sábado, 30 de maio de 2009

FILMES DE SEMPRE


O cinema é uma arte ingrata. Sofre a ação do tempo na emulsão da película ou na dissolução das cores quando expresso na forma digital e perde força quando algumas temáticas exemplificam ações restritas a um tempo. Isto sem falar na estratificação da linguagem, com alguns filmes espelhando a data de suas confecções no modo de tratar um drama, uma comédia, até mesmo a exploração documental de um assunto (é sempre bom lembrar que mesmo no documentário o que se vê é o que a pessoa que está com a câmera quer que se veja).
Mas há filmes que ficam retidos na memória. Centros de emoções podem refletir o que se passou em uma data, a lembrança de um momento vivido pelo espectador, ou tocar de tal forma o coração e a mente a ponto de serem lembrados por suas qualidades intrínsecas, seja o tema, seja a narrativa, seja a empatia que o elenco veio a provocar.
Os críticos de cinema de Belém estão devotados, agora, a exibir filmes que marcaram época. Nas diversas fontes onde atuam, programam títulos que mereceram prêmios ou que fizeram filas quando foram lançados nos cinemas da cidade.
“O Corcunda de Notre Dame”(foto),versão de 1939 dirigida por William Dieterle, é um bom exemplo. Ninguém esqueceu Charles Laughton como Quasimodo, o personagem-título. No filme ele termina abraçando uma estátua da monumental igreja francesa dizendo: “-Por que eu não nasci de pedra como tu ?”(Why I din’t born a stone, like you) Isto depois de ter tocado em seu rosto disforme e afirmado: “-Eu sou feio...como o homem da lua!”(I’m ugly... like the man of the moon).
Maureen O’Hara fazendo a cigana Esmeralda é a bela a contrastar com a fera. Se ela acaba nos braços do poeta Gringoire (Edmond O’Brien), contradizendo o livro de Victor Hugo de onde o roteiro do filme se origina, isto não é só perdoado como amado pelo público. O mau Frollo ( Cedric Hardwick) paga com a morte o seu ciúme doentio pela cigana.
A direção de arte, os atores, a cinegrafia, tudo impulsiona o feitiço que este filme gerou em gerações de espectadores. É um desses títulos raros que prosseguem grandes nas revisões.
“A Bela e a Fera”(La Belle et la Bête) é o melhor que o poeta Jean Cocteau fez em cinema. Ele que trabalhou com o surrealismo em coisas como “Sangue de um Poeta”- ou quis passar só o poema para as imagens a exemplo de “Orfeu”, -sublimou a paixão de um monstro por uma linda donzela na linha do conto de fadas de Mme. Leprince de Beaumont. Foi um filme tão lírico que a platéia ficou triste ao ver “a fera” virar um príncipe com a cara de Jean Marais (o amor de Cocteau). Desmentiu-se o que dizia o personagem: “-Pobre de nós as feras que só sabemos sofrer e morrer”(Pour de nous, la bêtes que nous ont soufrir et mourir”).
“Meu Tio da América”(Mon Oncle D’Amerique), de Alain Resnais, está entre o poucos exemplos de narração dramática com base cientifica. Através de exemplos de reflexos condicionados vê-se 3 histórias, seguindo os tipos com um humor inteligente que dilui qualquer resquício melodramático vulgar. É um modelo de linguagem cinematográfica.
“Matar ou Morrer”(High Noon) está entre os grandes westerns. O filme usa do difícil recurso de ação cronometrada, ou seja, o que se vê se passa no tempo em que se está vendo. Gary Cooper é o xerife que recebe um aviso desafiador: bandidos que ele prendeu estão soltos e chegam de trem para matá-lo. E isto acontece na hora de seu casamento. Resta apelas para os amigos mas, nesta hora, os amigos se escondem. Fica o caubói sozinho diante de pistoleiros malvados.
Fred Zinnemann dirigiu esta obra-prima que deu um Oscar a Cooper.
“Morangos Silvestres”(Simultronställe) é Ingmar Bergman dissertando sobre a relatividade da sabedoria. Um velho médico (o cineasta Victor Sjoström)vai receber uma comenda e no caminho lembra de sua vida e carreira com isenção de animo, ou melhor, revisando criticamente a sua postura profissional. Um raro exemplo de abertura no cinema introspectivo do cineasta sueco. Todos entendem o drama do mestre Isaac, que entre pesadelos do passado vê-se reprovado ao examinar um paciente...morto.
E ainda tem um Fellini que os que viram não esqueceram : “Na Estrada da Vida”(La Strada). É aquele filme em que uma garota deficiente é entregue por seus pais a um saltimbanco e corre estradas entre pouco riso e muitas lagrimas. O filme que celebrizou Giulietta Masina, mulher do diretor. E para Anthony Quinn, que fez de tudo em cinema, foi o seu melhor momento.
São filmes realmente duráveis.Estarão nas diversas salas programadas pela ACCPA (Olympia, Libero Luxardo, IAP) Todos rodados em preto e branco, mas com as cores da alma a brilhar na mente de quem os viu ou vai ver. (Pedro Veriano)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

"DÚVIDA" COM MERYL STREEP NO CINE LÍBERO LUXARDO


"DÚVIDA"
Título Original: Doubt.
Direção: John Patrick Shanley.
Roteiro: John Patrick Shanley, baseado em peça teatral de John Patrick Shanley
Duração: 104 min.
Elenco:Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Viola Davis, Alice Drummond
Cine Líbero Luxardo - De quinta a domingo 2805 a 0706
Horário : 19h30 h
Sinopse: Uma rígida freira, que é também a diretora de uma escola, inicia uma cruzada contra o padre local, devido à suspeita de que esteja dando atenção demasiada a um aluno.
Recebeu 5 indicações ao "Oscar".

segunda-feira, 25 de maio de 2009

"O CORDUNDA DE NOTRE DAME" NO CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA DIA 01/06 ÀS 19 H


"O CORCUNDA DE NOTRE DAME"
Original: The Hunchback of Notre Dame- EUA, 1939
Direção de William Dieterle
Roteiro deBrund Frank baseado no romance de Victor Hugo
Fotografia de Joseph H. August.
Edição de Robert Wise e William Hamilton.
Elenco: Charles Laughton, Maureen O’Hara, Edmond O’Brien, Cedric Hardwick, Thomas Mitchell, Alan Marshall, Walter Hampden, Harry Davenort.
Resumo do argumento: Uma troupe de ciganos exibe-se em Paris, no século XV, e os encantos de Esmeralda, a bailarina do grupo, chamam a atenção, especialmente do clérigo Frollo, chefe da guarda da catedral de Notre Dame. Nesse período o sineiro da catedral, Quasimodo, é escolhido como “o rei dos bobos”pela população. Rebelando-se, é preso e levado ao pelourinho por Frollo. Feio, corcunda, Quasimodo pede água e é atendido pela cigana. Isto incita a ira do enciumado chefe da guarda que manda prender a moça. É o momento em que Quasimodo a liberta e leva-a para o alto da igreja, o lugar onde mora entre os sinos que o ensurdeceram. Nesse meio tempo, os mendigos do Pátio dos Milagres revoltam-se contra o despótico mandante de Notre Dame, e um cavaleiro, Gringoire, aprisionado pelos mendigos, revela-se o personagem que irá tirar Esmeralda do esconderijo do corcunda.
Importância Histórica: Primeira versão sonora do romance de Victor Hugo o filme faz grandes mudanças no texto original, inclusive “salvando” as principais figuras. (Mas o visual conseguido por William Dieterle, com centenas de extras em cenas de estúdio (a praça de Notre Dame foi construída em um set da RKO), edificou um clássico do cinema, deixando seqüências marcantes como o interior do refúgio dos mendigos (o “Pátio dos Milagres”) a invasão de Notre Dame por esse mendigos, e a tortura de Quasimodo, o corcunda. Isso e mais a extraordinária criação de Charles Laughton deram ao filme uma posição invejada na história do cinema.
"O CORCUNDA DE NOTRE DAME"
Segunda-feira - Dia 01/06/09
Cineclube Alexandrino Moreira (Auditório do IAP)
Horário : 19 h - Entrada Franca
*Debate após a exibição entre os presentes
Programação: ACCPA

'MEU TIO" DE JACQUES TATI NA SESSÃO CULT SABÁDO DIA 30/05 NO CINE LÍBERO LUXARDO ÀS 16:30 H


“MEU TIO”
Original; Mon Oncle-França,1956
Direção e roteiro de Jacques Tati
Fotografia de Jean Bourgoin
Música de Alain Romans e Franck Barcellini.
Elenco: Jacques Tati, Jean-Pierre Zola, Adrienne Servant, Kucien Frégis, Betty Schneider, J.F.Martial e Dominique Marie.
Resumo do argumento: O cunhado de M. Hulot constrói uma casa moderna onde tudo é automatizado. O problema é que seu filho de 9 anos é doido pelo tio, e quando este resolve visitar a casa já se prevê os desastres. Da mesma forma Hulot é funcionário de uma fabrica dirigida pelo cunhado.
Importância Histórica:- O fenômeno Jacques Tati foi marcante para o cinema francês das décadas de 50.60 e 70. Criador de um tipo bem caracterizado, usando capa longa, chapéu de feltro e uma bengala, Monsieur Hulot só diz o seu nome e poucas outras palavras. A sua graça é visual e a ação em seus filmes não exige gargalhadas esparsas, mas um sorriso permanente. É um caso bem particular de comédia visual que usa com muita propriedade os efeitos sonoros e a música descritiva. E mais: pinta uma sociedade com situações engraçadas sem serem violentas ou degradantes.
Tati só fez 5 filmes de longa metragem como autor total: “Carrossel da Esperança”(Jour de Fête), “As Férias do Sr, Hulot”(Les Vacances de M. Hulot), “Meu tio”(Mon Oncle), “Playtime”, “Traffic”e “Parada”(Parade). Fez ainda os curtas:”Gai Dimanche” e “L’ École de Facteur”.Como ator fez 16 filmes.

Programação : ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

"SUSPEITA" DE HITCHCOCK INICIA A SESSÃO CINEMATECA DA ACCPA NO CINE OLYMPIA DOMINGO DIA 24/05 ÀS 16:00H


"SUSPEITA"
Original: Suspicion- EUA, 1940.
Direção de Alfred Hitchcock
Roteiro de Samson Raphaelson, Jean Harrison e Alma Reville da novela de Anthony Berkeley
Produção de David O. Selznick
Fotografia de Harry Strading Sr.
Música de Franz Waxman.
Elenco: Joan Fontaine, Cary Grant, Cedric Hardwick, Nigel Bruce, Dame Mae Whitty
Resumo do argumento: A socialite Lina McLaidlaw apaixona-se por um homem que conheceu numa viagem de trem, Johnny Aysgarth (Cary Grant). Casam-se contra a vontade do pai dela (Cedric Hardwick), mas logo ela começa a desconfira da postura dele. Poderia ser um criminoso multifacetário, não só um caça-dotes que arranja desta forma dinheiro para a sua vida de playboy como um assassino cruel.
Importância histórica: Foi o segundo filme de Hitchcock nos EUA fez parte do contrato que ele assinou com o produtor David O. Selznick quando veio para Hollywood fazer “Rebecca”. A atriz Joan Fontaine não ganhou o Oscar pelo premiado “Rebecca” mas recebeu o prêmio por seu papel de milionária tímida em “Suspeita”. O filme teria outro final. Segundo Hitchcock o fecho seria um plano de uma caixa de correio onde caía uma carta da esposa que se sentia ameaçada . Isto não agradou Selznick, que impôs um final mais dinâmico. Hitchcock nunca recebeu um Oscar por seus muitos trabalhos. Só um honorário. Selznick dirigia a empresa RKO quando da realização do filme.

"Suspeita" de Alfred Hitchcock
Sessão Cinemateca - Domingo dia 24/05/09
Horário : 16 h
Entrada Franca
Programação : ACCPA

terça-feira, 19 de maio de 2009

O VERÃO PAGA A CONTA

É incontestável: os blockbusters do verão norte-americano pagam as despesas dos exibidores ao redor do mundo. Você sai ou chega a uma rede de cinema de shopping, afinal o que existe hoje em dia para se ver filme fora de casa, e depara com filas enormes destinadas ao conjunto de bilheterias e a determinadas salas. Pode apostar que não há filas (em Portugal chama-se “bichas”) para filmes densos, ou, como se diz ainda hoje, “de arte”. O povo paga para ver efeitos especiais, fantasias mirabolantes, coisas que mexem com a mídia (e muito “chem” existe na enxurrada de matérias publicadas sobre determinados filmes nos diversos meios de comunicação).
Este ano Hollywood exporta: “Wolverine”,”Monster vs Aliens”, “Star Trek”, “Anjos e Demônios”, “Terminator Salvation”, “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”, “A Era do Gelo 3”e “Uma Noite no Museu 2”. Isto sem falar nas comédias românticas que parece faturarem mais quanto mais imbecis elas sejam.
Os lançamentos ambiciosos quase sempre cumprem a missão, atraindo quem paga ingresso de Los Angeles a Belém do Pará. Se no fundo deste poço há um “Up”, animação que abriu o Festival de Cannes deste ano, é a exceção a confirmar a regra.
O que já se viu não surpreende: “Wolverine” é um super-homem com cara de mau e unha de pantera. Não morde além do bolso do cliente. “Star Trek” pega uma carona com a mania atual de se ver o começo das aventuras de algumas personagens de gibi. O pessoal da nave Enterprise não é quadrínhica, mas tem cheiro disso. A volta às origens até que é simpática, mas se existe é porque a série, na linha horizontal do tempo, já pediu penico. “Anjos e Demônios” é mais uma jogada matreira do esperto Dan Brown, escritor que aprendeu a faturar cutucando a história da igreja católica usando apenas a sua intuição . Aqui ele tenta ficar na geral vendo o jogo entre a Fé e Ciência. Se um time está ganhando ele altera o placar para um empate. O “Esterminador”(Terminator”) cansou de ser parteiro da mulher americana nascida no século XX que vi parir um super-herói do século seguinte(o atual), O mocinho já deve estar passando da adolescência e se ele brigar muito com as máquinas não vai ter quem faça os efeitos especial da série. Enquanto isso Harry Potter continua voando nas telas enquanto nos livros já está estocado nas bibliotecas. E os heróis da época das geleiras andam com medo da profecia de Al Gore, aquela história do degelo pós efeito-estufa.Correndo ao lado, Bem Stiller volta a ver peças de museu se mexendo. Não há nenhuma de cinema, talvez porque a comédia não mereça ressuscitar ídolos como Chaplin e Buster Keaton.
Mas o cinéfilo não deve chorar no molhado: se não existisse esta fauna, não se veria trevos de quatro folhas como “Alexandra” e não se exumaria um cinema que ensinou a gente a gostar de cinema.(PV).

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A PERMANENTE SUSPEITA

Hithcock veio da Inglaterra a convite do produtor David O. Selznick. O diretor consagrado em seu país pensara alto com a chance de trabalhar com, ou para, o homem que produziu “...E O Vento Levou” e comandava estúdios como a RKO. Mas logo se decepcionou. “Rebeca”, o primeiro filme, sofreu o despotismo de Selznick. Mas foi em “Suspeita”, o filme seguinte, que a coisa engrossou. Para se ter uma idéia, o final do filme imaginado por Hitchcock foi radicalmente mudado. O cineasta inglês fecharia a ação com o plano de uma carta caindo na caixa do correio onde a futura vitima do assassino traiçoeiro (tipo encarnado por Cary Grant) denunciava o crime. Selznick preferiu o que ficou: Cary dirigindo um carro conversível pela borda de um abismo com Joan Fontaine ao lado. Em dado momento a porta do carro, do lado de Joan, abre-se e ela tende a cair. Grant estende a mão. Há um close dessa mão. Empurrará a mulher? Na verdade a segura puxa-a para dentro do veiculo e sorri. Um “happy end” que não extingue a suspeita – pelo contrário, a endossa e faz prosseguir.
O que ficou melhor. O capricho de Hitchcock chegou ao ponto da cena em que Grant leva um copo de leite para a esposa(Fontaine), acamada, colocar uma lâmpada dentro do copo para realçar a luz branca. Em contraste, a sala, a escada por onde Grant sobe, tudo é escuro e entrecortado com sombras das grades que existem nas janelas. O efeito é claustrofóbico. Isto não foi tocado.
“Suspeita” também é o filme em que o diretor não aparece. Sabe-se que Alfred Hitchcock sempre surgia em algum plano de seus filmes feitos em Hollywood. Mas a norma só apareceu depois de “Correspondente Estrangeiro”, o filme a seguir.
Com um rigor estético incomum. “Suspeita” está entre os melhores trabalhos do “mestre do suspense” em qualquer fase de sua carreira.(PV)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

"O TERCEIRO HOMEM" NO CINECLUBE ALEXANDRINO MOREIRA DIA 18/05 ÀS 19 H

"O TERCEIRO HOMEM"
Original: The Third Man- Inglaterra,1949
Direção de Carol ReedRoteiro de Graham Greene com colaboração não creditada de Orson Welles.
Fotografia de Robert Krasker
Musica de Anton Karas
Elenco: Joseph Cotten, Alida Valli, Orson Welles,Trevor Howard, Bernard Lee.
Argumento: Um escritor norte-americano de livros populares vai procurar um amigo em Viena logo depois da 2ª. Guerra Mundial. Lá chegando recebe a noticia que o amigo havia morrido atropelado. Mas não demora em ver essa figura passar por uma praça, à noite. Seguindo o que lhe parece um fantasma, envolve-se numa aventura de espionagem e intriga policial tendo como cenário os esgotos da capital austríaca.
Importância Histórica: O filme ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1949. Sucesso de critica e de público, foi ajudado pela música de Karas tocada em cítara que ainda hoje se inscreve entre os clássicos do gênero. Diz-se que Orson Welles dirigiu boa parte do roteiro. O autor de “Cidadão Kane” saía de Hollywood depois de se considerar violentado pelos produtores e, nesta escala inglesa “fez o que quis”, marcando com sua presença um “thriller” de suspense muitas vezes copiado, mas não igualado.
Após a exibição do filme haverá um debate entre os espectadores e críticos da ACCPA (Associação dos Crítícos de Cinema do Pará)
"O Terceiro Homem"
Exibição Segunda-feira Dia 18/05/09
Horário : 19 h
Entrada Franca
Local : Cineclube Alexandrino Moreira (Auditório do IAP, ao lado da Basílica)
Programação : ACCPA

CINEMA, LITERATURA E MÚSICA EM "MORTE EM VENEZA"


Luchino Visconti (1906/1976) foi mestre em adaptar obras literárias para o cinema, imprimindo grandiosidade operística e intimismo para as obras de Giuseppe Lampedusa (O Leopardo, 1964), Thomas Mann (Morte em Veneza, 1971) e Gabrielle D’Annunzio (O Inocente, 1976).
Na Literatura os leitores embarcam numa viagem de operações semânticas e sintáticas, devidamente materializadas em palavras, ao mesmo tempo em que o texto aprofunda a noção de tempo e refluxo da memória. O Cinema apresenta a imagem pronta, com várias possibilidades intersemióticas ao analisar o texto adaptado através de planos, contra planos, planos-seqüência, lentes, marcação de atores, iluminação, sonoplastia entre outros elementos, estendendo formas literárias e visuais a um público indiscriminado. Adaptações são portanto, procedimentos artísticos na esfera da indústria cultural que apropriam e re-elaboram obras consagradas para outros meios.
“Morte em Veneza” (1971) subverte e reforça os valores da tradição, projetando novos significados para públicos heterogêneos, produzindo novas sensações e sentidos, ou seja, amplia o raio de ação provocado inicialmente por meio do texto literário em nome da dimensão visual marcada pelo rigor. São imagens em movimento, música e palavras integradas ao processo de narração, longe das meras adaptações obedientes que suprimem o texto literário à cartilha de planos curtos e diálogos rápidos e excesso de edição que marcam o cinema contemporâneo.
Com o Pós-neo-realismo, os temas sociais abrem espaço para o mal estar da contemporaneidade, agora saturada de esquemas binários oferecidos pela ideologia ou religião, impresso no celulóide por meio da instabilidade de sentimentos, traição da memória, reflexão estética, amor, incomunicabilidade, morte, vida, Deus e sua ausência.
Filmado no início dos anos 70, época em que o Pós-neo-realismo já se tinha se imposto como uma nova ordem estética entre os egressos do movimento Neo-realista (Visconti, Fellini, Antonioni, entre outros), “Morte em Veneza”, realizado antes de “O Estrangeiro” (este incompreendido na ocasião de seu lançamento num ambiente ainda permeado por dualismos ideológicos), faz parte da chamada trilogia germânica, marcada por obras absolutas como “Os Deuses Malditos” (1969) e Ludwig (1973).
Num estudo destinado aos cristais em decomposição eleitas pelo filósofo Gilles Deleuze em “Imagem Movimento”, a obra de Visconti se encaixa perfeitamente em várias categorias, como o cristal sintético, o processo de decomposição do cristal e o tarde demais.
O cristal sintético deleuziano se expressa no mundo aristocrático no sentido intelectual e social. Sintético, pois sendo aristocrático está fora da história, com suas leis próprias, que acossam pessoas que se cercam da produção artística e seus inevitáveis desdobramentos em que uma corrente estética tenta se sobrepor à outra. Gustav von Aschenbach invoca a liberdade financeira como um privilégio “natural” de família, assim com a mobília, cristais, prataria e outros elementos simbólicos das famílias abastadas em contraposição ao céu púmbleo, o avanço do cólera e a água pútrida dos canais de Veneza.
A decomposição do cristal se instala com o aniquilamento de todas as esperanças anuladas pelas armadilhas e impoderabilidade do destino que afeta a lucidez de Aschenbach, no filme, por meio da liberdade criativa, devidamente transposto de escritor (literatura) para músico (adaptação cinematográfica) no casamento perfeito entre Cinema, Literatura e Música, que tem como trilha o Adagietto ( Sinfonia N°5), de Gustav Mahler. Decadência, morte e necessidade de esquecimento. Penetração de um tempo sem saída. “O cristal não é separável de um processo de opacificação que agora triunfa em cores sepulcrais (DELEUZE, 1990, 177).
Em “Morte em Veneza”, a idéia ou revelação crepuscular do garoto Tadzio chega tarde demais para a ausência de vida e sensualidade na música de Aschenbach, embriagado pela procura da beleza, da inspiração, da paixão, do desejo carnal (seje ele qual for) à mercê dos jogos do destino, das gargalhadas dos deuses. A beleza como uma aparição, uma surpresa no semblante do maestro diante da androginia e seus derradeiro adeus á compustura, entrega total do delírio, perda do raciocínio concreto.
As tomadas longas e contemplativas como princípio de organização, melancolia e desorganização dão forma a esta obra-prima absoluta que marca o apogeu do cinema italiano no século XX. Depois Visconti encerra a tilogia germânica com o grandioso “Ludwig” (1973), em que sofre um ataque cardíaco que o prende numa cadeira de rodas. A tenaciade do conde vermelho que dizia preferir os doces e os livros às drogas ainda rendeu mais duas obras para o a história do cinema mundial: “Violência e Paixão” (1974) e “O Inocente”.

Augusto Pacheco

terça-feira, 12 de maio de 2009

"ALEXANDRA" DE SOKUROV NO MOVIECOM ARTE DE 15 À 21/05/09


"ALEXANDRA"
Direção: Aleksandr Sokúrov
Duração: 90 minutos
Genêro: Drama
Classificação Etária: 14 anos
Sinopse: Chechénia, nos dias de hoje. Uma frente russa. Aleksandra Nikolaevna é a avó que visita o neto, um dos melhores oficiais da sua unidade. Passam-se os dias e ela descobre um novo mundo. Um mundo de homens onde não há mulheres, sensibilidade ou conforto. O dia-a-dia é pobre, num local onde as pessoas são parcas nos seus sentimentos. Simplesmente, porque talvez não haja tempo nem energia para isso. A cada dia, cada hora, decidem-se questões de vida ou de morte. No entanto, é um mundo ainda habitado por pessoas
APOIO: ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)

MOSTRA "DUAS VEZES VISCONTI" NO CINE LÍBERO LUXARDO

O Cine Líbero Luxardo exibe a partir de quinta-feira o longa "Morte em Veneza", clássico do cinema dirigido por Luchino Visconti (1906-1976). O longa faz parte da programação "Duas Vezes Visconti", que apresentou na semana passada "O Inocente", outro título importante da carreira do diretor italiano. "Morte em Veneza" será exibido em película até domingo sempre às 19h30.
Baseado na obra homônima do escritor alemão Thomas Mann, o filme, lançado em 1971, é a recriação do romance originalmente publicado em 1912 e do drama do personagem Gustav Ashenbach (interpetado por Dirk Bogarde). Em Morte em Veneza, Visconti consegue levar de forma magistral para a tela a obra densa e descritiva de Thomas Mann. A substituição do escritor personagem do livro por um músico no filme é o mote mais do que adequado para a entrada da magnífica música de Gustav Mahler que ajuda a estabelecer a atmosfera apropriada aos dramas de Ashenbach.
Compositor de férias longe de seu país, na cidade de Veneza, Ashenbach, Cansado e solitário, passa a maioria de seu tempo a observar a movimentação das pessoas nos terraços e salões do luxuoso hotel des Bains, freqüentado por turistas de posses de toda a Europa. Aparentemente reservado e civilizado, Ashenbach é um músico que insiste na busca incessante pela perfeição em sua obra, e nela a beleza não seria apenas o objetivo, mas o próprio percurso e caminho. Um amigo afirma ao compositor que a beleza não pode ser criada, pois ela simplesmente existe, o que tornaria sua busca inútil.
A viagem a descanso, um pouco antes da Segunda Guerra Mundial, revela a mais terrível das surpresas: a beleza personificada num jovem rapaz. Aschenbach fica extasiado com a beleza do adolescente e a evidência daquilo que ele tentou conseguir a vida inteira por meio de sua música.
Desorientado, Aschenbach tenta fugir de seu desejo, e intenta deixar Veneza. Entretanto, ao tomar conhecimento de alguns casos de morte na cidade, causadas por peste asiática, ele retorna ao hotel, onde rememora sua vida e se deslumbra cada vez mais com a beleza andrógina do jovem, sua obsessão apaixonada, seu amor impossível e sua gradativa decadência.
Luchino Visconti é um dos principais representantes do Neorrealismo italiano, movimento cinematográfico surgido na década de 1940, e reforçado por outros diretores como Vittorio De Sica e Roberto Rossellini. Embora Visconti não se sentisse muito confortável com o titulo de neorrealista, por considerar-se um cineasta realista, a partir da década de 1970 seu cinema explora o decadentismo, o universo nobre e burguês, os vícios, excessos e hipocrisia dos afortunados.
Filme maior de um gênio acerca do amor e da beleza, "Morte em Veneza" é enriquecido pela influência dos filósofos Nietzsche e Schopenhauer, tomados como base para os debates estéticos que são desenvolvidos no decorrer da história. Durante o 25° Aniversário do Festival de Cannes, Visconti recebeu o Prêmio Especial pelo conjunto de sua obra. E "Morte em Veneza" já estava incluído em sua filmografia como obra irretocável e de grande valor para o cinema mundial.
SERVIÇO
De quinta a domingo, às 19h30 14/05 a 17/05
Ingressos: 5 reais (Meia Entrada para estudantes)Quinta-feira – Entrada Franca para estudantes com carteirinha.
"Morte em Veneza" de Luchino Visconti (ITA, 1971).
Título original: Morte a Venezia (Itália 1971).
Direção: Luchino Visconti. Gênero: Drama. Classificação: Livre Duração: 130 min. Elenco: Dirk Bogarde, Marisa Berenson, Björn Andrésen e Silvana Mangano.
Sinopse: De férias no exterior, o compositor Gustav Aschenbach (Dirk Bogarde) parece um homem reservado e civilizado aos olhos daqueles que o conhecem. Basta, no entanto, o início de uma paixão secreta para que comecemos a notar o presságio de sua destruição.

Apoio : ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

"MILAGRE EM MILÃO" NA SESSÃO CULT SABÁDO DIA 16/05 ÀS 16:30 H


SESSÃO CULT - ACCPA/CINE LÍBERO LUXARDO
"MILAGRE EM MILÃO"´
Título Original : Miracolo a Milano –Itália,1950
Direção de Vittorio De Sica
Roteiro de Suso Cecchi D’Amico, Cesare Zavattini e Vittorio De Sica.
Fotografia de Aldo Tonti
Música de Alessandro Cicognini.
Elenco: Francesco Golisano, Emma Gramática, Paolo Stoppa, Brunella Bovo.
Argumento: Totó foi encontrado dentro de um repolho por sua avó(*). Ela o cria até morrer, quando o menino passa aos cuidados de um orfanato. Ao sair, adulto, pensa que todas as pessoas são boas e a vida é bela. Sai cumprimentando todos na rua, mesmo sem obter resposta. Mas logo roubam a sua maleta com tudo o que possuía e o recurso é ir morar numa favela. Na comunidade miserável inventa brincadeiras e ajuda os favelados a enfrentar o industrial dono do terreno onde moram. Auxiliado pelo espírito da avó, ganha uma pombinha mágica que satisfaz desejos. É mais quem pede graças, mas alguns anjos chegam e levam a pombinha. Justamente quando os moradores da favela são obrigados a desocupar o terreno. No caminho, a avó reaparece com a mbinha e todos os pobres são libertados, pegando as vassouras dos garis e voando para um mundo melhor.
Importância Histórica: O filme ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1951 junto com “Senhorita Julia” de A. Sjorberg (Suécia). Para De Sica e Zavattini foi uma experiência de “neo-realismo fantástico” a seguir a triste história de “Ladrões de Bicicletas”. Os realizadores viram uma fabula moderna onde se observa inversão de valores, comportamentos de classes, utopias, e a persistência do amor.
(*) A cegonha que traz os bebês como se conhece através da cultura brasileira tem o seu correspondente no repolho italiano. Mas o que o filme quer mostrar que Totó é tão puro que nasceu por um encanto. Após o filme, haverá um debate entre os espectadores e os críticos da ACCPA.
SESSÃO CULT - Sabádo Dia 16/05/09 às 16:30 -Cine Líbero Luxardo - Entrada Franca
Próximo Programa : "MEU TIO" de Jacques Tati - Sabádo dia 30/05/09 - 16:30 h

Programação : ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

"SUSPEITA" DE HITCHCOCK INICIA A PARCERIA ACCPA/CINE OLYMPIA NO DIA 24/05/09


A ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará) fechou mais uma parceria de programação/exibição de filmes, dentro do projeto da associação de formação de novas platéias de cinema em Belém. Depois da parceria concretizada com o IAP e Cine Líbero Luxardo, a partir de 24 de maio, no Cine Olympia, a ACCPA estará programando a SESSÃO CINEMATECA que exibirá filmes especiais, clássicos do cinema e títulos importantes da sétima arte.
As exibições acontecerão dois domingos por mês (a cada 15 dias) com a sessão sendo às 16 h com entrada franca. O primeiro filme que será exibido na SESSÃO CINEMATECA será o clássico "SUSPEITA" de Alfred Hitchcock com Cary Grant. Não Perca.
Contamos com sugestões e a participação de todos em mais esta iniciativa.

Marco Antonio Moreira

"O SOL" DE A. SOKUROV NO MOVIECOM ARTE DE 08 À 14/04/09



"O SOL"
Direção: Aleksandr Sokúrov
Duração: 110 minutos
Genêro: Drama
Classificação Etária: Livre
Exibição : de 08/05 à 14/05/09
Local : Moviecom Castanheira - Sala 04 - Projeção Digital
Sinopse: Em 15 de agosto de 1945, os japoneses ouvem pela primeira vez a voz de seu imperador, que exorta seu exército e seu povo a pôr fim às hostilidades. Isso permite aos norte-americanos desembarcar nas ilhas japonesas sem encontrar resistência. O pedido do imperador ajuda a salvar muitas vidas, mas os vencedores exigem que Hirohito (Issei Ogata) compareça diante de um tribunal de guerra. O general McArthur (Robert Dawson), comandante das tropas americanas no Pacífico sul, desaconselha o presidente Franklin Roosevelt a converter Hirohito num criminoso de guerra.
Apoio : ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)

domingo, 3 de maio de 2009

"O NOVO SÉCULO AMERICANO" NO MOVIECOM ARTE


"O NOVO SÉCULO AMERICANO"

Direção: Massimo Mazzucco

Duração: 100 minutos

Genêro: Documentário

Classificação Etária: 12 anos

Sala: Moviecom Castanheira Sala 04 – Projeção Digital

De 01 à 07/05/09

Sinopse: O documentário aborda os aspectos históricos, filosóficos e econômicos que sugerem que os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 não foram perpetrados por terroristas muçulmanos, mas sim concebidos e orquestrados pela própria administração americana que estava no poder à época dos eventos.

APOIO:
ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

"CAFÉ DOS MAESTROS" EM ÚLTIMAS EXIBIÇÕES NO CINE LÍBERO LUXARDO

"Café dos MaestroS" de Miguel Kohan tem suas última exibições sabádo e domingo às 19:30 h no Cine Líbero Luxardo.O documentário desenha o retrato de alguns músicos excepcionais de tango, incluindo criadores de repertório clássicos e fundadores de uma variedade de estilos e escolas, bem como os membros das bandas e orquestras que alcançaram a fama nos anos 1940 e 1950, na era dourada do tango. Vários protagonistas se tornaram grandes nomes no exterior, enquanto outros restringiram sua atuação ao interior da Argentina. O músico e compositor argentino Gustavo Santaollala (vencedor de dois Oscars por suas músicas para os filmes O Segredo de Brokeback Mountain e Babel) atua como guia, para apresentar as grandes estrelas do famoso ritmo — Leopoldo Federico, Lágrima Ríos e seu violonista Aníbal Arias, além do dueto Libertella e José Luis Stazo.

CICLO ALAIN RESNAIS NO CINE OLYMPIA DE 05/05 À 14/06


CICLO “ALAIN RESNAIS – DE GUERNICA À COEURS"
Mostra de Filmes em DVD – De 05/05 à 14/06/09
Filmes/Datas:
- “HIROSHIMA MEU AMOR” – De 05/05 à 10/05
- “ANO PASSADO EM MARIENBAD” – De 12/05 à 17/05
- “STAVISKY” – De 19/05 à 24/05
- “MURIEL” OU “O TEMPO DE UM RETORNO” – De 26/05 à 31/05
- “MEU TIO DA AMÉRICA” – De 02/06 à 07/06
- SESSÃO DE CURTAS: GUERNICA / AS ESTÁTUAS TAMBÉM MORREM / NOITE E NEBLINA / TODA A MEMÓRIA DO MUNDO / O CANTO DO ESTIRENO – De 09/06 à 14/06
Sobre o diretor ALAIN RESNAIS: Alain Resnais nasceu em Vannes, França. Seus primeiros curtas-metragens destacaram sua criatividade e lhe permitiram ser encorajado pelo produtor Anatole Dauman. Filmes como "Guernica" (1950), "Nuit et Broulliard" (1955), "Toute la mémoire du monde" (1956) ou "Le chant du styrène" (1957) impressionaram inclusive seus amigos da Nouvelle Vague, como os diretores François Truffaut e Jacques Rivette que já o consideravam um mestre. Com seus primeiros longas-metragens, "Hiroshima, Mon Amour" em 1959 e "Ano Passado em Marienbad”em 1960, ele adquiriu renome mundial sendo considerado pela crítica mundial até hoje como um dos melhores diretores do cinema francês

Horário : 18:30 h (De Terça à Domingo)
Apoio : ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará)/Embaixada da França

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