quinta-feira, 21 de março de 2013

CINEMA EUROPEU

No DVD encontram-se cópias de muitos filmes europeus que os cinemas comerciais da cidade não exibem. A maioria provém da França e os filmes podem ser clássicos do passado como produção recente. No rol dos recentes está “De Volta Para Casa”(À Mio Seule/França, 2011) que trata de uma jovem sequestrada quando criança e passa anos com o sequestrador. O filme é narrado sem ordem cronológica e logo no inicio se vê o reencontro da sequestrada com a sua mãe. Não há muitos dados sobre o sequestrador e seus motivos (não se fala em resgate). A base do roteiro é o relacionamento do criminoso com a vítima, e até que ponto esta se acomoda como tal. O filme ganhou um prêmio no Festival de Berlim. Marcação narrativa de primeira. “Esposamante”(Itália, 1977) foi o mais conhecido trabalho do diretor Marco Vicario. A bela Antonella Lualdi interpretaa a esposa que se diz inválida e a quem o marido despreza. Quando ele desaparece, ela sai do leito onde permanecia como doente e passa a ter uma vida amorosa. A volta desse marido instável se dá quando ele se acha doente e dessa forma passa a morar na casa vizinha à sua, de onde observa a vida da esposa. Em certo momento ele volta sendo recebido por ela. Roteiro de Rodolfo Soneco e do diretor. Marcello Mastroianni é o marido. A mim sempre pareceu um filme fraco além de apresentar enfoques sobre uma relação clássica de marido traído e mulher culpada. As estratégias dela nessa relação são expostas pelas mãos de Vicário como de mulher astuciosa a quem o público tem aquela reação negativa desde quando a trama se desenvolve. Mas é interessante assistir. “Copacabana”(França,2010) de Marc Foutussi é um show de desempenho de Isabelle Huppert. A atriz (que protagoniza a filha de Emanuelle Riva & Jean Louis Trintignant em “Amor”) é mostrada como figura instável Babou, divorciada, usuária de droga, desempregada quase sempre e difícil de ser compreendida pela filha Esmeralda (Loliya Chammah, sua filha na vida real). Louca pela musica brasileira, sonha em viajar para o Rio mas enquanto não pode, emprega-se numa locadora de imóvel e volta ao desemprego quando abriga mendigos em um dosapartamentos que deveria alugar. O roteiro do próprio diretor tem alguns avanços incômodos de ficção em meio a um realismo aparente. Mas Huppert dá àpersonagem uma carga de sentimento que a ninguém é despercebido. Ela é o filme, e a sua herdeira, num tipo antipático, não deixa de impressionar também. “A Vítima Perfeita”(In Her Skin/Autralia, 2010) impressiona pela narrativa segura que consegue sair do trivial na abordagem de um caso verídico: o sumiço de uma jovem da classe média que se dedicava à dança. Bons atores, especialmente Ruth Bradley que protagoniza a jovem epilética Caroline, mantém a atenção e as pausas que a diretora Simone North coloca no drama policial e familiar acionam um plano de suspense que em nada prejudica a análise de comportamento. O filme ganhou 2 prêmios, um na Austrália um em Milão. Inédito nos cinemas locais. “Christine”(França, 1958) é o único filme que reuniu Romy Schneider e Alain Delon, namorados em um breve tempo e por isso ligados aos jovens da ápoca como românticos sedutores. Delon protagoniza um militar, ela sua namorada. Mas ele mantém por meses um relacionamento com a esposa (Micheline Presle) de um oficial superior. O romance proibido leva-o a duelar com o marido traído. E o final triste parecia indicar que a dupla Schneider & Delon não demoraria muito. Ela, a Sissi do cinema, teve uma vida marcada por fatos trágicos, nada compatível com os filmes romântocos em que atuou em inicio de carreira. Direção de Pierre Gasár-Huit.(Luzia Álvares)

"O MÁGICO DE OZ"

A história do escritor e teosofista norte-americano Lyman Frank Baum (1856-1919) “O Mágico de Oz” foi escrita em 1901 (junto com o ilustrador Denslow) e ganhou o cinema e o teatro. No cinema, a versão mais famosa foi a de 1939 dirigida por Victor Fleming com a jovem Judy Garland que na época tinha 17 anos. A produtora Metro (MGM) estava interessada em outra adolescente, a atriz Shirley Temple, para o papel, entretanto, a Fox não aceitou o “empréstimo” então Miss Garland investiu-se de uma garota bem mais jovem. O enredo mostrava a menina de Kansas que em certo dia, envolvida por um tufão, entraria no reino encantado de Oz onde o governador era um mágico e a aventura que a envolvia com 3 estranhos amigos (Homem de Lata, Espantalho e Leão Covarde) deixava uma lição sintetizada em uma frase: “There’s no place like home” (Não há lugar como o lar). A história do Mágico de Oz esteve muitas vezes nas telas. Ganhou até um musical em 1978 dirigido por Sidney Lumet com Michael Jackson. Agora, na moda das “prequel”, ou seja, roteiros que mostram o começo das franquias, surge este“Oz, Mágico e Poderoso”(The Wonderful Wizard of Oz/2013), e já se vislumbra para mais adiante um filme de Clayton Spinney, estreante na produção e direção. No filme que está em cartaz internacional (esta semana foi o mais rentável nos EUA) James Franco protagoniza Oz, um prestidigitador de feira que ao experimentar vôo em um balão é envolvido pelo clássico tufão e acaba na terra encantada onde é recebido por uma jovem que diz ser bruxa do bem junto com um macaco de asas e também, acompanha-os uma garotinha de porcelana. A ligação com a realidade, que no filme de 1939 advogava a revisão que a menina Dorothy fazia dos que a cercavam (incluindo uma mulher que via como bruxa), não é muito explorado. Vê-se, apenas, pela repetição de interpretes, que a fada realmente boa, Glinda, é a mesma Annie (Michelle Williams), uma apaixonada por Oz que no prólogo do filme, em preto e branco e tela pequena, diz a ele que vai casar contra sua vontade. Mas o mágico, que estaria sendo esperado pelos habitantes da Cidade de Esmeraldas devido às profecias, não volta a Kansas. E a sua mágica primária na rua é substituída pela tecnologia que aprendeu estudando os inventos de Thomas Edson, especialmente a projeção de imagem em movimento. É com esses recursos que no inicio do século XX começavam a mudar o mundo que Oz consegue dominar a fúria de duas bruxas irmãs, a que o recebeu, Theodora (Mila Kunis) e a então ditadora Evanora (Rachel Weisz) que havia assassinado o pai de Glinda. As historias de Baum pregavam “lições de coisas” como esperavam os leitores de seu tempo. Os pais recomendavam essas histórias a seus filhos. E eles amavam. Hoje, na era do videogame e dos quadrinhos do tipo Marvel, não sei se meninas e meninos vão aproveitar a viagem a Oz, seguindo a trilha de tijolos amarelos e conhecendo tipos estranhos e muitos amáveis. O argumento prossegue ingênuo e a produção investe em tecnologia para que a magia de um conto de fadas, ou melhor, de bruxas, ganhe um visual cativante. Louve-se o cuidado de produção. Efeitos digitais fazem a festa que em 1939 era impossível fazer. Mas se falta canções como “Over the Rainbow” e tipos sedutores como os amigos de Dorothy que, enfim, recebem lições encorajadoras, há um achado digital na bonequinha de porcelana e a inclusão do argumento de que as lições de vida em uma comunidade são de que o povo deve despojar-se de ditadores e a tecnologia deve ser descoberta para alicerçar esse embrião democrático. Noutras palavras, o novo “Mágico de Oz”é mais político. E ganha com isso.(Luzia Álvares)

MOSTRA NO CINEMA OLYMPIA

O sucesso da Mostra De Filmes Românticos, apoiada pela ACCPA, leva, ao centenário Olympia, uma segunda semana do gênero. Afinal, o velho cinema foi palco da recíproca de espectadores que unidos sentiam os dramas e comédias que envolviam personagens de ficção. E a música desses filmes geralmente os fazia colar na memória de quem os assistia. A nova temporada do gênero que começa amanhã, sexta feira, terá títulos que de alguma forma marcaram época. São eles: “Tarde Demais Para Esquecer” (Na Affair to Remember, EUA, 1957), “Gigi” (EUA, 1958), “Ghost, Do Outro Lado da Vida”(Ghost, EUA, 1990), As Pontes de Madison”(The Bridges of Madison County, EUA, 1995), “Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças”(Eternal Sunshine of Spotless Mind, EUA, 2004) e “Houve Uma Vez Um Verão” (Summer’42, EUA, 1971, 103 min.). “Tarde Demais Para Esquecer”(An Affair to Remember/1957) é a refilmagem pelo mesmo diretor, Leo McCarey, de “Duas Vidas”(Love Affair) que ele realizou em 1939, nessa versão contracenando os veteranos Charles Boyer e Irene Dunne. Na nova versão, usando o cinemascope & cores, o par romântico é composto por Gary Grant e Deborah Kerr. Segue o mesmo argumento, ou seja, o casal que se conhece em viagem de cruzeiro, marca encontro no alto do edifício Empire State(NY). A música de Harry Warren e Harold Adamson especialmente a canção com letra do próprio diretor do filme, ficou na mente de quem assistiu ao filme. Um dos românticos da vez, diga-se, pois encontros e desencontro levam a quebra da corrente do amor. “Gigi”, de Vincent Minelli, é um de meus filmes preferidos. Vejo e revejo a cópia sempre me encantando com a leitura que faço dos tipos femininos da “belle epoque” francesa que eram colocados no “grand monde” para “servir os homens”. E a garota quase cai nessa. Leslie Caron é a personagem criada pela escritora Colette e Louis Jourdan o milionário conquistador que a trata como criança e descobre que já é mulher feita. As canções de Frederick Loew e Alan Jay Lerner e a presença carismática de Maurice Chevalier fazem a festa que recebu 9 Oscar e entre nós inaugurou o Cine Palácio em, 1959. “Ghost- Do Outro lado da Vida” foi o maior sucesso de publico em Belém que se tem noticia. Ficou em cartaz durante 6 meses, no antigo Cine Palácio (1.600 lugares) e depois fez carreira em outras salas como o Nazaré I e o Cinema I. O ator Patrick Swayze ( já falecido) protagoniza o jovem namorado assassinado por um colega e, em espírito, acompanha a namorada interpretada por Demi Moore, com o auxilio da médium (Woopy Goldberg). Também neste caso, a música “Unchained Melody" (de Alex North e Maurice Jarre) marcou. Ainda hoje figura nas coletâneas de trilhas sonoras cinematográficas. O filme ganhou Oscar de roteiro (de Bruce Joel Rubin que faria outra obra de tema espírita, “Alucinações do Passado”(Jacob’s Ladder/1990) e dirigiria um outro roteiro escrito por ele, “Minha Vida”(My Life/1991). Outro Oscar do filme foi para a atriz coadjuvante (Whoopi). “A Ponte de Madison”, de Clint Eastwood, na aparência um breve romance de uma mulher casada (Meryl Streep), trata de um drama bem usual na vida das mulheres: a imposição de superioridade masculina da dona de casa, onde ela devota todas as suas horas e tarefas. Ao conhecer um fotógrafo (Clint Eastwood), em certo momento em que está quase sem identidade, ela se reanima e se descobre enquanto pessoa humana, uma mulher de qualidade, que pode amar. A mim me parece um dos melhores filmes sobre as relações de desamor de uma mulher por sí própria. Imperdível. “Brilho Eterno de uma Noite sem Lembranças”provou mais uma vez a inventiva do roteirista Charlie Kaufman (de “Quero ser John Malkovich”, “Adaptação” e “Sinédoque Nova York”). Ele roteiriza de sua ideia original com Pierre Bismuth e o diretor Michael Gondry. O tema é o esquecimento de uma relação amorosa. Na mostra romântica é como um “anti-romance”. Trata de Joel (Jim Carrey) que quer esquecer Clementine (Kate Winslet) para saber se apagando da memória seus momentos com ela o relacionamento sobreviverá. Um filme diferente com uma espantosa montagem e excelentes desempenhos. “Houve Uma Vez um Verão” é mais conhecido como “Verão de 42”, seu titulo original. Inesquecível a música tema de Michel Legrand, vencedor do Oscar, e a atuação de Gary Grimes, na época com 15 anos, interpretanto o personagem Hermie, o garoto que passa as férias em Nantucket Island e tem sua iniciação sexual com uma triste (Jennifer O’Neil) viúva de guerra àquela altura sofrendo um drama íntimo. (Luzia Álvares)

VÍDEOS RAROS

Antes de Vincente Mennelli aparecer com “Uma Cabana no Céu” em 1941, Edgar G.Ulmer havia feito “Lua Sobre o Harlem” em 1939. Este filme chega agora ao Brasil em DVD pela distribuidora maranhense Lume. É uma relíquia, pois foi feito em 16mm gastando apenas 4 dias de filmagem e com alguns atores ligados ao jazz. Custou pouco, rendeu pouco e hoje é peça de museu. Como de museu é “O Presidente”(Praesidenten/1919) de Carl T.Dreyer, também lançamento brasileiro em DVD. Este foi o primeiro filme que o cineasta de “A Paixão de Joana D’Arc” dirigiu. Sua filha,ao que diz uma legenda na cópia, “coloriu” as imagens de acordo com os dizeres do pai. Não creio posto que Dreyer era um perfeccionista e essa historia de colorir filme é um desrespeito à obra do autor. Pior ainda no chapadão amarelo&azul como se vê, também, nas edições em DVD de “Intolerância”(Intolerance) de Griffith. O filme de Dreyer é um melodrama que se realiza com o cuidado de quem sabia de quanto pode um enquadramento fazer efeito simbólico ou ajudar na com concepção da história contada. No caso o drama de um juiz que é guinado a julgar sua filha acusada de matar seu neto recém-nascido. Desta vez o apelido de clássico vai bem. Não sei se o filme está nas locadoras mas comprei em loja. Obras raras do cinema felizmente ganham espaço nas videotecas modernas graças à nova tecnologia. Quem estuda a arte&industria deve organizar um arquivo do tipo pois entre nós não existe uma videoteca cultural.(Pedro Veriano)

"AMOR" AINDA EM EXIBIÇÃO

Uma história dolorosa e profunda, que vem arrebatando críticos ao redor do mundo, está em exibição em Belém até o final do mês. Muito por conta dos mais de 20 prêmios que colecionou, entre eles o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, foi que “Amor”, aportou nas salas do circuito comercial. Aqui, vale uma correção: o longa-metragem do austríaco Michael Haneke só foi exibido em uma sala. Teve um público tímido, após uma manobra um tanto arriscada da distribuidora Imovision – na pessoa do produtor paraense Jair Santana – para trazê-lo para cá. Apesar do esforço não ter sido compensado na bilheteria, o filme mereceu uma segunda chance, dessa vez no Cine Estação das Docas. E o que se viu foi os freqüentadores da sala de exibição alternativa lotando sessões, para ser impactado uma ou mais vezes pelo drama de um casal de idosos retratado em tela grande. Protagonizada pelos grandes atores Jean-Louis Trintignant (de “Um homem, uma mulher”) e Emmanuelle Riva (“Hiroshima, meu amor”), a história acompanha a rotina de dois octagenários ex-professores de música que tem que lidar com uma fatalidade. Ela, Anne, tão eloquente e alegre, de repente se vê tolhida de seus movimentos e expressões por culpa de um AVC (acidente vascular-cerebral). A vida vai, como numa poética sinfonia de Schubert, se esvaindo do corpo e da mente de Anne. E ele, Georges, tenta não perder a sanidade ao ver a mulher que ama naquele estado.
O estado das coisas se modifica e logo ele não sabe se ainda quer viver. A filha (interpretada pela ótima Isabelle Hupert) tenta se reaproximar, cuidar da mãe. Georges prefere ficar trancado, no apartamento, com a mulher e os problemas, deixando o mundo e os filhos do lado de fora. Vamos acompanhando, com um aperto no peito, um homem numa situação-limite. Ele tenta manter as aparências, restabelecer uma rotina, fingir que o tempo não passa e que o companheirismo abafa o sofrimento. Entre quatro paredes, vemos que, no cinema de Haneke, não há espaço para concessões ou fragilidades. “Quando se atinge certa idade, você passa a ter um entendimento maior do que a palavra sofrimento significa quando vê alguém que ama agonizar. Eu nunca sei me analisar o suficiente para saber o que busco ao fazer um filme. Mas tenho percebido que o amor, assim como a violência, pode ser um elemento circunstancial”, declarou ele, por ocasião do lançamento do filme no Festival de Cannes 2012.
Constantemente arrebatador, é o primeiro filme do grande Trintignant desde 2003 – sendo o primeiro como protagonista em muito tempo. O ex-namorado de Brigitte Bardot, havia se aposentado do cinema e estava fazendo um ou outro espetáculo teatral quando Haneke o convidou. Também na coletiva em Cannes 2012, ele disse que se surpreendeu com a força de seu personagem, Georges, e como ele lida com dignidade com o problema da mulher Anne, e acima de tudo, com lealdade. O ator ainda frisou que não há retorno à vista. Emmanuelle Riva contou, na mesma ocasião, que fazer um filme que não fosse sentimental era a principal diretriz a ser seguida. E ela, que brilhou no Kodak Theatre na noite do Oscar, mesmo não levando o prêmio de melhor atriz, entregou a melhor atuação do ano, provocando com o seu talento, uma conexão com a doente personagem que não termina quando, de forma abrupta, a pressão do travesseiro sob o seu rosto a liberta.
Ao fim, a sensação que fica é que Michael Haneke realmente se supera neste filme, tão triste quanto belo. Também responsável pelo roteiro, o diretor austríaco nos leva as lágrimas ao abordar, com extrema sensibilidade, a dureza da velhice e da morte, sendo o amor um afiado punhal que extermina a dor. (Lorenna Montenegro)

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