terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

"FREUD ALÉM DA ALMA" NO CC ALEXANDRINO MOREIRA DIA 05/03/12


"FREUD, ALÉM DA ALMA"
Original: Freud- EUA,1962
Direção de John Huston
Roteiro de Charles Kaufman.
Elenco: Montgomery Clift,Susannah York, Larry Parks,
Argumento: História do inicio da carreira de Sigmund Freud(1856-1939) , o criador da psicanálise. O roteiro se detém no primeiro caso clinico que ele tratou: o de uma jovem histérica. O texto foi dramatizado para efeito de uma obra cinematográfica, fazendo uma abordagem dos fatos reais.

Importância Histórica : John Huston(1906-1987) queria filmar a vida de Freud e pediu um roteiro a Jean Paul Sartre(1905-1980). O trabalho entregue pelo famoso filosofo francês era extremamente minucioso com relação aos fatos abordados e considerado prolixo. Huston tentou outras fontes e acabou aceitando o que escreveu Charles Kaufman (1904-1991) autor de 18 trabalhos para cinema. O filme foi candidato aos Oscar de roteiro de musica e Huston competiu no Festival de Berlim.

SESSÃO ACCPA/IAP
CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA
"FREUD ALÉM DA ALMA"
AUDITÓRIO DO IAP (INSTITUTO DE ARTES DO PARÁ)
SEGUNDA DIA 05/03/12
HORÁRIO : 19H
ENTRADA FRANCA
INADEQUADO PARA MENORES DE 12 ANOS
APÓS O FILME, DEBATE ENTRE O PÚBLICO E CRÍTICOS DA ACCPA
APOIO : ACCPA (ASSOCIAÇÃO DOS CRÍTICOS DE CINEMA DO PARÁ)

"À MEIA LUZ" NA SESSÃO CULT DIA 03/03/12

"À MEIA LUZ"
Original: Gaslight-EUA,1944.
Direção de George Cukor
Roteiro de John Van Druten, Warren Reisch e John L.Balderston baseado na peça de Patrick Hamilton.
Elenco: Ingrid Bergman, Charles Boyer, Joseph Cotten, Angela Lansbury, Barbara Everest.
Argumento: Depois do assassinato da tia na casa onda morava, a jovem Paula(Ingrid Bergman), casada de novo com Gregory(Boyer) vai morar na residência do marido e a partir daí começa a ver imagens estranhas e sons pelos aposentos sem identificar o que seja.
Importância Histórica : O diretor George Cukor tem vasta filmografia e este é um de seus títulos mais prestigiados pela critica, vencedor dos Oscar de atriz e de direção de arte. Ingrid Bergman ganhou também o Globo de Ouro por seu papel, um lento processo de crise psicológica. Cukor((1899-1983) havia sido um dos diretores não credenciados de “...E O Vento Levou” e deixou cerca de 66 filmes . Importante observar que ele, adaptando um projeto vindo do teatro, conseguiu fazer cinema e não peça filmada. É só observar a iluminação a cargo de Joseph Ruttenberg e os closes dos principais interpretes.Uma curiosidade: a peça original havia sido filmada em 1940 por Thorold Dickinson com Diana Wynyar e Anton Walbrook.
SESSÃO ACCPA/CINE LÍBERO LUXARDO
"À MEIA-LUZ"
CINE LÍBERO LUXARDO
SABÁDO DIA 03/03/12
HORÁRIO: 16 H
ENTRADA FRANCA
INADEQUADO PARA MENORES DE 12 ANOS
APÓS A EXIBIÇÃO DO FILME, DEBATE ENTRE O PÚBLICO PRESENTE E CRÍTICOS DA ACCPA
APOIO : ACCPA (ASSOCIAÇÃO DOS CRÍTICOS DE CINEMA DO PARÁ)

"OSCAR" AO CINEMA MUDO

Cinema é a imagem projetada que se apóia numa ilusão de ótica. O filme falado foi uma conquista técnica que acabou inaugurando a verborragia e o barulho. “O Artista” veio lembrar as origens dessa arte que eu, desde criança, admiro ao nível da paixão. Só esta premiação correta da Academia de Hollywood (perdôo a marginalização de “A Árvore da Vida” porque não é filme industrial) fez-me dormir às 1,30 de 2ª.Feira (quando dormiria normalmente às 22,00 de domingo).Cheguei a temer que “Os Descendentes” ganhassem a estatueta majoritária. George Clooney, na platéia, era sorrisos. Felizmente os eleitores do Oscar esqueceram a homenagear os cornos(tema do filme). Foram vasculhar os deuses em seu crepúsculo como a Gloria Swanson do filme de Billy Wilder. Por sinal que o tipo vivido pelo ótimo Jenan Dujardin é bem o John Gilbert, galã que Greta Garbo quis manter convidando-o para ser o seu par em “Rainha Cristina” mas um prejuízo para a Metro porque os fãs do Gilbert mudo não concebiam a sua voz de falsete.
“O Artista” lembra “Cantando na Chuva”. Até por virar musical. É um tipo de cinema que encanta dizendo como foi em criança. Por isso seu diretor,Michel Hazanavicius, dedicou o prêmio a Chaplin. E não é à toa que Chaplin é símbolo do cinema.
Também foi gol do Oscar o “Separação”iraniano e o “Rango” de animação. Idem o velho Chris Plummer embora se maldiga (“fui um canastrão”) pelo Barão Von Trapp de “A Noviça Rebelde”. Triste é que Max Von Sidow vai sobrar sempre. E Glenn Close periga nesse sentido. Enfim, Maryl Streep foi o ferro que faltou no filme sobre Maggie Thatcher. E como a festa foi da França, até Woody Allen na sua declaração de amor por Paris ganhou a sua fatia. Não foi receber, pois nunca deu bola ao Oscar. Quando a entrega era na 2ª,Feira ele alegava que era seu dia no clarinete num bar. E o Cirque Du Soleil brilhou mais do aqueles números musicais soporíferos que ajudavam a aumentar o horário da festa no tempo em que Edwaldo Martins ligava para minha casa dando a sua impressão. Por sinal que o Didi sonhava em ver de perto a entrega dos Oscar.Atendendo a ele escrevi em uma ocasião para Frank Capra. O diretor de “A Felicidade Não se Compra” me respondeu dando o seu aval para viagem . Mas tinha de pedir licença ao Harry Stone,embaixador da Motion Picture no Brasil. Apesar de casado com uma paraense o homem botou tantos obstáculos que cancelei a pretensão. Capra não gostou, mas não teve jeito. Eu dificilmente iria, pois sou comodista nato. Mas eu penso no Edwaldo vendo estrelas na terra. Afinal só as viu no céu.(Pedro Veriano)

CINEMA DE MESTRE

A cinemagia é mais que um fator estético, é um estado de sentimento que reluz de uma tela branca. Scorcese, mestre ativo do cinema , sabe disso e faz sua mais completa tradução. Em “A invenção de Hugo Cabret”, vai a Mélies, ao cinema mudo, ao mágico, a literatura pra falar sobre amor a sétima arte. Nele há os plots de gênio deste que é o maior cineasta de sua geração, que inventa e reinventa. No filme, os olhos do menino-personagem são os olhos do diretor que nos faz ver com nossa retina que cinema é combustão para o mundo dos sonhos, sem que nele possamos nos perder do real. Nunca o 3D esteve tão magistral a serviço do cinema. Genial e para sempre! (Ismaelino Pinto)

sábado, 25 de fevereiro de 2012

HUGO CABRET

O cinema nasceu pelas mãos dos irmãos Lumiére em 1895 quando eles criaram o cinematographo, equipamento que podia registrar o mundo como ele é. Mas foi com artistas como Georges Mélies, que esta nova invenção tomou outros rumos ao filmar o mundo como ele poderia ser. Com isso, o cinema mudou o mundo, as pessoas e o sentido da vida. Relembrar e dimensionar este momento histórico em forma de poesia é o objetivo do cineasta Martin Scorsese em “A Invenção de Hugo Cabret”, através do genial roteiro de John Logan baseado em um livro de Brian Selznick..
No filme, a áurea poética deste mundo dos sonhos que o cinema pode e deve criar, surge a partir da história de um menino chamado Hugo que vive na estação de trem de Paris, em busca de uma mensagem que seu pai teria lhe enviado antes de morrer. Esta busca humana, necessária e inevitável do personagem Hugo pelo amor de seu pai acaba se cruzando com outra busca perdida de um personagem chamado George que é dono de uma loja de brinquedos e que tem um passado misterioso. Estes dois personagens têm suas histórias parecidas e ao mesmo tempo diferentes. Ambos buscam algo perdido, mas este velho senhor, dono de uma simples loja de brinquedos, é descrente, amargo, triste pelo que deixou de fazer. Já Hugo é persistente, intuitivo, esperto e aprendeu cedo a lidar com as dificuldades. Acompanhando a odisséia destes dois personagens, vivenciamos seu mundo de buscas, alegrias, tristezas e sonhos.
Hugo, através de um boneco mecânico que seu pai tinha achado e desde então tentava consertar até falecer num incêndio, tenta encontrar uma mensagem de seu pai. Já o velho senhor George, acaba encontrando em Hugo, um elo com seu sonho de vida. Pois ele é o grande George Mélies, cineasta e produtor esquecido numa velha estação de trem depois de ter quebrado financeiramente e perdido todo o seu legado de mais de 500 filmes que encantaram e fizeram milhares de pessoas sonhar. A vida é mais difícil que a arte e Mélies vive agora um presente amargo. Mas ao reencontrar Hugo, ele resgata o seu passado, relembra sua antiga paixão e percebe, de uma forma que somente o cinema pode criar, seus sonhos cruzarem com os sonhos de um menino que ressuscita sua importância, sua finalidade, a finalidade do cinema : sonhar.
Recuperando a memória do grande George Mélies dentro de uma história de sonhos que envolve o amor paterno, ilusões, desilusões, amor, realidae, sonhos e esperança, Martin Scorsese realizou uma das mais belas homenagens ao cinema que já vi até hoje. Afinal, o encontro de Mélies com Hugo, é uma ode a importância da sétima arte dentro da vida de cada um de nós que amamos o cinema e nele, procuramos nosso caminho de sonhos e realidade. E para mostrar que o cinema pode e deve nos emocionar, Scorsese utiliza com sensibilidade a tecnologia do 3D, criando sequências fantásticas que mais do que mostrar a evolução dos efeitos visuais, mostra a poesia que estas imagens revelam para todos os espectadores que ficam basicamente encantados pela forma como a Scorsese trabalha tantos sentimentos e emoções próximos de todos nós.
“A Invenção de Hugo Cabret” é um raro exemplo de emoção, tecnologia e poesia no cinema moderno. Além disso, homenageando o cinema, Scorsese resgatou a importância de George Mélies, um artista que desde cedo viu na sétima arte a força do sonho e da felicidade, provando que a tecnologia pode e deve estar a serviço da criatividade, sensibilidade e emoção. Quem ama o cinema, certamente vai se apaixonar por “A Invenção de Hugo”. Ainda envolvido emocionalmente com o filme, imagino a emoção que meu pai Alexandrino Moreira teria ao ver este filme. Ele que era um homem apaixonado pelo cinema e que me ensinou a amar esta arte da mesma forma intensa e verdadeira, para sempre. Ele teria adorado “A Invenção de Hugo Cabret”. Por isso, dedico esta crítica ao meu pai, lembrando de todos nós que amamos o cinema (como meus queridos amigos Pedro Veriano e Luzia Álvares que também se emocionaram com o filme) e citando um trecho de uma canção composta pelo grande Egberto Gismonti (música) em parceria como João Carlos Pádua (letra) chamada “Mais que a Paixão”. Aqui, a referência da letra é com a música mais certamente, usando uma certa liberdade poética, digo que a mensagem serve perfeitamente para toda arte, em especial, o cinema.
“Não espere encontrar numa canção, nada além de um sonho. Nada além de uma ilusão. Talvez quem sabe a verdade, a infinita vontade de arrancar de dentro da noite a barra clara do dia”
(Marco Antonio Moreira)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

MEU CINEMA FAVORITO

Quando eu comecei a escrever comentários de filmes, isto por volta de 1947 num jornalzinho que eu datilografava para circular em casa, fazia questão de frisar que era opinião de um espectador, era um comentário de um fã não de um critico. E quando passei a manter coluna sobre cinema em jornal (1953/1966) dizia-me simplesmente colunista. Mesmo assim, assumi a herança de amigos que fundaram a Associação Paraense de Críticos Cinematográficos(APCC). Nunca dei muita bola para adjetivos que implicavam numa sensibilidade gélida, o avesso do meu modo de ver cinema. Se não suportava os melodramas mexicanos com os boleros que eu gostava de ouvir (e gosto) e se detestava filme-cabeça como o que começou a surgir com a “nouvelle vague” de Godard (não de Truffaut, que era um fã como eu), nem por isso deixava de observar o que me parecia bom cinema (e mau cinema). Li e fiz bastante na área. Mas nunca separei o coração da mente.
“Inquietos”(Restless/EUA,2011) de Gun Van Sant me tocou embora eu saiba que não é um bom filme. Mesma coisa “Menino de Ouro”, “A Invenção de Hugo Cabret”, “O Artista”, e alguns titulos que tenho visto recentemente em casa ou na rua. Filmes que podem ganhar prêmios e loas dos colegas jornalistas. Ou resenhas furiosas, como no caso do filme de Van Sant onde se achou mel, embora em favo de aço.
Martin Scorsese acha no seu “Hugo” –e nas entrevistas que deu- o cinema dos sonhos que lhe fez seguir a carreira de diretor na área (e preservacionista de películas). O lembrado Georges Méliès também achava. No filme 3D de Scorsese a construção de um sonho ganha forma que exalta o animo de quem vê cinema como, minha mãe já dizia:“válvula de escape”. OK não se deve fugir deste mundo. Mas igualmente não se deve mergulhar numa piscina poluída por prazer. O distanciamento é uma forma de evitar o estresse e de continuar de bem com a vida enquanto se sente vivo. Permaneço médico quando me receito isso. E prossigo comentando cinema do meu jeito. “Hugo” é o cinema que eu aprendi a gostar visto numa forma de cinema que hoje admiro (sem achar que a tecnologia é tudo – ou, ao contrário, que todos os bons filmes já foram feitos como disse Peter Bogdanovich). Imaginação é a arma da criação. Numa frase de uma sci-fi B dos anos 50: “Os desejos dos homens são suas preces, o que está ao alcance da imaginação está ao alcance da realidade”.O filme: “Caminhos das Estrelas”(Riders to the Stars/1954) de Richard Carlson & Ivan Tors(produção).(Pedro Veriano)

O CINEMA SOBRE CINEMA

George Mèliés morreu em 1938 como morrem muitos gênios: na merda. A magia do cinema que ele levou ao pé da letra fazendo filmes de truques, ou mágicos (ele era mágico e empresário de mágico) simplesmente o esqueceu. Penso melhor: nos seus primórdios o cinema não era levado a sério. O público suspirava por uma Pola Negri ou ria de Chaplin mas pouco se dava que David Griffith mexia a câmera, aproximava-a dos olhares das estrelas e/ou Eisenstein fazia da propaganda encomendada uma obra de arte. Nunca se cultuava um filme como um quadro ou um livro. E nem precisa ir muito longe: nas diversas modalidades artísticas nem sempre se chegou a louvar seus autores quando ainda transitavam neste mundo.
O filme “A Invenção de Hugo Cabret” coloca Mèliés no trono a que fazia jus e jamais sentou. Mas a ficção o tira do ostracismo e leva-o a esse trono. Tudo através da idéia de um Selznick, membro da família do produtor de cinema que fez “...E O Vento Levou”(e o bando de gente que dirigiu o filme foi sob ordens rigorosas dele) e patrocinou “Rebeca”,trazendo Hitchcock de sua Londres para Hollywood, e mandou na RKO por algum tempo. Este roteirista de agora, Brian Selznick, deu chance a Martin Scorsese de fazer cinema sobre cinema em grande estilo. Scorsese, quem é cinéfilo sabe, é doido por esta arte de fabricar sonhos (se bem que tenha feito filmes de pretensão realista com excesso de violência). É o grande restaurador de peliculas nos dias de hoje. E quando leu o livro de Selznick não hesitou em pagar para ver na tela grande. E pensou certo: Mèliés adoraria filmar em 3D, realçando seus truques. Fez “A Invenção de Hugo Cabret”(Hugo)nessa técnica que exumou uma das muitas investidas da industria cinematográfica contra a televisão nos idos de 1950. Convocou seus auxiliares doutros carnavais, Dante Ferretti e Francesca Lo Schiavo para desenhar a Paris “belle époque” que serviria de palco às aventuras do garoto órfão o Hugo do titulo, não percorrendo salões litero-musicais como fez Woody Allen na sua meia noite parisiense, mas no ponto em que poderia encontrar o autor de “Voyage dans la lune”(1902) e acabasse por conseguir que se desse a ele em vida a homenagem que fazia jus.
O filme é uma beleza para a vista e o coração. Emocionou-me. Até porque eu vejo cinema assim, como o fabricante de sonhos, a arte de se decolar desse mundo e se correr por espaços totalmente irreais, um coquetel de idéias/imagens onde a gente se sinta (bem ou nem tanto).
Curioso é que “Hugo”(nome original) chega no ano de “O Artista” outro filme sobre a infância da industria cinematográfica. Os dois são candidatos a Oscar: “Hugo” a onze, “Artista” a dez. Se perderem para coisas como “Descendente” eu sinceramente, vou deixar de ver essa festa pela TV daqui em diante. Mesmo que se tratem os prêmios de Hollywood como peças de indústria para indústria os primórdios dessa mesma indústria em obras excelentes merecem o reconhecimento e jamais venham a ser preteridas por melodramas que abençoem os cornos com a cara de George Clooney.(Pedro Veriano)

A INVENÇÃO DE HUGO CABRET

Afinal o que é o cinema? A arte das imagens em movimento, mas, a partir daí, o estimulo aos sonhos, à fantasia. Quando se pensa que o cinema espelha a realidade, e no caso há o “cinema verité” que se fez nos anos 70 por Edgar Morin e Jean Rouch é preciso reconhecer que esta arte conviveu, antes, sem rótulos, por quem imaginou uma personalidade da câmera, ela atuando como atriz na concepção que se chamou de “câmera olho”. Até aí o real passa pelo olhar de quem está dominando a objetiva, ou seja, vê-se aquele olhar que está conduzidno a filmagem. Quer dizer, a análise da narrativa tem que levar em conta que há subjetividade nas imagens filmadas, haja vista o reconhecimento de alguém que está “por trás da câmera”. As imagens não são ingênuas. (Quem estudar a teoria do filme vai chegar a essas conclusões e/ ou aqueles que reconhecerem na linguagem godardiana esse vértice da invenção).
Esse preâmbulo é para tratar da mais recente dádiva de Martin Scorsese à cinemagia – “A Invenção de Hugo Cabret” (Invention of Hugo Cabret, EUA, 2011, 127 min. 3D). Ele se encontrou no livro “Hugo”, de Brian Selznick, um descendente do famoso produtor David O. Selznick. Embora Scorcese não tendo sido um menino como Hugo (Asa Butterfield), sempre foi um cinéfilo como René Tabarg (Michael Stuhlbarg ), no filme, o personagem que descobre George Méliès em sua casa, escondido da fama a que faz jus por ter sido um dos inventores da linguagem cinematográfica.
A história acompanha o menino de rua, órfão de pai, vagando pela estação ferroviária onde maneja os relógios e busca peças para consertar um autômato deixado inacabado pelo pai. Este menino vive fugindo do inspetor local (Sacha Baron Cohen) e conhece a garota Isabelle (Cholë Grace Moretz), justamente a afilhada de George Méliès (Ben Kingsley). Através dela toma contato com o velho cineasta que dirige uma banca de brinquedos e se mantêm em casa, amargurado por sua arte não ter sido devidamente reconhecida.
A imagem da lua atingida por um foguete e fazendo careta é o elo de ligação entre Hugo e George a partir de um desenho do robô. Através de Isabelle ele vê que esta imagem é de um filme antigo e na companhia de René vai levar a obra ao seu autor, uma das raras que o pioneiro da Sétima Arte deixou preservar quando, na crise de depressão destruiu quase toda a sua base de material filmográfico.
Realizado em 3D “A Invenção de Hugo Cabret” refaz a Paris dos anos 1920 de forma a que o espectador se sinta dentro do cenário. E a trama fora dos filmes mudos é muito semelhante com o que esses filmes mostravam: do artesanato ao tema que se pode achar “clichê”. Tudo é cinema-sonho, a culminar com a homenagem a Méliès que, na verdade, jamais se deu. O criador de “Voyage dans la lune”(1902) morreu pobre e esquecido. Só muito depois de sua morte, acontecida em 1938, é que ele ganhou reconhecimento publico em documentários e coletâneas de seus filmes curtos.
Na sequencia inicial do filme onde um microcosmo é criado no pátio de uma estação de trem de Paris com a circulação de pessoas, de vários tipos reconhecidos como figuras essenciais numa cidade, vertebrados numa síntese social urbana vê-se a chegada de um trem – uma analogia aos primeiros filmes dos irmãos Lumière. Ou seja, ao nascimento do cinema que se compartilha com o percurso de Hugo, garoto solitário, escondido da Lei para não ser levado para o orfanato, praticando pequenos furtos para sobreviver, mas sempre na trilha de um sonho. Este convite faz Scorcese ao público que vai assistir ao filme, desdobrado nas aventuras do garoto, mas compartilhado com a do velho George que seduz Hugo pelos inventos à venda em seu estande. Nesse turbilhão de sincronias com a história do cinema, nada é perdido, tudo tem objetividade, mostrando a sobrevivência do próprio cinema nas pegadas das desconfianças de que saisse do burburinho dos cafés e das feiras para novas e sofisticadas engrenagens usando os truques como uma invenção mágica fugindo da realidade dando cunho à fantasia.
Ao seguir o garoto e as multiplas artimanhas para sobreviver naquele mundo de descobertas e finalizar seu pequeno robô, a câmera nos leva aos primeiros anos do cinema. Nos sonhos de Hugo podem ser capturados os pequenos filmes que saiam dos estudios, as “vistas naturais”. A condição de ser um visionário e de reconhecer que num dos desenhos situavam-se sensações, não dão explicações ao garoto que precisava de um interlocutor. Só mais tarde é que os bloqueios se desfazem ao acreditar em Tabarg, o pesquisador do “primeiro cinema” e descobrir toda a trama encoberta à carreira de Meliès.
No trabalho de Scorsese uma direção de arte primorosa deixa impresso o tempo da ação, e a fotografia endossa essa imagem do passado. Nada se perde no filme. É um trabalho minucioso que usa o cinema em toda a sua plenitude. Homenageando o mágico (foi agente do famoso Houdini) criador de efeitos visuais, homenageia, naturalmente, esta “fabrica de sonhos”(tratada de forma explicita) ao incorporar ao filme outro truque, o do 3D.
Um excelente filme que surge candidato a 11 Oscar. Dificilmente sairá da festa do próximo domingo sem ser reconhecido.(Luzia Álvares)

SCORSESE E O SONHO DE MÉLIES

Scorsese e o sonho de Méliès
No começo do século passado, um homem assistiu a uma exibição de um trem, que parecia sair da tela para esmagá-lo, e teve a ideia de construir sonhos. Ele era ilusionista, e criou a magia do cinema. Seu nome era Méliès, e em aproximadamente 15 anos, ele realizou 500 filmes como diretor e ator e desenvolveu a sétima arte. Quase um século depois, seu legado é a força motriz do filme que pode consagrar Martin Scorsese nos Oscars – o genial diretor concorre a 11 estatuetas no próximo dia 26.Mas o que Méliès tem a ver com Hugo (Asa Butterfield), um garoto orfão, que, em 1931, mora na Estação Central de Paris, onde trabalha dando corda nos relógios?
A obra literária de Brian Selznick (neto do produtor David O. Selznick) que inspirou A Invenção de Hugo Cabret, já era em parte, uma homenagem aos primórdios do cinema através da (re) descoberta do legado de Méliès, e parte de uma estrutura que se assemelha a de um roteiro. Essa, digamos, ‘facilidade’ na hora de adaptar para a telona não teria resultado positivo se não fosse a junção do talento do roteirista John Logan com a genialidade de Martin Scorsese, que utilizou a tecnologia 3D totalmente a serviço de sua obra e não como um recurso supérfluo.
Ao longo da narrativa, nós, através dos olhos de Hugo, somos apresentados ao cinema de Méliès e o vemos por dentro – como as produções, os efeitos e os enredos oníricos eram criados pelo francês. A base da criação era situada num estúdio envidraçado – para permitir que a luz do sol penetrasse e fosse utilizada como iluminação – onde, ao lado da companheira e musa Jeane D’Alcy, ele dava asas a imaginação.
Méliès foi o primeiro a utilizar storyboards (desenhos) para projetar suas cenas , inventou a trucagem, ou seja, criou os efeitos especiais filmando em alta ou baixa velocidade e tentando diferentes maneiras de expor o negativo. Chaplin o chamou de o alquimista da luz e o americano D.W.Griffith disse que tudo o que tinha feito devia a ele, que teve como sua obra mais emblemática Le voyage dans la Lune (1902). Com a chegada da guerra, seus filmes, que envolveram em fantasias crianças e adultos, haviam perdido o sentido. E o pioneiro do cinema, acabou esquecido.
É o encontro dele com Hugo – certamente inspirado no sofrido David Cooperfield, que ganha uma citação no filme – um menino que herdou do pai o ofício de relojoeiro, que vai mover as engrenagens da história. Hugo alimenta a esperança de consertar seu único bem, um brinquedo. O brinquedo em questão é um boneco prateado, um autômato, o único bem que possui. E é roubando peças do relojoeiro da estação, Papa Georges (Bem Kinsgley), que Hugo pretende consertar o boneco, mas falta uma coisa: uma chave em forma de coração.
Esse grande mistério, que irá começar a se desnudar perante os olhos inocentes de menino e da nova amiga, Isabele (Chloe Moretz). Para o menino, o autômato irá revelar uma mensagem do pai (Jude Law), que morreu num incêndio no museu. A partir das peças do quebra cabeças que vão encontrando, os dois mergulham numa incrível aventura, onde conhecerão, através do livreiro (Christopher Lee), a biblioteca da cinemateca francesa e os tesouros escondidos por lá.
Mas as histórias da família Cabret e do mágico cineasta se interligam através do brinquedo, que fará as crianças descobrirem a sétima arte, numa jornada emocionante. E quem melhor do que, no mundo real, um cineasta apaixonado por filmes e artistas como Buster Keaton, Douglas Fairbanks, Clara Bow para contar, de uma forma onírica e fabulosa, essa história em forma de imagens?
Howard Shore constrói uma trilha sonora inspiradora. Emocionante, aventuresca nos momentos de grande apreensão, e encantadora quando Hugo e Isabelle mergulham no mundo do cinema. Scorsese, disse em diversas entrevistas reconhecer muito de si próprio em Hugo, uma criança cuja vida ganhou mais significado após encontrar todas as peças que faltavam, após ter contato com o cinema, com as possibilidades de uma vida menos ordinária e mais mágica.
“De que matéria são feitos os sonhos?” Hugo pergunta, em certo momento. Para dar mais dinamismo à trama, ele é perseguido pelo guarda da estação (Sacha Baron Choen), que numa – outra – homenagem chapliniana, morre de amores pela florista (Emily Mortimer), mas não tem coragem de se declarar por conta da perna defeituosa, cujas engrenagens que a sustentam vivem fazendo um barulho horrível.
Ele próprio, um órfão, persegue Hugo para que ele possa ter ‘uma família’. E esse filme é sobre descobertas tão caras, que é impossível contar as lágrimas. Scorsese construiu uma magnífica obra sobre o poder da arte como matéria dos sonhos e sua capacidade de transformar destinos. E mesmo que a academia hollywoodiana não premia essa obra em detrimento de outro filme que celebra o cinema (O Artista), as platéias de todo o mundo estão aceitando o convite de Scorsese para apreciar e viver essa fábula fascinante.(Lorenna Montenegro)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

"O GAROTO DA BICICLETA" EM MARÇO NO CINE ESTAÇÃO


No mês de março, o Cine Estação das Docas exibe ‘O Garoto da Bicicleta’, dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes em 2011, juntamente com ‘Era Uma Vez na Anatólia’, de Nuri Ceylan.
Os irmãos Dardenne são conhecidos do público do Cine Estação pelo filme ‘A Criança’, exibido em 2006 e laureado com a Palma de Ouro em Cannes. ‘O Silêncio de Lorna’, exibido no projeto Moviecom Arte em 2009, é um poucos exemplares da filmografia dos irmãos Dardenne exibido no circuito alternativo, que ainda espera exibir títulos inéditos como ‘O filho’ (2002), ‘A promessa’ (1997) e o premiado ‘Rosetta’ (1999).
Em ‘O Garoto da Bicicleta’, a história de Cyril (Thomas Doret), um garoto de 11 anos abandonado pelo pai (Jeremie Renier), é marcada pela reflexão sobre os relacionamentos familiares, em que os cineastas belgas dão um toque muito próprio de dirigir atores, que camufla as emoções e destaca a ação humana.
O mote da história é a presença da cabelereira Samantha (Cécile de France) que desenvolve uma relação com o revoltado garoto. Ela, como tutora e ele, como seu aprendiz, desenvolvem uma relação de cooperação mútua, que se mantém frágil devido ao comportamento explosivo de Cyril. Cécile de France, que trabalhou com Clint Eastwood em ‘Além da vida’ (2010), explora mínimos movimentos para compor uma espécie uma madrinha de contos de fadas que intercepta o desvio de Cyril em direção à delinqüência. Em um momento do filme, a bicicleta de Cyril parece ser a única ligação entre os dois.
O roubo da bicicleta, nos moldes do realismo social francês, pode até fazer referência ao clássico ‘Ladrões de Bicicleta’, pilar do neo-realismo italiano sob a direção de Vittorio de Sica; mas o século é outro, assim como as motivações dos personagens, apesar dos procedimentos estéticos como o não uso de atores profissionais. Neste filme, os cineastas optam por incluir trilha sonora (recurso não observado nos filmes anteriores), câmera na mão em movimento quase permanente e pouquíssimas tomadas paradas.
O cinema dos irmãos Dardenne mostra personagens desamparados numa Europa em questão, seja pelo desemprego, pelo crime ou pela orfandade.
O filme foi produzido por produtoras cinematográficas da Bélgica, França e Itália, sendo indicado ao European Film Awards nas categorias melhor filme, diretor e atriz, vencendo como melhor roteiro. Foi também indicado na categoria de melhor filme estrangeiro ao Globo de Ouro.

Serviço
O Garoto da Bicicleta (França, 2011)
Direção e roteiro: Jean-Pierre e Luc Dardenne
Com Cécile de France e Thomas Doret. 14 anos. 1h 27
Dias de exibição em março:
1º (quinta), às 18h e 20h30
02 (sexta), às 18h e 20h30
04 (domingo), às 10h, 18h e 20h30
08 (quinta), às 18h e 20h30
09 (sexta), às 18h e 20h30
e 11(domingo), às 10h, 18h e 20h30

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

"ESTE OBSCURO OBJETO DO DESEJO" NO CC ALEXANDRINO MOREIRA DIA 27/02/12


Original: Cet Obscure Objet Du Désir- França,1977
Direção de Luís Buñuel
Roteiro de Jean Claude Carrière e Luis Buñuel
Elenco: Fernand o Rey,Carole Bouquet,Angela Molina.
Argumento: Um homem de meia idade, aparentando um cavalheiro, surpreende na todos, em um trem, quando atira água sobre uma jovem que aparenta conhecer. Interpelado por um passageiro que se revolta com a atitude de quem parecia extremamente calmo,m o homem conta a sua história. E em longo flash-back vê-se o relacionamento tumultuoso dele com a garota por quem se apaixona e que mantém dupla personalidade.
Importância Histórica: É o último filme de Luis Buñuel, espanhol que se tornou um dos pioneiros do surrealismo no cinema fazendo com o pintor Salvador Dali o clássico “Um Cão Andaluz”. Neste seu filme francês ele volta ao surrealismo focalizando o lado dramático e ao mesmo tempo pitoresco da vida de um casal com expressiva diferença de idade entre homem e mulher. Procurando sempre se atualizar e com a colaboração de Carriére, seu roteirista preferido, ele focaliza o mundo moderno. Foi candidato ao “Oscar” de roteiro e de filme estrangeiro.

SESSÃO ACCPA/IAP
"ESTE OBSCURO OBJETO DO DESEJO"
CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA
SEGUNDA DIA 27/02/12
HORÁRIO : 19H
APÓS O FILME, DEBATE ENTRE CRÍTICOS DA ACCPA E O PÚBLICO PRESENTE.
ENTRADA FRANCA
INADEQUADO PARA MENORES DE 12 ANOS

A DAMA QUE QUERIA SER SOBERANA

Uma determinada filha de verdureiro, decide se impor numa sociedade patriarcal e lutar para dar um significado a sua existência que vá além da trinca casa/filhos/marido. Ela, Margaret Hilda Thatcher, formou-se em Oxford e ingressou na carreira política, para tornar-se a primeira mulher chefe de estado na história ocidental. Em “A Dama de Ferro”, a americana Meryl Streep incorpora não apenas o sotaque, mas as características mais sutis de Lady Thatcher, revivendo dos 49 aos 85 anos, a trajetória da ex-primeira ministra britânica.A dama de Ferro poderia ser encarada como uma cinebiografia que trata de uma mulher que almejou mais do que ser apenas uma dona de casa e explicita como a face do poder que se apodera dela e o preço que se acaba pagando por ele. Ela não quer morrer ‘lavando uma xícara de chá’, como confessa ao marido de Denis, quando ele pede sua mão em casamento. Mas, a exemplo da cinebiografia ‘J. Edgar’, o poder inebria, tornando os triunfos do passado e as recordações nem sempre gloriosas em uma droga para a idosa baronesa Thatcher, que tem como única companhia os delírios com o marido e fiel servo Denis.Vemos a criação de um líder, a exemplo do que a equipe de marketing do PT e o presidente Lula fizeram com Dilma Roussef quando ela era chefa da Casa Civil. Thatcher foi talhada para ser autoritária, imperativa e a imagem da solidez da Grã Bretanha para o mundo.

Mas algumas pedras estão em seu caminho. Após assumir o poder, o sexismo e o desemprego se tornam as maiores delas. Com a crise econômica tornando-se mais crítica, Thatcher decide - como tantos líderes já o fizeram e continuariam fazendo após -, desviar a atenção do povo e da mídia para a solução bélica. Nesse ponto de virada na biografia, vemos a Thatcher de Meryl Streep ganhar confiança ao passar de ‘a primeira ministra mais odiada da história’ para a Maggie, tão querida pelos britânicos quanto a Rainha Elizabeth II.“Eu não me reconheço mais”. A frase, dita por Thatcher idosa – destaque para o ótimo trabalho de caracterização e maquiagem, que ressalta e não diminui o poder da interpretação - quando assiste a matéria exibida na TV, contando como a primeira ministra reclusa havia aparecido em público para fazer uma visita de rotina ao médico, tem um efeito que não nos deixar incólumes ao drama da Dama de Ferro, que é como uma espectadora da vida gloriosa e cheia de significado que levava.

Mas como nem tudo são rosas, sua intolerância e orgulho a fazem colecionar desafetos no partido conservador – a cena em que ela confronta seu vice primeiro ministro, Geoffrey, é assustadora pelo forma como ela exerce seu poder no tom de voz e nos olhares de repúdio que dirige ao alvo – o que a levam à queda. A narrativa é muito bem construída ao unir os momentos finais no poder e costurá-los na lembrança da Thatcher que se desfaz do passado para poder seguir em frente, com alguma lucidez.
Solitária, frágil e confusa, a Thatcher vista na tela grande é uma mulher de proporções humanas tão densas quanto o seu estigma de grande chefe de estado. E as mulheres também dominam o filme por trás das câmeras. Na direção Pyllida Lloyd (que já tinha dirigido Meryl no musical “Mamma Mia!”), imprime uma narrativa estilosa apoiada no ponto de vista da figura que retrata, além de expor suas fragilidades e momentos de coragem – e alguma crueldade, como quando decide ir à guerra contra os argentinos pelo controle das Ilhas Falklands ou Malvinas.

Mas nada disso resultaria em um filme profundo e redondo se não fosse o roteiro de Abi Morgan (também roteirista do elogiado “Shame”), com flahsbacks muito bem orquestrados que auxiliam na maneira como o enredo é apresentado na tela, entre o pessoal e o privado da vida de Thatcher.Faltou mais detalhamento na questão política e nos fatos históricos que, sob o governo da ‘dama de ferro’, se sucederam na Inglaterra? Se Isso fosse um documentário histórico, com certeza. Mas cinema de ficção não tem compromisso com a realidade e sim com o realismo – ou não – do relato sobre uma mulher, uma personalidade que, na interpretação da grande Streep (que arrendou premiações e alcançou sua 17ª indicação ao Oscar), já configura uma das maiores representações biográficas na história do cinema, ao lado de Ray, Lenny e da conterrânea Elizabeth II.(Lorenna Montenegro)

EU JÁ PASSEI UM TROTSKY!

Quando você vê o filme escrito e dirigido por Jacob Tierney, "Trotsky: a revolução começa na escola", a primeira coisa que se compara é aquelas bíblias ilustradas para crianças. Essa sensação não é uma coisa ruim, o filme é uma comédia refinada, que apenas que leu algo de Trotsky, ou dos grandes seguidores de Marx, ou o próprio Marx, vai entender as sutilezas dessa comédia. O filme é como se fosse uma aula de Introdução a Revolução. O filme mostra a vida de Leon Bronstein, que acredita ser a reencarnação de Trotsky, (sim o bolchevique), e começa a fazer a sua pseudo-revolução, na fábrica do seu Pai. Cansado do falatório revolucionário de Leon, seu pai decide mandá-lo para uma escola pública, a Montreal Weast High School. Leon tenta fazer a sua revolução, criando um sindicato e tentando mostrar aos alunos que a escola deveria ser algo interessante. Paralelo a isso, ele procura Franck McGovem, ex-militante comunista, para ser seu advogado o que ele recusa. E em uma dessas perseguições, ele conhece Alexandra, e diz que eles estão destinados a se casar ( Alexandra foi o nome da primeira mulher de Trotsky). E essas confusões de sentimentos se forma o filme.

Quando vi o filme, primeiramente eu achei um filme bobinho, mas eis que chega a um questionamento, que a meu ver, mostrou o grande porque do filme. O questionamento é “Apatia ou Tédio?”, Apatia é um estado de negação a qualquer estimulo, e o Tédio, é a simples falta desse estimulo, que quando surge muda toda a situação. A juventude de hoje, vive um grande momento de Apatia ou Tédio? Surgem os revoltados e revolucionários das mídias sociais e aqueles que desencorajam dizendo que essas atitudes na internet não levam a nada. A passo que quando um grupo se reúne em sindicatos, DCE s ou CAs, sempre são chamados de desocupados, ou não querem trabalhar ou estudar. Claro que existem de fato alguns desocupados que não querem nada com a vida, mas também existem pessoas que são o oposto disso, pessoas que lutam por seus ideais, não são loucos, e sim persistentes, elas tem uma idéias (e Ideias são a prova de balas).O filme me lembra que todo mundo tem a sua fase Trotsky, alguns não são uma fase, todo mundo tem os seus 15 minutos de revolução, quem nunca participou de uma passeata, gritou no pátio da escola, fez greve de fome, fugiu de casa, discutiu política, e quis mudar o mundo? Todos passamos por isso, o problema que isso não pode ser uma moda passageira, a vontade de fazer algo por si, para melhora a sua própria condição e faça isso também pensando “ alguém, precisa que eu faça isso”.

Nesse fim de post, me lembro da pergunta do ENADE desse ano que eu fiz, (Ciências Sociais) a pergunta foi “O que você acha que deveria ser feito para melhorar a educação do Brasil?” e como vários dos meu amigos, eu respondi “O governo deveria seguir as diretrizes já existentes do MEC, pois elas são as mais completas do mundo, só que totalmente descumpridas”.(Raoni Arraes)

"BRINQUEDO PROIBIDO" NA SESSÃO CULT DIA 25/02/12

Original: Jeux Interdits- França, 1952
Direção de René Clément
Roteiro de Jean Aurenche , Pierre Brost, François Boyer e René Clément
Elenco: Brigitte Fossey, George Poujouly,Amedée,Laurence Badie,Madelinje Barbulée.
Argumento: Durante a 2a. Guerra Mundial quando o território francês estava sendo constantemente bombardeado, fugitivos são atingidos e uma garotinha sobrevive a morte dos pais. Vai ter em uma fazenda onde passa a morar e a brincar com um menino um pouco mais velho. Os dois inventam uma brincadeira que se espelha na guerra envolvente: um cemitério de animais.
Importância Histórica : O filme ganhou 7 prêmios internacionais inclusive o Leão de Ouro do Festival de Veneza e o “Oscar” de película estrangeira. Considerado um poema sobre uma tragédia, revelou a pequena atriz Brigitte Fossey, então com 5 anos . O diretor (1913-1996) tinha 16 prêmios em seu currículo e foi quem realizou para o poeta Jean Cocteau o clássico “A Bela e a Fera” em 1946. Fez ainda “Gervaise” e “O Sol por Testemunha” entre seus títulos mais elogiados.APÓS O FILME, DEBATE ENTRE O PÚBLICO PRESENTE E CRÍTICOS DA ACCPA

SESSÃO ACCPA/CINE LÍBERO LUXARDO
SESSÃO CULT
"BRINQUEDO PROIBIDO"
SÁBADO DIA 25/02/12
HORÁRIO : 15:30 H (A SESSÃO COMEÇARÁ NESTE HORÁRIO DEVIDO O DEBATE SOBRE O "OSCAR" 2012 QUE A ACCPA VAI REALIZAR APÓS A SESSÃO)
ENTRADA FRANCA

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

ACCPA DEBATE O "OSCAR" 2012

Depois do sucesso do ano passado quando realizou um grande debate com o público sobre o OSCAR 2011, a ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará) este ano repete a ação e no dia 25/02, após a sessão Cult com o filme "BRINQUEDO PROIBIDO" no Cine Líbero Luxardo, realizará um debate sobre os indicados ao OSCAR 2012.
No debate, exibição de cenas dos filmes indicados, avaliação dos filmes e atores favoritos deste ano, críticas e opiniões sobre a importância do OSCAR e no final, sorteio de ingressos de cinema do Moviecom Cinemas, cartazes e outros brindes.
O debate tem entrada franca e terá participação de críticos da ACCPA.

ACCPA DEBATE O "OSCAR" 2012
SABÁDO DIA 25/02
CINE LÍBERO LUXARDO
HORÁRIO : DAS 17H ÀS 18:30 H
(APÓS A EXIBIÇÃO DA SESSÃO CULT COM O FILME "BRINQUEDO PROIBIDO")
ENTRADA FRANCA

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A GAROTA COM TATUAGEM DE DRAGÃO

No dia 23/01 a ACCPA foi convidada para uma sessão cabine no Cinépolis, para ver “The Girl with the Dragon Tattoo”, nome original do filme “Millenium: Os homens que não amavam as mulheres”, filme baseado no romance Män som hatar kvinnor do escritor sueco Stieg Larsson.
O filme dirigido por David Fincher e estrelado por Rooney Mara e Daniel Craig. O inicio do filme é um show a parte com abertura no estilo das aberturas do 007, onde há um show de computação gráfica onde há somente mulheres e mãos pretas em uma dança agoniante que retrata bem o sentimento, que se vai ter durante o filme.
O filme tem duas linhas, uma é a vida de um jornalista Mikael Blomkvist que tentou denunciar um Mafioso com uma pista falsa e acabou caindo em descrédito e processado por difamação. Durante esse caos surge Henrik Vanger, um empresário de uma grande empresa Sueca, que propõe que ele investigue o Assassinato de sua sobrinha Harriet Vanger, que é um mistério, pois ela desapareceu em 1966, 40 anos antes de quando se passa o filme. E para isso ele precisa se mudar para uma ilha no norte da Suécia. O que torna tudo um grande mistério, é que enquanto viva Harriet dava como presente de aniversário, desenhos de flores para o seu tio e mesmo após a sua morte, ele recebe essas pinturas.
Do outro lado do filme está Lisbeth, que é no mais estereotipo possível de Cyber Punk, cabelo moicano, piercings e totalmente antissocial. Ela aparece na historia quando um empregado de Henrik Vanguer contrata uma empresa para preparar um Dossiê sobre Mikael e quem faz esse Dossiê é Lisbeth que é uma ótima Cracker – Vocês podem se perguntar a diferença entre Hacker e Cracker? Um Hacker é alguém que invade o derruba sistemas no proposito de expor algo para sociedade, a motivação é social e ou modifica softwares e hardwares para melhorar o sistema, um Cracker é o conhecido Pirata de Internet, ele invade da mesma maneira, só que para proveito próprio, com interesse de roubar informações para vender e não expor e também são eles que invadem contas e criam vírus. Informação baseado no livro de Himanen A ética do hacker e o espírito da era da informação.
Com a trama se complicando e mesmo 40 anos depois Mikael consegue descobrir coisas novas, ele precisa de uma assistente, que vem a ser Lisbeth, que passar os seus próprios dramas pessoais durante o filme, sem estar ligado à trama principal. O filme possui uma receita ótima de Thriller Holywoodiano, onde há assassinato, entraves amorosos, ódios, crises familiares, e uma complexa teia de informação em que só duas mentes com a de Mikael e Lisbeth trabalhando junto podem desvendar. O filme possui uma ótima edição e uma interpretação fantástica de Rooney Mara que está concorrendo ao Oscar 2012 como melhor atriz.(Raoni Arraes)

Ê Moço, já acabou?
A frase “Ê moço já acabou” seguida de outra frase “Qual é moço, tá de sacanagem comigo, vai dizer que acabou?” foram as frases ditas por uma senhora no fim do filme “Filha do Mal” – The Devil Inside – do diretor não tão aclamado William Brent Bell, pelo menos não depois desse filme. O filme que é estrelado pela brasileira Fernanda Andrade, merece o prêmio de melhor filme de comédia do ano! Humor extremamente refinado, me fez dar altas risadas, com cenas inusitadas e altamente cômicas.
O filme é sobre uma moçoila chamada Isabella Rossi, conjuntamente do documentarista Michael, resolvem fazer um documentário sobre exorcismo na igreja católica. O filme se inicia com filmagem do assassinato de dois padres e uma freira, assassinatos esses feitos por Maria Rossi, mãe de Isabella. Então depois de vários anos, Isabella tenta encontrar a verdade sobre o caso, e se formando um grupo junto com dois padres – Bem e David – que em meio as suas peripécias, tentam exorcizar pessoas (uma delas é a Maria Rossi, que é o motivo real do documentário), durante o filme. Tudo bem que eles só tentam duas vezes. A primeira exorcizada, que rola no filme é uma verdadeira trapalhada, melhor estilo de “Todo mundo em Pânico”. Então é basicamente um filme aonde uma moça vai atrás da mãe que tá possuída, se juntou com um documentarista e dois padres para salvar a mãe. O momento mais assustador do filme inteiro é o momento que um cachorro sem noção aparece latindo do nada, nem as partes que as contorcionista do Cirque du Soleil, aparecem fazendo bico, deixa o filme assustador.
Um dos principais erros de roteiro do filme foi, que a moça se junta com dois Padres, super iniciantes, ao invés de procurar especialistas como Constantine ou o Pastor Metralhadora. O Documentarista tem uma super câmera com estabilizador de imagem e um suporte para a câmera super eficiente, e ele ainda consegue fazer o milagre de deixar a imagem toda balançada e de vez em quando desfocar, sério os documentaristas devem se sentir ofendidos com um cara que diz que o estilo de filmes deles é todo tremido e cheio de desfoques. Imagina um escritor como Stephen King, deve se contorcer de raiva quando vê um filme de comédia, que era para ser um filme de terror. Não deu para levar o filme a sério, mas o filme ganha nota dez no quesito, “sangue falso”, “contorcionismo” e “comédia”.(Raoni Arraes)

A POESIA DE THEO ANGELOPOULOS

“O Passo Suspenso da Cegonha” (Grécia/ França / Inglaterra, 1991) do cineasta grego Theodoros Angelopoulos é , além de um belo filme, a poesia concebida por meio de palavras e imagens. O título da obra já desperta a curiosidade do que podemos esperar de uma história sobre buscas, reencontros e desencontros. Entendamos aqui a busca não apenas pelo outro – um misterioso homem (Marcello Mastroianni) considerado um desaparecido político, - mas também a busca por si próprio dentro de um espaço físico adverso e desconhecido, na disposição íntima em obter respostas e sentido à vida.
O tema sobre a busca é recorrente na obra de Theo Angelopoulos assim como a questão do espaço. Os lugares das histórias de Theo são as fronteiras, as demarcações, os limites, as pontes que separam territórios distintos e onde habitam ou transitam pessoas rejeitadas ou consideradas como ‘refugo humano’, ou seja, aquelas não aceitas seja por questões étnicas, religiosas ou políticas. Portanto, vemos a presente figura dos exilados e expatriados nos espaços fílmicos de Angelopoulos. Neste “espaço suspenso” de Angelopoulos (co)existem gregos, curdos, albaneses, islâmicos, fugitivos haitianos, crianças e mulheres; todos são personagens na cena do filme e esta problemática ultrapassa o caos social, a complexa topografia e geo-política, mas converge para questões pessoais e de ressonância universal.
O jovem jornalista Alexandre (Gregory Patrikareas) personifica este eu inconformado com a desarmonia do mundo, parece que ele sempre está tentando colocar ou achar a peça que falta no quebra-cabeça da vida e que pode ser a busca ou reencontro entre pessoas, a (in) tolerância entre os diferentes, as divergências político-ideológicas ou até um país em conflito. Uma tarefa por vezes inglória e ainda que não resolvida a bom termo, deixa a reflexão sobre o assunto para nós.
A suposta mulher do exilado (Jeanne Morreau) é apenas uma das pistas do mistério que Alexandre tenta desvendar. Um ponto de contato mesmo que obscuro, mas que vai conduzindo a trama até a marcante cena do reencontro com o homem desconhecido. Será que ele era realmente o ex-marido a quem ela tanto procurava ou ele mudou tão radical e profundamente que nem mesmo ela o reconhecia mais? Paira essa icógnita. Angelopoulos não dá respostas, apenas deixa-nos em passo suspenso para uma reflexão sobre o que pode vir após a vontade do eu, ou de uma simples tomada de decisão a partir do livre arbítrio.
Suas longas sequências conferem uma beleza ímpar, poética e minuciosamente trabalhadas, ora silenciosas, ora permeadas de música ou compostas de diálogos igualmente poéticos que só prendem a atenção.A exemplo disto, a cerimônia de casamento realizada dos dois lados opostos das margens de um rio fronteiriço, sob o temor da patrulha militarizada. Por outro lado, a poesia se expressa através de cenas cruéis e impactantes de silêncio eloqüente: o travelling mostrando os vagões abandonados de trens improvisados como moradia dos refugiados, os rostos sofridos e apáticos remetem ao holocausto – o que não deixa de ser a visão de um povo sendo sacrificado.
Angelopoulos demonstra predileção por ambientes frios e cinzentos com neve, neblina e chuva em seus filmes, e essa atmosfera parece igualmente acentuar a introspecção que ele nos sugere. O frio pede aconchego, contrai o corpo e nos voltamos para dentro em todos os sentidos. Será proposital ou coincidência? Ou um simples toque sensorial do diretor?
Angelopoulos sai bruscamente de cena, justamente num período da história mundial em que os conflitos atuais foram magistralmente tratados em seus filmes ora de modo delicado e lírico, ora de forma crua e realista. O cineasta grego fica eternizado em sua obra como um poeta da imagem em movimento e da eloqüência do silêncio. (Elias Neves)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

"ROMÂNTICOS ANÔNIMOS" NO CINE ESTAÇÃO



O Cine Estação das Docas promove uma das obras surpresas do ano: a estreia de "Românticos Anônimos", do francês Jean-Pierre Améris, o mesmo diretor de "Eu me chamo Elisabeth" e "Más Companhias". De fato, é uma estréia com gosto de chocolate, já que os protagonistas estão envolvidos com este alimento feito com base na amêndoa fermentada e torrada do cacau.
No filme, Angélique Delange (Isabelle Carré) é uma talentosa confeiteira, que faz chocolates requintados reconhecidos pelo público e crítica especializada. Entretanto, Angélique prefere o anonimato e finge ser apenas uma entregadora, para depois ser surpreendida com o convite para jantar de Jean-René (Benoît Poelvoorde). O problema é que Jean-René, assim como Angélique, é extremamente tímido e possui muitas dificuldades em manter contato com outras pessoas.
"Românticos Anônimos" é mais do que uma simples comédia romântica, pois também foca os rumos dos relacionamentos amorosos nos dias atuais, as barreiras impostas no dia a dia, receios e acanhamentos. O filme foi indicado ao César 2011 (Oscar do cinema francês) na categoria de melhor atriz para Isabelle Carré.
Serviço:
Românticos Anônimos
Direção: Jean-Pierre Améris. Com Benoît Poelvoorde e Isabelle Carré. 80m. 14 anos
Datas em fevereiro: 2 (quinta): 18h e 20h30, 3 (sexta): 18h e 20h30, 5 (domingo): 10h, 18h e 20h30, 9 (quinta): 18h e 20h30, 10 (sexta), às 18h e 20h30, 12 (domingo): 10h, 18h e 20h30

sábado, 4 de fevereiro de 2012

HOMENAGEM DA ACCPA AO TALENTO DE THEO ANGELOPOULOS

Silencio na forma de imagens
ACCPA homenageia o talento do cineasta Theo Angelopoulos, com a exibição de dois filmes emblemáticos
Atropelado por uma moto. Assim deixou este mundo o homem que, através do cinema projetou um mundo vasto, cheio de complexidades, transmutadas na sua amada Grécia, mas explorando temas universais, que o tornaram premiado pelo olhar sensível e reflexivo. Ele era Theo Angelopoulos, que faleceu aos 76 anos no último dia 25 de janeiro – em meio as filmagens de “O Outro Mar” – e ganha uma merecida homenagem da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), a partir de hoje com a exibição de “Paisagem na Neblina”.
Figura emblemática do novo cinema grego, iniciado na década de 1970, Angelopoulos foi premiado com a Palma de Ouro de Cannes, em 1998, por “A eternidade e um dia”, prêmio que abriu a prerrogativa para que os cineastas gregos conseguissem penetrar nos circuitos internacionais. Ele falava da Grécia e se confundia com a própria ideia de cinema grego, com filmes como o “Paisagem na Neblina”, que mostra dois irmãos que abandonam o lar em busca do pai, que fugiu para a Alemanha. A questão é que eles não sabem se o pai existem, e começam a empreender uma jornada dramática ao mundo adulto.
Já em “O Passo Suspenso da Cegonha”, filme que será exibido na próxima segunda, um jovem jornalista é enviado a uma região de fronteira, onde descobre uma cidade dividida por um rio, assim como seus moradores. Lá, ele encontra refugiados de diferentes países, que esperam a chance de sair daquele lugar – chamado de ‘sala de espera’ – e recomeçar a vida noutro lugar qualquer. Os dois filmes, realizados no final dos anos 80/começo dos anos 90, representam boa parte das crenças morais e estéticas de Angelopoulos. . Uma busca pela harmonia, pela felicidade, pelo sonho de ser, transformada em imagens etéreas e silenciosas.
“Angelopoulos foi um diretor que respeito o cinema como uma arte em busca de perguntas e respostas ao universo humano, usando as imagens como elemento estético de poesia tanto quanto os diálogos. Seus filmes são marcados pelas longas sequências sem cortes que dimensionam o roteiro e permitem que o espectador sinta a cena com toda a força dramática que tem. Sua sensibilidade de equilibrar longas sequências sem cortes, com diálogos cheios de poesia, silêncios com significação, gerou inúmeras cenas antológicas para o cinema”, frisou o crítico e presidente da ACCPA Marco Antônio Moreira.
Nascido em 1935, Angelopoulos foi uma crianças que sofreu com as atribulações da vida grega da época, com a II Guerra Mundial e a Guerra Civil, da qual o pai "desapareceu" depois de ter sido preso, episódio que marcou e a que muito anos depois, viria a revisitar, em mais de um filme, continuamente. A partida, o rompimento, o não pertencimento, são temas que tornam filmes como “Paisagem na Neblina” quase que autobiográficos.
Humanista e introspectivo, Angelopoulos teve seu estilo consolidado por esse filme singelo, que venceu o Leão de Prata no Festival de Veneza e foi eleito como melhor filme pelo European Film Award. “Exibido no Brasil somente nos anos 90, foi o filme que colaborou para revelar ao público brasileiro o talento e a genialidade do cineasta que anos depois realizaria “Um Olhar a Cada Dia”, uma das mais belas homenagens ao cinema”, acrescentou Marco Moreira.
Os grandes Marcelo Mastroianni e Jeanne Moreau estrelam “O Passo Suspenso da Cegonha”, realizado após o grande sucesso de “Paisagem na Neblina”, reforçando a qualidade do cinema de Angelopoulos ao tratar de um assunto ao mesmo tempo humano e político, revelando os anseios das pessoas que tiveram suas liberdades limitadas e que sonhavam com novos caminhos. “O Passo Suspenso da Cegonha” nunca foi lançado nos cinemas brasileiros.
Como o seu contemporâneo Costa-Gavras, Theo se deixou fascinar pelas luzes de Paris e pelas suas promessas de cultura e modernidade. Mas se Costa-Gavras ficou por lá, ele estudou antropologia na Sorbonne, cinema no IDHEC e voltou para sua amada Grécia. Dessa estadia na França, ele guardou – e utilizou a aprendizagem como discípulo de Jean Rouch num estágio no Museu do Homem. Angelopoulos referiu-se várias vezes a Rouch como sendo seu mentor, mesmo nunca tendo sido adepto do cinema direto protagonizado pelo mestre dos filmes antropológicos.
Theo Angelopoulos realizou 17 filmes (com esse que deixou incompleto por conta da fatalidade), contando a história e documentando a sociedade da Grécia contemporânea. Entre alguns de seus principais filmes, que merecem ser revistos estão “A viagem dos comediantes”, “Um olhar a cada dia”, “Viagem a Cítera” e a “Trilogia - O Vale dos lamentos”. (Lorenna Montenegro)

SERVIÇO:
Homenagem da ACCPA à Theo Angelopoulos.
Sessão Cult apresenta “Paisagem na Neblina”. Hoje, às 16h, no Cine Líbero Luxardo - Centur (Av. Gentil Bittencourt, 650). Entrada Franca. Inadequado para menores de 12 anos. Após o filme, debate entre o público e membros da Associação de Críticos de Cinema do Pará.
Sessão ACCPA/IAP apresenta “O Passo Suspenso da Cegonha”. Na segunda, dia 6, às 19h no Cineclube Alexandrino Moreira (IAP - Praça Justo Chermont, 236, ao lado da Basílica de Nazaré). Entrada Franca. Inadequado para menores de 12 anos. Após o filme, debate entre o público e membros da Associação de Críticos de Cinema do Pará.

"PAISAGEM NA NEBLINA"


"Paisagem na Neblina "

Paisagem na Neblina (Topio Stin Omichli, Grécia, 1988), dirigido por Theo Angelopoulos com roteiro dele, de Tonino Guerra e de Thanassis Valtinos, enfoca o drama de duas crianças, uma menina de 11 anos, Voula (Tania Palaiologou), e um menino de cinco, Alexandro (Michalis Zeke), que adotam atitudes de adultos e são lançados, sem nenhuma proteção, no mundo despreparado para compreender e cuidar da infância. Eles vão sendo oprimidos seguidamente quando buscam um sonho: encontrar o pai que estaria na Alemanha, na verdade uma mentira inventada pela mãe deles para tentar encobrir o que nem mesmo ela sabia: quem eram os pais das crianças?
Um filme introspectivo, para reflexão, não só pelo tema, mas, sobretudo, pelo ritmo narrativo cadenciado por longos planos, as imagens permanecem na tela sem mudanças significativas, verdadeiros planos-sequências, que condicionam o espectador, exige uma postura reflexiva durante a exibição sob pena de se achar o filme monótono; é dado tempo, pelo estilo do diretor, para que cada um seja absorvido emocionalmente pelo drama das crianças, seja inserido numa tragédia que se aproxima inexoravelmente, não há como se esperar um final feliz. A música é um componente sensível, em vários momentos amplia-se o som com função de reforço às imagens; chama-se a atenção do espectador sublinhando o visual com explícita pontuação sonora.
As crianças, sem bilhetes de passagem, tentam várias vezes até que conseguem entrar em um trem com destino à Alemanha. Este foi só o primeiro obstáculo a vencer, o mais fácil. São flagrados sem os bilhetes e por isso deixadas na primeira parada do trem com o responsável pela estação. Um policial leva as crianças para deixá-las com um tio, irmão da mãe, claro. Em conversa reservada com o policial, o homem esclarece a situação e diz que não pode ficar com as crianças. A menina, no entanto, ouve a explicação do tio sobre a paternidade deles e, revoltada, diz que é mentira, que o pai está, sim, na Alemanha.
Levadas a um posto policial, elas escapam no momento em que começa a cair neve e as pessoas vão para a rua contemplar o fenômeno. Recomeça, então, a caminhada rumo à Alemanha. Eles conseguem pegar outro trem, mas não por muito tempo, fogem da fiscalização e voltam a caminhar, a pé.
O sonho das crianças é explicitado em monólogos oníricos da menina, por trás das imagens e sobre elas. Em várias ocasiões explicitam as esperanças de encontrar o pai; algumas frases são dirigidas diretamente a ele, como uma mensagem.
Como a narrativa desenvolve-se ao longo de uma extensa viagem, de trem, de caminhão, de motocicleta e a pé, as várias paradas em diversos locais dão oportunidade à inserção de fatos e situações, alguns deles inusitados e que não estão diretamente ligados à história, mas que servem para enriquecer, ampliar o foco da trama. Angelopoulos faz incorporações com muita propriedade e sensibilidade, dando elementos adicionais para a análise do filme e que, por associação e dedução, se aplicam ao ser humano em geral em sua busca de significado para a vida.
Um grupo teatral de parcos recursos em busca de um local para se apresentarem surge no caminho das crianças, mais diretamente um jovem do grupo, Orestes (Stratos Tzortzoglou), que lhes dá apoio; eles se tornam amigos, Orestes está prestes a se apresentar para o serviço militar, ele tem uma motocicleta. Assim, os meninos se deslocam de trem, a pé, de caminhão e de motocicleta. Os garotos passam um tempo com Orestes. Depois voltam a caminhar sós.
Além das dificuldades inerentes a caminhada sem recursos e até por causa disso, vem a crueldade. A menina é estuprada violentamente por um caminhoneiro que havia dado carona aos dois viajantes que buscam um sonho irrealizável. Mas não desistem, continuam em direção à Alemanha.
Eles voltam a se encontrar com Orestes e a motocicleta passa a ser o meio de transporte dos três, antes de nova entrada em trem até a fronteira com a Alemanha.
Vão a uma praia, alegres pelo reencontro; Orestes tenta uma dança com Voula, mas ela não corresponde; na verdade a proximidade com o rapaz causa nela uma reação explosiva, ela se afasta correndo, abaixa-se à beira mar, brinca com a areia. Ela está mudando, está amadurecendo, é mulher. Algum tempo depois os dois meninos estão dormindo numa cama de hotel, Orestes está com eles, em outro quarto. A menina se levanta, sai do quarto, caminha até outra porta, abre-a e some na escuridão. O plano seguinte mostra uma cama vazia e a menina acendendo a luz. Novo corte e Orestes aparece, na rua, sentado diante do mar.
Destaco outro momento. Orestes com os garotos vai de motocicleta a um campo aberto onde dezenas de motoqueiros se deslocam da direita para a esquerda, da esquerda para a direita, para frente, para trás. Orestes vende o veículo, mas diz que só o entrega no dia seguinte, ele pretende levar as crianças na estação ferroviária. É uma sequência de muita movimentação externa, que vai terminar em um bar-boate, um ambiente de penumbra, fumaça de cigarro, pessoas se movimentando em ritmo de dança ao som de música, certamente um ambiente inadequado e carregado para as crianças, que estão numa escada, sentadas. Mas, o que há de mais chocante é que Toula vê Orestes se afastar com um rapaz, o comprador da moto; as imagens dão a entender que os dois vão ter um relacionamento íntimo.
Imediatamente após Toula ficar estática observando a cena, ela e o irmão aprecem na rodovia, caminhando, é noite. Orestes chega de moto, tenta se reconciliar com a menina, mas ela é radical. Continua a caminhada com o irmão e deixa Orestes para trás.
De um modo inusitado a menina consegue dinheiro, compra passagens de trem, e então não temem mais a fiscalização. Quando o fiscal chega ao compartimento onde estão, ela entrega-lhe os bilhetes, o menino está ao lado dela, os dois se olham, sorriem, finalmente podiam ir tranqüilos. No entanto, uma voz no alto falante do trem os traz novamente à dura realidade: “Por favor, passageiros com destino à Alemanha... preparem seus passaportes para o controle de fronteira”. As crianças olham para cima, para o alto-falante de onde vem a voz, parece não acreditarem no que ouvem: “Repito: por favor, passageiros com destino à Alemanha preparem seus passaportes para o controle de fronteira”. Há um corte.
A cena subseqüente mostra um soldado caminhando de um lado para o outro em uma parte elevada do terreno. Os meninos aparecem e cruzam a elevação tão logo o soldado se afasta. Descem no terreno. Uma torre de controle aparece, na parte superior um holofote se desloca iluminando o terreno com fachos de luz. A menina fala na escuridão: “Do outro lado do rio fica a Alemanha”. O foco de luz da torre passa e eles aproveitam e correm na escuridão. Agacham-se na base da torre. Eles correm e entram em um pequeno barco que está na margem do rio.
Centrado no sonho das duas crianças, o diretor e os roteiristas utilizaram, também, um recurso próprio do cinema: a incorporação da narração oral sobre as imagens filmadas. A menina Voula, em sonhos, relata o que se passa com eles, dirigindo-se ao pai ausente. Em um desses momentos, enquanto dorme em um banco de um bar e o menino de joelhos no banco olha para fora por uma janela, ela mesmo, ou melhor, a voz dela, complementa a cena: “Querido pai: Quão longe você está! Alexandro disse que em seus sonhos enxergava você muito próximo. Se ele esticasse a sua mão ele teria tocado você”.
Em outra ocasião, enquanto dorme em um trem, volta o complemento oral: Viajamos continuamente. Tudo passa rapidamente. As cidades, as pessoas. Mas às vezes nos sentimos muito cansados que esquecemos de você e não sabemos se vamos prosseguir ou retornar. E então nos perdemos. Alexandro cresceu muito. Ele se tornou muito sério. Veste-se sozinho. Diz coisas que você nem imagina. Eu, estes últimos dias, fiquei muito doente, fervia de febre. Agora, pouco a pouco estou melhorando. É uma longa caminhada até a Alemanha.
[...]
No final do filme, a voz de Voula é fundamental, repete palavras do início do filme e então, complementa o conjunto. Talvez a sequência inusitada mais significativa seja a que envolve os três personagens centrais próximo de um monte de lixo em uma rua. Orestes pega nos detritos um pequeno pedaço de filme, alguns fotogramas, olha-o contra a claridade, o menino diz que nada vê na película, mas Orestes insiste:
- Olhe com atenção.
- Nada
- Está vendo? Atrás da neblina. Atrás. Distante....Você não vê uma árvore?
- Não.
- Eu muito menos. Estava brincando.
Mesmo sem nada impresso, o menino pede o pedaço de filme e Orestes o entrega. Digo que é importante a sequência porque tem a ver com a cena final como se irá ver mais à frente.
Bem, voltemos ao ponto da narrativa no qual parei. Os meninos chegam à fronteira, um soldado-sentinela caminha de um lado para o outro, há um posto de controle, uma torre no alto da qual há um holofote cujo facho de luz se desloca pelo terreno à busca de intrusos. Há um rio, a Alemanha está do outro lado. As crianças correm evitando a luz. Um pequeno barco está na margem. Eles entram no barco que desliza lentamente pela água, afastando-se da margem em direção ao outro lado, à Alemanha. Está escuro, mas o facho ilumina o barco, há um grito de alerta e um tiro seco. Escuridão.
Então a tela fica totalmente clara, inicialmente sem imagem, só a neblina branca. Lentamente aparecem vultos. O garoto se levanta.
- Acorda, já amanheceu, estamos na Alemanha.
Aos poucos a imagem do menino vai se firmando.
- Estou com medo.
- Não tenha medo. Vou lhe contar uma história. No princípio era a escuridão. No princípio era a escuridão.
O menino continua olhando para a câmera, para o espectador, acena com a mão direita.
- Então fez-se a luz.
Ainda na neblina, a menina se aproxima do garoto. A música entra dolente. A neblina está se dissipando. Os dois olham para uma árvore, à frente deles, distante, agora eles estão de costas para a câmera. O garoto segura a mão da menina e os dois saem caminhando em direção à árvore. Uma lenta caminhada com a música acompanhando. Em dado momento eles correm. A câmera fica no mesmo lugar, eles agora estão longe. Encostam-se no tronco da árvore. É como se eles se fundissem à árvore, mas se destacam no tronco, são figuras escuras. A tela escurece, é o fim do filme.
Na verdade, no início do filme, na escuridão do quarto , após tentativa frustrada de entrarem em um trem, na hora de dormir, um deles narra o conto deles:
No princípio era a escuridão e depois se fez a luz. E a luz se separou das trevas e a terra do mar e se formaram os rios, os lagos, e as montanhas. E então as flores e as árvores, os animais, os pássaros.
Toda essa narrativa é feita com a tela escura. De repente um ranger de porta e uma fala: “Deve ser mamãe. Este conto não vai acabar nunca, sempre nos interrompem”.
Por baixo da porta o piso externo ao quarto aparece iluminado, ouvem-se passos. Alguém passa pela luz, a porta é aberta e o quarto recebe luz de fora. A claridade avança até as crianças, elas estão deitadas na cama, fingem que dormem. A porta é fechada, tudo escurece.
Paisagem na Neblina é belo, instigante, polêmico, cruel, poético. Imagens, palavras, sons diversos, música, todos esses elementos se encaixam, se harmonizam criando uma cadência, um ritmo narrativo formalmente adequado ao desenvolvimento do conteúdo. Para finalizar uma pergunta: a última sequência se passa após a morte das crianças, em um plano puramente espiritual, ou é um recurso próprio do cinema no campo do ideal imaginado pelos autores? Para mim cabem as duas interpretações, sendo que a primeira está mais para a lógica da narrativa, as crianças foram baleadas e morreram. (Arnaldo Prado Jr.)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O HOOVER DE EASTWOOD

Edgar Hoover passou para a aferição de quem está de longe como um sacana que forjava o que fosse preciso para mostrar serviço. O que eu lia sobre cinema nos 50/60 encontrava adjetivos de latrina sobre o manda-chuva do FBI. Mas tinha um problema: nessa época, criticas e até mesmo livros/artigos sobre história do cinema eram manipulados por simpáticos a Moscou. Não vamos longe: “Histoire Du Cinéma” de Georges Sadoul era a bíblia dos que engatinhavam no estudo da falada Sétima Arte. E Sadoul era tão sectário que escrevia o diabo de qualquer filme produzido por gente de direita como Walt Disney . Essa linha ideológica de Edgar Hoover passou para o roteiro que Dustin Lance Black escreveu para o filme de Clint Eastwood. Mas com o cuidado de não cair em sectarismo narrativo, ou seja, puxar o barco para o seu porto. O escritor de “Milk” provou saber dançar o ritmo das biografias e fez o possível para mostrar os lados bons e maus do personagem. Afinal, quem não é bom e mau no correr da vida?
“J.Edgar” lembra em tese o “Cidadão Kane” de Welles. Não é preciso mostrar uma placa dizendo que a entrada é proibida para entrar em detalhes da vida de uma personalidade como o herói não diz palavra-chave ao sucumbir a um enfarte. Hoover foi um Kane muito menor. Em grana e caráter. Ambicioso a partir do incentivo materno quando criança, criou praticamente o Bureau de Investigações que na sua direção passou a ser Federal (ou FBI). Nessa qualidade, deu força à publicidade “natural” de seus esforços, sendo preciso maquilar trabalho para dizer que fez e aconteceu..
O filme tenta seguir a linha de cima do muro. Para tanto despreza a narrativa linear. Joga com o tempo para melhor exprimir atos e fatos. E nem sempre o faz de forma paralela. Seria até didático se mostrasse um Hoover velho contando bazófia e,logo depois do corte, ele fazendo cena para aparecer. Mas não: as mudanças seguem um ritmo. A base é o próprio biografado ditando a história de sua vida para um livro. Recurso que salva algum deslize temático.
Leonardo diCaprio deve ter incentivado a produção. Não é, decididamente, o tipo ideal para retratar o feio Hoover. Mas a maquilagem e a tecnologia hoje fazem um Boris Karloff virar um DiCaprio. É um desafio que o rapaz desejou (deve ter pedido a Eastwood)e que não se pode falar mal de todo. Quilos de cosméticos envelheceram o galã de “Titanic”, projeto que foi ainda mais corajoso do que o que fizeram com Brad Pitt em “Benjamin Botton”. E DiCaprio não se intimidou em beijar na boca Armie Hammer que faz o amante do personagem, Clyde Tolson(por sinal que a maquilagem de Hammer, ao “envelhecer, está mais para os filmes de terror da Hammer).Como gol da produção conta-se ainda, o aspecto plástico conseguido como uma fotografia desgastada, dando ênfase ao passado em foco, e a musica oportuna sem ser preciso buscar o ritmo dos anos dourados de Hoover como as canções de Gershwin ou Cole Porter.
Vi o filme sem consultar meu relógio (prova de que gostei do que vi). Aliás o octogenário Eastwood quase não erra o alvo. Embora ache melhor o anterior “Além da Vida” este “J.Edgar”procede como título de uma filmografia de bom nível e um desafio maior do que o “duo” sobre a guerra na Asia que inclusive deu margem a uma versão japonesa(“Cartas de Iwo Jima”)- com fala e tudo.
Ah sim: o filme não está no Oscar nem ganhou Globo de Ouro. Feriu susceptibilidades.(Pedro Veriano)

O PIOR É O NOME


“Millenium” trilogia de Stieg Larsson, ganhou por aqui o subtítulo “Os Homens que não amavam as mulheres”. OK, pai e filho especializaram-se em matar garotas com nomes bíblicos. Explicação: o velho era nazista convicto e o filho herdou a tara. Mas daí achar que os caretas só não amavam as mulheres é o mesmo que dizer, como se disse a propósito de uma comédia de Lubitsch ,“O Diabo Disse Não”(deu até marchinha de carnaval). Pronunciando o nome do filme contava-se o final.
“Millenium” ganhou uma versão sueca muito divertida. Agora chega pelo americano David Fincher . Vai além do que o filme sueco mostrou. Deixa perto de 15 minutos finais para contar uma tramóia que envolve indústria e banco norte-americano. No caso não é mais família pirada ou remanescentes ideológicos do “fueher”:é sacanagem de gente que tem dinheiro e quer ter mais.
Há bons e maus momentos. Os bons contam com a atriz Rooney Mara, candidata ao Oscar. Consegue repetir o que a colega fez no filme anterior. A seqüência em que ela se vinga de seu estuprador é violenta na medida certa para mexer com a adrenalina da platéia. Os ruins vão de coisas dignas dos velhos seriados americanos: o herói está literalmente com a corda no pescoço e a sua ajudante chega na hora para afrouxar a tal corda (e largar porrada no vilão). Aliás, a trama é bem clichê. O que é novo é o tratamento cru, a violência estilizada, a coragem em meter o dedo nas chagas dos bandidos. Claro que isso é um mínimo para o cinema que hoje goza de relativa liberdade de expressão. Mas é bem melhor do que ver um Transformer baixar o pau, ou o aço, em inimigos armados.Programa bom para quem não tem o que fazer. (Pedro Veriano)

AINDA "J. EDGAR"

Na comparação que fiz em artigo anterior com o personagem de “Cidadão Kane” versus Edgar Hoover não considerei um referencial entre o FBI e Xanadu. O “castelo” edificado pelo magnata do filme de Orson Welles tem a ver com a significação sobre o “no trespassing”, ou seja, ninguém conhece ninguém. Reflexo de uma criação por desvelo materno, acima da atenção dada aos demais familiares, o local de trabalho de Edgar Hoover é a sede de uma ambição prometida (“meu filho você será uma pessoa poderosa”). Aliás, o relacionamento mãe-filho é básico na formação afetiva e profissional do personagem. Afetiva porque demonstrada ate mesmo na desobediência que se pode ver, psicologicamente, como uma reação natural do ego. Quando a mãe “ralha” por uma tendência não-viril do filho e diz que “prefere estar morta a vê-lo preferindo homens” isto indica o caminho a seguir de Edgar. Tanto que ele diz ao amigo-amado Clyde Tolson (Armie Hammer) do assédio à atriz Dorothy Lamour “pois está na hora de casar e constituir família”. E a formação profissional espelha na relutância por “mostrar serviço” como o meio que passa a usar para se projetar e, com isso, fazer jus à predição materna.
O roteiro de Dustin Lance Black não reflete um processo esquemático como à primeira vista pode parecer, mas às opções de um roteirista pelo que poderia recortar sobre a vida de um homem que manteve, às raias da “perfeição”, a investigação policial norte-americana para fins da defesa e da segurança nacional (o eixo justificador de qualquer anomalia que pudesse subverter o caminho da ética). Despreza filigranas e tenta sempre um retrato isento de retoques, de um tipo que é bom e mau, que organizou um arquivo de digitais numa época em que computador era ficção - cientifica e, de alguma forma, desvendou uma série de crimes, prendendo – ou mandando prender – criminosos. Hoover desagradou mais do que agradou aos críticos de seu tempo. No cinema, por exemplo, apesar de dizer que o senador Joe McCarthy, o responsável pela chamada “caça às bruxas”, movimento no Congresso que atacou a industria cinematográfica de forma sectária, prejudicando carreiras brilhantes com a acusação de que se tratava de comunistas, era um “exibicionista”, ele próprio foi radical contra quem achava estar “a serviço de Moscou”. E gabava-se de ser o homem que prendeu ou matou facínoras como John Dillinger. Os casos que o filme aponta quanto a certas investigações secretas que fazia como a da primeira dama dos EUA, Eleonor Roosevelt, ou do prorpio Nixon, ou dos Kennedy, tendem a ser as peças a usar em tempo preciso pela sua conveniência pessoal, fato apontado no roteiro. Não vazam para o público, mas são notificadas por Eastwood para mostrar o caráter do Diretor do FBI. Entre conversas pessoais ele revela que poderia dispor delas, como na visita que faz a Robert Kennedy para evidenciar o que sabe sobre ele e o irmão presidente, ou em torno do comportamento de Eleanor, ao contestar as assertivas do FBI sobre a prisão do suposto seqüestrador e assassino do filho de Charles Lindenbergh. Neste caso, é de supor que o todo-poderoso Hoover correia o perigo de adiantar detalhes de sua própria opção sexual, fato já murmurado pela população (e proibido na sua época áurea de mando).
A vida intima de Hoover não tem muita ênfase, mostrando certos gestuais simbólicos em poucas seqüências. Mesmo assim, há momentos que ressaltam o envolvimento entre ele e Tolson, através de olhares, de proximidade e aceitação nas decisões, nos tradicionais almoços em certo restaurante, e, principalmente, numa briga física entre os dois. Sintomático do que era suposto entre os norte-americanos, sobre este se vestir com roupas femininas é o momento em que se prepara para o velório da mãe, mas antes com as próprias roupas desta se traveste.Mas é o próprio Tolson quem desmascara a farsa de Hoover, na decomposição que faz sobre os feitos do amigo. Esse é um ponto importante do filme, pois J. Edgar fica de frente com as suas verdades e mentiras.
Finalmente para quem estranhou a ausência do filme nos Oscar fica a linha da Academia de Hollywood que dificilmente absorveria tema tão delicado.(Luzia Álvares)

J. EDGAR NO OLHAR DE CLINT EASTWOOD





As sutilezas de uma criação levam, às vezes, certos olhares a não perceberem o que está por trás do produto criado. E o cinema tem essa possibilidade se um filme é elaborado por um autor autêntico. Orson Welles foi marcado por seu “Cidadão Kane” por ter mostrado, a partir das imagens de um trenó, quem poderia ser aquela figura que, em recortes de sua vida, fora tão contraditório e farsante. Não que houvesse uma biografia daquele grande homem conhecido na sociedade como jornalista e político, mas porque uma palavra balbuciada em seus estertores de morte – “rosebud” – significava muito mais do que se construída uma evidência linear de quem era ou não era esse personagem que no final da vida teve como único pensamento a infância que lhe dera, ao menos, um presente.
Clint Eastwood é um desses autores do cinema. Já demonstrou isso várias vezes. Tem suas caracteristicas formais inantingíveis, ou seja, constrói personagens sem fazer deles “herois” ou “bandidos” do tipo que o cinema norte-americano marcou desde que se estruturou, “fazendo cabeças” do/a espectador/a e, com isso, não levando este público a pensar.
É isso o que se esclarece em “J. Edgar” ( EUA, 2011), o mais recente filme desse diretor, com roteiro de Dustin Lance Black (Milk), cuja estrutura é extraida de relatos autobiográficos do próprio Hoover. O que é possivel considerar de uma narrativa dialética partindo dessa figura, que dita suas memórias a um funcionário do FBI? Comparecem variados tempos dessa narrativa, cujo olhar para traz evoca um balanço dinâmico de sua carreira até chegar ao topo do poder sendo, antes, um funcionário da Biblioteca do Congresso Americano, depois, empregando-se no Departamento de Justiça dos EUA onde avançou rapidamente na carreira. Indicado em 1919 para investigar estrageiros suspeitos de subversão teve diante de si nada menos do que Emma Goldman e, desse estágio, foi responsável pela expulsão de um número expressivo de pessoas. Esse trabalho é que o levou a galgar rapidamente outras funções sendo chefe de departamento. E pela obsessão em pesquisar qualquer coisa cadastrando e catalogando, por exemplo, livros na Biblioteca do Senado, se interessa por criar algo mais diligente quando está no combate aos que considera inimigos públicos do país como o arquivo de pessoas abarcando a população. É bom frizar que àquela altura não havia computador e suas idéias de monitorar a vida das pessoas a partir das impressões digitais ainda se constituiam em sua expectativa fantástica de eliminar os inimigos da nação, tipo, os comunistas.
Alternado tempos, o filme mostra a dedicação de J. Edgar pela mãe (não se interessa pelo pai). A sequência sobre esse fascinio é capturada de um episódio em criança quando esta o obriga a repetir que ele será um vitorioso, será ilustre e terá muito poder. As cacaracteristicas pessoais estremamente seguras e fortes desta, intermediam a consistência ao devotamento a ela.
As posições profissionais tomadas são sempre da dimensão de um lider que controla tudo e o que será feito no Departamento que dirige. Assume com isso uma política da ordem e, com esta convicção, visita senadores, presidentes, e/ ou outras figuras que possam lhe ser úteis não só no prosseguimento de suas idéias de extirpar os “maus elementos” da sociedade americana – para ele, os movimentos sociais que demandam políticas de igualdade, e/ou seus próprios funcionários quando não estão coesos com suas idéias – mas, principalmente para criar o tal Bureau (FBI, em 1924)que seria o órgão de informação do governo, mas também seu próprio poder secreto para divulgar fatos de pessoas ilustres ou não, mas sempre necassárias para ele em qualquer ocasião quando, por iniciativa própria e por ideologia conservadora fazia dessa informação a sua arma particular para conseguir mais poder e controle sobre todos. Era, por isso, um manipulador hábil e eficiente, pois, sem fatos concretos, forjava uma notícia divulgando inverdades de seus compatriotas. As justificativas para isso dizia serem parte importante para a segurança do país.
A vida pessoal e afetiva de Hoover é mesclada nessa dialética entre os sub-temas do eixo central explorado por Eastwood que é a escolha de um parceiro em quem confiava e com quem passou a dividir também espaços pessoais. Volto ao assunto.(Luzia Álvares)

"MILLENIUM: OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES"


Um dia antes de assistir no cinema a “Millenium, Os Homens que Não Amavam as Mulheres”(The Girl With the Dragon Tatoo/EUA,2011) revi, em DVD, a versão sueca do primeiro volume da trilogia de Stieg Larsson. Basicamente é a investigação que o jornalista Mikael Blomkvist faz, a pedido de um magnata idoso, em busca de uma sobrinha, Harriet, desaparecida há quarenta anos. O jornalista submetera-se a um processo judicial que o condenou por difamação, mas enquanto espera o período de execução à sentença, aceita a tarefa sabendo de antemão que a família da desaparecida tem uma longa história de dissenções devido a causas ideológicas, de herança e de caráter. Suas reuniões em datas especiais não representam o afeto entre eles, mas revelam tensões e conflitos recônditos. Alguns se odeiam e mesmo morando próximos não trocam palavra. Velhos nazistas estão lembrados em retratos espalhados pela casa, e os descendentes seguem resquícios da ideologia ancestral.No filme sueco dirigido por Niels Arden Oplev, o enfoque prende-se à tarefa de Mikael e à descoberta de Harriet. No filme norte-americano dirigido por David Fincher, a trama vai mais além. Detalha negociatas que envolvem firmas e bancos, começando pela corporação que a família investigada detém como herança com raízes seculares. Nessa jornada que deverá descobrir as tramas das negociatas vindas da Suécia, o jornalista inicia sozinho o desvendamento do mistério, aceitando o trabalho não só pelos limites impostos à liberdade de sua profissão, portanto, pelos recursos que irá receber se tiver êxito na empreitada, mas por ter sido instigado a receber, também, um dossiê completo do seu acusador, podendo reabrir o caso que o condenou. A necessidade de auxilio nas buscas a documentos e provas leva-o a incluir uma jovem “punk”, Lisbeth Salander, que no filme sueco é interpretada por Noomi Repace e, na versão de Fincher, por Rooney Mara, candidata ao Oscar deste ano. Duas interpretações excelentes. Fico dividida entre as duas, ambas incorporando um esforço fantástico no tipo “estranho” interpretado. O percurso desta personagem, nos dois filmes, é tratado em paralelo à trama principal, evidenciando a máscara do tipo negando-se a figurar como a tradição manda às mulheres. Por isso, é mostrado todo o desenrolar de sua submissão segundo ordens familiares, a um processo de tutela, e de que modo se desvencilha desse domínio.
Os filmes devassam espaços tradicionais de um país pouco explorado em intrigas do tipo. Não conheço os livros originais, mas, pelos dois filmes, percebe-se, especialmente, o papel das mulheres que se estigmatiza como rebelde e devassa, acompanhando-a num processo de vingança e numa odisséia policial que a coloca como investigadora igual ou melhor do que os especialistas no ramo.Uma sequência salta do conjunto nos dois filmes: quando Lisbeth (Noomi ou Rooney) responde ao estupro sofrido e tortura o estuprador. Há necessidade de detalhar a cena embora seja de extrema crueldade. Mas é nessa demonstração de violência que se apega os filmes, não havendo diferença formal entre os dois. O que se pode dizer de diferença, além do final que Fincher estica para tratar de outro assunto, é que na versão americana há mais detalhes sobre o jornalista, esmiuçando melhor o seu processo. Mas não resta dúvida que o ataque ao vilão é típico de aventuras de ação comuns. Inclusive na presença de quem vai salvar o mocinho na hora em que este é presa do bandido e está preste a ser executado. São clichês que trabalham um tema de outra forma apresentado como uma denúncia um tanto árdua de corrupção.
Creio que “Millenium” é programa para todos os públicos. O subtítulo dado no Brasil é um tanto incoerente ao incluir a todos os homens da família focalizada como algozes das mulheres da familia. O próprio fato da investigação retomada 40 anos após um crime pelo patriarca da família demonstra que não há unanimidade em tipos e atitudes masculinas no caso. (Luzia Álvares)

"J. EDGAR"





J. Edgar Hoover foi durante 48 anos o chefe do FBI (Federal Bureau of Investigation) a mais importante organização policial do mundo, sendo considerado seu patrono. Ele pode ser comparado a um Assis Chateaubriand, o magnata das comunicações no Brasil entre o final dos anos 1930 e início dos anos 1960. Ambos foram homens fortes, mas cheios de contradições humanas. E é o homem J. Edgar e não o ‘tira absoluto’ J. Edgar que Leo di Caprio representa no filme homônimo de Clint Eastwood.
Desprezado no Oscar 2012 pelos membros da academia, que não consideraram sua atuação digna de ser indicada, Di Caprio se despiu e submergiu na persona do feioso e dominador J. Edgar. Muitos apontam que a sua interpretação de Howard Hughes em “O Aviador” (de Martin Scorsese) serviu como laboratório para esse desafio maior. Eu discordo. Acredito que a composição que ele fez do excêntrico Hughes foi impecável, e a de J. Edgar, apesar de poderosa, apresentou alguns, digamos, ‘defeitos’.
Claro que ninguém imagina ser fácil interpretar um personagem dos 22 aos 77 anos de idade. E Di Caprio sofreu com falhas de maquiagem e mudanças de postura que atrapalharam sua atuação, e nós do lado de cá da tela nos incomodamos. Mas o enredo arquitetado pelo roteiro de Dustin Lance Black (“Milk – A Voz da Igualdade”) e a mão de Clint, conseguiram gerar bons momentos, apesar de resultar num filme irregular.
O principal ponto de reflexão aqui é a escolha que o veterano diretor, que lança praticamente um filme por ano desde 2006, fez por focar no aspecto pessoal de J. Edgar Hoover, humanizando o homem e esquecendo de atentar para o trabalho que o fez se tornar um mito – para o bem ou para o mal. Quando no começo da ascensão de Hoover, transformando o FBI de escritório burocrático e corrupto a uma agencia policial respeitada, Clint mantém um ritmo interessante.
A perseguição e prisão dos grandes criminosos dos anos 30, como Dillinger e Baby Face Nelson, resulta em popularidade aliada a uma boa dose de publicidade que invade os gibis e as telas dos cinemas, colocando o astro James Cagney como policial e tornando os G’Men os novos heróis da garotada. Porem, começam a se revelar nuances desagradáveis de J. Edgar, que vai suprimindo a liberdade de uns – implantando escutas, fazendo chantagens e distorcendo fatos – em prol da ‘segurança do povo americano’. A relação complexa com a mãe (Judi Dench), vai se revelando o “calcanhar de Aquiles” de um homem reprimido, talhado para ser o orgulho da família e sem espaço para demonstrar fragilidades.
Leonardo di Caprio, ao lado de Armie Hammer (que alterna masculinidade e sinceridade na pele do agente Clyde Tolson), não torna o filme ‘um drama gay monótono’, como dizem alguns críticos. Eles imprimem veracidade a vida privada de homens da lei, oprimidos pelo papel que devem representar – principalmente J. Edgar – e vivendo juntos, porem sem consumar o romance, no decorrer dos anos.
A fotografia em tons acinzentados e em algumas vezes quase na penumbra, imprime sobriedade e o clima de conspiração, sempre presente no âmbito policial. J. Edgar é um personagem extremamente paranóico e metódico, indigesto em alguns momentos, mas que graças ao talento de Di Caprio, consegue emocionar em algumas cenas como quando se vê orfão e deixa a feminilidade sair para aplacar a dor. Ou quando pergunta a secretária Miss Grandy (Naomi Watts, quase irreconhecível), se ‘destroi tudo que ama’ e lhe pede que destrua seus arquivos secretos caso ele venha a falecer.
Outro ponto para Clint é a opção estética pela caracterização equilibrada entre o bonito/feio e o bom/mal, no universo de J. Edgar: o diretor do FBI, apesar de não ser um galã, se cerca de pessoas com boa aparência como Tolson, Grandy, além de excluir da seleção de agentes aqueles que não são atraentes. Ele antagoniza personagens com alguma característica física que se sobressai, como o queixo do sequestrador, o nariz de Nixon ou os dentes de Kennedy.
Creio que as sequências do caso do seqüestro do bebê de Charles Lindenberg e com Bob Kennedy são as mais fracas, tanto em termos de dialogo quanto em construção narrativa. Não vemos J. Edgar - uma figura essencialmente política antes de um homem em conflito do prazer/dever - aplicando seu intelecto na criação das fichas de suspeitos, desenvolvendo ações para prender ‘agitadores’ ou criminosos e aspiramos por mais sequencias na sala presidencial, onde ele destilou sua influencia como a águia americana guardiã da pátria. Nesse filme ambíguo, sua personalidade nos é apresentada, mas passa longe de ser desmistificada ou revelada.(Lorenna Montenegro)

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