quinta-feira, 29 de março de 2012

"A SEPARAÇÃO" NO CINE ESTAÇÃO A PARTIR DE 05/04


O Cine Estação das Docas exibe, a partir do dia 5 de abril, o grande vencedor do Oscar 2012 na categoria de melhor filme estrangeiro: ‘A Separação’, do diretor Asghar Farhadi, premiado pela Academia de Hollywood no dia 26 de fevereiro durante 84ª edição da cerimônia do Oscar no tradicional Kodak Theatre, em Los Angeles.
Desde o ano passado, o filme era cotado como o grande candidato da categoria por causa de seu conteúdo crítico às leis do Irã. Discípulo de Jafar Panahi, cineasta iraniano que foi preso em seu país, Farhadi não deixou passar em branco o grande momento no palco do para alfinetar a política islâmica. “Nosso povo já sofreu muito por questões políticas. Por isso, eu ofereço esse prêmio ao povo do meu país e a todos os povos e nações”, disse o diretor iraniano de fala baixa e dificuldade de se comunicar em língua inglesa.
‘A Separação’ conta a história de Simin e seu marido Nader, que estão se preparando para deixar o Irã, com a filha Termeh. Mas Nader,preocupado com seu pai, que sofre de Alzheimer, acaba desistindo da viagem.Decepcionada, Simin entra com pedido de divórcio e decide sair de casa. Nader é obrigado a contratar uma jovem para tomar conta de seu pai. Porém a diarista está grávida, e trabalhando sem o consentimento de seu marido, condições que junto à um terrível incidente, levará as duas famílias a um julgamento de cunho moral e religioso.
Justiça, política, religião, moral, tudo acaba sendo discutido pelo diretor Asghar Farhadi no roteiro que leva o espectador a refletir sob diversos pontos de vista. Orçado em US$ 300 mil e filmado em boa parte com a câmera na mão, o filme foi interrompido em 2010 por seu posicionamento político, mas levou mais de 3 milhões de iranianos ao cinema. Incomodado com o sucesso de público e crítica, o governo do Irã divulgou nota avisando para as pessoas terem discernimento na hora de analisar a obra, que segundo o Ministério das Relações Exteriores, mostraria uma versão distorcida da República Islâmica.Além do Oscar de melhor filme em língua não inglesa, o longa arrebatou o Urso de Ouro no Festival de Berlim, mais o Prêmio Ecumênico do Júri e o Urso de Prata nas categorias ator (PeymanMoadi) e atriz (Leila Hatami).

Serviço:
A Separação (Irã, 2010)
Direção e roteiro: Asghar Farhadi/12 anos.
123m. Drama
Datas em abril:
5/04 (quinta): 18h e 20h30
6/04 (sexta): 18h e 20h30
7/04 (sábado): 18h e 20h30
8/04 (domingo): 10h, 18h e20h30
12/04 (quinta): 18h e 20h30
13/04 (sexta): 18h e 20h30
14/04 (sábado): 18h e 20h30
15/04 (domingo): 10h, 18h e20h30

quarta-feira, 28 de março de 2012

LANÇAMENTOS EM DVD

Diminui cada vez mais a janela das exibições dos filmes em cinema para o DVD. Já se encontram nas locadoras: “O Preço do Amanhã”, ”O Palhaço”, ”A Pele que Habito”, “Contágio”e “O Retorno de John English”.
“A Pele que Habito” (La Piel que Habito/Espanha, 2011) foi um dos meus melhores filmes do ano passado. Escrito e dirigido por Pedro Almodóvar. Antonio Banderas, que volta a filmar com o cineasta que o descobriu, protagoniza um cirurgião plástico marcado pela tragédia quando sua esposa sofre um acidente de carro e fica bastante queimada. Em busca da pele ideal para transplante ele usa cobaias humanas. A saga de Frankenstein é lembrada e as imagens extrapolam os esquemas conhecidos de filmes de terror. Pedro Almodóvar aborda a dimensão da sexualidade e a identidade criada a partir de mudanças físicas, apontando o outro lado da questão. A potencialização de formas de poder para “modelar” pessoas, revelada no filme, entra nas discussões atuais que aderem à perspectiva dos estudos de gênero apontando para, inicialmente, as definições culturais do “ser homem” e do “ser mulher” a partir da socialização do ser humano pelo único entendimento que teria a ciência e a cultura – a biologia - e trata das discussões sobre o corpo sexuado, da diferença entre os sexos, mostrando que o ser homem e o ser mulher são relações culturalmente construídas. Recentemente o filme ganhou os prêmios Bafta (Inglaterra), Gota(Espanha) e de Washington(EUA).
“O Preço do Amanhã”(In Time/EUA, 2011) é mais uma história criativa de Andrew Niccol autor de “O Show de Truman”, “Gattaca” e “Simone”. Aqui ele imagina um mundo em que a vida passa a custar dinheiro literalmente. Compram-se anos de vida e, nesse meio, os milionários estão destinados a viver séculos. A situação leva a um romance entre um jovem que recebe uma quantia/anos de um suicida, e uma garota filha de um homem rico e, naturalmente, longevo. A ideia podia gerar mais, caminhando para um suspense de filme de aventura comum, mas não deixa de interessar e tem bons momentos como o momento em que o protagonista tenta dar mais tempo para a sua mãe e ela morre em seus braços.
“O Palhaço”(Brasil/2011) é o segundo filme dirigido por Selton Mello. Ele protagoniza o palhaço Benjamin, atuante num modesto circo com seu pai, Valdemar (Paulo José). Quando resolve reconstruir sua vida e deixa o circo, defronta-se com um mundo injusto que desconhecia. O filme é muito criativo, com um bom argumento, e os dois atores principais Sellton Mello com Paulo José estão excelentes. Vale a pena ver ou rever.
“Contágio” (Contage/EUA 2011) trata de uma epidemia produzida por um vírus desconhecido e que se mostra resistente a todos os medicamentos ao alcance. Com direção de Steven Soderbergh e um elenco all-star (Gwynett Paltrow, Matt Damon, Jude Law, Marion Cottilard (a Edith Piaf do filme “Piaf”), Kate Winslet, Laurence Fishburme e Brayn Cranston, o roteiro critica a indústria farmacêutica mostrando como ela chega a vender placebo como viável para a cura da nova doença.
“Os Muppets”(The Muppets/EUA,2011) ganhou o Oscar de canção (Man or Muppet). Dirigido por James Bodin trata da odisseia de Walter, o maior fã dos Muppets, que viaja a Los Angeles, ao lado dos amigos Gary e Mary, e descobre que Tex Richman quer destruir o Muppet Theatre para explorar petróleo no local. Surge um mutirão de ajuda a Caco para obter, através de programa de TV, US$10 milhões que salvará o espaço dos bonecos. Mais uma animação na técnica stop-motion creditada na popularidade que os heróis da televisão nos anos 60/70 ainda possuem.
O excelente “Divorcio à Italiana”(Divorzio Allá Italiana/Itália 1961) mostra Marcello Mastroianni tentando assassinar a esposa que ele preprarou para ser infiel e, com isso, dar-lhe campo para namorar a prima (Stefania Sandrelli). O tipo vivido por Daniella Rocca é hilariante. O filme fez tanto sucesso que mereceu uma sequencia: “Seduzida e Abandonada”(Sedotta i abbandonata/1964). Direção de Pietro Germi. (Luzia Álvares)

A IMPORTÂNCIA DE ESTAR DE ACORDO

Numa única relação à infidelidade deve ser exercitado: entre o cinema e a literatura. Nem sempre bons livros rederam bons filmes. Na adaptação de Hossein Amini para o livro de James Salliso que resulta no roteiro de “Drive”, existe uma fidelidade de ação, porém a o resto é livre para o que vemos na tela. O filme é estiloso e a direção é do mais novo queridinho cineasta europeu cooptado por Hollywood, o dinamarquês Nicolas Winding Refn. Dele conhecemos “Pusher”, um filme violento e caústico. Em “Drive” a ação conta a história de um piloto de carros que é dublê de Hollywood, também presta serviços como motorista para criminosos de Los Angeles. mas entra uma mulher na história e as coisas mudam. A violência tem doses exatas, a um clima retrô que ronda o cenário de Los Angeles, o som synthpop e o techno estranhamente combinaram com o ambiente solitário que por outro lado, deixaram o clima mais vintage do que o esperado. Há uma melancolia no ato de violência. Não existem barulhos, tiros, explosões em profusão, um detalhe que remete a uma melancólica atmosfera. A atuação de Ryan Gosling ( “Diário de uma Paixão”, “Tudo pelo Poder”) é concisa, subliminar e angustiante. Cartaz do Cinepolis. Corra ! (Ismaelino Pinto)

terça-feira, 27 de março de 2012

"DRIVE"

Jornada acelerada
Um sujeito alto, loiro, trajando uma jaqueta perolada com um imenso escorpião amarelo às costas. Ele guarda um palito de dente entre os lábios, coloca suas luvas de couro e entra num carro que não tem nada de especial. Sim, nesta história, não são os carros os protagonistas – como na lamentável série Velozes e furiosos ou no bobo 60 Segundos – e sim, o homem. Aquele que tem um talento fora de série ao volante, que cruza as estradas e ruas em velocidade, fazendo peripécias e manobras arriscadas, numa cidade que não dá trégua aos perdedores.
Com roteiro adaptado da obra de James Sallis, Drive é sobre um motorista profissional (Ryan Gosling), que arrisca sua pele trabalhando como dublê em filmes de ação. E, quando ele sai dos sets, arrisca a pele novamente, participando de roubos e operações ilegais. A vida dele não tem muitas perspectivas e ele parece não se importar com nada e com ninguém, inabalável e indiferente como uma pedra de gelo. Até que começa a travar contato com a vizinhança, no ‘cafofo’ aonde mora: conhece a meiga Irene (Carey Mulligan) e seu filho, benício.
“Eu só dirijo”
E sim, ele passa e se importar, amar os dois e ter motivos para esboçar um sorriso. Nas poucas vezes em que abre a boca e emite algum som, Ryan Gosling repete essa frase. Ela serve para ilustrar aquilo que, além de fazer melhor, é a única coisa que o preenche. Vemos a cara de satisfação quando ele acelera, despista a polícia ou bandidos, e olha pelo retrovisor os algozes comendo poeira. Ou quando se vinga colocando toda a fúria no motor e capô do carro, que termina ensanguentado.
Seus planos de vida feliz são frustrados pelo aparecimento do marido dela, que saiu da prisão. Mas quando o motora aceita a proposta do seu ‘rival’ romântico, e dirigir para ele num último trabalho, o tiro sai pela culatra e ele se vê envolto numa grande confusão. E isso implica muito derrame de sangue e abala a relação com o seu chefe manco, da oficina mecânica onde trabalha, que começa a correr risco. Entre muitas cores neons e tons enfumaçados, a Los Angeles de Drive é uma cidade perigosa, e suas ruas são promessas de conflitos para o nosso motorista anti-heroi, que destila sua fúria para salvar aqueles que ama.
Desde o principio, Nicolas Winding Refn impõe uma atmosfera oitentista para homenagear os filmes americanos de ação da época. O letreiro lilás, com uma fonte semelhante a de Dirty Dancing e Gigolô americano, a ambientação composta por roupas e atitudes que são resquícios de Velocidade Máxima, Chuva Negra, Matador de aluguel e Um tira da pesada, pipocam na tela. Mas a inocência ou falta de, estilo visual e narrativo mais, digamos, apurado, desses filmes, ficou para trás.
Drive é um sopro de criatividade, por conta do talento de Winding para expressar visualmente a angustia e a malicia do seu personagem título, em ângulos inusitados, narrativa cadenciada e muita convicção de que está, antes de tudo, lidando com uma história de um homem que se vê numa encruzilhada e tem a sua rotina permeada pela ação. Ele, minuciosamente interpretado por Gosling, é a razão das críticas empolgadas e do sucesso de bilheteria, e é por conta da sua conduta que as perseguições e a violência se tornam mais verdadeiras e autenticas.(Lorenna Montenegro)

domingo, 25 de março de 2012

"PINA" MOSTRA A BELEZA DA VIDA ATRAVÉS DA DANÇA

Há tempos não via um filme tão bom do diretor Win Wenders. Sou fã do seu trabalho desde que vi “O Amigo Americano” no final dos anos setenta. Wenders sabe como poucos diretores trabalhar a imagem, o som, a narrativa e desenvolver boas histórias em seus filmes. Mas seus últimos trabalhos não alcançaram o nível da primeira fase da sua carreira. Em “Pina”, ele teve uma chance de ouro na intenção de mostrar a magnífica obra da coreógrafa Pina Baush que revolucionou a dança nas últimas décadas com seu trabalho na companhia de dança Tanztheater Wuppertal. E o desafio aumentou quando durante a elaboração do projeto, Pina faleceu aos 68 anos. Dessa forma, Wenders direcionou seu filme como uma ode ao trabalho de Pina, evidenciando sua coreografia, dentro e fora dos palcos, mostrando os dançarinos completamente envolvidos com a dança seja diante do público, seja diante da selva de pedra da cidade grande.
Wenders foi extremamente feliz em colocar a dança de Pina nas ruas. Assim, ele dimensionou o trabalho da coreógrafa, entrando em contato com o dia a dia das pessoas, coisas, lugares sem vida que cercam nossa rotina. A dança, aqui, dá vida as coisas, lugares. A simplicidade e complexidade das coreografias emocionam. Assim como emociona os depoimentos dos parceiros/dançarinos de Pina no decorrer de todo o documentário. Wenders, cineasta experiente no gênero documentário, mostra os depoimentos com a câmera captando a imagem das pessoas e deixando uma narração em “off” destas pessoas expressar seus sentimentos por Pina. Assim, nós espectadores começamos a entender o que Pina era, é e sempre será. Uma artista inspiradora que procurava tirar o melhor de cada um de forma que esse melhor explodisse com toda a força na hora da dança. “Dancem, dancem, do contrário estamos perdidos”. É isso. A dança é vida. E Pina fazia todos acreditar nisso.
Trabalhando à exaustão as cores, movimentos, cenários e enquadramentos para captar a essência do trabalho de Pina, Wenders foi realmente feliz em usar a tecnologia 3D de forma técnica mais acima de tudo, sensível, funcional, poética, exploratória, inspirando-se na imagem captada e não mentindo/forjando um efeito visual do nada para lugar nenhum como normalmente os filmes fazem com este nova tecnologia. Aqui, a força da tecnologia 3D nasce, nos inspira e nos faz acreditar que é muito mais do que simplesmente forma. O 3D pode ser parte do conteúdo, da construção estética de um filme e usado como foi em “Pina”, só podemos esperar o melhor dos futuros projetos e diretores que vejam este recurso com uma visão menos comercial e mais interativa dentro da narrativa. Ao final, o filme nos conquista ao ponto de nos sentirmos como um dos dançarinos e parceiros de Pina com uma imensa saudade e sentimento de perda desta artista inspiradora mas principalmente com uma enorme vontade de viver, compreender e aceitar o mundo através da beleza da dança. (Marco Antonio Moreira)

sábado, 24 de março de 2012

"O ABRIGO"

Jeff Nichols em seu segundo filme levanta o espectador da poltrona. “O Abrigo”(Take Shelter) é tudo o que Lars Von Triers quis fazer com o seu “Melancolia” e acabou num melancólico atestado de pobreza criadora. Aqui, num filme modesto, uma família composta do casal e uma filha surda-muda, passa a viver maus momentos quando o homem é acossado por pesadelos de diversas formas. Em crise emotiva, ele é despedido do emprego numa pesquisadora de petróleo, mal tem dinheiro para o seguro-saúde (incluindo uma cirurgia na filha para que possa falar/ouvir) e ele próprio sente necessidade de se consultar com um bom psiquiatra (que cobra caro). A mulher desespera-se porque as atitudes do marido nem sempre lhes são consultada antes de tomadas. E o pouco de dinheiro que ele tem investe num abrigo dizendo que vai chegar uma tempestade apocalíptica.
O roteiro cobre a metáfora de fim de mundo com a esquizofrenia que um clinico diz presente no personagem posto que a mãe dele fora esquizofrênica(como se a doença passasse para o filho). A mulher segura a barra, tentando dar o conforto de um carinho estremecido (ou salvar o casamento) e um dia ela acorda com uma tempestade e chama a atenção dele (que a leva, com a filha, para o abrigo construído a duras penas). A chuva passa, o sol aparece, mas isto não quer dizer que o mundo do desempregado brilhe. Há um plano para o final da narrativa extremamente coesa (nada de flashback, nada de efeitos especiais gigantescos- só nuvens carregadas e vôos de pássaros como nada de acordes para marcar suspense).
Uma dupla de grandes interpretes, Michael Shannon e Jessica Chastain, brilha forte. Ele trabalhou com Sidney Lumet(“Antes que o diabo saiba que você está morto”) e Werner Herzog(“Risco Frenético”). Ela foi a mulher de Brad Pitt em “A Árvore da Vida”. Estrelas que ajudam “O Abrigo” a ser um dos melhores filmes do ano passado nos EUA. E mesmo assim um titulo esquecido do Oscar(ganhou 27 prêmios doutras fontes, incluindo Cannes). Se os distribuidores brasileiros se lembrassem dele e as nossas salas de shopping ou especiais o exibissem seria, sem duvida alguma, um dos melhores títulos do ano.
Uma obra-prima.(Pedro Veriano)

CINDERELAS SEM SAPATOS

Eu ouvia e lia, nos anos que dobraram a esquina, interpretações digna dos manos Grimm sobre o romance do rei inglês Edward VIII com a norte-americana casada Wallis Simpson. O monarca chegou a renunciar o trono pela donzela que na época ainda era esposa de um militar, Ernst Aldrich Simpson, por sinal o segundo marido dela (o primeiro foi Earln Winfield Spencer Jr, ex-capitão do regimento Coldstream Guards). Entre os dois maridos Wallis conheceu Edward em Londres. Na época a censura vinda do palácio de Buckinham adestrada pela igreja condenava tudo. Mas o jovem monarca inglês parece que tinha visto o titulo em portugues daquele filme com Errol Flynn,”Meu Reino por um Amor”. E despachou Ernst que não podia reclamar uma vontade nobre. Nesse tempo dizia-se também que o casal casado contra a maré foi feliz como Branca de Neve e/ou Cinderela.
Chega “W.E.”, o filme de Madonna, e mostra que nem tudo foi florido ou colorido no “affair” real. Diz até que os amantes estavam com os pés no divorcio quando, em 1972,ele se foi. Contando isso numa ótica feminista Madonna faz contraponto com uma Wallis de Nova York século XXI e neste caso uma esposa de médico saco de porrada e guinada a um leão de chacara russo. Em montagem paralela vê-se as duas mulheres nas suas crises que passam da alcova para as salas reais.
Há muita coisa boa no filme. O travelling para cima de uma arvore quando Edward (que na intimidade era chamado David) conta à amada a sua decisão de deixar a coroa, passando dos galhos altos para o teto decorado de uma dependencia do palácio real onde se fala mal dele, é muito curioso. E há um leilão dos bens do chamado Duque de Windsor onde a montagem abre espaço no tempo e se vê os donos das reliquias expostas. Tudo no compasso dinâmico de permanencia da imagem em foco. Compensando há uma caminhada da moça moderna por ruas alagadas que ficariam melhor na sala de corte. E tantas e tantas filiogranas inuteis que aumentam o tempo de projeção aom limite da paciência.
Mesmo com seus tropeços “W.E.” vale o ingresso. A mim valeu ate o taxi para o cinema ja que meu fusca não anda dia de semana posto que o transito é impróprio para menores. Melhor mesmo do que vi antes, perto de casa, fiando-me na ficção cientifica que desejava conhecer de Edard Rice Burroughs e no talento do diretor Andrew Stanton desmonstrado em “Wall E”: “John Carter”. Ali tanbém se toca em princesa entre amor e casamento forçado. Mas que saco! Mais de duas horas de CGI e mesmices. Ali o caso foi impróprio para maiores...(Pedro Veriano)

FANTASIA E TERROR

A empresa Disney amarga o prejuízo da produção de “John Carter” seu filme mais caro (US$250 milhões) que só ganhou a pole-position do box office semana passada (a sua 2ª em cartaz), mesmo assim com apenas US$ 123.35 de soma. Isto sem contar a publicidade milionária que o filme recebeu.
“John Carter-Entre 2 Mundos” é dirigido por Andrew Stanton (48) diretor vindo da animação (trabalha na PIXAR), responsável por sucessos na área como “Procurando Nemo” e “Wall E” (ganhadores do Oscar). O roteiro, do próprio diretor associado a Mark Andrews, vem de uma historia de Edgar Rice Burroughs, o criador de Tarzan. Antes de esse autor criar “o rei das selvas” escreveu algumas novelas de ficção e esta viagem de um combatente da guerra civil norte-americana em mundos distantes (inclusive Marte) ganhou guarida em jornais do inicio do século passado em estilo folhetim. Certamente Andrew Stanton achou que a tecnologia atual, inclusive o uso de 3D, seria o meio para se mostrar numa tela o que a imaginação doe escritor produziu quando nem televisão existia. Ainda não vi o filme, mas certamente vou assistir e comentar neste espaço. Hoje me detenho nessa questão de sucesso popular. Por aqui, “Motoqueiro Fantasma 2” (Ghost Rider: Spirit of Vengeance) faz sucesso. Estreou em seu país de origem dando lucro de U$ 22 milhões quando seus custos alcançaram U$ 75 milhões. Está se pagando, portanto. E teve continuação devido o primeiro filme do personagem, realizado há 4 anos, ter tido sucesso financeiro. O autor da idéia é David S. Goyer e o tipo assemelha-se ao Tocha Humana, personagem dos quadrinhos. Esse tipo deu sua alma em troca de um poder que o faz um guerreiro atuante em sua motocicleta. Um guerreiro em chamas, sem que o fogo lhe macule o corpo. Agora, ele está no leste europeu (antes morava nos EUA) gozando de uma espécie de aposentadoria. Mas recebe um pedido de atuar contra forças demoníacas influentes sobre seres humanos. E quando é o próprio diabo o vilão já se espera prodígios de CGI (efeitos especiais).

Nicolas Cage, alvo do comentário de outra coluna, a propósito de “O Pacto”, outro filme seu em cartaz, ganha mais um ponto negativo numa carreira problemática. O verdadeiro astro do filme é a equipe dos efeitos especiais e, também, dos visuais (há distinção nessas categorias). São 8 técnicos de efeitos e cerca de 208 na parte visual. Muita gente trabalhando para o diretores Mark Neveldine e Brian Taylor organizarem sua encomenda comercial que vai dos quadrinhos ao “filme de terror” . Nada a agradar o cinéfilo exigente. E nem se pensa nesse pessoal. Este cinéfilo, onde se situa a critica especializada, revê “O Artista”, aqui em uma única sala, projetado na sessão em que estive com um desfoque incomodativo (a imagem em preto e branco mostrava-se borrada num quadro menor como se objetivou pensando no cinema antigo) ganha publico reduzido. Apesar dos 5 Oscar e de tantos prêmios internacionais, a grande platéia prefere tecnologia, ação e som em alto volume. Isso valeria para mais e mais fantasia.
Mas não sei se a fórmula está dando resultado no mercado nacional com “John Carter”. É de supor que a fantasia pura está sendo trocada por sustos como o que foi visto em “A Mulher de Preto”. No caso, susto até pela qualidade, pois, o filme incomoda quem apostou no carisma de Daniel (Harry Potter) Radcliffe.

Mas o gosto é algo democrático. E a expectativa do público por filmes não tão interessantes merece respeito. O que tenho muito.(Luzia Álvares)

FILMES EM DVD

A Segunda Guerra Mundial é focalizada como matéria prima de dois títulos que chegam agora em DVD, no mercado brasileiro: “Uma Vida Difícil”, de Dino Risi, e “Amarga Sinfonia de Auschwitz”, de Daniel Mann.

“Una Vita Difficile” é de 1961 e traz Alberto Sordi como Silvio Magnozzi, um ex-resistente italiano ao domínio nazifascista. Ao fugir dos soldados alemães, encontra uma camponesa, Elena(Lea Massari) que o salva do fuzilamento, abrigando-o numa casa rústica por certo tempo. Ao término da guerra, ele reassume a função anterior como jornalista da imprensa de oposição, em Roma, e reencontra Elena que resiste aos arroubos do velho amor, por sentir-se abandonada. Mas a tensão não dura muito e os dois se casam. O problema é que Silvio é um rebelde socialista e recusa propina de gente que enriqueceu ilicitamente no após-guerra. Vivendo sempre com dificuldades vai recebendo criticas em casa especialmente da sogra. Quando Elena resolve se separar eles já tem um filho e ele perde o emprego no jornal. Resolve, então, bajular um milionário. Elena volta para casa, mas recusa um marido diferente do batalhador de outros tempos. É preciso que ele reassuma a sua antiga postura ideológica.

Dino Risi sempre foi um diretor italiano bastante respeitado pelos filmes de crítica no estilo comédia, como: “Aquele que Sabe Viver”(1962), “Os Monstros”(1963), “Férias à Italiana”(1966), “Perfume de Mulher”(1974) entre outros. Nesse tom da sátira, em meio às situações hilárias, com desempenho de atores como Alberto Sordi, há sempre um vínculo de critica social. E neste “Uma Vida Difícil”, o tema é ampliado num painel da história italiana contemporânea. Funciona muito bem. O roteiro é de Rodolfo Sonego, autor de mais de 80 roteiros do gênero. Como Risi disse em “Esse Crime Chamado Justiça (1971): “rindo castiga-se mais”. É o caso, neste trabalho muito bom e pouco visto entre os cinéfilos paraenses e que precisa ser lançado numa das sessões extra para dar a conhecer à nova geração os filmes de um período hoje pouco visto.

“Amarga Sinfonia de Aushwitz”(Playing for Time/EUA 1980) foi realizado para a televisão e ganhou 4 Emmy (o Oscar da TV). Vanessa Redgrave protagoniza Fania Fenelon, uma pianista judia deportada para o campo de Aushwitz e só escapando da câmara de gás por ser expert em música. Formando um conjunto entre as colegas de cela vê seus dias seguirem em frente com o aplauso dos nazistas. Mas até aí presencia torturas e encaminhamentos para os módulos onde as pessoas morrem intoxicadas. O filme dirigido pelo veterano Daniel Mann (“Disque Buterfield 8”) tem roteiro de Arthur Miller e se baseia no livro da própria Fania. É um dos melhores relatos sobre o tema e não assisti em TV brasileira nem me lembro de ter chegado em VHS ou DVD anteriormente.

“Sempre Bela” (Belle Toujour/França 2010) é uma homenagem do veteraníssimo Manoel de Oliveira (102 anos) ao clássico “Belle de Jour”(Bela da Tarde) de Luís Buñuel. Aqui o personagem que naquele filme já era interpretado por Michel Piccoli reencontra Severine, que antes fora vivida por Catherine Deneuve, hoje uma viúva de passagem por Paris. Ele força um encontro pensando em um romance. Mas ela rejeita. O tema é tratado de forma quase alegórica, com diálogos declamados e montagem tímida. É um programa curto, mas que se dimensiona pelo modo como é apresentado. O tom atual revela-se distanciado não deixando a impressão de pessoas solitárias em busca do passado. Inédito nos nossos cinemas. É filme de Manoel de Oliveira, portanto, uma perspectivaa nova para recorrer ao modo de este cineasta avaliar as ocorrências. Dessa forma, causa impacto em quem espera uma “continuação” buñueliana de um enredo, mesmo naquele momento, tão incisivo na alegoria da “Belle de Jour”. (Luzia Álvares)

TUDO QUER MADONNA

Antes de qualquer coisa o filme é de uma elegância extrema, “classudo”, como diria Edwaldo Martins que adorava esta palavra. ”W. E”, filme dirigido e roteirizado por Madonna é um filme de mulher sobre mulher. A história do amor que custou o reinado de Edward da Inglaterra é contada com dois tempos, o do fato real e outro paralelo, em cena contemporânea. Não há choques de paralelos, ha sim uma simbologia do sentimento que é o mesmo na história do amor no mundo. Cenas de décor fantásticas, travellings sinuosos e de estilo junto a um roteiro correto e inteligente, faz do filme um programa dos melhores da temporada. Corra ! (Ismaelino Pinto)

quarta-feira, 21 de março de 2012

MOSTRA LUME FILMES NA PROGRAMAÇÃO DO CENTENÁRIO DO CINEMA OLYMPIA

Fundada no ano 2000 pelo cineasta Frederico Machado, a Lume Filmes nestes últimos anos firmou-se como a mais importante distribuidora de cinema autoral e independente no Brasil. Desde seu início a Lume vem surpreendendo o mercado com lançamentos de importantes peças da cinematografia brasileira e mundial, tirando-as do baú do esquecimento para o deleite daquele público ávido por um cinema de qualidade.
A Lume já distribuiu no mercado brasileiro, mais de 150 títulos. Obras de diretores como David Lynch, Luis Buñuel, Yasujiro Ozu, R.W. Fassbinder, Akira Kurosawa, Miklos Jancso, Todd Solondz entre muitos outros que fazem parte deste que é o maior acervo de DVDs de filmes autorais do país. Entre as jóias lançadas pela Lume estão A Guerra do Fogo de Jean Jacques Annaud, 1984 de Michael Redgrave, Eraserhead de David Lynch, O que há tigresa? De Woody Allen, A Última tempestade de Peter Greenaway, O Anjo embriagado de Akira Kurosawa, O discreto Charme da burguesia de Luis Buñuel, O conformista de Bernardo Bertolucci e A cor da romã de Sergei Paradjanov, entre muitos outros.
Com todos os sentidos voltados para um cinema verdadeiramente autoral, a Lume Filmes não tardou em começar a ter seus próprios trabalhos sendo produzidos. Como produtora a Lume realizou diversos curtas-metragens e vídeos no Maranhão, dentre eles: Questão de Prova , Cartas e Ódio, este último dirigido por Breno Ferreira e tem em processo de produção os curtas O Exercício do Caos e Guimarães 150 anos de história e poesia. Para os próximos anos, prepara a produção de 2 longas-metragens, Andor e Serapião.
Confira a programação da MOSTRA LUMES FILMES, dentro das comemorações do aniversário dos 100 anos do Cinema Olympia :

MOSTRA LUME FILMES
Dias 22 e 23/03 – “PAT GARRET E BILLY THE KID” de Sam Peckinpah (1973)
Sinopse: O velho Pat Garrett não era mais um fora-da-lei quando é eleito pela população de uma cidade o xerife local. Já seu ex-parceiro, Billy The Kid, continua a atuar no crime. E o trabalho de Pat Garrett é justamente capturá-lo. Então se inicia uma caçada sádica entre os dois, que irá testar se a amizade entre ambos ainda existe.

Dias 24 e 25/03 – “PUSHER” de Nicolas Winding Refner (1996)
Sinopse: Violento e polêmico filme dinamarquês que originou uma trilogia sangrenta sobre o submundo do crime em Copenhague. Aqui o foco é Frank, um pequeno traficante que vive de golpes e sofre para escapar da perseguição implacável dos grandes chefões do crime.

Dias 27 e 28/03 – “KES” de Ken Loach (1969)
Sinopse : Vivendo em um bairro pobre da cidade, um garoto não tem boas notas na escola, sempre apanha do irmão mais velho e é desprezado por todos. Mas tudo muda radicalmente quando conhece outro garoto, selvagem e revoltado.

Dias 29 e 30/03 – “O ANJO EMBRIAGADO” de Akira Kurosawa (1948)
Sinopse: Um doutor alcóolatra no Japão pós-guerra trata o jovem Matsunaga depois de uma batalha armada com um sindicato rival. O doutor dá ao jovem gângster o diagnóstico de tuberculose, e o convence a começar um tratamento. Os dois aproveitam uma constrangedora amizade até que o patrão inicial do gângster é libertado da prisão e sai em busca dos antigos membros da gangue para reunir seu grupo novamente.

Dias 31/03 e 01/04 – “UM CONDENADO À MORTE ESCAPOU” de Robert Bresson (1956)
Sinopse: O filme conta a história real do ativista Andre Devigni, da resistência francesa durante a ocupação nazista. Quando ele é preso e jogado numa cela, passa suas noites em claro orquestrando um plano de fuga. Porém, no mesmo dia que ele recebe sua sentença de morte, ganha um novo colega de cela.

PROGRAMAÇÃO DE CENTENÁRIO DO CINEMA OLYMPIA
MOSTRA LUME FILMES
CINE OLYMPIA
DE 22/03 À 01/04/12
DE TERÇA À DOMINGO
HORÁRIO: 18:30 H
ENTRADA FRANCA
INADEQUADO PARA MENORES DE 12 ANOS

terça-feira, 20 de março de 2012

"PINA" DE WIN WENDERS ESTREIA SEXTA DIA 23/03 EM BELÉM

O advento do formato 3D no cinema atual faria o diretor americano Peter Bogdanovich ter mais um surto e repetir a sua célebre frase de que o cinema acabou nos anos 60 e que todos os grandes filmes já foram feitos.
Como será que ele reagiu ao ver seu contemporâneo Martin Scorsese se render ao 3D e ter concebido uma pequena obra-prima como “A invenção de Hugo Cabret”? Ou, ao ver que, da Alemanha, os diretores Werner Herzog e Wim Wenders usaram o formato e deram ao cinema mundial obras definitivas como “A caverna dos sonhos perdidos” e “Pina”, respectivamente? Não há como negar: o futuro da Sétima Arte é 3D.
Amantes do cinema em Belém tiveram a oportunidade, na última quinta-feira, de conferir a primeira incursão de Wim Wenders nesse formato, em pré-estreia. “Pina” está sendo reconhecido como o primeiro filme de arte em 3D. E eu diria que, além de arte, “Pina” é uma experiência sensorial de vida.
Não é a primeira vez que Wenders desenvolve um documentário. São dele filmes como “Quarto 666”, “O filme de Nick”, além do premiado “Buena Vista Social Club”. Por isso, não seria novidade que Wenders voltasse suas lentes para a bailarina e coreógrafa alemãPina Bausch, a quem ele admirava profundamente.
Pina sempre teve uma relação estreita com o cinema. Outros documentários já haviam mostrado o trabalho dela, e o diretor Pedro Almodóvar traz em “Fale com ela”, um trecho com o solo dela em “Café Müller”. Mas para mostrar toda a intensidade da vida e trabalho dela, Wenders disse que não conseguiria fazê-lo se não fosse em 3D.
O trabalho começou, mas Bausch faleceu em 30 de junho de 2009, aos 68 anos, ainda antes das filmagens. Wenders resolveu levar o filme adiante como forma de homenageá-la.
Wenders elegeu quatro dos balés coreografados por Pina para sua companhia Tanztheater Wupperta, que continua na ativa. O diretor usa imagens de Pina, em preto e branco, e em cor estão as da companhia. Em dois dos balés, a companhia fica no palco, como o próprio “Café Müller”, que é recriado e revisto no filme, e nos outros, a companhia fica, literalmente, na rua.
O filme utiliza cenas dos balés e cenas de solos dos bailarinos com as falas cobrindo essas imagens. Para essas cenas, Wenders coloca os bailarinos em vários lugares, que são tão inesperados e díspares que não se pode ficar sem pensar como a produção conseguiu lugares tão inusitados.
Além dos balés, onde fica clara a entrega total dos bailarinos, é na fala deles, reverenciado a mestra que reside a paixão com que Pina movimentava seus pupilos.
Um grande tento a favor do filme (e de Wenders) é que ele respeita a nacionalidade dos bailarinos. Assim, é com uma emoção grande que se ouve uma das bailarinas falar em português. Outra surpresa é que num dos solos, a música utilizada é “Leãozinho”, de Caetano Veloso.
A fotografia de “Pina” é outro ponto alto. Wenders combina a aspereza de elementos como terra, pedra, trânsito, folhas secas, que são “duros”, em contraposição à leveza dos bailarinos. E há cor, muita cor.
Mas é na fala dos bailarinos, em off, e nas lembranças deles que a emoção fica mais forte. Um deles diz: “Ela (Pina) me disse ‘dance por amor’”; outra diz “Pina, espero que você entre nos meus sonhos”; uma outra: “Eu me escondia dela (Pina), e ela me disse ‘estou extremamente triste. Por que você tem medo de mim?’”; e uma outra ainda: “Ela me ensinou: ‘você precisa enlouquecer mais’”. Outros deles não falam nada e deixam o olhar falar por si. Não são falas sobre uma pessoa qualquer, são falas sinceras sobre alguém que os ensinou a arte de viver. Sobre o que é a vida em si. E na fala final de Pina que tudo se encerra. Ela diz “Dancem, dancem, ou do contrário, estaremos perdidos”.
Como disse, “Pina” deixou a plateia de quase 60 pessoas, em Belém, na pré-estreia, mudas e “transformadas” com experiência. A entrada do filme no circuito normal está nas mãos (e planos) da distribuidora Imovision, que, esperamos ter a sensibilidade de levar esse filme a um público maior em Belém.(Dedé Mesquita)

Dois filmes me vieram à cabeça ao ver “Pina”:“A estratégia da Aranha” e “A
Insustentável Leveza do Ser”. Não que exista relação direta com o argumento, mas as palavras da titulagem brasileira me pareceu dominar o conceito da junção do
cinema de Win Wenders e Pina Bauch, a coreógrafa. Os dois são alemães,
que na dureza da língua traduz a filosofia da palavra. Existe uma
palavra não falada sem nenhum som? Assim talvez seja a arte de Pina
Bauch, a um gesto, inúmeros dizeres e nenhuma palavra dita, porém uma
verborragia infindável. O cinema já é falado, a dança fala com o corpo, o
gestual. A recriação de espetáculos, a inserção de coreografias em meio
ao ambiente urbano, entremeados com depoimentos dos bailarinos,
traduz a narrativa meio documento, meio teatro-dançado. A utilização do
3D é essencial, com ele estamos na plateia do Tanztheater Wuppertal Pina
Bausch, localizada em Wuppertal,a casa de Pina. O filme superlota
várias salas em Sampa, tomara que a Mangueirosa faça jus a um passado
rico de movimento artístico e veja uma obra de infinitos sentimentos.
(Ismaelino Pinto)

O MOVIMENTO AMOROSO DE "PINA" DE WIN WENDERS

Cinema é movimento. E em “Pina”, Wim Wenders presta uma homenagem à pioneira dançarina homônima, através de uma experiência profunda que estabelece mais um paradigma tecnológico, com muita beleza e propriedade. Alemão como seu objeto de interesse fílmico, Wenders realizou algo fora do comum: um filme onde a dança transmite mais verdade e nos captura para dentro da alma de Pina Bausch, do que palavras ou movimentos de câmera.
Além de coreógrafa e dançarina, Pina Bausch especializou-se na pedagogia da dança e fundou a companhia Tanztheater Wuppertal, que continua seu legado levando peças originais a todos os cantos do mundo. Falecida em 2010, ela vive nos movimentos, ora suaves, ora enérgicos, de seus bailarinos. Ela está presente em cada elemento – seja ele água, rocha, terra, mata, ar – que mimetiza inspirações a criação corporal e coreográfica, e que compõem cenários oníricos nas cenas de dança.
O Brasil, país que Pina admirava, está presente no filme tanto na pessoa da bailarina Morena Nascimento – cuja fala sobre leveza e a personalidade da mestra, é um dos momentos que geram mais lágrimas nos olhos – quanto na inspirada trilha sonora, com bossa nova e canções de Caetano Veloso. Mas não é só. O espetáculo “Água”, cujas cenas de dançarinos desafiando a gravidade e fundindo seus corpos ao material líquido estampa a maioria dos cartazes do filme. E ele foi inspirado por uma visita que Pina fez ao Brasil, em 2001, quando se encantou com o mar e as rochas do Rio de Janeiro.

SENSIBILIDADE
A trilha sonora é mesmo um espetáculo à parte, tanto quanto a sonoplastia. Wenders nos faz enxergar os espetáculos da companhia em sua plenitude, e vai além deles, quando os tira do palco para exteriorizar o espírito da dança, tudo coreografado com tanta engenhosidade que parece orgânico. Conhecida por viajar pelo mundo para obter inspiração e utilizar as experiências de vida de seus bailarinos para criar cenas, e em conjunto, fazê-los ultrapassar seus limites para elevar sua técnica e sensibilidade, Pina tornou-se parte de cada um deles.
Construindo o documentário de maneira clássica, Wenders utiliza os depoimentos dos aprendizes de Pina, sejam os bailarinos que atualmente estão na companhia, quanto os que já a deixaram, para construir um mosaico, um perfil indelével de Pina. “Pina, estou esperando você nos meus sonhos”, solta uma bailarina francesa. Apesar de ser um filme alemão, Wenders convidou todos a se expressarem em suas línguas, até como forma de provar a teoria de que a dança é a uma linguagem universal. O bailarino espanhol conta como ele superou um desafio de criar um movimento que expressasse a felicidade, enquanto que outro bailarino, mais velho, toca profundamente ao olhar com doçura para a câmera e depois fazer uma mímica gestual que expressa toda a sua afeição pela mentora.
“Dance, dance. De outra forma estamos perdidos”. Com essa frase da Pina que se coloca entre o espaço e tempo contemporâneo, Wenders encerra seu filme. Uma mensagem definitiva, ou ainda filosófica. Fato é que o filme nos faz refletir, utilizando a filosofia de trabalho de Pina, sobre como o toque é parte importante da equação humana.
Um dos seus temas recorrentes, a interação do masculino e feminino surge em belas sequências onde o movimento amoroso divide a tela com a pressa advinda da modernidade, em uma rua movimentada de Wuppertal, ou num prédio silencioso.
As cores dos figurinos, a maciez dos vestidos das bailarinas, a forma como o 3D eleva os movimentos e cria camadas entre os corpos, as roupas e outros elementos que formam o quadro – tudo se combina para formar um produto artístico cujo destino é a eternidade.

Genialidade dupla
Exibido em Belém na semana passada, durante uma sessão promovida pela distribuidora Imovision, “Pina” nos deixa em estado de graça, por conta da leveza da narrativa que Wim Wenders apresenta, e a sensibilidade com que desnuda o coração de Pina, cujas artérias e veias são seus dançarinos, jovens e velhos, que fizeram parte da trajetória da mulher que redefiniu a arte performática. A combinação Pina e Wenders haveria de resultar numa obra definitiva. Wenders gestou desde 2008 o projeto, que finalmente estreou no festival de Berlim do ano passado, e vem deixando fascinadas platéias do mundo todo. Independente do público ser formado por dançarinos, ou pessoas que nunca fizeram balé na vida, a emoção que percorre cada take, cada gesto dos seguidores de Pina, é um deleite para os olhos e a alma. Agora é esperar que ele entre em cartaz na cidade, para que o maior número de pessoas possa viver essa experiência que vai além do cinema.(Lorenna Montenegro)

domingo, 18 de março de 2012

"TRANSEUNTE" DE ERYK ROCHA EM ÚLTIMOS DIAS NO CINE OLYMPIA

A SOLIDÃO DE VIVER
Um dos temas mais interessantes que o cinema pode abordar especialmente nos dias de hoje, é o da solidão. Em pleno século XXI, na era da comunicação, das mídias sociais, mais do que nunca parece que estamos cada vez mais sozinhos e vivendo numa sociedade individualista. Relacionando este tema com a questão da velhice, novos caminhos narrativos podem ser explorados e Eryk Rocha, um dos nomes mais importantes do cinema brasileiro atual, soube abordar este assunto com sensibilidade e inteligência em seu primeiro filme de ficção, “Transeunte”. No filme, acompanhamos o dia a dia de um homem aposentado que sem raízes familiares e/ou emocionais, vaga pelas ruas do Rio de Janeiro para ser notado, desprezado, percebido, ignorado. Um homem invisível aos outros e a si mesmo que encontra nas pequenas rotinas algo para se prender à vida. Sua comunicação com o mundo vem através de um rádio de pilha, do futebol e de uma obra que acontece ao lado de seu prédio. Estas são as suas referências que reforçam e muitas vezes impedem seu isolamento total e constante busca de uma razão para viver. Filmado em preto em branco, dimensionando assim a dor, a monotonia e descrença do personagem no mundo que vive e em si próprio, “Transeunte” mergulha fundo neste mundo de desesperança, frieza e isolamento de um homem idoso sem perspectivas. Metáfora sobre o mundo capitalista onde quem não produz não tem “valor”? Metáfora sobre a verdade do homem moderno que se isola e se distância da realidade e da indiferença do outro por não ser “notado”? Metáfora sobre a insignificância do mundo em relação aos idosos e/ou daqueles que viveram demais para continuar acreditando em alguma coisa concreta e positiva? Acredito que Eryk Rocha, como todo bom cineasta, faz mais perguntas que respostas sobre o tema. Muito bem dirigido, o filme tem longas cenas, enquadramentos que “quebram” a narrativa, uma montagem cadenciada que explora até o limite o potencial de cada cena de solidão do personagem e excesso de barulhos e silêncios que mostram o mundo em volta do personagem, tudo dentro de uma narrativa que não faz concessões. Vejo claras influências do cinema novo brasileiro dos anos 60 no filme e ao mesmo tempo, uma modernidade estética que já tinha percebido nos documentários anteriores do diretor (com “A Rocha que Voa” e “Pachamma”). Sem concessões ou mudanças na história que teriam objetivo de deixar o filme mais acessível, “Transeunte” não foi concebido para ser um filme popular. Aqui, temos um bom exemplo do que podemos chamar de cinema de autor em nosso cinema como algum tempo não tinha visto. Longe das atuais produções brasileiras que pretendem conquistar o público à qualquer preço com filmes que já nascem velhos e datados, “Transeunte” é um filme que nos obriga a prestar atenção e procura estimular nosso olhar e pensamento num tema tão complexo e próximo de todos nós. Por isso merece nosso elogio e todos os prêmios que tem recebido. Não deixe de ver.(Marco Antonio Moreira)

O VELHO DE ROUPA NOVA
“Transeunte”(Brasil.2010)é o tipo do filme sobre velho tratado por cineasta novo. Começa a ser assim definido pela piedade no corte. Poucos diretores jovens gostam de cortar seus filmes. Erik Rocha segue a regra. Há, por exemplo, uma seqüência em que o principal personagem anda um quarteirão inteiro e a câmera estática o observa até atingir que ele chegue ao fim da rua. Além disso, há muita filigrana a titulo de evocação poética (flores caindo, travelling ligeiro por entre arvores....). Os argentinos vêem a velhice com mais discernimento, ou seja, filme de estilo velho sobre velhos. Mas eu não quero fazer comparações. Achei o filme de Erik, seu primeiro longa, muito interessante. Até porque não é derrotista. O cidadão chamado Expedito (Fernando Bezerra ótima máscara),tem 65 anos, é solteiro, perdeu a mãe com quem vivia, e agora mora só em uma quitinete no subúrbio carioca. Sua rotina pode parecer enfadonha. Mas não se vê reclamos da parte dele. Ouve radio insistentemente, caminha pelo bairro onde mora, freqüenta um bar das proximidades, vai ao Maracanã torcer pelo Flamengo,e até ensaia a voz no mencionado bar. Isto sem falar em sexo. Quando não suporta a abstenção procura uma prostituta. E o único lado triste desse quadro é ir ao cemitério e levar os restos da mãe para uma gaveta num corredor da mesma necrópole. “Transeunte” não mostra um Rio postal nem um Rio favela. E chega a parecer ficção cientifica quando foca Expedito andando pelas ruas desertas na madrugada sem ser assaltado. Isto numa metrópole de hoje é como viajar em nave espacial. Infelizmente a narrativa com a explosão de closes e lentidão de seqüências torna o filme endereçado à platéia especial. Mas se compararmos com o que fazia o pai do cineasta, Glauber Rocha, é um drama que o espectador paciente compreende e se comove. As lições de cinestética estão mais para os postulados básicos (ou griffhtianos) do que para os cultuados por Godard. Daí eu ter gostado do que vi. Uma estréia que se pode achar corajosa na artindustria traiçoeira. (Pedro Veriano)

HAMMER IS BACK

Há muito tempo o ramo de filme de terror/suspense vem deixando o público a desejar, principalmente em Belém, onde é costumeiro, quando vem filme de terror e/ou suspense, é daquela categoria “terror besteirol” onde se mais ri do filme, do que realmente se assusta.
Mas quando falaram da tradicional Hammer Film Productions, os ainda esperançosos aficionados por filmes de terror, se animaram um pouco e a meu ver, a Produtora não nos deixou na mão. O filme A Mulher de Preto (The Woman in Black) do diretor James Watkins, realmente nos deixa pregado na cadeira do cinema.Do livro homônimo de Susan Hill, A história da Mulher de Preto, é algo não tão diferente dos livros de terror, mas tem as suas peculiaridades.
Arthur Kipps é um jovem e depressivo advogado de Londres, e é designado para a sua ultima oportunidade de manter o seu emprego, cuidar da papelada de Alice Drablow que tem uma mansão chamada Eel Marsh House, que se trata no melhor estilo de casa Mal Assombrada. Uma mansão isolada do vilarejo no interior da Inglaterra onde todos querem manter distancia, e principalmente, querem que o Sr. Kipps, fique bem longe de lá.
Mas Arthur Kipps como tem um filho de ainda 4 anos que precisa sustentar, e por isso vai insistir em resolver a situação legal da mansão. E é bem ai que as coisas complicam, com a ajuda de seu recém amigo Sam, ele vai e volta naquela mansão, e na primeira visita já vê uma mulher de preto vagando pelo terreno e ao voltar pro vilarejo uma criança se suicida e claro morre nos braços de Arthur.E na noite seguinte ele passa trabalhando na mansão, onde ele tem todo o tipo de experiência sobrenatural, causada por essa Mulher de Preto, que assombra não só a casa mais como toda a região, pois perdeu o seu filho em um trágico acidente e culpa todo mundo por essa tragédia, sem falar que a Mulher enquanto viva tinha sérios problemas psiquiátricos.
A peculiaridade do filme é que a Mulher de Preto, ao ser vista ela faz as crianças se suicidarem e não é algo muito fácil de ver no cinema, sempre as crianças são poupadas, mas nesse filme, elas são as únicas que morrem, e elas morrem de maneiras bem trágicas, cuspindo sangue, pegando fogo, se jogando de janelas, realmente o diretor não poupou o público das imagens fortes.
O filme não é mais um daqueles “pastelões” da indústria do terror, trata de um filme bem gótico, onde as pessoas só usam tons pastel e os homens basicamente usam só roupas pretas e brancas, com uma fotografia bucólica, o filme em si já passa um ar de depressão e posteriormente de suspense, tendo grandes intervalos de silencio onde só os efeitos sonoros criam todo o clima de tensão.
Daniel Radcliff, o inesquecível Harry Potter, também não deixa a desejar e talvez comece a traçar a sua carreira para não viver eternamente na sombra do símbolo mágico do personagem que interpretou desde criança. Esse é o tipo de filme que só vale a pena se ver a noite, para ter a maior sensação de terror possível. (Raoni Arraes)

"O SOLISTA" EM DVD

“O Solista” (The Soloist - 2009) de Joe Wright, é um filme baseado no livro de Steve Lopez - The Soloist: A Lost Dream, an Unlikely Friendship, and the Redemptive Power of Music – Que fala sobre o encontro entre o jornalista Steven Lopez e Nathaniel Ayers.Steven é um colunista do L.A. Times e buscava uma história para escrever e por um acaso encontra Nathaniel, um morador de rua, esquizofrênico e que toca um violino de duas cordas, na frente de uma estatua do Beethoven falando coisas aleatórias ele menciona que estudou na Julliard, uma das melhores e mais seletivas escolas de músicas do Mundo.Ao ver uma oportunidade de matéria, Steven insiste em uma aproximação com Nathaniel. Entrando em contato com a irmã dele descobre que o instrumento que ele se iniciou no mundo da música, era o violoncelo.Depois da primeira coluna publicada sobre Ayers, uma musicista aposentada, doa o violoncelo dela para Nathaniel poder tocar. Assim Steven, faz um acordo com Nathaniel, que para tocar naquele violoncelo, ele vai ter que sair das ruas e ir para um abrigo chamado LAMP Community. Mas antes disso, Nathaniel faz um “test drive” no seu novo cello.

A cena do “test drive” é a mais bonita do filme, e o filme é cheio de cenas bonitas e atuações primorosas de Robert Downey Jr. e Jamie Foxx. Quando o músico passa o arco na corda, foi como se ele estivesse sentindo o gosto da música e se deliciando aos poucos com aquilo e lentamente tocando uma música, no meio de um túnel, onde os carros não param de passar, aquela música vibra, é como se tudo tivesse ficado em harmonia.Durante o filme há flashbacks do que foi a vida de Nathaniel antes da doença, um jovem garoto prodígio, depois já incluso na Julliard e posteriormente o momento que a esquizofrenia veio a tona.Steven tentar ajudar Nathaniel, conseguindo um apartamento para ele morar e sair das ruas e o professor de cello Graham Claydon, para aprimorar a sua técnica.

O filme mostra uma grande sensibilidade, a Música Clássica que define todos os sentimentos do momento, a dura situação dos moradores de rua de Los Angeles, a cidade de Hollywood, também é a cidade de 90 mil moradores de rua.O filme tem um final, sem necessariamente ser um final feliz, as condições de Nathaniel não mudaram muito, mas está mais feliz, pois aquela amizade que foi desenvolvida com o Jornalista pode ter ajudado ele, mas com certeza mudou o jornalista. (Raoni Arraes)

terça-feira, 13 de março de 2012

"VIDA EM FAMÍLIA" NO CC ALEXANDRINO MOREIRA DIA 19/03/12

"VIDA EM FAMÍLIA"
Original: Family Life-UK 1971
Direção de Ken Loach
Roteiro de David Miller (de sua peça original)
Elenco:Sandy Ratcliff, Bill Dean, Grace Cave.
Argumento: O comportamento de uma jovem adolescente modulado por uma família tradicional que não aceita seu ímpeto de liberdade numa época de grandes mudanças sociais.
Importância Histórica : Vencedor nos festivais de Berlim e Sidney, além de 3 outras premiações, o filme promoveu o diretor Kenneth (Ken) Loach antes exclusivo de TV e de apenas um titulo para cinema:”Kes”(1969). Preocupado com problemas sociais ele se dedicaria ao assunto em muitos outros trabalhos como o elogiado “Terra e Liberdade”. Nesta sua obra de quase estréia ele faz um retrato impressionante da juventude do tempo da ação através do tipo vivido muito bem pela atriz Sandy Ratcliff(com 19 anos na época da produção).

SESSÃO ACCPA/IAP
CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA
"VIDA EM FAMILIA"
SEGUNDA-FEIRA DIA 19/03/12
HORÁRIO : 19H
ENTRADA FRANCA
INADEQUADO PARA MENORES DE 12 ANOS
APOIO : ACCPA (ASSOCIAÇÃO DE CRÍTICOS DE CINEMA DO PARÁ)

"ESTADO DE SÍTIO" NA SESSÃO CULT DIA 17/03/12


“ESTADO DE SÍTIO”
Direção : Costa Gavras
Ano de Produção : 1973
Com Yves Montande, Renato Salvatori.
Sinopse : Em Montevidéu, Philip Michael Santore, um funcionário americano da entidade AID, é raptado por um grupo de guerrilha urbana de extrema-esquerda autodenominado Tupamaros. Mais duas autoridades são raptadas no mesmo dia, o cônsul Campos, do Brasil, e um outro, sendo que esse consegue escapar. Durante o interrogatório pelos captores encapuzados, Santore se diz um simples técnico mais é confrontado com evidências de que sua missão real é instruir políciais de vários países sul-americanos, ensinando métodos questionáveis tais como tortura, intimidação e assassinatos sem julgamento.
Importância Histórica: Costa Gavras (realizador de "Z" e "A Confissão") é um dos diretores mais importantes do cinema político europeu dos anos 60 e 70. “Estado de Sítio” é um dos melhores exemplos deste tipo de cinema, revelando uma trama baseada em fatos reais. O filme foi proibido no Brasil na época de seu lançamento mundial devido às referências diretas a política militar brasileira. Baseado no livro de Franco Solinas, o filme tem como destaque a atuação do grande ator Yves Montand e a música de Mikis Theodorakis.
SESSÃO ACCPA/CINE LÍBERO LUXARDO
SESSÃO CULT
"ESTADO DE SÍTIO"
CINE LÍBERO LUXARDO
DIA 17/03/12
HORÁRIO : 16H
ENTRADA FRANCA
APOIO : ACCPA

domingo, 11 de março de 2012

"TRANSEUNTE" DE ERYK ROCHA NO CINE OLYMPIA


MOSTRA ERYK ROCHA
De 06 à 18/03 – "TRANSEUNTE "
Sinopse: "Transeunte" o primeiro longa-metragem assinado pelo cineasta Eryk Rocha. A trama narrada em preto e branco conta a história de Expedito, interpretado por Fernando Bezerra. Ganhador da categoria Melhor Ator no 43º Festival de Brasília em 2010, o intérprete dá vida a um aposentado de 65 anos que passa os dias vagando pelas ruas do Rio de Janeiro sem ser percebido pela maioria das pessoas. Como o protagonista não tem família ou qualquer pessoa que possa notar sua ausência, ele transmite uma sensação de isolamento que o faz ser apenas mais um anônimo, atento aos conflitos alheios. O filme foi eleito o melhor filme brasileiro de 2011 pela ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).

"TRANSEUNTE"
CINE OLYMPIA
DE 06 À 18/03/12
EXIBIÇÃO DE TERÇA À DOMINGO
SESSÃO ÀS 18:30 H
ENTRADA FRANCA

sábado, 10 de março de 2012

"O GAROTO DA BICICLETA" NO CINE ESTAÇÃO EM ÚLTIMOS DIAS

O pequeno Cyrill não se conforma em ficar retido num orfanato sabendo que tem pai vivo. Mas o pai não quer saber dele. Num consultório médico, ao procurar o apartamento onde o pai morava, ele vai esbarrar em Samantha, uma cabeleireira que passa a se dedicar ao seu problema e acabar assumindo a condição de sua tutora. Por causa do menino ela estremece a relação com o namorado e começa a viver um pesadelo quando sabe que o protegido se meteu com marginais e está cometendo pequenos delitos.
“O Garoto da Bicicleta”(Le Gamin au Veio) é um filme dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne e não o primeiro em que eles vêem a infância (há “Le Fils” e “A Criança”). Fugindo das armadilhas melodramáticas, mas sem desprezar as lições do neo-realismo que consagrou cineastas como De Sica, eles procuram tratar um drama social adentrando numa linha introspectiva, tentando com pouca musica incidental (apenas em um momento a 5ª de Beethoven) e câmera na mão dimensionar o garoto do titulo, apegado à sua bicicleta como presente do pai que não lhe ama e o relicário de seus dias menos dramáticos. Claro que o pequeno interprete, Thomas Doret, dá o seu show. Mas as honras eu acho que devem ser divididas com Cecile De France, aquela bela atriz que Clint Eastwood botou num tusiname em seu “Além da Vida”. Ela compõe a mulher decidida que prefere vestir a roupa de desamada a deixar escapar a chance de fazer alguém feliz (ou menos infeliz).
Um filme bonito, de linguagem acessível a todos, e com a quota de emoção perfeita para se sentir no cinema sem chegar ao choramingas de tantos dramas parecidos. (Pedro Veriano)

Mais um olhar dos irmãos Dardenne (Jean-Pierre e Luc) para a criança é o que se vê em “O Garoto da Bicicleta”(Le Gamin au Veio> Belgica,2010). Eles viram, antes, menores desamparados em “O Filho” e “A Criança”. A vez agora é de Cyril (Thomas Doret), abandonado pelo pai a quem adora sem ao menos um adeus. Inconformado, procura sair de qualquer forma do orfanato onde foi parar, em busca desse pai que para ele ainda está num velho endereço. Mas não é bem sucedido. E, na busca, esbarra numa cabelereira (Cecile De France) que espera uma consulta médica. O encontro é para o bem de Cyrill. A jovem chega a abandonar uma relação amorosa para conviver com o garoto rebelde por se sentir abandonado. E a opção mostra-se gradativamente sofrida quando ela sabe que ele encontrou um pequeno ladrão que se apossa de sua ingenuidade e agilidade. Diferente dos outros filmes, os Dardenne, desta vez, mostram-se otimistas. Entre muitas situações dramáticas eles abrem espaço para um caminho a seguir para o pequeno personagem. O último plano não fecha o destino dele, mas é promissor.
Garoto da bicicleta posto que o veículo é um elo de ligação com a imagem paterna. Cyrill encontra o objeto que o pai lhe dera e depois tomara (vendera) como chega a acha-lo na cozinha de um restaurante. Mas o papel desse pai se esvoaça quando o menino procura-o para dar a ele um dinheiro roubado. Não há nem mesmo uma repreensão pelo fato. O homem diz apenas: “-Não me procure mais”. A narrativa opta pela câmera manual com insistência, e prefere os planos próximos. Essa, aliás, é a métrica de uma linguagem introspectiva. E para isso exige bastante dos interpretes. Todos afinam com um trabalho exemplar que emociona sem apelar para clichês ou pieguice. Um filme excelente a ser visto e, certamente, aplaudido.(Luzia Álvares)

segunda-feira, 5 de março de 2012

"O GAROTO DA BICICLETA" NO CINE ESTAÇÃO

O cinema dos irmãos Dardenne é emotivo sem ser dramático, sensível sem ser apelativo e realista ao abordar temas tão comuns as pessoas. Seus filmes tem um estilo aparentemente distante e/ou frio do tema apresentado maIs na realidade os diretores procuram revelar aos espectadores uma densidade e profundidade da história de uma forma realista, provocadora e reflexiva. Em “A Criança”, seu primeiro grande filme, eles já tinham abordado um tema humanista sobre o mundo em que vivemos e o resultado foi brilhante. Em “O Garoto da Bicicleta” vemos a relação de uma criança com um mundo que ela não entende. Aqui, o pequeno Curyll não entende porque seu pai repentinamente o abandonou. Incansável na busca do pai e de uma resposta, este menino passa por uma transformação que não o permite perceber as relações e emoções que o envolvem. O único momento de paz e conforto deste menino é quando está na bicicleta dada pelo seu pai. E neste confronto/conflito que ele vive com as pessoas, coisas, mundo e finalmente com seu próprio pai após o reencontro, ele se transforma novamente. O mundo frio e calculista que se apresenta, é confirmado. Seu pai o abandona. Ponto final. E o que fazer com isso? Como viver com isso? Como mudar as poucas relações afetivas que o mundo nos apresenta? Como amar sem ser amado pelo próprio pai? Como seguir em diante? Estas são algumas das perguntas levantas neste belo filme que conquista o espectador aos poucos e nos aproxima de um drama comum ao ser humano, que através dos olhos e sentimentos de um menino, causa emoção e reflexão ao seu final. Excelente trabalho que já é um dos melhores filmes exibidos este ano. (Marco Antonio Moreira)

"AS IRMÃS DIABÓLICAS" DE BRIAN DE PALMA NO CINE SARAIVA

"AS IRMÃS DIABÓLICAS"
Original: Sisters – EUA/1973
Direção : Brian de Palma
Elenco : Margot Kidder, Charles Durning.
Sinopse : Irmãs siamesas, criadas por freiras num orfanato, são finalmente separadas depois de vários anos vivendo literalmente unidas. Mas a separação causa um transtorno irreparável e as irmãs passam a rivalizar uma com a outra. É nesse cenário que surge um assassinato, e uma das gêmeas está diretamente ligada ao crime. Primeiro filme do diretor Brian de Palma (Os Intocáveis/Vestida para Matar/Um Tiro na Noite/Redacted) com influência direta do estilo do mestre do suspense Alfred Hitchcock.

SESSÃO ACCPA/SARAIVA
“AS IRMÃS DIABÓLICAS”
ESPAÇO BENEDITO NUNES (LIVRARIA SARAIVA - BOULEVARD SHOPPING)
QUINTA-FEIRA DIA 08/03/12
HORÁRIO : 19H
ENTRADA FRANCA
INADEQUADO PARA MENORES DE 12 ANOS

"AMOR BRUXO" DE CARLOS SAURA NO CINE SESC


"AMOR BRUXO"
Original : El Amor Brujo – Espanha/1986
Direção : Carlos Saura
Elenco: Antonio Gades, Cristina Hoyos e Laura Del Sol.
Sinopse: As tradições ciganas que tanto marcaram a cultura espanhola são retratadas neste último filme da trilogia do diretor que inclui ''Carmen'' e ''Bodas de Sangue".

SESSÃO ACCPA/SESC
“AMOR BRUXO”
CINE SESC BOULEVARD
QUARTA-FEIRA DIA 07/03/12
HORÁRIO : 19H
ENTRADA FRANCA
INADEQUADO PARA MENORES DE 12 ANOS

"TÃO FORTE, TÃO PERTO"

Os norte-americanos ainda não expiaram a dor sentida com as perdas de tantos parentes e amigos no atentado ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001. O livro de Jonathan Safran Foer trata disso e o filme de Stephen Daldry ,ora em cartaz, endossa. No caso, é o que sente esposa e especialmente o filho, de um executivo que morre num dos prédios abalados por aviões manobrados por terroristas. No caso do filme, o personagem central, Oskar Schell (Thomas Horn), um pré-adolescente muito ligado ao pai, não se conforma com o acontecimento, ainda mais por ter estado perto do telefone quando o pai tentava falar com ele ou com a esposa(ausente) sem que tivesse a coragem de atender.
“Tão Forte e Tão Perto”(Extremely Loud and Incredible Close/EUA,2011) pode parecer um melodrama que exalta valores nacionais (norte-americanos) e se detém num portador da Síndrome de Asperger (dificuldades em processar e expressar emoções), menino genial que fala muito, gesticula muito e pensa em resolver todos os problemas que lhe apareçam.
Depois de saber da morte do pai, Oskar resolve mexer no armário dele. A mãe/esposa(Sandra Bullock) havia mantido intacto, tudo o que o marido deixou ao sair de casa. No meio das roupas e caixas o menino acha um vaso azul, que inadvertidamente quebra, e deixa ver um envelope com uma chave em seu interior e neste a inscrição “Black”. É o começo de uma missão do filho inconsolável: descobrir quem é o dono da chave, quem é Black o destinatário, visitando as familias com esse sobrenome em uma megalope como Nova York.
É evidente que a chave é uma metáfora. A busca é mais complexa, mais abrangente. O menino quer achar o motivo de ter perdido o pai a quem era tão ligado. E o papel aparentemente passivo da mãe acaba se mostrando a sombra desse menino, percorrendo sem ele saber os meus lugares por onde ele anda atrás do nome-simbolo de suas buscas e encontrando as mesmas pessoas que de alguma forma sentem, como ela (e ele), o drama provocado pelo cruel atentado.
O diretor Daldry é homem de teatro e como tal privilegia o contato com atores. Por isso, o novato garoto Thomas Horn ganha quase todas as seqüências do filme. E muitos closes. Para isso, a exigência a um ator praticamente amador é imensa. E Horn se sai bem. Suas palavras: “Meu personagem evidentemente vive uma situação muito emocional (....), seu pai era 95% de seu foco no mundo. Tenho por sorte uma família incrível sem nenhuma perda significativa na vida, mas tentei muito entender esse personagem. O que eu fazia era ir a um pequeno quarto e pensar como o personagem se sentiria. Passava cinco, dez, quinze até trinta minutos para me preparar para uma cena”.
Horn ganhara um concurso do quis show “Jeopardy” e isto valeu para que lhe pedissem um teste em video de atuação. O teste agradou e o garoto contratado para o ambicioso papel de Oskar, no filme o filho único dos personagens de Tom Hanks e Sandra Bullock- além de neto de Max Von Sidow. Com tão ilustre companhia, o novato apresentou uma exemplar performance. E não exagerou, como alguns viram. Desempenha bem o papel de quem tenta superar uma perda e aceita um desafio para isso.
Há espaços vazios que impedem um resultado melhor, mas não chegam a desmerecer um bom trabalho de diretor e elenco (apenas Sandra Bullock surge sem oportunidade e exibindo com insistência uma expressão de choro). O que deve ser observado em “Tão Forte e Tão Perto” ou “Extremamente ruidoso e incrivelmente próximo” é a questão do abalo sentido por uma população, a partir do enfoque de uma família, com uma tragédia inesperada. Pode parecer tardio (são 10 anos), mas a dor persiste e o cineasta de “As Horas” aposta que sim. Certo ou errado seu filme não fez muito sucesso de publico ou de critica apesar de ter concorrido ao Oscar de filme e ator coadjuvante (Sidow). Ignoraram o jovem Horn. Mas ele deve ressurgir, embora não tenha nada programado até agora. E não sei (pois não vi) se ele estava na platéia da entrega dos prêmios no domingo passado. (Luzia Álvares)

MÉNAGE À TROIS

Diz que a vida imita a arte, em parte isto pode ser verdade. O certo é que o cinema tem a capacidade de fazer o imaginário coletivo se fundir numa só dimensão. Em “Triangulo Amoroso”, o mais recente filme do alemão Tom Tykwer, diretor do consagrado “Corra Lola, Corra” e elegante na síntese. A história de amor entre dois homens e uma mulher, surpreende, não pela diversidade sexual alinhada , mas digamos pela multiplicidade. A mim parece que diversidade estar em fazer, e multiplicidade em querer, entre pos dois há uma linha tênue porem essencial. Na primeira parte o filme parece desconexo, gerando o certo desconforto, como se feito pra ninguém entender. Depois deslancha com sutilezas de interpretação com diálogos conciso e acima de tudo de um requinte ao tratar o tema pouco visto no cinema.(Ismaelino Pinto)

CENA MUDA

Não fosse o Oscar, um filme como “O Artista” estive quase incógnito, relegado aos circuitos de arte. Não por falta de méritos, que são muitos, mas pela inusitada forma de fazer cinema em plena revolução técnica da arte chamada sétima, como dizia o Edwaldo Martins. Desde 1929 o cinema fala e os mudos viraram acervos. Mais aí surge Michel Hazanavicius e resolve reverter o transito. A história é risível, como em todos os filmes da época e tem arroubos de dramalhão. Cabe a Jean Dujardin, carregar o filme com o mise-en-scéne caricato e grotesco, como também é comum para a época. Não há nada de genial, mas são as superficialidades que constroem nosso inconsciente coletivo. È como uma máquina do tempo ou saudade de um eterno retorno daquilo que não vimos, mas podemos imitar e sentir. Diversão segura e de uma insustentável leveza pra quem quer porque quer sentir saudade daquilo que não presenciou.(Ismaelino Pinto)

NO LIMIAR DA SÉTIMA ARTE

Agora que o filme francês mais badalado dos últimos anos recebeu cinco Oscars no último domingo, carimbou credenciais para que a sua distribuidora a Paris Filmes, disponibilizasse diversas cópias pelo Brasil, muitos terão a oportunidade de conferir a obra, que presta um grande tributo ao antigo cinema e também olha para o futuro.

O diretor Michael Hazanavicius nos transporta para a Hollywood no ano de 1927, período no qual astros do quilate de Charles Chaplin, Mary Pickford, Dougas Fairbanks, Clara Bow e Rodolfo Valentino arrastavam milhares de pessoas à monumentais salas para vê-los na tela. George Valentim (Jean Dujardin), faz parte desse ‘star system’ e é o astro maior dos estúdios Kinograph, de Al Zimmer (John Goodman).

No primeiro minuto do filme, um cinema mostra Valentim sendo torturado por seus algozes e escapando da morte graças as peripécias do cãozinho Huggie. Por trás da tela, o ator saboreia seu sucesso e aguarda os aplausos. Mas a arte cinematográfica atravessa um momento de mudança profunda, quando o som, que não ouvimos mas sentimos quando a orquestra executa a trilha ao vivo na sala, passa a ser parte imprescindível da equação.

E se os atores, invés de mimetizar cada gesto e ter uma boa parte da ação resumida a uma cartela com poucas palavras, pudessem falar e ser ouvidos pela platéia? Isso começa a passar pela cabeça de Zimmer, que apresenta a possibilidade a Valentim. ‘As pessoas vão ao cinema para me ver. Eu sou um artista e não preciso me sujeitar as mudanças e tecnologia para fazer a minha arte’, decreta o ator ao chefão do estúdio. Sua derrocada, como uma gangorra, eleva o status da corista Peppy Miller, que entra em sua vida acidentalmente e, impulsionada pelos conselhos dele e uma charmosa pinta, torna-se a queridinha da América.

Berenice Bejo empresta muita graça e uma atitude ‘coquete’ para sua Peppy Miller, que diverte e emociona, além de ter uma química irresistível com o Valentim de Dujardin. Ele, vai ficando para trás com o desinteresse pelos filmes mudos. Quando a Bolsa de Nova York quebra, Dujardin vai a falência, perde a mulher, a riqueza e aposta suas fichas no cinema ao escrever, dirigir e estrelar um filme.

Dujardin mereceu ser laureado com o premio de melhor ator, por uma atuação que não exigiu grandes desafios de composição fisionômica ou psicológica, mas é sutil e delicada. Em cenas como a do incêndio, ou mesmo durante o sonho no qual tudo ao seu redor emite sons, menos o próprio, ele nos fisga, quase leva as lágrimas, como as que brotam dos olhos de Peppy Miller quando o vê sendo engolido pelo progresso tecnológico. Quando Valentim finalmente fala, seu “Oui” transmite muito sobre o recomeço de um ser humano que parecia estar desacreditado. Tal como o “Genial! Merci!” que o ator soltou ao ser premiado com o Oscar.

A história de O Artista é construída de forma linear e clássica, com o apogeu, a queda e a ressurreição de Valentim conduzindo a narrativa. Mas Hazanavicius não abre mão do jogo de cena, de recursos da linguagem, como fusões e truques de câmera, para ilustrar o próprio poder do cinema em gerar imagens inspiradas, ao mesmo tempo em que presta homenagem a filmes icônicos de Hollywood – como a rua em que Valentim transita quando vai vender seu paletó, a mesma que vemos em O Garoto, ou a cena em que se encontra na escadaria do estúdio com Peppy Miller, e parece encarnar perfeitamente Clark Gable olhando de soslaio numa cena semelhante em ...E O vento Levou.

Fato é que as referencias são muitas mas em nenhum momento elas se tornam dominantes sobre a história de dois seres que se apaixonam e pertencem a eras diferentes, como no clássico Nasce uma Estrela. E, apesar de filmes clássicos como Cantando na Chuva terem explorado o tema da transição do cinema mudo para o falado, nenhum o fez com tanto domínio e objetividade quanto O Artista, graças a criatividade de Hazanavicius – que escreveu o roteiro original – e a competência de seu casal central, muito inspiradores e humanos.

O Artista mereceu todos os prêmios que levou e, se fosse possível definir em poucas palavras o efeito de assistir a sua projeção e ao desfecho glorioso do enredo – que homenageia musicais como Zigifield Folies e da dupla Fred Astaire e Ginger Rogers -, caberia aqui um sublime. Ou quem sabe apenas um sentimento de satisfação, já que a combinação de imagens, enquadramentos, olhares e a deliciosa trilha sonora são mais preciosas do que mil palavras.(Lorenna Montenegro)

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