domingo, 18 de agosto de 2013

RECONSTRUINDO ELENA

Assisti ao filme “ELENA” (2012), da diretora Petra Costa completamente “no escuro”, desarmado e sem quaisquer expectativas. Não li nem a sinopse antes. As únicas referências que eu tinha era o instigante cartaz com a bela imagem da mulher de vestido florido sob as águas esverdeadas, os comentários dos internautas pelas redes sociais de que havia uma forte carga poética e ganhara prêmios no Festival de Brasília. ELENA é muito mais que um documentário biográfico. É uma declaração de amor e talvez uma demonstração pessoal de como lidar com a dor da saudade. Sim, saudade, pois Petra Costa, muito habilmente, não nos passa apenas a ideia de uma Elena que “foi embora” e nunca mais retorna. Pelo contrário, o olhar da irmã caçula Petra em relação a sua irmã mais velha vai amadurecendo e traz de volta a figura desta sua quase heroica irmã Elena que tinha o sonho de tornar-se atriz. Sonho perseguido e alcançado como nos é mostrado através de fragmentos de cartas-áudio gravadas em K-7, vídeos caseiros e registros de apresentações do “Grupo Teatral Boi Voador” do qual Elena fez parte. Nesse ritmo, Petra constrói o grande mosaico de uma história de vida. Sua tarefa parece desconfortável e árdua, porém compensadora no plano das emoções: Reconstruir Elena para que sua memória não se perca entre as tragédias da vida pessoal e as encenadas pela jovem atriz nos palcos do teatro. Essa coragem de expor a fundo suas próprias inquietações implica em reacender uma dor, tocar nas ferida da alma, confrontar-se com os porquês de uma ausência imposta e sem explicações convincentes.
Toda essa pluralidade de sentimentos é narrada e traduzida com grande sensibilidade e poesia que emocionam e ao mesmo tempo nos arremessam para a atmosfera da alegria-triste que é a saudade de ter convivido com alguém muito amado e depois ter que seguir a vida às custas da lembrança – essa palavra que a gente aprendeu na escola a classificar como substantivo abstrato mas que dói de tão concreto e pesado que é. A relação entre as irmãs foi tão intensa e simbiótica – a narradora Petra faz questão de conjugar o verbo no presente como se Elena ainda estivesse neste tempo: Elena é, Elena faz, Elena está... – que suas personas se confundem em determinado momento da narrativa. Intencional ou não, o recurso da linguagem poética aliada a excelente edição causa-nos essa sensação confortante e esteticamente bela. Revisistar os lugares que Elena viveu e percorrer os mesmos caminhos que ela andou é outra atitude de coragem de Petra e sua mãe Li An. Tal ação ultrapassa o mero tom documental.É como percorrer uma via crucis dessa paixão de/por Elena. E o ponto alto desses lugares ora reais, ora virtuais é a representação onírica das mulheres vestidas com roupas floridas submersas no riacho e levadas ao sabor da corrente.
Interpretações à parte, essa imagem que remete à Ofélia afogada e outras possíveis leituras é a arte como um lenitivo para a dor da saudade. Assim, Petra coloca sua amada Elena no status de arte. Apaixonantemente belo e ousadamente bem feito, Petra Costa mostra que o documentário não é um gênero chato ou preso à formulas como muitos ingenuamente acham. Elena é um filme para ser visto e revisto. (Elias Neves)

Um comentário:

reluzir disse...

Assisti ao filme há um tempo, em Sao Paulo, e lembro q, imediatamente apos, fiz contato c a Salma, q antes me passara a forte intenção d querer assisti-lo tbem. Na ocasião, pois, disse-lhe q o filme era o real-poético e por tal, comovente, e q ao assisti-lo ela, a Salma, iria amar muito e cada vez mais a sua(dela) irmã e toda família...
Conheço o crítico o bastante para saber da sua sensibilidade e da ligaçao d amor q tem c sua família, dai o justificado impacto "do belo", q a obra fílmica d Petra Costa deve lhe ter causado.
O filme é sobretudo prova d q o verdadeiramente puro amor não morre nunca, ele se reconstroi e ensina a amar.
Elias, parabens pela linda leitura de Petra-Elena!

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