metafísico? Na verdade o amor pleno de Malick não é apenas um “filme cabeça” por assim dizer, vai muito mais além. É um filme para ser sentido e visto com os olhos do coração e não somente com a razão. (Elias Neves)

domingo, 3 de novembro de 2013

"GRAVIDADE"

Duas maçãs entraram na lenda: a de Adão(ou da Eva) e a que caiu na cabeça de Newton. Esta última teria sido a musa da Lei da Gravidade. Para quem não lembra da aula de Fisica, “a matéria atrai matéria na razão direta da massa e na razão inversa do quadrado da distancia”. Certo? No filme “Gravidade”(Gravity), ora em cartaz mundialmente, a lei ganha o titulo mas é jogada no espaço com certa liberdade estilística. Um exemplo em cinema: no clássico “Destino à Lua”(Destination Moon/1949) de George Pal & Irving Pichel, os dois astronautas que consertam uma antena de sua nave jogam um para o outro uma garrafa de oxigênio. A garrafa cai. Isto deu bode na critica. De fato não deveria cair pois no espaço não há queda (pois não existe chão). O rigor seria a garrafa ficar flutuando perto dos personagens, pois ela (matéria) seria atraída por eles. Bem, no filme de Alfonso e Jonas Cuaron a dra.Ryan(Sandra Bullock) está de fora de sua estação orbital junto com o colega Matt (George Clooney) quando estilhaços de uma nave chegam a eles e rompe-se o cordão que os prende ao objeto de trabalho(a estação). Há um impulso e os dois são arremessados para longe. Aí cabe o arremesso devido à força inicial. À deriva, pois distam muito dos objetos maiores, os dois estão condenados à morte quando parar oxigênio dos capacetes ou furar as vestes (qualquer descompressão mata na hora e o filme mostra um colega deles mumificado por desgaste nos trajes espaciais). A salvação dos heróis da história é conseguir chegar a um engenho chinês que existe nas proximidades (alguns quilômetros). Para isso usam propulsores anexos aos trajes. Tudo OK. Mas difícil num plano real até porque o estresse desgasta e por mais treinado que seja o astronauta ele, ao consumir demais oxigênio, tende a “pregar” no caminho. Kubrick em “2001” mostrou um dos tripulantes de sua nave espacial desprendendo-se e sumindo no espaço por conta da artimanha do robô Hall. Nem se cogita em ir atrás dele. O robô deu o impulso. E quando o outro astronauta consegue reentrar na sua nave há um brevíssimo momento de abertura da escotilha, impulso, choque de áudio e rápido fecho da mesma escotilha conseguindo evitar(de forma cientificamente discutível) o efeito da descompressão. Aqui, em “Gravidade”, a jovem medica consegue abrir com suas mãos a comporta de entrada da estação objetivada e entrar sem problemas. Ficção, mas perdoada, assim como o seu regresso a Terra numa fantástica reentrada na atmosfera em uma parte da nave-mãe e sua queda no mar com fôlego para emergir e chegar à uma ilha não importa de banque uma Robinson Crusoé feminina. Não importa porque o filme é mais do que uma aventura no espaço. Cuaron pinta a sua mocinha de mãe sofrida pela perda da única filha. Há um momento em que ela, já na estação chinesa, vê o colega considerado morto chegar, entrando sem dar bola para a descompressão e sentar-se ao lado dela. A rigor a mocinha morreria. Mas é um parêntesis poético. Os dois falam de suas vidas, Sem o recurso cômodo do flashback ai se fica sabendo quem é quem. Vários planos da Terra (diga-se fotos reais) são comentados por sua beleza. De fato impressiona como um crepúsculo ou uma aurora permanente no tom azul. Lá no cenário negro onde estão o casal astronauta procura esquecer o perigo no trabalho. Mas ainda assim comenta a visão do mundo-mãe. “Gravidade”é sobre isto: o ser humano fora de seu ambiente, percorrendo o que está além de seu “habitat”,dimensionado na pequenez que se lhes dá a situação. Chega a haver uma legenda à guisa de prólogo dizendo que no espaço o homem não pode viver. Teimoso, tenta isso e ir além. A conquista cientifica arranha a sensibilidade e quem no fim das contas está invadindo o espaço é literalmente estranho no ninho. E para quem apenas o vê, um objeto de admiração como um poema. No ser vivo em um silencio de morto está toda a grandeza anímica, toda a maravilha que é a pessoa física com seu tesouro psíquico. Poucos filmes se contentam só com isso:só com duas pessoas vagando no espaço. Os Cuaron jogaram forte no que se pode ver como thriller cientifico ou um pouco além. Ganharam. “Gravidade”é o filme do momento.(Pedro Veriano)

ANOS DE CRÍTICA

Eu comecei a escrever sobre cinema em um “jornal”(vale as aspas)que editava em casa objetivando os familiares. Melhor dizendo: “os jornais”(primeiro “Gipsia” depois “O Raio”). Em 1953 o depois deputado Raimundo Noleto, que morava em casa, estimulou-me a comentar no jornal “O Estado do Pará” o filme “O Cangaceiro” de Lima Barreto(assunto de todas as rodas). Depois disso um dos diretores do SESC no tempo em que meu pai (Pedro de Castro Álvares) presidia a entidade dos comerciários, José Maria Alves da Cunha, pediu-me um texto sobre um filme de capa-e-espada em cartaz no Olímpia. Publicaram em “Folha do Norte”. Passa o tempo, chega o Cine Clube Os Espectadores de Orlando Costa e meu cineminha, o Bandeirante, servindo de palco para as previas dos filmes, passei a colaborar na coluna de Acyr Castro em “A Província do Pará”. Na mesma época mantive uma coluna em “O Estado do Pará” com um vizinho chamado Fernando Mendes.Em 1966, com a mudança de Acyr para S.Paulo, passei a assinar a coluna diária que mantive até fechar o jornal em 2001. Quando em 1962 os críticos de cinema que mantinham espaço nos jornais da cidade resolveram criar uma associação de classe, eu presenciei tudo sem tomar parte na diretoria. Só em 1966 entrei nisso e como presidente. Por anos a fio o interesse dos jornalistas associados pelo cinema só se reuniam para votar os melhores filmes do ano. A eleição transformou-se numa festa natalina. E persistiu nas diretorias que se seguiram pelas décadas. Em um ano, com Luzia na presidência, a APCC ganhou uma sede. O espaço abrigou um curso de historia e linguagem cinematográfica e de uma feita recebeu o cineasta Joaquim Pedro de Andrade que viera a Belém pensando em filmar a trajetória de Oswald de Andrade (afinal o filme “O Homem do Pau Brasil”). No século XXI Marco Antonio Moreira assumiu a associação e tornou-a entidade registrada (com CPF). Nesse tempo todo escrever sobre filmes irmanou-se a exibir filmes.O Cine Clube APCC, criado em 1° de Novembro de 1967, durou até 1986 quando surgiu o Cine Libero Luxardo (Centur).Eu que programava o clube passei a programar o novo cinema daí achar que a missão prosseguia. Na época de cineclube exibia-se filmes em varias localidades e muitas vezes de forma simultânea (Cine Guajará. Grêmio Português,Faculdade de Odontologia- tudo no mesmo dia e hora). Meio século dessa aventura é de alguma forma confortante. A mim cabe dizer que satisfazia um desejo de “passar cinema”. E escrever sobre cinema. No trajeto andei filmando em 16mm e por duas vezes arranhei a área profissional(um documentário para o USIS e um roteiro para o Libero Luxardo). Bem, hoje faço vídeo e tenho este blog. Também colaboro com as sessões da hoje ACCPA com vídeos de meu arquivo maluco (um bando de discos que nem sei mais quais são). Não devo parar enquanto tiver forças. E olhos para ver imagens em movimento. (Pedro Veriano)

" A BELA QUE DORME"

 A jovem italiana Eluana Englaro foi acidentada e passou 17 anos em coma. Lutou-se pela eutanásia, ou seja, o direito de seus familiares liberarem o desligamento dos aparelhos que a mantinham viva. Uma luta que o cinema já focalizou a exemplo do excelente “Mar Adentro” (2004) de Alejandro Amenábar. Mas o diretor Marco Bellocchio (“De Punhos Cerrados, 1965”) foi demais abrangente no seu “A Bela que Dorme” (La Bella Addormentata, Itália, 2012) ora em cartaz por aqui. Utilizou-se do documental e da ficção. Focalizou não só o caso de Eluana como também 3 outros, detendo-se no da jovem que a mãe, uma artista muito religiosa estava à espera de um final feliz para sua filha comatosa (contra um dos filhos que desejava “libertar a irmã”), o de um senador liberal obrigado pelo partido a votar contra a morte assistida (embora em seu passado escondesse um ato de eutanásia da esposa que pedia, no leito de hospital para morrer), e o de uma jovem usuária de drogas que tenta suicidar-se sendo impedida pelo médico avesso à eutanásia. Ao tentar, na segunda vez esse gesto a jovem suicida retém o impulso preferindo uma segunda chance. O caso de uma pessoa com morte cerebral foi abordado pelo parlamento italiano com a veemente condenação à situação da eutanásia a pacientes terminais (o filme apresenta uma sequencia de documentário televisivo em que se observa a opinião do então Ministro Silvio Berlusconi). Um mural sobre um tema sempre instigante (eutanasia e morte assistida) poderia funcionar desde que se dirigisse a um estudo das próprias contradições em torno. Por exemplo: o senador que é a favor da eutanasia, mas tem que votar contra, numa imposição partidária, contrapondo-se à opinião de sua filha, católica fervorosa, que por sua vez se relaciona a um colega combatente pelo direito do doente em optar pela morte. O que se vê no filme é uma amostragem de casos sem que o roteiro (do diretor e mais Verônica Raimo e Stefano Rulli) adentre pelo problema focalizado seja dos pontos de vista social ou religioso desses dois tipos de morte. Pende entre as opiniões dos favoráveis e dos contrários à morte dos doentes terminais, o que não quer dizer muito (ou nada) sobre o motivo da tomada de posição diante do assunto e de como a ciência e a espiritualidade veem o/s caso/s. Do “Caso Eluana” restam cenas de velas e flores colocadas pelos populares no muro do hospital onde a jovem está internada (e morre ao serem os aparelhos desligados). É um contraponto para discutir a eutanásia noutros parâmetros, opção não explorada a contento por Bellochhio. Haveria um enfoque mais profundo sobre os jovens céticos e os religiosos como o padre que leva os sacramentos à moribunda sendo expulso do quarto da paciente, pelo médico. O que parece interessar, talvez, pelo desempenho do sempre correto Toni Servillo, é o caso do tipo que representa (o senador), de comportamento aparentemente paradoxal entre votar contra algo que já viveu anos antes. E nesse ponto há um momento muito bom dele encontrando a filha na estação ferroviária e ela pedindo para ler o discurso a ser proferido por ele no senado contra a opinião da maioria que se mostrava a apoiar a proibição de desligar aparelhos para deixar morrer certos pacientes (quando acontece o óbito de Eluana e ele não precisa usar o que pretendia em plenário). Este homem teme a reação da garota por suas palavras que se chocam com o modo de pensar que ela tem, amparada na religião. Não é possivel conhecer mais a fundo a reação da personagem em sua totalidade, como expressão também dos outros casos apresentados. O filme tenta jogar os argumentos para a plateia “decidir”, mas nada disso possui substância bastante para mudar conceito determinado por parte do espectador. O cineasta não prega uma conciliação entre partidários e contrários ao que se tem como “direito de morrer” e também não se toca no caso de Ramon Sanpedro que foi a base do argumento do filme de Amenábar chance de um desempenho excelente de Javier Bardem. “A Bela que Dorme” ganhou 5 prêmios internacionais incluindo o de melhor diretor no Festival de Veneza. Bellochio esteve bem melhor em “Vincere”(2009) sobre Benito Mussolini, chegado por aqui só em DVD.(Luzia Álvares)

"FERRUGEM E OSSO"

Adaptando o conto do canadense Craig Davidson, o cineasta francês Jacques Audiard aborda, no seu filme “Ferrugem e Osso”(De Rouile et Os, França, 2012) a história de Ali (Matthias Schoenaerts) um boxeador desempregado que precisa brigar em lutas clandestinas para sobreviver após uma lesão. Ele vai da Bélgica para a França hospedando-se na casa de sua irmã e procurando dias melhores para o filho de pouca idade. Quando conhece, em uma briga de bar, a jovem Stephanie (Marion Cottilard), funcionária de um aquário público, a situação ganha um novo caminho. Nasce um romance, mas a jovem que treina orcas sofre um acidente dentro do aquário, tendo as duas pernas devoradas pelo animal. Daí em diante, o pugilista belga ao invés de diminuir seus encargos acha outro: há de cuidar de si, do filho e da namorada. “Ferrugem e Osso”(De Rouile et Os, França,2012) é um filme do diretor de “O Profeta” (2009), Jacques Audiard, vencedor de 21 prêmios e recebendo 33 indicações em mostras internacionais de cinema. Marion Cottilard, ganhadora do Oscar por “Piaf” (2007) chegou a ser indicada ao Globo de Ouro pela personagem. É de supor que o resultado do trabalho tenha sido demasiadamente aplaudido. Além dos bons desempenhos da dupla principal há pouco a se ressaltar na odisseia dos personagens. Impressiona, sim, o efeito especial utilizado para mostrar as consequencias do acidente da jovem atacada pela orca que ficou sem as duas pernas. Mas não se trata de um filme sobre um acidente. O que o roteiro do diretor e de Thomas Bigani com base numa historia do estreante Craig Davison quer ver é o que sentem as figuras expostas, como se dá um recomeço na vida de alguém que perde alguns dos objetivos de vida no campo pessoal e profissional. E para isso se vale da fotografia de Stéphane Fontain, da música de Alexandre Desplat e das locações apresentadas sem a preocupação turística, além do desempenho magistral de Marion Cottilard. Tudo , no entanto, sem deixar os traços de um melodrama que não se furta até de um “happy end”. Para tanto, a narrativa é acadêmica, nunca muito fria ou propositadamente distante do que tende a contar. “Ferrugem e Osso” repousa na reconstrução de suas principais personagens. Uma é reconstituição moral, outra física. As duas pessoas se unem por traumas nessas configurações. Compreende-se isso, ganhando maior dimensão quando Ali supreende o filho mergulhado no mar gelado ao passear de trenó com ele, e no modo como se desespera com o acidente desfazendo a imagem que o mostrou indignado com o menino dizendo que “o odeia”(momento de raiva momentânea, produto de sua dificuldade em se manter sem precisar do auxilio da irmã que, alem dos problemas de família é despedida do emprego de caixa de um mercado). Mesmo tratando de um quadro dramático intenso, Audiard não busca de linguagem introspectiva que afinal se faria sentir dentro dos casos traumatizantes. A vantagem, se é que assim se pode chamar, é que o talento dos interpretes obstrue um melodrama em potencial. Mesmo que o epílogo ceda espaço a um momento afetivo que, a meu ver não pode faltar naquela amalgama dolorosa de duas vidas que sucumbiram e renascem. Ao assistir “Ferrugem e Osso” e avaliar o drama de quem sofreu sérias adversidades contribuindo para a dependencia física e afetiva desses tipos, comparei a outro caso que tive acesso esta semana, da morte em vida de uma familia – mãe e irmãs – que perdeu seu filho e irmãos de forma trágica. Lastimei sinceramente essa situação e lembrei que as familias de Santa Maria (RS) poderiam estar nessa mesma situação, alguns com a morte de todos os filhos. Este parágrafo reflete minha associação entre o filme e o caso real. Marion Cottilard e Mathias Schoenaerts provam seus talentos em personagens difíceis de serem interpretadas no tipo de linguagem que foi explorado pelo diretor. Estiveram entre os premiados merecidamente. (Luzia Álvares)

"GRAVIDADE" SURPREENDE



"Gravidade" é uma boa surpresa. É um "blockbuster" que prova que é possível ter um roteiro inteligente para conquistar o grande público com um alto orçamento de milhões de dólares investidos numa produção inventiva e com ótimos efeitos especiais. O filme tem uma história bem simples. Uma cientista, durante uma missão, acaba perdida no espaço e tem que usar todo seu conhecimento para sobreviver. Sem muito otimismo, a personagem vai passo a passo conseguindo seu objetivo. Ótima cenas conquistam o interesse do espectador. O filme tem poucos diálogos, buscando uma relação mais visual com a história. O diretor Alfonso Cuarón (que dirigiu o bom "Filhos da Esperança") mistura bem momentos de reflexão da personagem com sequências espetaculares no espaço, respeitando a complexidade da história e não exagerando dramaticamente em certos momentos fundamentais, particularmente com o desfecho da trama. Vale a pena conferir. Pode ser um dos candidatos ao "Oscar" mas de preferência, deve-se valorizar os méritos do diretor que realmente soube equilibrar forma e conteúdo, numa história de sobrevivência que pode/deve servir de metáfora para os caminhos do homem neste longo século XXI.(Marco Antonio Moreira)

"A CAÇA" EM DVD



Filme bom para ser conferido em dvd : "A Caça" de Thomas Vinterberg. Produção dinamarquesa com ótimo desempenho do ator Mads Mikkelsen. O filme se ambienta numa cidade do interior da Dinamarca em vésperas de Natal. Um professor do jardim-de-infância é injustamente acusado de agressão sexual a uma aluna e passa a ser alvo de perseguição por toda a comunidade antes de qualquer prova e sem poder se defender apropriadamente. O filme foi exibido no Festival Internacional de Cinema de Toronto (2012) e competiu no Festival de Cinema de Cannes daquele ano quando o ator Mads Mikkelsen foi premiado. Filme sério que gera reflexões importantes sobre sociedade atual.(Marco Antonio Moreira)

FESTIVAL DE 50 ANOS DA ACCPA

FESTIVAL DE 50 ANOS DA ACCPA 
Comemorando os 50 anos de atividades da ACCPA, uma das associações de críticos mais antigas do Brasil, será realizado um festival de filmes no cinema Olympia, de 01 à 07/11. Foram escolhidos 5 filmes representativos de cada década de atuação da associação.
Confira a programação :



 DIA 01 - "A BALADA DO SOLDADO" de Grigori Chukhrai (anos 60)

 
 
DIA 03 - "LARANJA MECÂNICA" de Stanley Kubrick (anos 70)
 

 DIA 05 - "A ROSA PÚRPURA DO CAIRO de Woody Allen (anos 80)
 

DIA 06 - "ASAS DO DESEJO" de Win Wenders (anos 90)
 

DIA 07 - "ARCA RUSSA" de A. Sokurov (anos 2000)

CINE OLYMPIA
Sessão às 18:30 h
Entrada Franca

CINECLUBE DA ACCPA - PROGRAMAÇÃO NOVEMBRO/2013

CINECLUBE DA ACCPA - PROGRAMAÇÃO NOVEMBRO/2013
 

CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA (IAP) - 19H
Dia 11 - FELLINI OITO E MEIO (1962) de Federico Fellini
Dia 25 - OS ESQUECIDOS (1950) (foto) de Luis Buñuel
*debate após a exibição

SESSÃO CULT - CINE LÍBERO LUXARDO
DIA 09 - O JOVEM FRANKENSTEIN (1974) de Mel Brooks - 16H
DIA 23 - O HOMEM DO PREGO (1964) (foto) de Sidney Lumet
*debate após a exibição

CINE OLYMPIA - PROJETO CINEMA E MÚSICA
DIA 12 - A GAROTA QUE FICOU EM CASA (1919) de David Griffith
*acompanhamento musical ao vivo

CASA DA LINGUAGEM (FUNDAÇÃO CURRO VELHO) - 18H
DIA 28/11 - ANATOMIA DO MÊDO (1955) de Akira Kurosawa (parceria com a APC)



ENTRADA FRANCA

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