terça-feira, 30 de junho de 2009

"Z" NA SESSÃO CINEMATECA NO CINE OLYMPIA DOMINGO DIA 05/07/09

“Z”
Origem: França, Grécia, 1969
Direção de Costa-Gavras
Roteiro de Vasilis Vasilikos, Jorge Semprún e Costa-Gavras,
Fotografia de Raoul Coutard
Música de Mikis Theodorakis
Elenco: Yves Montand, Jean-Louis Trintignant,Irene Papas, Jacques Pérrin, Renato Salvatori,Charles Denner, François Pérrier,Pierre Dux.
Resumo do argumento: Na Grécia, durante a ditadura militar, um líder liberal é assassinado quando toma parte em uma manifestação oposicionista. Um delegado encarregado do caso não hesita em investigar lideres do governo, interrogando autoridades envolvidas no caso.
Importância histórica: O filme, vencedor do Oscar para obras estrangeiras e edição, também recebeu prêmios na Inglaterra (Bafta) e Cannes. É o primeiro de uma série que o diretor grego Constantin Costa-Gavras dirigiu sobre temas políticos (os outros foram, pela ordem de produção: “A Confissão”, “Estado de Sitio”,”Secção Especial de Justiça”,”Desaparecido”, e “Amem”). Nesses trabalhos o diretor atacou duramente regimes de força e ações duvidosas cobertas por diversos interesses. No Brasil “Estado de Sitio” foi proibido, só sendo visto muitos anos depois de produzido. Com “Desaparecido”, sobre a ditadura militar argentina, o diretor voltou a ganhar "Oscar".

SESSÃO CINEMATECA
"Z"
CINE OLYMPIA
DOMINGO DIA 05/07/09
HORÁRIO : 16 H
ENTRADA FRANCA
PROGRAMAÇÃO: ACCPA

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O ‘ASTRO’ DO SÉCULO

Quando o cinema ainda não tinha aprendido a falar, o “astro” era o embonecado Rudolph (ou Rodolfo) Valentino. Quilos de vaselina nos cabelos, lábios e sobrancelhas pintadas, gesticulando para suprir as falas (que restavam escritas nas intercessões de quadro escuro) o galã fazia as melindrosas da platéia desmaiarem. Contam que em Belém um namorado chegou a dar um tiro na tela (não se de qual cinema) porque a garota dele, sua acompanhante numa sessão de “O Águia”, derramava elogios românticos a Valentino e não deixava nem mesmo que ele, o seu eleito, pusesse um braço sobre seu ombro.
Depois que chegou o som o público aplaudia quem soubesse gravar juras de amor. Clark Gable, Gary Cooper. Gary Grant, e até “caras de mau” como Humphrey Bogart, sabiam dizer “I love you” e com isso receber respostas das mocinhas abaixo da tela (“We love you too”).
Hoje um artista suplanta todos esses. Chama-se Computador. Ele faz o charme dos filmes de verão, esses que custam mais de 200 milhões de dólares, ganham mídia na base do “chem” e atraem quem na bilheteria já sabe como o filme começa e termina.
Quem, afinal, poderia fazer as continuações de “O Exterminador do Futuro”, “Transformers”, “Uma Noite no Museu”, e até mesmo animações como “A Era do Gelo” ?
O critico que vai ver esses filmes, mesmo não pagando ingresso, deve matutar que está perdendo, em cada um, no mínimo duas horas de sua vida. E para escrever o quê? Dizer que o roteiro é arranjado, que os atores estão péssimos, que os tipos seguem modelos ultrapassados, que a linguagem linear é cafona como se usava nos primórdios da industria do gênero?
Mr. Computer faz e acontece na tela que hoje volta a exigir óculos bicolores para disseminar a ilusão de 3 dimensões, aumentando os desastres cênicos e a barulhada que deixa um trio elétrico baiano com jeito de segredos sussurrantes de enamorados.
Para se ter uma idéia do absurdo que é este cinema feito com e para S. Majestade Computador, os roteiristas dos filmes mexem com o tempo através de brechas para o filho do futuro salvaguardar a barriga da mãe que o suportou no passado. É a explicitude da chula mensagem “guarda a puta que o pariu”.
Peter Bogdanovich (diretor de “A Última Sessão de Cinema”) escreveu que os melhores filmes já foram feitos. A gente não crê nesse tipo de bruxa, mas dizer taxativamente que elas não existem é arriscar queimar a mão no fogo. Pelo menos no plano comercial, onde cinema ombreia com qualquer produto de venda em loja (e não é à toa que cinema, agora, é coisa de shopping ).
Ah sim: “O Exterminador do Futuro 4” tem o subtítulo de “A Salvação” e Transformer 2” de “A Revolta dos Derrotados”. Entendam: a salvação está em se abster dessa coisa, e só quem é “looser” (perdedor, derrotado) se arrisca a brigar com latas que se transformam. (Pedro Veriano)
MORANGOS DE BERGMAN

Quando eu vi pela primeira vez “Morangos Silvestres”(Smultronstallet/1957) fiquei impressionado com a idéia de Bergman em botar uma figura do presente dentro de um passado (no caso o passado desta figura).O velho professor Bjork(Victor Sjöstrom) entra na casade sua infância, acompanha os passos de seus pais e irmãos, vê todo mundo tomando banho no lago próximo. Ele se deita na mata próxima e vai colhendo e comendo os morangos do titulo. Não deve ter sido a primeira vez em que se fez flashback desse tipo, ou seja, se botou a imagem de um tempo dentro do outro. Mas depois disso virou moda.
Também em “Morangos Silvestres” há uma seqüência original que recebe a seiva do expressionismo. É quando o professor se vê numa rua deserta, onde existe um relógio sem ponteiro, e surge uma carroça que quase lhe atropela. Tudo isso em imagem estourada para o claro. Por aí surge a figura do morto (no caso, ele), e esta figura reaparece, como outro morto, na seqüência onírica em que o mestre é testado como no tempo de aluno do curso médico. Nesse momento de lembrança, ao dizer que o doente que examina é um cadáver, surpreende-se quando o “cadáver” dá uma gargalhada. Os momentos de pesadelo acompanham a viagem do homem idoso que vai receber uma homenagem de onde estudou. É a coroação de uma vida profissional. Mas a autocrítica é muito forte. Ele cita em imagens o que estava escrito nos pórticos do Templo de Apolo e Sócrates adotou (e a gente lê no anfiteatro quando estuda anatomia): “Nosce te Ipsum”(Conhece-te a ti Mesmo). Ele se conhece ? Para o herói criado à imagem de Victor Sjoström, não é bem assim. Médico, desconhece a si e aos outros e ao constatar isso, num fim de vida, questiona a honraria que vai receber e se esforça para fazer feliz a nora que se queixa do casamento.
Emblemático em muitos momentos, o filme trata ainda das idades, Um casal jovem que pede carona no carro do professor expande uma alegria que ele não vê a não ser nas imagens do passado por onde adentra nos primeiros momentos do (quase) road-movie. Seria a alegria de viver, ou seria o conceito que o personagem passa a ter de quem é simplesmente jovem?
“Morangos Silvestres” é um dos melhores filmes de Ingmar Bergman. Um dos mais acessíveis ao espectador que não comunga de suas imagens densas apresentadas em filmes posteriores. Talvez até por isso seja um de seus títulos mais imunes ao tempo. (Pedro Veriano)

"FORÇA POLICIAL" DE GAVIN O´CONNOR EM DVD


“FORÇA POLICIAL” de Gavin O´Connor. Com Edward Norton, Colin Farrel e Jon Voight.Um policial inicia uma investigação sobre o assassinato de quatro policiais numa ação duvidosa e lentamente descobre que por trás do assassinato existe uma rede de corrupção que irá revelar uma série de fatos envolvendo nomes da policiais ligados a sua família. Na dúvida de revelar os fatos ou esconder os envolvidos, ele entra num processo de reavaliação de sua profissão. Muitos filmes de boa qualidade foram feitos para denunciar a corrupção policial americana. Lembro-me de “Os Novos Centuriões” de Richard Lester produzido os anos 70 que procurava revelar o envolvimento da polícia com o crime organizado. Mas já faz algum tempo que o cinema americano não aborda o tema de uma forma série e reflexiva como em “Força Policial”. No filme, o roteiro não procura separar a questão entre personagens do bem ou do mal. Ao contrário, vemos personagens envolvidos com a sua realidade e vivenciando as dificuldades da sua profissão muitas vezes mal remunerada e que os aproxima da ilegilidade diariamente. Refletindo e questionando esta realidade, vemos um investigador em crise de consciência, um policial corrupto envolvido com o crime e responsável pela morte de quatro policiais, uma família que tradicionalmente tem membros dentro da força policial e por fim um patriarca, respeitado e considerado por todos, vendo seus familiares envolvidos numa situação de risco. Esta galeria de personagens equilibra a questão, mostrando vários lados de uma mesma história, sem julgamentos morais. Afinal, a corrupção policial não está isolada de outros problemas sociai e, estruturais de uma sociedade e é isto que o filme procura dizer. Com uma direção segura, sem exageros formais na construção do filme, o cineasta Gavi O´Connor valoriza cada palavra do roteiro acrescentando a boa atuação de atores como Edward Norton, Colin Farrel e Jon Voight, veterano ator que aqui volta a ter uma atuação destacada. Longe de ser o filme definitivo sobre o assunto, “Força Policial” provoca inteligentemente o tema para discussão. Vale a pena ser visto.
Marco Antonio Moreira

"O FUNDO DO DO CORAÇÃO" DE COPPOLA EM DVD


"O FUNDO DO CORAÇÃO” de Francis Coppola. Com Federic Forrest, Teri Garr, Nastassja Kinski e Raul Julia. Em Las Vegas, durante as comemorações do Dia da Independência, um casal decide que seu relacionamento terminou e acabam se separando. Procurando novas paixões, encontros, pessoas, eles acabam se perdendo numa cidade onde quase tudo é falso e ao mesmo tempo apaixonante. Mas seus caminhos acabam se cruzando novamente depois de tentarem novos sonhos e novos amores. Este pequeno resumo da história do filme de Coppola poderia ser de qualquer filme romântico, desses que são produzidos em grande quantidade todo ano. Mas o resultado desta pequena grande história de amor é muito maior do que se possa parecer. Francis Coppola realiza aqui um dos mais belos poemas ao amor através de um casal que se perde entre o real e a fantasia e descobre que a única coisa sólida que possuem é o seu relacionamento, a sua paixão. E para mostrar isso, numa direção fantástica, criativa, sensível e mágica, Coppola não economizou na produção, nas filmagens, nos enquadramentos, na fotografia, na cenografia e canções belamente compostas por Tom Waits que seguem toda a trajetória de amor dos personagens. Criando uma Las Vegas artificial com pessoas artificiais, Coppola deu um outro sentido ao que chamamos de filme romântico. Muitas vezes melancólico, triste e sem esperança, “O Fundo do Coração” é um filme que provoca o espectador com suas imagens, sua poesia e suas conclusões. Afinal, o que é o amor, é o que pergunta Coppola. Cabe ao público interpretar esta pergunta através dos acontecimentos dos personagens principais e de toda a magia que cerca ambos em todo o filme. Pena que na época do lançamento do filme, “O Fundo do Coração” acabou causando um grande prejuízo financeiro ao diretor que investiu tudo o que podia para tornar verdadeira uma linda, simples e poética história de amor. Espero que agora, passado tanto tempo de seu lançamento nos cinemas, “O Fundo do Coração” seja citado como um dos melhores filmes de Francis Coppola, um dos grandes diretores americanos, sempre lembrado pela excelência de filmes como “O Poderoso Chefão” e “Apocalypse Now”.
Marco Antonio Moreira

quarta-feira, 24 de junho de 2009

"MORANGOS SILVESTRES" DE INGMAR BERGMAN SABÁDO DIA 27/06/09 NA SESSÃO CULT NO CINE LÍBERO LUXARDO



"MORANGOS SILVESTRES"
Suécia, 1957
Direção e Roteiro: Ingmar Bergman
Com Victor Sjostrom, Bibi Anderson e Ingrid Thulin
Argumento :O professor de medicina Isak Borg dirige com sua nora Marianne de Estocolmo a Lund para receber o grau honorário da Universidade de Lund por seus 50 anos de carreira. No caminho, relembra os principais momentos de sua vida, temendo a morte que se aproxima. Conhece diversas pessoas na estrada, desde Sara e os seus companheiros de viagem , Viktor e Anders, os quais se dirigem para Itália, assim como um casal que faz lembrar Isak a sua própria vida e casamento, com cujo carro quase têm um acidente.
O filme recebeu o Urso de Ouro por Melhor Filme (1958), o "Globo de Ouro" de melhor filme estrangeiro(1960) e foi indicado ao "Oscar"na categoria de Melhor Roteiro.
Na vasta de filmografia do mestre Ingmar Bergman, "Morangos Silvestres" é considerado pelos críticos como um de seus 5 melhores filmes.

SESSÃO CULT
"MORANGOS SILVESTRES"
Sábádo Dia 27/06/09
Cine Líbero Luxardo
Horário : 16:30 h
Entrada Franca
Programação : ACCPA

terça-feira, 23 de junho de 2009

"CHE" EM ÚLTIMA EXIBIÇÃO NO CINE ESTAÇÃO


"CHE"
Direção : Steven Soderbergh
Com Benicio Del Toro
Sinopse:26 de novembro de 1956. Fidel Castro (Demián Bichir) viaja do México para Cuba com oito rebeldes, entre eles Ernesto "Che" Guevara (Benicio Del Toro) e seu irmão Raul (Rodrigo Santoro). Guevara era um médico argentino, que tinha por objetivo ajudar Castro a derrubar o governo de Fulgêncio Batista. Ao chegar ele logo se integra à guerrilha, participando da luta armada mas também cuidando dos doentes. Aos poucos ele ganha o respeito de seus companheiros, torna-se um dos líderes da revolução que está por vir.

Última Exibição Quarta-feira Dia 24/06/09 no
Cine Estação

segunda-feira, 22 de junho de 2009

"A REGRA DO JOGO" DE JEAN RENOIR NO CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA SEGUNDA-FEIRA DIA 29/06 ÀS 19 H


"A REGRA DO JOGO"
Original: La Règle du Jeu- França, 1939
Direção de Jean Renoir
Roteiro de Renoir e Carl Koch.
Fotografia de Jean-Paul Alphen,Jean Bachelet, Jacques Lemare e Alain Renoir.
Elenco: Marcel Dalio, Jean Renoir Nora Gregor,Paulette Dubost,Mila Parély,Lisa Elina,Pierre Magnier, Pierre Nay.
Argumento: O piloto Andre Jurieux(Roland Toutain) chega a Paris depois de uma viagem heróica por longa distancia. A multidão que vai esperá-lo não o satisfaz porque a sua amada Christine(Nora Gregor) não está presente. Ela é a mulher o aristocrata Robert de la Cheyniest (Marcel Dalio), por sua vez envolvido com Geneviéve De Marras(Mila Parély) . Pedindo auxilio ao amigo Octave (Jean Renoir) André vai à mansão onde todas essas personagens estão reunidas numa festa. Patrões e empregados convivem nesse microcosmo onde, afinal, acontece um crime.
Importância Histórica: O filme, uma comédia de critica de classes, foi considerado perdido durante a 2ª. Guerra Mundial. Mas acabou por se achar uma cópia guardada pelos alemães. Reconhecido como um dos clássicos mais estimados do cinema europeu, acabou mencionado entre os melhores filmes do século XX. O diretor Jean Renoir em seguida iria para Hollywood onde fez muitos filmes e depois de voltar para mais alguns na França passou a morar na Califórnia onde morreu.

"A REGRA DO JOGO"
Cineclube Alexandrino Moreira (Auditório do IAP)
Segunda-feira Dia 29/06/09
Horário : 19 h
Entrada Franca
*Após o filme, debate entre os presentes e os críticos da ACCPA

FILMES....

Assistir a filmes que falam dos "coleguinhas" é uma das coisas que mais amo no cinema. Posso citar alguns dos quais gosto muito como "A montanha dos sete abutres", "Todos os homens do presidente", "O jornal", entre outros, e a essa listinha acrescento agora "Intrigas de estado", direção de Kevin Macdonald, em cartaz em Belém na sala Castanheira 1, uma história que mostra o que se convencionou chamar de "jornalismo investigativo" na sua melhor forma.Um rapaz corre apressado por uma rua escura. Se esconde, mas no encalço dele está um homem de olhar frio e com clara determinação de o encurralar. O homem tem uma pistola e atira à queima-roupa. Um outro homem passa numa bicicleta e vê a cena. Imediatamente, ele também é alvejado. O dia amanhece, uma jovem mulher anda apressada em direção ao metrô. O vagão vem chegando, muitas pessoas na plataforma, e a mulher salta para a morte. As três mortes, aparentemente, não têm nada em comum. As duas primeiras ocorrências passam a ser pauta do jornalista, das "antigas", Cal McCaffrey (Russell Crowe), e a do aparente suicídio passa à novata Della Frye (Rachel McAdams), que também faz o blog da redação do jornal Washington Globe, onde ambos trabalham e têm como chefa, a editora Cameron Lynne (Helen Mirren). O jornal está passando por mudanças e acaba de ser comprado por uma grande corporação, que está bastante interessada em lucro. A moça que morreu no metrô é Sonia Baker (Maria Thayer), que era uma das principais assessoras do gabinete do deputado Stephen Collins (Ben Affleck). Numa coletiva sobre a CPI que ele preside envolvendo a empresa PointCorp, Collins tem uma crise de choro ao lamentar a morte da moça. O que é suficiente para que toda a mídia associe a cena ao fato que Collins estaria tendo um caso com Sonia. O que é verdade. Collins admite isso a McCaffrey, de quem foi colega de faculdade, e na campanha do qual trabalhou. McCaffrey é daqueles jornalistas cheio de fontes e ainda adepto do bloquinho e caneta. Ele conhece policiais, os funcionários do instituto de perícia e tem uma mesa caótica, onde pendura milhares de pedaços de papel. Della, do lado dele, é organizadíssima, usa toda a tecnologia disponível e nunca tem uma caneta à mão. O primeiro encontro dos dois é áspero e ela passa a odiá-lo. Até que McCaffrey descobre a relação de Sonia e Collins e assim as duas pautas parecem tomar um lugar único.
A relação de McAffrey e Collins é de verdadeira amizade. O primeiro até torce o nariz para a vertente política que o amigo optou, mas não o julga. Os dois mantiveram a amizade mesmo depois de McAffrey ter tido um caso com a esposa de Collins, Anne (Robin Wright Penn). Quando o escândalo do caso extra-conjugal com a assessora estoura na mídia, é na casa de McAffrey que Collins vai buscar abrigo.As investigações de McAffrey avançam e cada vez mais apontam para que a PointCorp, a corporação gigantesca de ex-militares que fornece soldados e serviços para as guerras no Afeganistão e no Iraque, tem mais culpa do que parece ter. E isso atinge sobretudo a Collins, quando é descoberto que essa empresa não só apresentou a assessora para Collins, como pagava um salário de US$ 26 mil para ela trabalhar duplamente para os dois lados."Intrigas de estado" é a adaptação de uma minissérie exibida pela BBC inglesa em 2003. E é corretíssima em mostrar questões éticas pelas quais todos os jornalistas (e outros profissionais, diga-se) passam. Essa linha tênue que separa o profissional do "amigo", a questão de jornalistas que trabalham em assessorias de políticos, as grandes somas de dinheiro dos lobbies que se formam para que projetos sejam aprovados e as investigações sérias que são abortadas antes mesmo de se iniciarem.A outra questão é sobre (e aqui a discussão poderia ser mais profunda) como os jornais podem se manter fieis à boa apuração das notícias, com responsabilidade, em oposição a busca pelo lucro fácil, à notícia mal dada e apurada. E se alguém ainda vir com essa história de que o jornal impresso já acabou, é bom ver este filme. O final dele pode mudar a sua opinião. "Intrigas de estado" é um filme clássico que merece ser visto e refletido.
Sempre fui fã da série Exterminador do Futuro, mesmo sem gostar de filmes de ação. Adorava a cara "one face" do Arnold Schwarzenegger, ainda mais quando ele dizia a lapidar frase "I'II be back", que virou um clássico do cinema, ou o "Hasta la vista, baby". Só ele mesmo. A história, todos sabemos, é sobre um futuro próximo onde as máquina dominarão o mundo e os humanos, e estes que organizam uma resistência a esse poder sem igual. No meio dessa resistência, há uma mulher, Sara Connor, que será a escolhida para gerar um filho que será o líder de todos na luta contra o poderio das máquinas. Assim mesmo, com ecos bíblicos. E do futuro é mandado o robô, uma máquina, que tem a missão de matar essa criança, que ainda asssim nasce e recebe o nome de John. No primeiro filme é conhecido o pai de John, Kyle Reese, que luta contra o T-800 (Schwarzenegger), que nos filmes seguintes passa de algoz de John e Sara para defensor deles. No terceiro filme da série, a máquina era uma bela mulher. Neste quarto filme, "O exterminador do futuro - A salvação", direção de McG, em cartaz no Castanheira 5 e Pátio Belém 4 (legendado) e Castanheira 7, Pátio Belém 5 e Castanhal 3 (dublado), John é interpretado por Christian Bale, que se utiliza dos ares de super-heroi que trouxe de "Batman" para dar vida a esse verdadeiro "heroi da resistência". A trama se passa no ano de 2018, e Connor está na resistência lutando contra a Skynet e seu exército de Exterminadores. Uma cena anterior remete a um homem que está no corredor da morte e uma médica, Serena Kogan (Helena Bonham Carter), que pede-lhe que ele doe seu corpo à ciência. E assim é feito.A ação volta para Connor, mostrando-o numa busca por prisioneiros da Skynet, que ele os encontra, mas tem que fugir do local já que toda a tropa que ele liderava acabara de ser morta pelos Exterminadores. Ele pede uma audiência com os líderes da resistência e é informado que eles conseguiram uma linha de códigos que burla e consegue parar as máquinas. Connor volta à base e à esposa, Kate (Bryce Dallas Howard), que está grávida, e não consegue ficar em paz até testar o equipamento.Nesse meio tempo, Marcus Wright (Sam Worthington), o homem que havia doado o corpo à ciência reaparece no meio do nada e acaba cruzando o caminho de um jovem adolescente Kyle Reess (Anton Yelchin), ele mesmo, o futuro pai de John Connor.
Marcus, depois de ajudar e ser ajudado por Kyle Reese, não consgeue impedir que ele seja preso pelos robôs da Skynet. Ele sai caminhando pelos escombros das cidades e salva a vida da piloto de caças Blair Williams (Moon Bloodgood), que sofrera um acidente. Ela também é da resistência e de confiança de Connor. Quando os dois se aproximam da base, Marcus é atingido por uma mina terrestre e todos descobrem que ele é uma espécie de híbrido de homem e máquina, com um coração real que funciona perfeitamente. A grande questão é se ele é do bem ou do mal. Blair acredita nele, mas seus companheiros, não. E assim, se inicia uma caçada a Marcus, que só é interrompida quando ele mostra provas de que fala a verdade, justamente a Connor. Os dois elaboram um plano de ação para destruir a sede da Skynet.O que difere esta quarta edição do quase romântico filme de 1984 é aquele tinha mais charme. O diretor McG até contatou Schwarzenegger para uma participação especial no filme, mas ele recusou. E mesmo assim T-800 está lá digitalmente, para a alegria dos fãs. Assim como Linda Hamilton, a Sara do filmes anteriores, é apenas um voz num gravador. O que muda também é que eu , pessoalmente, não tenho mais grande paciência para filmes de muita ação. E este "Exterminador..." não se faz de rogado. É ação para todos os lados. De perder o fôlego. Num fio de roteiro, que não apresenta nenhuma novidade. É o heroi Connor contra as máquinas. Muitos efeitos digitais. E só. Claro que "O Exterminador do futuro - A salvação" vai ter uma continuação. O final fica em aberto. Há a célebre redenção, como nos filmes anteriores, o que deixa adivinhar que "I' ll be back" será ouvido outra vez. Só esperamos que numa trama menos confusa e sem soluções rápidas.

Dedé Mesquita

EXTRAS VAGANTES

Vi duas vezes “A Partida”, filme japonês vencedor do Oscar. Sei que muitos coleguinhas odiaram, taxando a obra do diretor Yojiro Tanika de “lacrimogêneo”, “dramalhão”, “brega”, o que mais irmane o resultado ao que se fazia para as platéias chorarem nos tempos idos. O engraçado é que hoje o que o diretor Douglas Sirk dirigia sob contrato com o produtor Ross Hunter na Universal, odiado na época pelos que se diziam entendidos em cinema, é cultuado como obra-prima. Bastou o alemão Rainer Fassbinder confessar que gostava desses filmes (especialmente da versão de “Imitação da Vida”). Não quero dizer que “A Partida” seja do gênero. Mas comove com a história do modesto preparador de corpos para incineração ou sepultamento que acaba por trabalhar no cadáver do pai, o homem que abandonou a mulher e filhos por outra saia e a quem ele não vê desde os 6 anos de idade. Para chegar até aí, o roteiro exibe diversas cerimônias fúnebres e esmiúça as reações de parentes dos mortos às vezes até com um certo humor. Pode-se criticar é o contraponto com garças e céu azul. A vida seria um belo cenário que a morte esconde. Mas Tanika nunca pinta a morte de cores pesadas. O filme inteiro é claro, bonito, tratando a profissão do herói como uma qualquer. Isso deve ser observado antes de se atacar o que estimule lágrimas de espectadores sensíveis. “A Partida” faria a sessão Moviecom Arte de fim de junho., Ficou para o começo de agosto. Que chegue mesmo antes que parta de vez para o mercado de vídeo.
Outro programa da ACCPA é “A Estrada da Vida”(La Strada) de Fellini, exibido na Sessão Cinemateca. Creio que as pessoas que lêem coluna de cinema sabem do filme. É desses clássicos básicos. Também faz chorar (do protagonista ao fã das primeiras filas). Mas ninguém chama de piegas. Mostra que os brutos também amam, os loucos valorizam a vida e os ingênuos entoam melodias como a de Nino Rota que se ouve para nunca esquecer. É o que se apelida de cult.Para além desses títulos programados há o “Ninotchka” de Lubitsch onde Greta Garbo ri pela primeira e ultima vez adiante das câmeras. Há “Os Boas Vidas” que é um dos meus Fellinis prediletos. Há o “noir” de Robert Siodmak “Assassinos”(The Killers) que reúne Burt Lancaster (estreante) e Ava Gardner no auge da beleza. Há o instigante “Z” de Costa Gavras e há a seqüência de Frankenstein, chamada “A Noiva de Frankenstein”, onde se mostra como Mary Shelley concebeu o personagem. É um filme de James Whale muito elogiado desde que estreou. E ainda, para julho, comparecerão “O Homem Que Caiu na Terra”, brilhante sci-fi de Nicholas Roeg com o roqueiro David Bowe,e “Monsieur Vincent, O Capelão das Galeras” de Maurice Cloché, aquela abordagem na vida de Vicente de Paula em que Pierre Fresnay dá um banho de desempenho. São filmes rotulados de clássico sem que o apelido pese como um respeitoso mimo ao que é idoso (as datas de produção variam de 1936 a 1986).

Pedro Veriano

sexta-feira, 19 de junho de 2009

"VALSA COM BASHIR" EM ÚLTIMOS DIAS NO CINE LÍBERO LUXARDO


"VALSA COM BASHIR"
Direção : Ari Folman
Sinopse:Em um bar um amigo conta ao diretor Ari Folman sobre um sonho constante que tem, no qual é perseguido por 26 cães ferozes. Através da conversa eles concluem que a imagem tem ligação com sua missão na 1ª Guerra do Líbano, no início dos anos 80, quando defendia o exército de Israel. Como Ari nada se lembra sobre o evento, ele passa a buscar e entrevistar seus velhos companheiros da época.
Recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro. Recebeu 2 indicações ao BAFTA, nas categorias de Melhor Filme de Animação e Melhor Filme Estrangeiro.- Ganhou o César de Melhor Filme Estrangeiro.Ganhou o European Film Awards de Melhor Trilha Sonora, além de ter sido indicado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro.
Em exibição no Cine Líbero Luxardo até o dia 21/06/09
Horário : 19:30 h

quarta-feira, 17 de junho de 2009

"SARGENTO GETÚLIO" NO CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA SEGUNDA FEIRA DIA 22/06/09 ÀS 19 H

"SARGENTO GETÚLIO"
Direção : Hermano Penna
Com Lima Duarte
Argumento : Adaptação do clássico homônimo de João Ubaldo Ribeiro. O filme narra, em tom épico, a viagem realizada pelo sargento Getúlio e o motorista Amaro no cumprimento da missão de transportar um preso político de Paulo Afonso (BA) até Aracaju (SE).

"SARGENTO GETÚLIO"
CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA
SEGUNDA-FEIRA DIA 22/06/09
HORÁRIO : 19 H
ENTRADA FRANCA


"A ESTRADA" DE FELLINI NA SESSÃO CINEMATECA DOMINGO DIA 21/06/09 ÀS 16 H NO CINE OLYMPIA

“A ESTRADA”
La Strada, 1956
Direção : Federico Fellini
Com Anthony Quinn e Giulieta Massina e Richard Basehart.
Argumento: Gelsomina é vendida por sua mãe para Zampanò. Ambos não têm nada em comum: o jeito ingênuo e humilde da jovem é o oposto da rudeza de Zampanò, um artista mambembe. A chegada de um equilibrista que admira especialmente Gelsomina trará acontecimentos inesperados.
O filme ganhou o “Leão de Prata” no Festival de Veneza e o primeiro “Oscar” oficial para filmes de língua estrangeira em 1956.
"A ESTRADA"
Sessão Cinemateca
Domingo Dia 21/06/09
Horário : 16 h
Entrada Franca
Programação : ACCPA

domingo, 14 de junho de 2009

CINEMA ITALIANO, LITERATURA E ARTE

Cinema italiano, literatura e arte. Essas são as palavras-chave que nortearão a programação da Casa de Estudos Italianos (CEI) e do Instituto de Ciências da Arte (ICA), da Universidade Federal do Pará, que, no próximo dia 17, apresentarão aos apreciadores da película italiana os conferencistas Mauro Porru e Flora Di Paoli Faria. A vinda dos professores a Belém será uma prévia organizacional do XIII Congresso Internacional de Italianística, que será realizado em uma universidade do Norte do Brasil, em setembro de 2009, pela primeira vez.
Flora De Paoli Faria, professora titular de Língua e Literatura Italiana do Departamento de Letras Neolatinas da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, irá proferir conferência sobre o tema “O Centenário do Manifesto Futurista e suas Ressonâncias nas Artes Brasileiras”, fazendo alusão à comemoração do centenário de publicação do Manifesto Futurista, Paris 1909, de Filippo Tommaso Marinetti. O objetivo é oferecer oportunidade aos estudiosos da área no Brasil para examinarem o repasse dessa estética às artes brasileiras a partir da análise do cenário desse importante contexto histórico.
Já o roteirista e assistente de direção de dez longametragens, Mauro Porru, professor adjunto de Língua, Literatura e Cultura Italianas da Universidade Federal da Bahia, deverá falar sobre o tema “O cinema italiano e a literatura”, duas artes que, segundo ele, mantêm estreitas ligações. A conferência abordará alguns conceitos teóricos acerca da relação entre o literário e o fílmico, trazendo como exemplos práticos os filmes “L'altro figlio”, dos irmãos Taviani, “A porte aperte”, de Gianni Amélio, e “L'innocente”, de Luchino Visconti, baseados nas homônimas obras literárias de Luigi Pirandello, Leonardo Sciascia e Gabriele D'Annunzio, respectivamente. O evento é destinado a professores e alunos dos cursos de Letras, Comunicação, Artes Visuais e Audiovisual das diversas instituições de ensino público e privado de Belém, ao público cinéfilo, às associações de curta-metragistas e documentaristas da região e a quem mais se interessar pela temática. “Precisamos fazer essa programação chegar ao maior número possível de pesquisadores, professores e alunos de nossa instituição e da comunidade externa. É uma oportunidade ímpar para os acadêmicos e para os apreciadores do cinema italiano”, afirma Wania Contente, coordenadora de Produção e Comunicação do ICA/UFPA.
SERVIÇO:
Conferências e mostra de filmes
Dia 17 de Junho de 2009 (quarta-feira) – 09h00 às 21h00
Local: Instituto de Ciências da Arte da UFPA – Pça da República s/nº (ao lado do Teatro Waldemar Henrique).
Mais informações: CEI – Casa de Estudos Italianos da UFPA - 91. 3259.7022 – Profa. Heloisa Bellini – bellini@ufpa.br ICA – Instituto de Ciências da Arte da UFPA - 91.3241.5801 – Wania Contente – wcontent@ufpa.br

terça-feira, 9 de junho de 2009

"MATAR OU MORRER" NO CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA DIA 15/06 ÀS 19 H


"MATAR OU MORRER"
Original: High Noon- EUA, 1951.
Direção de Fred Zinnemann
Roteiro de Carl Foreman e John W. Cunningham.
Fotografia de Floyd Crosby
Música de Dmitri Tiomkim(Balada de Tex Ritter)
Elenco: Gary Cooper, Grace Kelly, Thomas Mitchell, Lloyd Bridges, Katy Jurado, Otto Kruger, Lon Chaney Jr, Henry Morgan e Lee Van Cleef,
Resumo do argumento: O xerife Wll Kanese havia detido bandoleiros que não demoraram a ser soltos em outra cidade. Eles anunciam a volta para vingança. E no dia do casamento de Will. Faltando poucas horas para os bandidos chegarem de trem, o xerife procura amigos para enfrentá-los. Mas ninguém aparece. Ele, sozinho, decide esperar os algozes.
Importância Histórica: O filme se passa em tempo real, ou seja, toda a ação corresponde aos 85 minutos da projeção. Foi o vencedor de 4 Oscar : Ator (Cooper), Canção, Trilha Sonora e Montagem.Está incluso entre os grandes westerns da história do cinema embora a sua temática escape do gênero para ganhar corpo em questões como a coragem, a amizade, a vingança e a reação a isso.

PROGRAMAÇÃO:
"MATAR OU MORRER"
Cineclube Alexandrino Moreira(Audítório do IAP, ao lado da Basílica)
Segunda-feira - Dia 15/06/09
Horário : 19 h
Entrada Franca
Após o filme, debate entre os espectadores e críticos da ACCPA

"REBOBINE POR FAVOR" EM DVD

“Em Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”, Michel Gondry, usando um roteiro de Charlie Kauffman, lembrava que o mais importante no amor são suas lembranças. A falta delas fazia com que o amor, por mais forte que fosse, perdesse o sentido. Essa forte relação com a memória (imagens, sons, sentimentos) permanece no seu trabalho em “Rebobine, Por Favor”. A história da reacriação (ou suecagem) de filmes antigos em uma decadente locadora de fitas VHS é, porque não, a história da construção da memória de cada um. Nosso passado é confuso, feito com nossas próprias ferramentas de criação, mas nem por isso perde seu charme e valor.
Como tudo hoje passou a ser visual ou audiovisual, esse passado pode ser tanto simbolizado pelos antigos vídeos VHS como pelas construções de hoje, como no YouTube. Como se algo que nunca tenha sido filmado ou gravado não tenha nem sequer existido, como o caso do músico de jazz que só parece importante depois de ter sua vida “suecada” em um hilário documentário.
Como o filme também é uma comédia e a presença de Jack Black e Mos Def não deixam dúvidas sobre isso, Gondry erra a mão no roteiro. Em “Brilho Eterno”, por exemplo, conseguia misturar romance e reflexão com mais acerto. Agora, as duas linhas de narração, a parte cômica e ao mesmo tempo, a reflexão sobre nossas memórias, não se firmam como um único filme.
Os altos e baixos não diminuem o interesse na história, que enfatiza a importância dos filmes para todos nós, como se não pudéssemos sequer sobreviver sem eles. Sem dúvida, uma bela declaração de amor ao cinema, seja ele em DVD ou VHS.

Fernando Segtowick

WALTER

A voz de Walter "The Voice" Bandeira se calou. E se tem alguma coisa que não suporto na minha vida é ir em velório de qualquer tipo, ainda pior se for de amigo. A notícia da morte de Walter me pegou longe de Belém e em meio a muito trabalho. Mas ontem cedo, fui ao teatro Waldemar Henrique para me despedir dele. Olhei, olhei e juro que Walter estava sorrindo. E falei para mim mesma: "Seu safado. Por que decidiste ir tão cedo?"Tudo que li, ouvi, vi sobre ele, depois de ontem, foi a valorização do quanto Walter era genial na voz. E quem conviveu com ele sabe que esse era apenas um dos muito talentos dele. Quem vai esquecer quando Walter, depois de muita insistência, deciciu mostrar seus trabalhos em artes plásticas. Foi um assombro para muitos, como eu, que não sabiam desse talento tão peculiar. Ele era bom. Imbatível na arte da aquarela. Bom como poucos.Mas se tem algo de que lembrarei de Walter, sempre, é o lado cinéfilo dele. Era bom ator e se arriscou no cinema, pelo que lembro, em duas vezes: numa ponta ótima em "Brincando nos campos do senhor", de Hector Babenco, como um atendende de bar, e como o motorista de táxi, no espisódio "A moça do táxi", de "Lendas amazônicas", de Moisés Magalhães & Ronaldo Passarinho Filho. Deste último, um detalhe. Walter não sabia dirigir, nunca soube. A produção teve que dar umas noções básicas só para ele fazer as cenas. E não é que ele quase bateu o carro?Essas foram as atuações, mas ele sabia muito sobre cinema. Eu era tiete assumida dele, batia ponto todas as quintas-feiras no bar Maracaibo, e acredito que de tanto ele me ver na plateia, começou a me notar nas salas de cinema. Foi assim que nos aproximamos. Não era meu amigo, do tipo assim, pessoal. Era um amigo que me dava muita alegria ao vê-lo nas salas de cinema. Quando isso rareava e nos encontrávamos depois, ele dizia: "A senhora não está comparecendo à missa". A missa, entenda-se, é como eu me refiro a ir ao cinema. Considero um ritual quase religioso. Para Walter, cinema também tinha algo a ver com o "divino". E falávamos, falávamos, colocávamos as nossas impressões e muitas vezes tínhamos a mesma visão do que assistíamos. Lembro nitidamente como Walter ficou triste com o fechamento dos dois cinemas do antigo Doca Boulevard. Morador do bairro do Reduto, as duas salas eram quase extensão da casa dele, sendo que a primeira sessão era a sua favorita, já que a noite era dele nos palcos da vida. Um dos últimos shows de Walter que assisti foi ele cantando temas famosos das trilhas sonoras do cinema. Ele no microfone e Jacinto Kawage nos teclados. Num telão, cenas desses filmes. Walter cantando "Calling you", tema do filme "Bagdad Café", de Percy Adlon, era de chorar com tanta emoção. E nos víamos, ultimamente, nas sessões do Cine Estação. Na verdade, nunca perguntei quais eram os seus favoritos, atores, diretores, atrizes. Ele gostava era de cinema, mesmo. Da magia que isso sempre traz às nossas vidas. Ainda muito jovem comecei a ir aos bares para ver Walter cantar. Mas o Maracaibo era a sua casa "oficial". De tanto ir lá, já era íntima de todos os garçons e até do motorista de táxi de todos os músicos, nosso querido Gabriel, que levava todos às suas casas depois de mais um "Walter Bandeira & grupo Gema". Tanta intimidade que já chamávamos o bar de "mal eu caibo". E Walter, chateado (p... para ser mais exata) porque tinha que cantar mais uma vez "New York, New York", a pedidos. Mas ele cantava assim mesmo, e sempre dava show, claro que emendando-a com "Esse rio é minha rua", de Paulo André & Ruy Barata. O grande e mais emocionante show de Walter, pra mim, foi um só com músicas francesas, no teatro Waldemar Henrique. Ele "inventou" uma personagem, entrava em cena com um vestido estampado longo, com a bainha rota que carregava palitos de fósforo e "baganas" de cigarro. E como (en)cantava esse rapaz. E como cantava tão bem Chico Buarque (e "Geni e o zepellin"). Vou sentir muita falta dele, muita mesma. Como disse Manuel Bandeira no poema sobre Irene chegando ao céu: "Entre, Irene (Walter), você não precisa pedir licença". Paz à alma dele.

Dedé Mesquita

domingo, 7 de junho de 2009

"A BELA E A FERA" DE JEAN COCTEAU NA SESSÃO CULT SABÁDO DIA 13/06 ÀS 16:30 H

"A BELA E A FERA"
Original: La Belle et la Bête
França, 1946
Direção de Jean Cocteau e René Clément
Roteiro de Jean Cocteau baseado no conto de Marie Leprince de Beaumont.
Fotografia de Henri Alekan
Musica de George Auric
Elenco: Jean Marais, Josette Day, Michel Auclair,Mila Parély,Nane Germont, Marcel Andre.
Argumento : Ao voltar de uma viagem de negocios um comerciante perde-se na mata e acaba em um castelo abandonado. Dorme ali,e, de manhã, ao sair,depara com uma flor e lembra que a sua filha Belle pediu-lhe que lhe trouxesse de viagem uma rosa. Quando vai colher a flor depara com um ser monstruoso que lhe ameaça de morte. Mas ao ouvir a suplica do velho comerciante o monstro pede-lhe que mande em seu lugar a primeira pessoa que encontrar ao voltar para casa. Fatalmente encontra Belle. E ela se prontifica a ir ao encontro da fera que deixou seu pai viver. Seguindo o contrato, um cavalo branco amanhece na fazenda e Belle só tem de pedir que o cavalo lhe conduza ao destino. O relacionamento de Belle com a Fera é a principio de medo, depois de convivência pacifica embora a criatura se apaixone pela moça. Ela concede a volta de Belle à casa da família como visita. Mas, ao se demorar, Belle vê a Fera morrendo. Volta depressa, Nesse meio tempo, seus primos tentam roubar o tesouro que a Fera diz possuir e do qual Belle levou a chave. Eles morrem. E a fera se transforma em um príncipe que estava encantado nessa condição.
Importância histórica : O poeta, decorado e cenarista Jean Cocteau(1889-1963)escreveu diversas peças teatrais e dirigiu 11 filmes, chegando a atuar em alguns deles. Foi um dos precursores do surrealismo no cinema (“Sangue de um Poeta”/1930). “A Bela e a Fera” foi o seu primeiro filme de ficção abordado em linguagem acadêmica. Na verdade contou com o diretor René Clément(“Brinquedo Proibido”) na construção do trabalho. O resultado foi um sucesso artístico e comercial.Deu a Cocteau o Prêmio Louis Delluc do ano (1946) e marcou a sua associação com o ator Jean Marais de quem se tornou amante

SESSÃO CULT
"A BELA E A FERA"
Sabádo Dia 13/06/09
Local : Cine Líbero Luxardo
Horário : 16:30
Entrada Franca
Após a exibição do filme, debate entre os presentes e os críticos da ACCPA
Programação : ACCPA

'"A GAROTA QUE FICOU EM CASA" E " O HOMEM MOSCA" NA SESSÃO CINEMATECA DIA 07/06 ÀS 16 H

“A GAROTA QUE FICOU EM CASA
Original: The Girl Who Stayed at Home
EUA, 1919
Direção de David Wark Griffith (foto)
Roteiro de Stanner E. V. Taylor e Groffith
Elenco: Carol Dempster, Adolph Lestina, Francês Park,Syn de CondeResumo do argumento: Veterano sulista ao terminar a Guerra Civil refugia-se na França usando sempre a bandeira confederada. Ele mora com a sua neta que vem demonstrar interesse por dois irmãos engajados no exército para lutar na I Guerra Mundial. O patriarca é contra a participação americana na guerra, e na ausência dos irmãos admirados pela neta, aceita que ela reconheça a estima de um conde francês. Dirigido por David Griffith, um dos diretores mais importates do início da história do cinema, "A Garota que Ficou em Casa" é um filme mudo pouco conhecido pelo grande público e que agora será resgatado para as novas gerações de cinemaníacos.Destaque especial para a participação do ator paraense Syn de Conde no elenco.

“O HOMEM MOSCA”
Original: Safety Last
EUA,1923
Direção de Fred C. Newmeyer e Sam Taylor
Roteiro de Hal Roach, Sam Taylor,de uma história de Sam Taylor
Elenco: Harold Lloyd, Mildred Davis,Bill Strother, Noah Young,Westcott Clark.Resumo do argumento: Um jovem interiorano emprega-se numa loja de fazenda e ambiciona melhores condições através de aumento das vendas dos tecidos. Para isso, contrata uma pessoa que faça propaganda da loja escalando um edifício. Mas na hora “h” a pessoa falha e é ele quem assume a tarefa, subindo pelas paredes de um prédio e chamando com isso a atenção de todos.

SESSÃO CINEMATECA
Espaço Municipal Cine Olympia
Domingo Dia 07/06/09
Horário: 16 h
Entrada Franca
Programação : ACCPA

"MEMÓRIAS DA BOCA DO LIXO" NO CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA DIA 08/06 ÀS 19 H

“Memórias da Boca do Lixo” é o título do programa que será exibido pelo Cineclube Alexandrino Moreira, do Instituto de Artes do Pará (IAP), nesta segunda-feira, dia 8, às 19h. Integram o programa os filmes “Boca Aberta” (Rubens Xavier, SP, 1984), “Candeias: da Boca pra fora” (Celso Gonçalves, SP, 2002), “O Galante Rei da Boca” (Alessandro Gamo e Luís Rocha Melo, SP, 2003) e “Soberano” (Ana Paula Orlandi e Kiko Mollica, SP, 2005).
A Boca do Lixo é uma região do centro de São Paulo tradicionalmente marcada pela prostituição e criminalidade. No final dos anos 60, vários pequenos produtores transferiram suas empresas para a região, que ao longo da década seguinte se tornaria um dos maiores pólos de produção de filmes comerciais da história do cinema brasileiro.Comédias eróticas, filmes policiais, fitas de terror e até mesmo westerns estão entre os gêneros explorados pelos diretores e produtores da "Boca". Responsável por muitos dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional entre o final dos anos 60 até a "era Collor", o cinema popular produziu na "Boca do Lixo" começou a perder fôlego no início dos anos 80, quando o mercado brasileiro foi invadido pelos filmes americanos de sexo explícito. A pá de cal no cinema da "Boca" veio com a extinção, nos anos 90, dos mecanismos que fiscalizavam a obrigatoriedade de exibição do filme brasileiro no mercado nacional.
O programa exibido pelo Cineclube Alexandrino Moreira integra o acervo da Programadora Brasil, do Ministério da Cultura. Os quatro documentários mantêm um olhar reverente sobre a Boca do Lixo, segundo explica o crítico Paulo Santos Lima, para quem o cinema da Boca foi “a única grande experiência de cinema popular da nossa história”. “Se o senso comum, equivocado, senão injusto, caracteriza esse cinema como agressão ao bom gosto, sem grandes formalismos estéticos e focando apenas o apelo ao sexo, a história confirma o oposto. Nos arredores da Rua do Triunfo, na região central de São Paulo, houve um trânsito de várias pessoas ligadas ao cinema”, diz ele, citando nomes como Walter Hugo Khouri, José Mojica Marins, Carlos Reichenbach e Sylvio Back.Ainda segundo o crítico, o resultado foi um grande ecletismo temático e estilístico de longas, quase todos financiados pelos próprios exibidores locais, obtendo retorno comercial e fazendo frente à produção norte-americana.
Sobre os filmes :
“O Galante Rei da Boca”, de Alessandro Gamo e Luís Rocha Melo, trata do produtor Antonio Pólo Galante, cuja história confunde-se com uma grande radiografia do que foi feito naqueles anos. Entrevista intelectuais como Inácio Araújo (também realizador, na época) e João Silvério Trevisan, além do montador Severino Dada, que fala sobre o Cinema do Beco, versão carioca da Boca, na região da Cinelândia.
“Soberano”, de Kiko Mollica e Ana Paula Orlandi, centra-se no lendário restaurante Soberano, ponto de encontro da hora cineasta. Com imagens zapeadas (fotografadas por Aloysio Raulino) intercalando cenas de época e depoimentos, o tom é de velório, mas sem autocomiseração. O estabelecimento lutava desde a decadência do ciclo da Boca, nos anos 80, com a invasão do cinema hardcore americano no circuito popular, fechando suas portas em 1995.
“Candeias: Da Boca pra Fora”, de Celso Gonçalves, mostra o cineasta Ozualdo Candeias, que já nos anos 60 fizera o filme que pode ser considerado, junto a “O Bandido da Luz Vermelha”, de Sganzerla, o fundador do Cinema Marginal: “A Margem” (1957). Vestido com seu capacete, sem uma única frase audível, indecifrável, quase oco, é definido no filme por admiradores como Carlos Reichenbach, Inácio Araújo e Jairo Ferreira.
“Boca Aberta”, de Rubens Xavier, com roteiro de Maria Rita Kehl, é um docudrama que encena algumas situações para os depoimentos do cineasta Ozualdo Candeias. O principal é acerca dos filmes de sexo explícito, feitos a contragosto por necessidade material. Assim com a maioria dos entrevistados nos quatro filmes deste pacote, Candeias reclama veementemente sobre o fim da Boca, mas não baixa a cabeça.

“Memórias da Boca do Lixo”
Segunda-feira - Dia 08/06
Horário : 19h
Cineclube Alexandrino Moreira -Instituto de Artes do Pará (IAP)
Entrada Franca.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

SYN DE CONDE

O filme “A Garota que Ficou em Casa” (The Girl Who Stayed at Home/EUA,1919) de David Wark Griffith exibe-se na sessão CINEMATECA, no cine Olympia, neste sábado, promoção da ACCPA. Não é dos mais conhecidos ou aplaudidos trabalhos do cineasta considerado “o pai do cinema”, por seu pioneirismo na criação dos elementos que fazem a linguagem cinematográfica. Mas para alguns de nós, paraenses, tem significativa importância pelo fato de ter no elenco um conterrâneo. Trata-se de Synésio Mariano de Aguiar (1894-1990). Por ironia ele interpreta um conde francês na história de uma jovem norte-americana, filha de um confederado (homem que lutou pelo sul na Guerra Civil). A garota (Carol Dempster, atriz muito conhecida na época) vê seu namorado (Richard Barthelmess) e o amigo deste (Robert Harron), também pretendente à sua mão, partirem para a guerra (a Primeira Mundial).
Synésio era filho de um industrial paraense. No inicio do século passado, quando a fase da exploração da borracha nativa ainda deixava um pouco do seu lastro de ouro na sociedade local, o jovem seguiu a praxe das grandes famílias, sendo mandado para a Europa concluir os seus estudos básicos. Na Suíça fixou residência e por lá recebia regularmente a mesada paterna, escrevendo-lhes para contar seu aproveitamento no estabelecimento de ensino. Mas o irrequieto Synésio tinha outras pretensões. Embarcou para a América do Norte e passou a residir na Califórnia, especificamente em Hollywood, onde arranjou um quarto de pensão, dividindo a despesa de aluguel com outro estrangeiro, o italiano Rodolfo Valentino.
Por suposto, influenciado por Valentino, o paraense passou a se exibir como dançarino de tango nas boates elegantes. Entrementes, tentou se envolver com uma garota em um restaurante escrevendo-lhe um bilhete. Como resposta, a jovem referiu o seu endereço e o telefone. Tratava-se da atriz Alah Nazimova que mais tarde seria a namorada efetiva de Valentino. Através dela, o paraense conheceu um estúdio de cinema e ao presenciar uma cena onde dançavam um tango, disse ao diretor que faria melhor, demonstrando na ocasião esta qualidade. Dessa forma, foi aceito como coadjuvante do filme em produção e daí em diante passou a figurar em produções “classe A”, atuando em oito filmes durante 2 anos.
As cartas ao pai agradecendo a mesada faziam o percurso EUA-Suiça-Brasil graças à colaboração de um amigo que ficara na Suíça encarregado dessa correspondência. Mas, certo dia, o genitor soube da carreira artística do filho alertado por uma pessoa que lhe disse ter visto “o Synésio no cinema Olympia”. Ao argumentar que isso era impossível, que o Marianinho estava na Europa, o informante completou dizendo que ele estava na tela, puxando um camelo no papel do árabe Abdulah em “A Chama do Deserto” (Flame of Desert).
Contrariado com a situação, solicitou o retorno urgente do filho rebelde. Desconhecia, contudo, que este havia casado na Califórnia com Anna Pauley. Logo foi providenciado o divorcio e Syn de Conde retornou. Pelo contrato, ele teria de pagar 150 dólares/ mês à ex-esposa, com base em uma renda de 30.000. Mas o pai da jovem soube que o artista tinha em conta bancária cerca de 50.000.
De acordo com as referências extraídas do New York Times, em 1921, De Conde passou a residir em Nova York, na 118 West Seventy-Second Street. Em 1927 ele retornou ao Brasil, via Rio de Janeiro. Nesse ano estreava na então capital federal o filme “O Homem Mosca” (Safety Last, 1923) onde se via o comediante Harold Lloyd escalar um edifício. A divulgação do lançamento baseava-se nessa proeza de Lloyd, que foi assumida por Syn de Conde e, segundo ele, para provar que “não era só norte americano que tinha essa coragem”, escalando um prédio na Av. Rio Branco, e, com isso, ganhando manchetes de jornais.
Em 1928, já em Belém, o ousado ex-estudante acomodou-se como professor de inglês, na Escola Normal, casando-se com uma paraense. Teria sido um casamento arranjado pelo pai. Nada que o transformasse num sério chefe de família.
Syn de Conde só muito mais tarde foi reconhecido como o “ator paraense em Hollywood”, em 1972, através de uma informação de Adalberto Affonso, gerente local da Empresa Severiano Ribeiro, ao crítico Pedro Veriano. Na busca pelo personagem, encontrou-o doente, num dos sobrados da Av. Serzedelo Corrêa, que herdara de familiares. A atuação do critico como médico fez a amizade com o então lendário ator, que lhe mostrou um álbum com as fotos de sua atuação no mundo do cinema mudo. Tudo o que ele havia dito numa primeira entrevista e que se supunha ser delírio do ancião enfermo, foi constatado. Não só fotos com artistas famosos e de sua atuação como dançarino ao lado de sua partner (uma jovem belíssima), mas pôsteres de filmes e cartas de recomendação de gerentes de produtoras como do famoso Louis B. Mayer (da Metro Goldwyn Mayer). Esse material serviu a uma exposição do MAM carioca dirigido por Cosme Alves Neto. Depois chegou à Belém junto com a organização da primeira mostra de cinema amador e a reunião dos cineclubistas da região norte (1976). No fim da década de 1980, Synésio retornou ao Rio de Janeiro, onde faleceu em 1990.
Como se vê, a trajetória artística deste aventureiro entre as câmeras e na vida privada daria um filme. Para um documentário, o material hoje perdido e em algum lugar, talvez seja precário (não se sabe o destino de seu álbum), mas, quem sabe, um longa de ficção. Afinal, apenas esta odisséia narrada neste texto demonstra uma realidade pitoresca de um tempo em que as famílias com recursos dispunham do destino de seus filhos e estes divergiam e tomavam outro rumo. (Texto elaborado com base em pesquisa em VERIANO, P. Fazendo Fitas, UFPa, 2006; e no site IMDB).

Luzia Miranda Álvares
luziamiranda@gmail.com

quarta-feira, 3 de junho de 2009

"ÍNUTIL"


No seu filme “Em Busca da Vida” o cineasta chinês Jia Zhang Ke focalizou as mudanças drásticas que acontecem na China de hoje, reportando os acontecimentos referentes à inundação de uma cidade devido à construção de uma usina hidroelétrica. Nesse filme, um trabalhador dirige-se para a região em busca da esposa e da filha de quem se separara há algum tempo objetivando arranjar trabalho em um meio mais adiantado. O retorno dimensiona as mudanças desde sua partida. A nova China destrói um ambiente virtualmente pobre, modernizando uma parte em detrimento de outras.
O documentário “Inútil”(Wuyoung/China, Hong Kong, 2007), tem o reflexo de uma obra de autor. E explora o mundo do trabalho, da doença, do “que fazer” com o que faz o operário ou operária, ou seja, com os objetos produzidos naqueles espaços cinzentos. A câmera em tomada inicial se depara com uma fábrica de roupas, adentrando o lugar, percorrendo os corredores e os salões atulhados de máquinas de costuras, onde mulheres manejam o instrumento de trabalho, também se refletindo essas imagens no som ensurdecedor e uníssono desse aparelho onde são manufaturadas as roupas. Não se ouvem conversas nem gestos de contato entre eles, salvo a atenção no objeto que produzem e, alguma vez, uma gestual labial. Através de travellings laterais, a câmera atravessa outros locais e se mescla a operários que esperam uma consulta médica. O “refrão” dos sintomas expressa a opinião do doutor sobre níveis de estresse, cansaço, outras formas de doença a que são submetidos os então pacientes. Novo mergulho pelos caminhos da fábrica e o foco agora submete um refeitório vazio, asséptico, as aparelhagens que devem acondicionar os alimentos e o balcão metálicos esperando pessoas para a refeição. Aos poucos alguns chegam e recolhem suas marmitas de um armário frontal, capturado anteriormente, em grande plano, pela câmera.
A nova seqüência, após a exposição da fábrica e do povo que por lá circula é para o ateliê de uma estilista chinesa, Ma Ke cuja “trademark é a“ Exceptional”, criada por ela e, também a marca Wu Young (Inútil). Sua posição é bem definida quando observa a valorização das roupas feitas a mão, dizendo que estas possuem uma história, não captada pelas máquinas das fábricas de produção em massa, daí porque podem ser descartadas, devido a serem “de má qualidade”. Ela observa sobre a possibilidade de enterrar as roupas para absorverem sentido, se tornarem orgânicas e com a sua coleção Wu Young, Ma Ke instala suas peças na Fashion Week 2007, em Paris, numa demonstração criativa de sua posição pessoal: os modelos são maquilados como se tivessem saído de uma carvoaria, postados sob pedestais, luzes enfocam, aos poucos, esses humanos objetivados, surpreendendo aos que transitam para “ver a moda”, traduzida no que vestem aquelas imagens estáticas, como que saídas do lodo ou de uma mina de carvão, sintetizando a produção econômica local, roupas rústicas da grife experimental da estilista, fabricadas artesanalmente. Outro detalhe desta seqüência é que ao invés do desfile tradicional, é o público que circula entre os cubos animados com aquela fantasmática visão de moda.
Fenyang é o próximo lugar a ser visitado, na China, por Ma Ke, onde ela se eclipsa, mas leva o espectador a percorrer e avaliar aquela cidade mineira onde transitam os operários, as mulheres trabalham em sua vidinha rústica e simples, produzem tudo o que têm na casa e o que consomem. Poeira, bruma, caras humanas enegrecidas, riscas de rugas nas faces marcadas pela insalubridade. Alguns posam para a câmera, narram seus casos, e a transformação a que foram levados pelo encarecimento dos produtos fabricados em massa e o baixo salário. São novos tempos. A narração desse estado de coisas vem através de um ex-alfaiate que pouco depois surge adquirindo uma “roupa de loja” para sua esposa.
Pergunta-se: Jia Zhang-ke criou um filme sobre moda? Ao iniciar suas imagens pela fábrica de alta tecnologia, asséptica, mas desumanizada pela alienação do produto que sai das mãos de um contingente de operários, mostra o processo anônimo destes e das peças produzidas adquiridas por consumidores desconhecidos; adentra na filosofia pertinaz da estilista que se enreda na quebra desse anonimato tomando a si o encargo de mostrar que esses objetos têm sentido quando produzidos por mãos humanas; e se derrama num outro veio de vivência onde a força da vida demonstra o sentido que cada um, com suas misérias, faz realçar mesmo na insalubridade, dando força a estilos de vida, alguns arruinados, outros emergindo, mas acima de tudo, criando histórias. A realidade certifica o mundo de seus extremos, onde há renascimentos e mortes em moto continuo, pela força humana criadora. É a dialética circundante de uma visão supostamente racional que muitos querem impor, mas se deparam com as interrupções inesperadas. Os trabalhadores são sufocados pela grande indústria: um ex-alfaiate que se torna mineiro, um colega que permanece no exercício da costura, sendo mais um “remendão”, como diz a mulher que lhe leva uma calça para ele costurar um buraco que “tornou a abrir”.
É outro lado da moda, o vestir simbólico do que a linguagem vai mostrando na depreciação da vida humana pela maquinaria, mas que não se deixa abater e reanimada pela existência cotidiana.
A linguagem do cineasta chinês é lenta, detalhista, não demonstrando a menor concessão com a aceitação de um público acostumado com os filmes comerciais de qualquer país. Sabe-se que mesmo na China a produção capitaneada por Hollywood tem boa guarida e o próprio cinema chinês diversificou a ponto de mostrar superproduções de artes marciais como “Herói”.
Inútil seria a moda que restringe o poder aquisitivo do consumidor ou a sua noção de sentido da vida. Um trabalho instigante, especialmente se for considerado como um exemplo de arte engajada em um ideal, de um artesanato meticuloso para contar o que vê no mundo que muda a cada dia.
Cotação: Muito Bom (****).
Luzia Miranda Álvares

'DESONRA" DE M. KOBAYASHI NO MOVIECOM ARTE DE 05 À 10/06


"DESONRA"
Direção: Masahiro Kobayashi
Duração: 82 minutos
Gênero: Drama
Classificação Etária: 14 anos
Horário : 18 h – Moviecom Castanheira – Sala 04 – Projeção Digital
Sinopse: Baseada em fatos reais, o filme aborda a recepção hostil que reféns japoneses no Iraque tiveram ao voltarem a seu país após a libertação, ocorrida em abril de 2004. A produção acompanha o desespero de Yuko (Fusako Urabe), ex-refém que a sua comunidade condena e rejeita. Seu retorno à terra natal se transforma num verdadeiro martírio. Ela é insultada em telefonemas anônimos, e-mails e sofre agressões físicas no bairro onde divide um modesto apartamento com os pais. Demitida do trabalho, chega à beira do desespero e cogita voltar para o Iraque.

APOIO: ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)

"O BENEFÍCIO DA DÚVIDA"

A diminuição do número de cópias no Brasil revela uma situação constrangedora: na ausência de lançamentos nacionais, os filmes são lançados no eixo sul/sudeste para só depois marcar presença em outras cidades. Para piorar, lançamento somente com projeção digital é uma realidade dura para uma cidade com apenas uma sala equipada para este procedimento técnico que ainda está longe de democratizar seu uso, custo e benefício.
No mês de junho, o circuito alternativo em Belém recebe três títulos da última edição do Oscar: Rio congelado, Dúvida e O casamento de Rachel. Prova cabal de que há cinema além de Quem quer ser um milionário. Dúvida, de John Patrick Shanley, coloca na tela a primeira de todas as guerras: a guerra das idéias. Afinal, o que faz o discurso da irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep) tentar sobrepor-se à defesa do padre Brendan Flynn (Philip Seymour Hoffman) em meio às suspeitas da irmã James (Amy Adams) de uma atenção demasiada do padre a um aluno?
Independente da marcação teatral, dos fixos contra-plongées e de um certo humor que permeia um filme dramático que felizmente vai além da mera denúncia da pedofilia e suas implicações, “Dúvida” coloca em xeque a práxis de nossas certezas e a inabilidade de lidar com a falta de provas. O que vale é o poder de persuasão das imagens fotografadas por Roger Deakins, imagens que desafiam o olhar do espectador a sair da sala de cinema sem clímax que resolva as provocações do roteiro originalmente adaptado da peça homônima, nem anticlímax catártico ao doce sabor das certezas lineares.
Não se trata de oposição binária em que a feia neurótica (o dragão que tem fome), juntamente com a observadora obediente que delata apoiada em crenças humanistas (?) contra o padre arejado com idéias renovadas que marcam os anos 60 (como paradigma histórico e comportamental de mudanças no Ocidente). O ponto limite que revela a “natureza tal” do adolescente joga na cara do espectador a legitimidade ou não da suposta utilidade do amor perigoso e sujo do padre.
Onde o estado falha a religião impera na auto-delegação de leis atemporais e o reconhecimento empírico do que seja pecado num mundo em constante movimento que “nem os santos sabem ao certo a medida da maldade”, como está num clássico do rock Brasil.
No filme, a guerra das idéias tem efeito surdo, pois pecando pelo excesso a acusação não tem tolerância para o benefício da dúvida, já que a amplificação do escândalo teria conseqüências devastadoras para a instituição religiosa em pleno 1964. Sem a difusão do “problema” as portas da intolerância se instalam de uma vez, e a defesa se desdobra com a retórica de possibilidades discutíveis num duelo espetacular de mestres na arte de representação. No vale tudo de argumentos e contra argumentos, a posição nada confortável da irmã James, agente nada passiva da denúncia, agora corroída pela culpa em insônias intermináveis, a mesma que antes explicava o New Deal.
Dúvida faz parte daqueles filmes do Oscar 2009 sem muito barulho no ato do evento, mas que ratificam o poder do cinema de imagens e idéias, para ficarmos com os olhos bem abertos para outros títulos como: Der Baader Meinhof Komplex (Alemanha), Revanche (Áustria) e Departures (Japão).

Augusto Pachêco

segunda-feira, 1 de junho de 2009

"INÚTIL" NO MOVIECOM ARTE DE 29/05 À 04/06


"INÚTIL"
Direção: Zhang Ke Jia
Duração: 80 minutos
Genêro: Documentário
Classificação Etária: 10 anos
Horário: 17:35 h – Castanheira – Sala 04 – Projeção digital
Sinopse: Sob o calor da cidade de Cantão, mulheres trabalham em uma fábrica de tecidos. Em meio às máquinas de costura, seus rostos carregam a incerteza do futuro. No inverno de Paris, a estilista Ma Ke apresenta sua nova marca, intitulada Wu Yong (Inútil). Suas roupas feitas à mão criticam de forma conceitual o mercantilismo da moda. Na empoeirada Fenyang, uma alfaiataria recebe mineradores que vão reparar os uniformes e trocar conversas. As roupas, por sobre a pele, carregam a memória de quem as faz e de quem as veste.

APOIO:
ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)

Arquivo do blog