domingo, 3 de fevereiro de 2013

O ano de 2012 e a grande reverência ao cinema

O ano de 2012 ficará marcado como aquele em que o mundo quase acabou por conta de um mau entendimento do calendário do povo Maia. O ano findou e nada aconteceu, mas o cinema continuou a nos encher os olhos com sua magia e encantamento. Numa breve retrospectiva, 2012 ficará na lembrança como aquele ano em que vimos duas belas homenagens à Sétima Arte com “O artista”, de Michel Hazanavicius, e “A invenção de Hugo Cabret”, de Martin Scorsese. Os dois filmes, em seus momentos, mostram como se deu o início do cinema, de forma contrastante. Se em “O artista”, temos o cinema mudo e em preto & branco, em “A invenção de Hugo Cabret”, a história de como o cinema se iniciou, com roteiro e efeitos especiais, relembrando o pioneiro Georges Méliès, Scorsese apostou no formato 3D e não decepcionou. Os dois filmes disputaram, palmo a palmo, os Oscar 2012, e ficaram com cinco estatuetas cada um, com uma leve vantagem para “O artista” que foi o melhor filme. O 3D teve seu momento de consolidação em 2012. Ou alguém poderia imaginar que esse formato brindaria o público com um documentário? O diretor alemão Wim Wenders fez de “Pina” uma homenagem, tanto ao cinema, quanto à bailarina alemã Pina Bausch, em 3D e em belas imagens e cores. No finalzinho do ano, chegou aos cinemas “As aventuras de Pi”, de Ang Lee, onde o 3D é quase um personagem da história, tal a sua importância dentro do roteiro. Os filmes citados estiveram presentes nas listas de melhores do ano dos integrantes da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), mas o grande vencedor, segundo a tradicional eleição, foi “A separação”, de Asghar Farhadi, que ganhou quase todos os prêmios que disputou no ano passado, incluindo o Globo de Ouro e o Oscar, como melhor produção estrangeira. Para ACCPA, depois do primeiro lugar de “A separação”, a lista seguiu com “Pina”, “Fausto”, de Alexander Sukorov; “A invenção de Hugo Cabret”; “O artista”; “Shame”, de Steve McQueen; “Drive”, de Nicolas Winding Hefn; “Intocáveis”, de Eric Toledano & Olivier Nakache; “Precisamos falar sobre Kevin”; e “Cosmópolis”, de David Cronnenberg. “Fausto” trouxe de volta o preciosismo de Sukorov para (re)contar a história do homem que vendeu a alma a Mefistófeles, em imagens que beberam em fonte das artes plásticas. Um filme de belas imagens e interpretações viscerais. Em “Shame” brilhou a estrela de ator alemão Michael Fassbender, que foi um dos mais vistos nas telas em 2012. Com ele no elenco, os filmes “Um método perigoso”, de David Cronnenberg, e “Prometheus”, de Ridley Scott, ganharam um quê a mais. Mas de “Shame” é sempre bom lembrar a participação da atriz Carey Mulligan, especialmente na cena na qual ela canta “New York, New York”. “Drive” trouxe o talento do diretor Nicolas Winding Hefn e a presença do, agora, super disputado, ator Ryan Gosling. Aposte neste nome, assim como em 2012, ele será um dos mais quentes nomes de Hollywood daqui em diante. Veio da França um dos maiores sucessos naquele País e que saiu conquistando público e crítica por onde passou. “Intocáveis” é baseado numa história real e mostra uma trama simples, direta e cativante sobre uma amizade que tinha tudo para dar errado e se concretiza numa homenagem aos amigos de verdade. “Precisamos falar sobre Kevin” é daquelas histórias que não deixam o público indiferente. Com uma interpretação inspirada de Tilda Swinton, o filme busca mostrar como a tragédia dos assassinatos em massa, muito comum nos EUA, se germina e se torna realidade. Já em “Cosmópolis”, Cronnenberg coloca o ator Robert Pattinson como um milionário que, de dentro de sua limusine, vê uma sociedade se desmoronando. Woody Allen contribuiu com sua produção anual, desta feita com “Para Roma com amor”, que se não é um de seus melhores filmes, ainda fica acima da média. Os diretores brasileiros Fernando Meirelles e Walter Salles também mostraram suas mais recentes produções. O primeiro com “360” e o segundo com “Na estrada”, versão cinematográfica do livro homônimo de Jack Kerouac. Nos grandes festivais de cinema pelo mundo, tivemos em Berlim a vitória de “César deve morrer”, de Paolo e Vittorio Taviani (da Itália); em Veneza, o vencedor foi “Pieta”, de Kim ki-duk (da Coréia do Sul); e em Cannes, a Palma de Ouro ficou com “Amor”, de Michael Haneke (da França). Os três chegam aos cinemas agora no início deste ano. No Brasil, o grande premiado no Festival de Gramado foi “Colegas”, de Marcelo Galvão, num filme que se utilizou de atores amadores portadores de Síndrome de Down. No Festival de Brasília, o Candango de Melhor Filme foi dividido entre “Era uma vez eu, Verônica”, de Marcelo Gomes, e “Eles voltam”, de Marcelo Lordello. No Festival do Rio, o melhor filme foi “O som ao redor”, do novato pernambucano Kleber Mendonça Filho. Por falar em cinema nacional, o ano foi de boas bilheterias para filmes que optaram pelo caminho da comédia ligeira e ter no elenco nomes conhecidos da televisão brasileira. Que o digam “E aí, comeu”, de Felipe Joffily; “Até que a sorte nos separe”, de Roberto Santucci; “Os penetras”, de Andrucha Waddington; e “Gonzaga - de pai pra filho”, de Breno Silveira, este uma exceção, assim como é “Xingu”, de Cao Hamburgo, que se mostram produções diferenciadas do que se produz atualmente no cinema nacional. As histórias em quadrinho continuaram a chegar aos cinemas, com bilheterias assombrosas. “Os vingadores”, de Joss Whedon; “Batman – O Cavaleiro das Trevas ressurge”, de Christopher Nolan; e “O espetacular Homem-Aranha”, de Marc Webb, ficaram semanas em cartaz, com muito público. Sem esquecer que o agente britânico 007 chegou aos 50 anos e mostrou em “007 – Operação Skyfall”, filme de Sam Mendes, umas das melhores histórias com James Bond. Em 2012, o Cine Olympia completou 100 anos de funcionamento, sempre no mesmo lugar, com mesmo nome e sem ter parado de funcionar por longos períodos. O centenário foi comemorado com um seminário que teve a presença dos críticos de cinema convidados como os paulistas Maria do Rosário Caetano e Luiz Zanin Oricchio, além de festivais de filmes dos diversos gêneros cinematográficos. Também em 2012 foi celebrado os 50 anos de fundação da ACCPA, que se iniciou em dezembro de 1962 como Associação Paraense de Críticos de Cinema (APCC). (Dedé Mesquita)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

"DETONA RALPH"


Os créditos em forma de videogame já anunciam que o filme bebe diretamente nessa fonte. E “Detona Ralph”, ao contrário de outros filmes que foram adaptados de games, prova que as duas linguagens podem ser combinadas para formar um produto harmonioso e de alta qualidade. Ali, nos créditos iniciais, não aparece a luminária da Pixar, apenas o castelo da Cinderela e o nome Walt Disney Studios. Mesmo assim, o que o diretor Rich Moore fez, ao contar a história de um vilão de um jogo que quer ser o herói e para atingir esse objetivo coloca todo o arcade onde vive em risco, foi repetir a fórmula de sucesso da ‘casa das ideias’: contar uma história que valoriza a aceitação social e faz uma ‘elegia’ à amizade, sem pieguice.
É impossível assistir “Detona Ralph” e não fazer comparações, por exemplo, com “Monstros S.A.” – cujaprequel, “Universidade dos Monstros”, é um dos lançamentos mais aguardados este ano – já que temos, no plano principal, a relação entre Ralph e a pequena Vanellope como aquilo que desencadeia os fatos na história.E aqui, as referências à cultura pop e piadas com jogos, consoles e personagens queridos é abundante, o que dá um sabor diferente a “Detona Ralph” – fora que é incrível perceber como o ‘layout’ de cada personagem/jogo foi mantido com maestria, além da trilha sonora que evoca desde o barulho quando o pac-man come até a música de “Metal Gear Solid”, tudo com muita graciosidade. Enfim, muito dinheiro deve ter sido gasto com direitos autorais das fabricantes, mas o investimento valeu a pena.

 
Acerto comprovado através de bilheteria e prêmios

A animação concorre ao Globo de Ouro no próximo domingo – e esta no páreo para ir ao Oscar -, e é realmente a prova inconteste de que a Disney fez a lição de casa, focando o enredo (original) na figura de Ralph, um vilão que quer parar de detonar as coisas, mas para isso precisa adquirir um objeto que faça os moradores do seu game o valorizarem.
Na bilheteria, o acerto foi sentido logo no fim de semana de estreia nos Estados Unidos, quando o filme arrecadou R$ 49 milhões e se tornou a maior bilheteria de abertura de uma produção da Disney.Uma cena que comprova isso é a hilária reunião de vilões anônimos, onde Ralph busca conselhos de um zumbi, robotinik (Sonic), Bowser (Mario), Sub-zero (Mortal Kombat), Zangief (Street Fighter) e outros ícones da maldade em 8, 16, 32, 64 bits. Todos estão deprimidos e inseguros, fazendo falas de aceitação e repetindo frases como ‘eu sou mau e isso é bom... Nunca serei bom e isso, não é mau’.O público infantil vai amar a história, em especial a fofa Vanellope, mas é o público adulto quem dará muitas gargalhadas e deixará escapar algumas lágrimas quando aparecer uma peach ali, um link acolá, a fase bônus da garagem do street fighter e até uns gritinhos de ‘ah’ quando um console Nintendo é achado no depósito do “Tapper”. A nostalgia é equilibrada com boa dose de aventura quando Ralph sai do seu jogo e logo aciona o fator de risco – ele pode ficar preso em outro jogo e se tornar um personagem ‘turbo’ (se explicar estaria estragando uma importante peça da trama) ou sua ausência pode gerar o desligamento do “Conserta Félix Jr.”

Um passeio pelo mundo do fliperama
Na versão original – que só poderá ser apreciada em casa, já que somente cópias dubladas chegaram a Belém - John C. Reilly empresta seu perfil um tanto ‘bronco’ ao grandalhão Ralph, cansado de esmagar tijolos e destruir o prédio do game “Conserta Felix Jr.”, um game de consoles como Atari que completa 30 anos.A ocasião é a gota da água e Ralph se cansa de viver no lixão. Ele sai de seu jogo (algo que é quase proibido no seu arcade, uma espécie de estação central, onde fiscalizadores mantém a ordem e os jogos ficam situados). E os jogos que são realmente explorados pela narrativa, estão ali para maravilhar os olhos e compor painéis diferentes de personalidades daqueles seres, como numa sociedade do mundo real. Ralph para primeiro em uma mistura de “Starcraft” com “Perfect Dark”, onde luta contra aliens. O problema é que ele acaba trazendo um bichinho consigo. A grande estrela da série musical “Glee”, Jane Lynch, dá a mesma pinta de braba de Sue Sylvester à atiradora Calhoun, que segue atrás de Ralph e do alien pelo mundo dos games.Felix também está preocupado e vai atrás do vilão, que entra num jogo chamado “Corrida Doce”, onde conhece a espevitada Vanellope. Os comediantes Sarah Silverman e Jack McBrayer fazem as vozes de Vanellope e Felix.Ela tem um sonho e cabe a Ralph empreender a jornada do verdadeiro herói, sem abrir mão de algumas atitudes pouco corretas, para fazer a menina ganhar, salvar o dia e ter seu final feliz. Até um ‘bug’ a Disney acrescentou nessa fase do filme, o que mostra a integração com a linguagem dos games.
Algo tão edificante e emocionante como “Detona Ralph” pode até ser produto da Disney, mas tem a cara de outro, e olha que Rich Moore é cria da Pixar (ele é mais conhecido por seu trabalho com “Os Simpsons”). Quando sobem os créditos finais, lá está o nome do fundador e diretor criativo da ‘casa das ideias’, John Lasseter, como produtor executivo.(Lorenna Montenegro)

 

"O IMPOSSÍVEL" - NOS BASTIDORES DA CATÁSTROFE


O gênero  filme-catástrofe  foi  muito  explorado por Hollywood  e fez  muito  sucesso de bilheteria  nos  anos  70. São  clássicos  como “Inferno  na  Torre” (1974), “Terremoto” (1974), “O  Destino  do Poseidon” (1972) dentre  tantos  que  usaram e  abusaram da  fórmula que  recriava  o  pavor através de  imagens  grandiosas da destruição   material e  humana. Houve  uma  tentativa de retomar o gênero com “TITANIC” (1997), “O DIA DEPOIS  DE  AMANHÔ  (2004) e “2012” (2009), este   acompanhado  do marketing  das falsas  profecias sobre  o fim  do  mundo. Ficou provado que  as  catástrofes naturais ou provocadas pela soberba do homem - não  importa  se  na ficção  ou se  no  outro continente em tempo  real  do  noticiário via  satélite – ainda mexem com o imaginário do público que  vai  ao cinema  buscando  entretenimento.
“O Impossível” (2012) produção espanhola e americana do  diretor  catalão Juan A. Bayona  é  uma  dessas extraordinárias  histórias que parecem tiradas  da  seção ‘Histórias  Incríveis’ da  Reader’s  Digest . É uma  história real que levada às  telas do cinema vai além do entretenimento e  dá a grandiosidade e dimensão do que  ela  realmente representa  para a humanidade. Não é apenas  um  filme-catástrofe   com  cenas dantescas e efeitos  especiais de encher os  olhos. Na  verdade, os  olhos  do público se  enchem inevitavelmente de outro modo ao ver as situações limite de uma  família desmembrada violenta e dramaticamente pelo   tsunami de 2004 e que luta para não  morrer em meio ao completo caos. Talvez o  grande  mérito do  filme  seja  o foco do diretor em não  perder-se numa narrativa que se sujeitasse aos apelos  das   cenas de caos e  devastação deixados  pelo desastre   natural  que marcou  o mundo num dia  de natal  de  2004, mas  inteligentemente ele privilegia os   bastidores do dia seguinte daquela  catástrofe  bíblica   mostrando a impotência de uma família e das centenas de  pessoas diante de um acontecimento de tal  magnitude.  Outro mérito do filme é que não se trata de uma ‘tragédia americana’, mas de um evento universal se observado como  um microcosmo onde haviam pessoas de várias partes do mundo. A  história  da  família  do casal Henry e Maria que busca se reencontrar é  apenas  uma  das  centenas de histórias  de sobreviventes da  mesma  tragédia e que  o  mundo  não ficou  sabendo. É bom  lembrar que na adaptação  para  o cinema a família de espanhóis é representada por  uma família britânica.  Dentro desse microcosmo resultado do  cataclisma  prevalece a ideia do objetivo comum do ser humano na busca e esforço mútuo em amenizar o sofrimento e a dor de todos. Ali todos são  iguais sejam  europeus, americanos ou asiáticos.

A sequência da chegada do tsunami não  dura talvez  mais  que  15 minutos no filme, no entanto   é de um realismo impactante. Tomadas debaixo d’água e grandes planos abertos aleatórios só tentam  mostrar o que  foi aquele  fatídico dia. Mais  uma  vez a técnica e os efeitos especiais bem dosados a  serviço de uma  boa história  é um dos segredos  do filme.   Outro  bom  momento é a curta participação de Geraldine  Chaplin como a desconhecida  sobrevivente que trava um diálogo sobre a eternidade das  estrelas  com  uma das  crianças da  família. É também uma  das poucas pausas de respiração durante o fundo  mergulho no sofrimento e dor  vividos pelos personagens principais. Vale mencionar  as  ótimas atuações de Ewan McGregor e Naomi Watts que emocionam a plateia  mesmo sem  a ajuda dos “mil violinos” da trilha  sonora que surge para intensificar  a comoção. O elenco  por si só consegue dar o tom e a atmosfera  necessários  à  cena.
O Impossível pode ser visto como  o milagre  da  determinação e capacidade do ser  humano de  lutar  pela sua sobrevivência  mesmo em meio a dor  e  a adversidade. E a maior demonstração de humanismo  é a da personagem Mary ao seu filho mais  velho   que  o  faz  refletir no quanto vale a pena se  colocar no lugar do  outro. O Impossível é  um ótimo  filme! (Elias Neves)

 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

"AMOR" DE MICHAEL HANEKE


Marco Antonio Moreira
Michael Haneke é um diretor habituado em filmar temas polêmicos e desta vez, o tema de seu novo filme não poderia ser mais complexo : o amor. Através deste tema, Haneke fez várias perguntas que surgem com a construção da sua história. O que é o amor para dois velhos solitários que moram sozinhos, vivendo uma vida com/sem sentido, amantes da música e da vida? O que é o amor neste casal até quando estão sãos e bem de saúde e o que é o amor quando um deles sofre um problema cerebral e lentamente vai perdendo o controle da sua vida e fica cada vez mais dependente do outro? “Amor” é um filme sobre a solidão, o tempo, a velhice e sobre como todos estes elementos mudam passo a passo o nosso conceito de tudo o que sabemos ou pensamos saber da vida. Haneke não nos mostra estas questões de forma romanceada, leve. Ele coloca uma narrativa dura, seca, às vezes distante do drama dos personagens para evitar a emoção exagerada e muitas vezes ele consegue, outras não. É difícil não se envolver com o drama deste casal em busca de vida numa idade que só resta a diária reconstrução do que é saber viver e do que é o amor. Afinal, seja qual for o conceito de amor, de amar, ser testemunha do fim gradual e lento do parceiro muda tudo e novas provas de amor merecem/devem surgir. Redescobrir como amar perto do fim, da morte. É possível? Que prova de amor maior pode ser oferecida?Matar, morrer? É possível lutar contra a impotência do fim? “Amor” em cada sequência nos faz pensar nestas reflexões. Otimista, amargo, esperançoso ou pessimista, é uma obra de arte que veio para nos provocar. “Amor” é o cinema forte de Michael Haneke chegando e polemizando mais também é o filme de dois grandes atores em atuações históricas: Emanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant. Veja sem falta.

Luzia Álvares
Solidão, geração, complacência, amor. Essas quatro palavras se entrecruzam e se transformam em um símbolo do afeto de alguém pelo outro, numa relação que expõe a condição humana, segundo Michael Haneke, em seu filme “Amour” (2012).Um casal de idosos cujas alegrias compartilhadas construiram um cotidiano digno entre a profissão pública e o ambiente privado familiar é apresentado no filme nos estertores dessa dimensão que favoreceu os dias vividos criando hábitos salutares na composição de uma relação ambiente amigável e plena de ganhos pessoais e profissionais. O emblema proposto é a prisão do casal em uma condição de irreversibilidade diante da doença, e a impotência de um retorno aos velhos hábitos, ao considerar, a partir daí, a transformação que vai se dar entre eles. A bofetada no rosto da esposa inerte que lhe cospe e vomita reflete o sintoma da condição humana. Não somos infalíveis nem santos, mesmo diante de quem amamos até a morte

Pedro Veriano
O novo filme de Michael Hanek vai ao âmago da sentença que o casal pronuncia ao casar: “até que a morte nos separe”. E começa com a forma dramática dessa afirmativa: Anne (Emanuelle Riva) está morta. O amor que dedica ao marido George (Jean Louis Trintignant)é demonstrado em detalhes que se vê desde que eles,músicos profissionais, assistem a um concerto. A única filha (Isabelle Huppert) também é ligada à musica. Mas ela pouco aparece na tela. O que mais se vê, além de marido e mulher vivendo seus mais de 80 anos, é o apartamento luxuoso em que moram em Paris. A câmera, quase sempre estática, descobre as paredes, os moveis tudo em grandes planos para dimensionar a relação do espaço físico com as figuras humanas. Anne sofre uma isquemia cerebral na hora em que ela e o marido são vistos em médio plano diante de uma mesa. A conversa que travam é interrompida pela falta de respostas por parte dela. Daí se passa para a lenta deterioração de seu corpo. E para o desvelo (e desespero) do marido dedicado. Cenas de grande intensidade dramática fecham o enfoque. Há uma sequencia em que um pombo invade o apartamento e George tenta tirá-lo dali sem sucesso. Uma alusão poética. Mas o filme acaba defendendo a eutanásia como forma de amor, embora não deixe no espectador a imagem exclusiva de uma dedicação mórbida demonstrada por grandes intérpretes. Os últimos planos são livres, retratando uma volta à vida, como se as pessoas em espírito prosseguissem as suas jornadas.Afinal, diz Hanek, o verdadeiro amor é imortal.

Arnaldo Prado Junior
Logo que terminei de assistir Amor (Amour, França / Alemanha / Áustria, 2012) não tinha uma referência básica para interpretar a tragédia de Anne (Emmanuelle Riva) e Georges (Jean-Louis Trintignant). A ação física, o cessar a vida por um processo mecânico, aplicado por George em Anne, quebrou violentamente toda a racionalidade que ele apresentou ao longo da enfermidade da mulher. Enfocar o anoitecer da vida e, mais, com uma doença progressiva com degeneração mental sem esperança de recuperação, foi o que fez Michael Haneke com a participação de dois excelentes atores que, certamente escolhidos, encontram-se na faixa de idade dos próprios personagens. Resultou uma obra sensível, humana, sentimental, triste, esteticamente consistente para não dizer irrepreensível. A realidade por trás da ficção é contundente, levou ao desespero que atingiu os personagens, mas que deve ser evitado.O final é enigmático. Anne está terminando de arrumar a louça na pia, fala para Georges que, se ele quiser, pode calçar os sapatos, o que ele faz. Terminada a tarefa ela pega um casaco que ele ajuda a vestir; ela agradece e encaminha-se para a porta de saída da casa. Ele a segue, mas antes de sair pergunta se ele não vai pegar o casaco; ele volta, pega o casaco, veste-o, encaminha-se para a saída, a luz é apagada. Ele sai, fechando a porta. Tudo normal, nada de trágico aconteceu, foi apenas um delírio, um pesadelo. Ainda há uma cena com a filha deles entrando na casa vazia, passa pelos compartimentos, senta-se em uma poltrona, fica à espera.

domingo, 6 de janeiro de 2013

MOSTRA DOS MELHORES FILMES DE 2012 - ACCPA


De 08 à 13/01/13 , o Cinema Olympia exibirá uma mostra dos melhores filmes de 2012 de acordo com a eleição da ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará). Dos 10 filmes escolhidos, 06 títulos serão exibidos na sessão das 18:30 h com entrada franca. Na sessão, apresentação e debate após a exibição do filme com críticos da ACCPA.

MOSTRA DOS MELHORES DE 2012 - ACCPA
Cinema Olympia
De 08 à 13/01/13
Dia 08 - A SEPARAÇÃO
Dia 09 - PINA
Dia 10 - FAUSTO
Dia 11 - SHAME
Dia 12 - PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN
Dia 13 - O ARTISTA
Sessão Cinemateca Especial (MELHORES DO ANO)
Dia 13 - A INVENÇÃO DE HUGO CABRET

*apresentação e debate após a exibição com críticos da ACCPA

CINE OLYMPIA
Sessões às 18:30 h
Entrada Franca

Apoio : ACCPA

"TROPICÁLIA" "O GATO DO RABINO" E "UM VERÃO ESCALDANTE" NO ANIVERSÁRIO DO CINE ESTAÇÃO


Para celebrar o 10º aniversário, o Cine estação das Docas exibe três
filmes no mês de janeiro: o documentário “Tropicália”, de Marcelo
Machado; a animação “O Gato do Rabino”, de Antoine Delesvaux e Joann
Sfar; e “Um Verão Escaldante”, de Philippe Garrel.
Em “Tropicália”, o diretor Marcelo Machado, que cresceu ouvindo as
ousadias sonoras de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Mutantes e Tom Zé,
que não entendia as letras em inglês, mas adorava os arranjos de um
tal de rock-n'-roll, conduz o espectador por uma viagem de sons e
imagens por meio da história de um dos mais emblemáticos movimentos
culturais brasileiros. Em um panorama afetivo construído com
referências, entrevistas, pesquisas, imagens e, claro, canções, o
espectador passeia pelos férteis, polêmicos e violentos anos de 1967,
1968, 1969.
Na premida animação “O Gato do Rabino” a ação se passa na Argélia, em
1920. O rabino Sfar vive com sua filha Zlabya, um papagaio barulhento
e um gato brincalhão que começa a falar depois de engolir o papagaio.
Apaixonado pela dona, Zlabya, o felino faz de tudo para ficar por
perto e até aceita as condições impostas pelo rabino: aprender mais
sobre o judaísmo e fazer o Bar Mitzvah. Para isso, ele embarca em uma
grande aventura.
Em “Um Verão Escaldante”, o diretor Philippe Garrel narra a amizade de
Paul (Jérôme Robart) e Frédéric (Louis Garrel). Frédéric é pintor e
vive com Angèle (Monica Bellucci), atriz que está filmando em Roma e
Paul faz alguns trabalhos como figurante em filmes. Em um set de
filmagem, ele conhece Élisabeth (Céline Sallette). Os dois se
apaixonam e os três amigos viajam juntos para passar as férias de
verão em Roma.

10 anos
E eis que o calendário aponta para os 10 anos do Cine Estação das
Docas, uma década  dedicada ao empenho do circuito exibidor
alternativo como uma mais uma opção cultural na agenda da cidade,
exibindo filmes que não são contemplados pelo circuito comercial de
exibição.
Durante os últimos dez anos, o critério de oferecer ao público
produções que despertem o interesse pela sétima arte, seja de forma
temática (com polêmicas saudáveis para o debate), na questão da
linguagem (novos diretores que experimentam e avançam numa arte sem
fronteiras), na estética (a forma como os filmes são narrados) e no
prazer de assistir filmes em tela grande, no escuro do cinemão que
fica às margens da baía do Guajará, o que faz da sessão de cinema um
ritual secular e contemporâneo.
Localizado no Teatro Maria Sylvia Nunes, que faz parte do complexo
Estação das Docas, o Cine Estação conta com a participação do público
que sempre prestigiou as mostras, as comemorações de aniversário, os
shows após os filmes e documentários musicais, palestras, festivais e
a programação regular que traz para a tela a assinatura de grandes
diretores e novos realizadores.
A exibição de três títulos contemporâneos para celebrar o décimo
aniversário do Cine Estação é realização da Secretaria de Estado de
Cultura – Secult e a Organização Social Pará 2000.

Programação
5 (sábado)
18h: Tropicália. De Marcelo Machado. 72 min. 12 anos. Documentário. Brasil.
20h30: Um Verão Escaldante. De Philippe Garrel. 95 min. 14 anos.
Ficção. : Itália/ França/ Suíça

6 (domingo)
10h: O Gato do Rabino. De Antoine Delesvaux e Joann Sfar. 100 min. 12
anos. Animação. França /Áustria
18h: Um Verão Escaldante
20h30: Tropicália

11 (sexta)
18h: O Gato do Rabino.
20h30: Tropicália.

17 (quinta)
18h: Tropicália
20h30: O Gato do Rabino

20 (domingo)
10h: Um Verão Escaldante
18h: O Gato do Rabino
20h30: Tropicália

23 (quarta)
18h: O Gato do Rabino
20h30: Um Verão Escaldante

24 (quinta)
18h: Um Verão Escaldante
20h30: Tropicália

26  (sábado)
19h – Palestra com Mariano Filho
19h30 – Tropicália.
20h45 – Show com Renato Torres e Banda (repertório com a temática do
filme Tropicália).

27 (domingo)
10h: O Gato do Rabino
18h: Tropicália
20h30: Um Verão Escaldante
Ingressos: R$ 8,00 (com meia-entrada para estudantes).

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

MELHORES FILMES DE 2012- ACCPA - RELAÇÃO INDIVIDUAL


MELHORES FILMES DE 2012
ACCPA
Relação Individual


Pedro Veriano
1.O Artista
2.A Invenção de Hugo Cabret
3.Intocáveis
4.A separação
5.Argo
6.O Impossível
7.Um Conto Chinês
8.As Aventuras de Pi
9.O Garoto da Bicicleta
10.Gonzaga : De Pai para Filho

Luzia Álvares
1.A Invenção de Hugo Cabret
2.Fausto
3.A Separação
4.O Artista
5.Intocáveis
6.Um Conto Chinês
7.O Garoto da Bicicleta
8.Precisamos Falar Sobre Kevin
9.Pina.
10.Drive

Marco Antonio Moreira
1) Fausto
2) Pina
3) A Separação
4)A Invenção de Hugo Cabret
5)O Garoto da Bicicleta
6)Transeunte
7)Shame
8) Febre do Rato
9) Cosmopólis
10)Precisamos Falar sobre Kevin

Arnaldo Prado Junior
1.Fausto
2.A Separação
3.Pina
4.Cosmópolis
5.A Invenção de Hugo Cabret
6.Um Método Perigoso
7.A Febre do Rato
8.Transeunte
9.Um Conto Chinês
10.O Garoto da Bicicleta

José Otávio Pinto
1-Fausto
2-Cosmopólis
3-Um Método Perigodo
4-Shame
5-Pina
6-J. Edgar
7-Transeunte
8-As Aventuras de PI
9-Febre do Rato
10-A Invenção de Hugo Cabret

Francisco Cardoso
1. O Artista
2. A Invenção de Hugo Cabret
3. A Separação
4. As Aventuras de Pi
5. Precisamos falar sobre o Kevin
6. Medianeras
7. Um Conto Chinês
8. Deus da Carnificina
9. Para Roma com Amor
10. Intocáveis          

Fernando Segtowick
1. Drive
2. Pina
3. Shame
4. A Invenção de Hugo Cabret
5. A Separação
6. Um Método Perigoso
7. Na Estrada
8. Intocáveis
9. Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge
10. Febre do Rato

Lorenna Montenegro
1. Drive
2. A Separação
3. Shame
4. Precisamos falar sobre o  Kevin
5. Na Estrada
6. Pina
7. Medianeras
8. Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios
9. Transeunte
10. Cosmopolis

Elias Neves Gonçalves
1 - Fausto
2-  A Separação
3-  Shame
4-  Pina
5 - O Garoto da Bicicleta
6- Febre do Rato
7- Na Estrada
8- Cosmopólis
9- Precisamos Falar sobre Kevin
10-Um Conto Chinês

Dedé Mesquita
1 – Pina
2 – Intocáveis
3 – A invenção de Hugo Cabret
4 –A separação
5 – O artista
6 – Drive
7 – Precisamos falar sobre Kevin
8 – Medianeras
9 – Para Roma com Amor
10 – 360

José Augusto Pachêco
1 - Fausto
2 - Cosmópolis
3 - Pina
4 - A Separação
5 - Drive
6 – Shame
7 - Febre do Rato
8 - Precisamos Falar Sobre Kevin
9 - A Perseguição
10 – Na Estrada

Raoni Arraes
1)Precisamos Falar sobre Kevin
2)Drive
3)Shame
4)O Artista
5) Deus da Carnificina
6) Gonzaga de Pai para filho
7) Para roma com amor
8)A febre do rato
9) A Invenção de Hugo Cabret
10)Batman, o cavaleiro das trevas ressurge

Maiolino Miranda
1) Fausto
2) A Invenção de Hugo Cabret
3) Pina
4) O Artista
5) A Dama de Ferro
6) Para Roma com Amor
7) Deus da Carnificina
8) Cosmopólis
9) Um Método Perigoso

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