domingo, 1 de dezembro de 2013

"BLUE JASMINE" MOSTRA WOODY ALLEN EM GRANDE FASE COMO DIRETOR E ROTEIRISTA



Woody Allen sabe o que quer dizer e como dizer quando faz um filme. Afinal, com a experiência de quem trabalha a mais de 40 anos no cinema como roteirista e diretor, ele já adquiriu um estilo próprio e uma incrível segurança no escrever e filmar que ainda me impressiona e revela novas reflexões. Seu novo filme, "Blue Jasmine", traz uma galeria de personagens típicas da sua obra que mostram os erros, acertos, decepções e o instinto de sobrevivência de ser humano. E o que pode parecer uma simples comédia dramática, se transforma numa obra complexa, repleta de leituras. É fantástico o poder de síntese de Allen ao apresentar tantos assuntos interessantes em poucos personagens, tornando seus filmes sempre tão atuais, especialmente quando trata da busca de identidade de seus personagens. A personagem principal, Jasmine, interpretada magistralmente por Cate Blanchett numa atuação antológica, é uma mulher que vê seu rico mundo financeiro se quebrar quando seu marido é descoberto em uma série de irregularidades financeiras (personagem provavelmente inspirado na recente crise econômica que viveu os EUA) e a partir disso é obrigada a se reconstruir buscando ajuda na irmã que é muito diferente do seu jeito de ser e ver o mundo e que nunca deu muita atenção. E essa reconstrução vai se transformando numa odisseia de dor, graça, mentiras e fantasias que acaba deixando o espectador como uma impotente testemunha diante de tanta ingenuidade/loucura/insegurança desta frágil e ao mesmo tempo forte personagem. Afinal, Jasmine tem que mudar mas continua a mesma sonhando os mesmos sonhos, mantendo as mesmas esperanças e mentiras ao ponto de querer ter um novo relacionamento no mesmo modelo de seu casamento que fracassou pela mentira e fantasia que ela mesma criou em torno de si. Jasmine é uma personagem em busca de algo mais desde pequena (como todos nós) mas não sabe exatamente o que. É uma personagem extremamente humana que revela o tempo todo sua insegurança e vai se acostumando com as coisas/pessoas mesmo quando confrontada pela realidade. E mesmo quanto tem que se reconstruir, repete suas fragilidades e erros. Mas Jasmine aprenderá ? Seu relacionamento com a irmã tão diferente e tão distante poderá causar alguma mudança? Um novo emprego ajudará? Estudar, aprender, compartilhar? Afinal, ser alguém pela primeira vez, é possível? "Blue Jasmine" é um filme sobre como recomeçar mas um recomeçar com uma amargura necessária, não deixando de lado o passado, as dores, os sofrimentos vividos. Afinal, tem que se aprender com os riscos/erros/desastres da caminhada. Mas no final, não sabemos se Jasmine aprendeu. Nunca saberemos e acredito que é exatamente esta dúvida que Woody Allen quer deixar com os espectadores. Ao lado de outros personagens criados por Allen, Jasmine nos acompanhará para sempre por ter muito de nós assim como Cecília em “A Rosa Púrpura do Cairo” e seu eterno sonho de ser feliz. Somos um pouco Cecília, Jasmine. Woody Allen nos lembra disso e como é bom ver no cinema um trabalho tão honesto e emotivo onde podemos ver na tela do cinema muito de nós e de outros. Afinal, como Jasmine já sabe, ser humano é difícil. Para Jasmine, cito aqui a letra de uma bela canção, em forma de pergunta: a lição já sabemos de cor. Só nos resta aprender? Ave Woody Allen.(Marco Antonio Moreira)

"BLUE JASMINE" É UM DOS MELHORES FILMES EXIBIDOS EM BELÉM




"Blue Jasmine" é um dos melhores filmes exibidos em Belém este ano. Prova de que Woody Allen, aos 78(fará dia 1 de dezembro) está em plena forma como escritor-diretor. Com narrativa ágil e inventiva ele constrói um de seus tipos mais densos, devendo o sucesso à sua atriz, Cate Blanchet.
O monologo dessa interprete no final do filme, é de arrepiar. Nesta temporada local só rivaliza com a Emanuelle Riva de "Amor". E eu que já vi tantos filmes ponho as duas entre as melhores interpretações de toda a historia do cinema. Mesmo pensando na Falconetti de "A Paixão de Joana D'Arc". (Pedro  Veriano)

"BLUE JASMINE"




Jennifer teve o nome mudado por sua mãe adotiva para Jasmine (Cate Blanchet) porque esta achava mais condizente com o tipo físico da filha, na versão desta (e confirmação da irmã), com vistas a ostentar uma outra condição social. Pretendente ao casamento com o milionário Hal (Alec Baldwin) abandona o curso de antropologia que estava para completar e divide o tempo entre promoções sociais e o deleite em suas propriedades onde o tom elegante e clássico define o tipo de classe social dos moradores de uma parte de Manhattan. Quando esta figura grã-burguesa não tem como continuar imaginando que desconhece as traições do marido, ela que convive com a corrupção alimentada por ele em seus negócios vê-se de uma hora para outra perdida pelas contingências que o levam à prisão e o confisco dos bens do casal. Como último recurso só tem um caminho: solicitar hospedagem à irmã Ginger (Sally Hawkins) que mora modestamente em S. Francisco, separada do marido e com dois filhos para criar. Este é o enredo, em síntese, de “Blue Jasmine” (EUA, 2013) o novo filme que Woody Allen escreveu e dirigiu sem atuar. E demonstra o quanto o veterano realizador mantém a criatividade e o apuro estético além do desempenho na direção (Allen fará 78 anos no próximo dia 1° de dezembro e já está na fase de pós-produção de seu 49° filme,”Magic in the Moonlight”). A narrativa começa com a viagem de Jasmine de Nova York para São Francisco, para a casa da irmã. Um plano de avião que denuncia miniatura passa para um close da principal personagem (Cate Blanchet) numa poltrona conversando com uma senhora que está ao lado. Depois, quando se focaliza o desembarque e a despedida das duas mulheres, um rápido dialogo da passageira idosa com o também idoso que lhe espera conta o que está acontecendo com Jasmine: “ela estava falando sozinha e eu perguntei o que era e ela começou a falar de sua vida sem parar...” Na casa da irmã, Jasmine custa a se acomodar em um plano social diverso do que usufruiu (para ela um meio “miserável”) e a narrativa passa a abrir espaço para cenas do passado da personagem. Daí em diante vê-se uma invasão de “flashbacks” sem que se pontue as intercessões com as velhas cortinas escuras, desfoques ou mesmo seguindo a fala de alguém em off. O filme inteiro é pontuado por viagens no tempo, montando um quebra-cabeças que vai definindo não só Jasmine/Jennifer como a irmã e os homens que aparecem em suas vidas. Embora se possa ler a narrativa de 98 minutos de um só fôlego, vê-se que Allen não explora uma pontuação linear visto as rupturas através dos flashbacks tornarem dinâmica essa configuração. Em cada momento é notório um fato novo despertando o espectador para a construção do tipo de Jasmine. Se em dado momento ela que está aprendendo a conviver com as regras de uma classe social inferior à sua assumindo um novo tipo de vida desmontando a sua filosofia de vida de prática de luxo e tendo que habituar-se ao comportamento prosaico da rotina da irmã, em outro momento se compraz em dar lições de coisas para esta & circunstantes extraídas de um tempo passado de riqueza e luxo. O contraditório aí é que nessa marcha há contramarchas impactantes. E nesse caso os níveis de insanidade parece tomar conta dela. Entre a força e a fragilidade há o ímpeto de viver. O ponto alto da historia é dividido entre o reencontro de Jasmine com o enteado que abandonou o lar quando descobriu as tramoias paternas e o namoro com um jovem viúvo que pretende ingressar na política candidatando-se a deputado. No primeiro caso, o rapaz, já casado, nega-se a se entender com a madrasta, pedindo-lhe que se afaste da vida dele. É nesse momento que a síntese de toda a situação que gerou o colapso do esquema comandando pelo marido se torna evidente e mostra a face desconhecida que gerou o problema. Quanto ao pretendente ela escondeu dele a vida anterior de falcatruas do marido que vem à tona em uma nova incidência confrontando o seu silêncio e as aspirações políticas do noivo. Todos os meios de reconstituir de forma rápida a sua vida fogem do horizonte e resta à ex-milionária ficar num banco de praça falando sozinha sobre o que viveu e vive (um monólogo que enaltece de modo extraordinário o desempenho de Cate Blachett. (Luzia Álvares)

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