quarta-feira, 31 de outubro de 2012

GONZAGAS : O FILME

Nos meus verdes anos eu era colecionador de discos (aqueles de cera). E a maioria era da nossa musica popular. Foi o tempo em que se lançou “Baião” de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira com interpretação de Luiz. O depois deputado Raimundo Noleto, que morava em minha casa, achava, vaidoso, que a letra mencionava a sua cidade natal, Xerente (Go). Não deu para contestar, mas o disco fez sucesso. E o que Luiz gravou a seguir também. Lembro-me de “Qui Nem Jiló” com saudade de um tempo em que sanfona, digo acordeom, era moda. No Mosqueiro, onde minha família se refugiava nos períodos de férias, as moças amigas de meus pais tocavam isso. Eram as “gonzaguinhas”, quando, na verdade, já seguiam Mário Mascarenhas, aquele que apareceu tocando sobre uma carroça no último filme de Humberto Mauro “O Canto da Saudade”(a música era “O Canto do Pagé” de Villa-Lobos).
O mundo musical de Lua (Luiz Gonzaga) surge no filme “Gonzaga: De Pai Pra Filho” escrito e dirigido por Breno Silveira. Vi contendo a emoção. Mas rendi meu senso critico no final quando surgiu, acompanhando os créditos, “O Que é O Que é” de Gonzaguinha. Ali está a síntese do drama que rolou entre pai e filho. Mas o filme cobre a infância do pai, dá conta do agreste, consegue a cor nordestina, e mesmo fazendo locações turísticas no Rio(o Pão de Açúcar em segundo plano para efeito de exportação), deixa a ideia de como foi sacrificada a vida do compositor& instrumentista & cantor. O drama real passa na rapidez da linguagem direta como um (bom) melô. A vida é assim mesmo e o filho do sanfoneiro diz bem que ela “podia ser melhor e será, mas é bonita, é bonita e é bonita”. Daí um quase fecho apoteótico com o show dos dois músicos se reconciliando no tom e no abraço. Antes, o primeiro abraço deixa o sol no fundo. Recursos velhos de linguagem que ainda fazem efeito. Ninguém deixa de fazer cinema do tempo da “cena muda” por vergonha de ser “demodée”. Gosto desta opção do Bruno Silveira. Nos filmes dele “não há vergonha de ser feliz”(ainda a canção do Gonzaguinha). E até por isso o filme não chega às mortes dos personagens, tão próximas uma da outra. Gostei do que vi. Cheguei a conter as lágrimas incitadas pelo encadeamento dos fatos. E os atores foram tão parecidos com os tipos vividos (especialmente Julio Andrade no Gonzaguinha adulto) que espantou. Espero que o publico prestigie o filme. Já chega de lotar cinema só com neopornochanchadas.(Pedro Veriano)

JAMES BOND NA PROGRAMAÇÃO


Grandes atrações estreiam esta semana em Belém: “007 Operação Skyfall” e “Gonzaga de Pai pra Filho”. Eses filmes devem estar em salas dos dois circuitos comerciais nos shoppings da cidade. Na área extra prossegue “Fausto”, de Alexandr Sokurov, no Cine Estação (de hoje a domingo), já considerado um dos melhores filmes deste ano pela critica local. E, no Olympia, segue a mostra de melodramas com títulos que marcaram época.
“007 Operação Skyfall” (EUA, 2012) é o 23º filme do personagem criado por Ian Fleming. Com exceção de Tarzan ele é o mais duradouro tipo em aventuras filmadas. Desde 1962, ou seja, exatamente há 50 anos, quando estreou “O Satânico Dr No”(Dr No), essa figura já teve as caras dos atores: Sean Connery (6 filmes), George Lazenby (1), Roger Moore (7), Timothy Dalton (2), Pierce Brosnan (4) e agora Daniel Craig(3). O personagem 007 ganhou fama quando o então presidente John Kenneedy disse,numa entrevista, que seu livro de cabeceira, na época, era “Dr No”. Logo os produtores Harry Saltzman e Albert Broccoli assumiram a tarefa de levar a trama ao cinema e escolheram o ator escocês Sean Connery para o papel principal. Iniciava-se a grande franquia que resistiu ao autor da obra literária original e hoje se adapta às novas tecnologias adentrando pelo terreno da ficção cientifica. O novo filme, um detalhe do passado de Bond (Daniel Craig), leva-o a um conflito com M (Judi Dench), sua chefa imediata, e um motivo de suspense quando entra em cena M16. Alias, o diretor Sam Mendes evitou contar a trama para a imprensa internacional. O trailler já mostra que Bond fica em perigo de morte. Mas isso não é novidade. Resta saber como esse perigo vai prender o espectador na poltrona do cinema por mais de duas horas.
“Gonzaga De Pai Pra Filho”(Brasil, 2012) é dirigido por Breno Silveira (de “Os Filhos de Francisco” e do recente “Na Beira do Caminho”) e se baseia em entrevista com Gozaguinha, o filho do Rei do Baião, falecido prematuramente em um desastre. Há menção ao relacionamento tumultuoso entre pai e filho e a infância difícil do músico. Muito se espera desta homenagem ao compositor e sanfoneiro que faria 100 anos neste 2012. As filmagens foram feitas na terra dele, Exu (Pe), e no Rio de Janeiro. O filme ganha lançamento nacional e tem Júlio Andrade como Gonzaguinha e Nivaldo Expedito de Carvalho como Gonzagão (ou Lua). No cinema Olympia encerra-se a mostra de melodramas clássicos hoje com “Madame X” e amanhã com “Amar foi Minha Ruína”.
No domingo haverá um programa especial de filmes de animação (curta metragem) homenageando o dia consagrado a esse gênero de cinema. E na 3ª feira inicia uma nova mostra, desta vez dedicada aos melhores filmes dirigidos por Alfred Hitchcock. Serão exibidos: “O Homem que Sabia Demais”, “Intriga Internacional”, “Janela Indiscreta”, “Os Pássaros”, “Um Corpo que Cai” e “Psicose”. “Amar foi minha Ruina”(Leave her to Heaven/EUA,1946) baseia-se no livro de Bem Ames Williams e focaliza uma socialite (Gene Tierney) que se casa com um homem(Cornel Wilde) que conheceu numa viagem de trem desprezando o interesse que por ela tinha um politico (Vicent Price) em ascensão. Desfazer o casamento sem perder status, além de alimentar ciúmes da irmã (Jeanne Crain), faz com que ela tome atitudes dramáticas. O desempenho de Tierney foi muito elogiado e ela chegou a ter uma indicação(a única de sua carreira)ao Oscar. Direção de John M. Stahl. “Madame X” (1966), filme de David Lowe Rich deu motivo a uma das primeiras telenovelas brasileiras (“A Ré Misteriosa”, na TV Tupi). No filme, Lana Turner protagoniza a mulher fracassada no casamento que se torna criminosa e é defendida em júri pelo filho que não sabe ser ela a sua mãe. As sessões do Olympia são sempre às 18h30 e o ingresso é gratuito. (Luzia Álvares)

"O LIVRO DE CABECEIRA" NO CINE SARAIVA DIA 01/11

“Livro de Cabeceira”, filme do britânico Peter Greenaway, será exibido amanhã (01) Peter Greenaway nunca foi um cineasta dado a convencionalismos. Quando aborda a história de uma menina japonesa que cultiva o ritual da escrita corporal, ele o faz de uma maneira onírica, passional e filosófica. “O Livro de Cabeceira” transforma essa particularidade singular numa força catalisadora entre dois mundos, o do ocidente e do oriente. O filme poderá ser conferido nesta quinta-feira, 01 de novembro, no Cine Saraiva – programação da Associação de Críticos de Cinema do Pará. Desde pequena, Nagiko (Vivian Wu) é brindada pelo pai escritor (Ken Ogata) com um presente: saudações são escritas belamente em seu rosto e nuca. Ela passa a entender aquilo como uma tradição, como se a pele fosse o papel através do qual o pai dava vazão aos sentimentos pela filha. Mas a trama começa a ganhar um significado diferenciado quando um livro erótico (homônimo) datado do século 10, é dado de presente a Nagiko por sua tia (Hideko Yoshida). Estamos no Japão, em plena década de 1970 do século 20, quando o sexo é livre, mas as mentes são dominadas pelo politicamente correto. Nesse contexto, a moça se utiliza dos aprendizados do livro para usar o corpo de seus amantes e fazer das suas peles, o seu livro de cabeceira. Imagem e letra, prazer e dor vão se alternando num arcabouço estético quando a história de Nagiko é transformada em imagens pelo esteta Greenaway. Ele utiliza o enredo para explorar a relação entre o homem e a arte, primordialmente a anatomia humana. Com um estilo visual inovador e estonteante, observamos como, para ela, escrever nos corpos é tão importante como respirar.
O movimento da câmera acompanha o deslizar das tintas no corpo, que por sua vez penetram na pele e perpassam o patamar de fetiche. Pois se é o corpo, as mãos, que escrevem, nada mais natural que, a partir delas, as letras e símbolos voltem para a derme. Não é possível acompanhar o que se passa em cada ‘frame’ que Greenaway produz assim como a leitura de uma palavra sobre a outra dentro do suporte literário, tem que estar encadeada num conceitou ou ideia. E aí os ideogramas orientais ganham ainda outra significância – Eisenstein em seu “A forma do filme”traçou um paralelo entre a imagem de cinema e um ideograma. Quando surge Jerome, o escritor e tradutor britânico interpretado por um jovem Ewan McGregor, Nagiko parece ter alcançado no amor, uma resposta à existência, dentro de um caráter que beira o inexplicável sem abandonar o que é intrínseco a toda uma compreensão racional da vida. Ela não consegue escrever no corpo dele com precisão e entrega o seu corpo a ele para que seja preenchido por palavras numa língua que não é a sua. Apesar de alguns momentos mórbidos e estranhos, é o filme mais romântico de Greenaway e talvez um dos mais acessíveis. (Lorenna Montenegro)

SERVIÇO:
Sessão ACCPA/Saraiva apresenta “O Livro de Cabeceira”, de Peter Greenaway. Nesta quinta, 01, às 19h, no espaço Benedito Nunes da Livraria Saraiva ((Boulevard Shopping, 2º piso). Entrada Franca. Após o filme, debate entre o público e membros da Associação de Críticos de Cinema do Pará.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

ÚLTIMO FILME DE ROMAN POLANSKI NO CINE ESTAÇÃO



O cineasta Roman Polanski está de volta ao circuito cinematográfico da cidade com “Deus da Carnificina” (Carnage), com Kate Winslet, Christoph Waltz e Jodie Foster, que tem estreia confirmada no Cine Estação das Docas a partir do desta quinta-feira, 1º de novembro. O filme é uma adaptação da peça homônima de Yasmina Reza, ganhadora do Tony Awards, e acompanha a história de dois casais que se encontram depois de seus filhos se envolverem em uma briga na escola. O encontro é um desastre, mas serve para dar início a uma análise conjugal dos casais e um estudo cínico sobre conceitos como educação e civilidade.
 A princípio, o encontro tem a intenção de selar a paz entre os garotos e colocar um ponto final na história. A cordialidade lentamente transforma-se em alfinetadas que culminam em hilárias situações e ofensas grotescas. Comédia de humor negro, “Deus da Carnificina” presta tributo as suas origens teatrais, sendo filmado em um só cenário para uma espécie de encontro de máscaras que vai se destruindo pouco a pouco a partir de uma bolsa jogada ao alto, um celular sempre interrompendo as conversas, alguns goles de uísque e um hamster abandonado. Impedido judicialmente de entrar nos EUA,
Roman Polanski é considerado um dos melhores diretores do mundo em atividade, responsável pela famosa trilogia do apartamento ("Repulsa ao Sexo", "O Bebê de Rosemary" e "O Inquilino"), o thriller noir “Chinatown”, a coreografia macabra de “A Dança dos Vampiros”, e um passeio por gêneros distintos que renderam a realização de “Tess”, a pegada hitchcockiana de “Busca Frenética” e “O Escritor Fantasma”, o humor sinistro de “O Último Portal”, dramas contundentes como “O Pianista” e “A Morte e a Donzela”, entre outros títulos.

Serviço Deus da Carnificina De Roman Polanski. Com Kate Winslet e Jodie Foster. 80 min. 18 anos. Cor 1º (quinta): às 18h e 20h30 2 (sexta): às 18h e 20h30 3 (sábado): às 18h e 20h30 4 (domingo): às 10h, 18h e 20h30 16 (sexta): às 18h e 20h30 17 (sábado) às 18h e 20h30

domingo, 28 de outubro de 2012

PROGRAMAÇÃO ACCPA - NOVEMBRO/2012

PROGRAMAÇÃO ACCPA - NOVEMBRO/2012 


CC ALEXANDRINO MOREIRA - 19 h
DIA 05 - A IGUALDADE É BRANCA (k. Kielowski)
DIA 12 - A FRATERNIDADE É VERMELHA (k. Kieslowski)
* filmes da Trilogia das Cores

CC CASA DA LINGUAGEM - 18 h
DIA 06 - O BOULEVARD DO CRIME (Marcel Carné)(1ª PARTE)
DIA 13 - O BOULEVARD DO CRIME (Marcel Carné)(2ª PARTE)

CINE SARAIVA
DIA 01 - O LIVRO DE CABECEIRA (Peter Greenway)- 19 h
DIA 29 - 2001 UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO (Stanley Kubrick) (Parceria com a Academia Paraense de Ciências) - 17 h

CINE SESC BOULEVARD - 19 h
Dia 14 - VINCERE (Marco Bellocchio)

CINE LÍBERO LUXARDO - SESSÃO CULT (EXIBIÇÃO NA SALA DA FONOTECA)- 16 h
DIA 24 - ANTES DO AMANHECER (Richard Linklater)
* em dezembro será exibido a sequência ANTES DO POR-DO-SOL

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

HOLYWOOD CONTRA HITLER

A Versatil Home Video lançou um pacote de DVDs com o nome ‘Hollywood Contra Hitler”. São 6 filmes rodados pouco antes e durante a 2ª.Guerra Mundial. São eles: “Confissões de um Espião Nazista”(1939) de Antaloe Litvak, “Uma Aventura em Paris”(1942) de Jules Dassin, “Tempestade D Alma”(1940) de Frank Bozarge, “Horas de Tormenta”(1943) de Herman Shumin, “A Sétima Cruz”(1944) de Fred Zinnemann e “Os Filhos de Hitler”(1943) de Edward Dmityrk. Do grupo eu só não gostei do que eu não conhecia: “Os Filhos de Hitler”. Mas todos merecem aplausos. E emocionam hoje como ontem. “Tempestade D’Alma” e “A Sétima Cruz” são cruciais na demonstração do terror de uma ditadura. O primeiro focaliza a família de um pacato professor (Frank Morgan) que não vê, a principio, ameaça na eleição de Hitler para Primeiro Ministro. O quadro político vai se firmando no fanatismo gerado por uma xenofobia só explicada na ânsia dos alemães em superar a crise econômica pós-Primeira Guerra e na lenda de Sigfried onde se prega a supremacia racial (como se os jovens alemães pensasse, que eram como dizia Hitler, um povo superior por determinação eugênica). O professor é preso e morre. A filha é seguida pela história na sua fuga do país. Mas o filme não pousa no romantismo de Hollywood. É cruel. Como cruel é o drama do fugitivo de um campo de concentração que sempre espera favor dos amigos e encontra uma aventura amarga – mesmo antes do furor nazista. Filmes bem realizados, com ótimos atores e o cuidado de produção que cercava a velha Hollywood onde ao invés de locações se lavava o mundo para dentro dos sets. De parabéns a distribuidora pelo lançamento.(Pedro Veriano)

Arquivo do blog