"A Fita Branca"
A exploração cinematográfica da violência física ou psicológica, dependendo das escolhas estéticas utilizadas por um diretor de cinema, pode lançar mão de soluções cinemáticas certeiras, que pela sugestão visual que dilata a noção de tempo e espaço, causam maior impacto do que a vulgaridade fácil e explícita. Por outro lado, o diretor, no sentido necessariamente industrial, pode optar pela mera repetição de clichês que fazem a farra estéril do segmento de um cinema descartável, bastante cultuado nos dias atuais.
A Fita Branca, de Michael Haneke, é a prova de que o cinema de provocação também pode ser cinema de reinvenção dos procedimentos narrativos, do tema explorado pelo roteiro, de recriação no uso da cor, dos diálogos sugeridos, da edição inequívoca do som, do rigor no uso da câmera que remete ao cinema clássico, na direção dramática das crianças e adolescentes em cena.
O que é sugestionado, o que não é dito, nem mostrado, especificamente neste filme, provoca, em poderosas imagens em preto & branco, o mistério, o desafio de um enigma sinistro; a tentativa de identificar o ovo da serpente do sentimento nazista que se apodera nesta narrativa-homenagem de Haneke ao mestre Ingmar Bergman.
O mal estar contemporâneo e a banalização da violência, explorados pelo diretor austríaco em A Professora de Piano, Funny Games e Caché, revelam um cinema de beleza severa, sob as luzes da psicologia, do teatro, da filosofia e das escolhas dolorosas de encenação e edição das imagens em movimento, que fazem o cinema a mais importante de todas as artes. (José Augusto Pacheco)
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