domingo, 15 de fevereiro de 2015

A TEORIA DE TUDO



A biografia é um tema que obedece ao clamor do cinema transformando-se num gênero. Em “Olhos Grandes” Tim Burton penetra na odisseia da pintora Margaret Keane e aponta para a maneira de ela submeter-se à imposição do marido isolando-se para criar seus quadros, mas deixando que ele vivesse a popularidade da arte dela. “O Jogo da Imitação” é baseado na vida de Alan Mathison Turing, matemático, lógico, criptoanalista e cientista britânico, considerado um dos precursores da invenção dos computadores, filme realizado pelo diretor noruegues Morten Tyldun. “Invencível” é a biografia de Louis Zamperini (1917-2014), atleta olímpico, campeão de corrida livre com direção de Angelina Jolie. Embora cada um desses exemplares tenha recebido um tratamento linear em sua narrativa foram tratados, por certos críticos, de forma diferenciada, inclusive alguns destes trabahos sendo execrados por receberem esse tipo de tratamento. Ao lado desses filmes citados, alguns ainda em exibição entre nós, está “A Teoria de Tudo” (Theory of Everething, UK, EUA, 2014), outro exemplar cinebiográfico, focalizando o cosmólogo (ele criou esse nome para a sua profissão de estudante do cosmo) e astrofísico Stephen Hawking (Eddie Redmayne ) sendo acompanhado desde sua juventude em Cambridge. Suas pesquisas científicas, que fazem parte do livro “Uma Breve História do Tempo”, editado no Brasil, não são, contudo, a base do roteiro de Anthony McCarten. Privilegia-se o seu relacionamento com Jane Wide (Felicity Jones), jovem que ele conhece numa festa de amigos. O romance enaltece a figura de Jane ao aceita-lo como namorado e, depois, marido que aos poucos entra num processo de paralisia quando declarado portador de Esclerose Lateral Amiotrofica (ELA), simplificando a separação que viria quando Stephen já não podia mover a musculatura. Vencedor do Oscar pelo documentário “O Equilibrista” (2008), o diretor James Marsh ainda se ressentia de criar um filme de ficção ambicioso, desconhecendo-se por aqui seu papel em “The King” (2006) e “Agente C – Dupla Identidade” (2012). Mostra-se seguro na dinâmica narrativa da odisséia de Hawking e certamente deve muito da credibilidade da reconstuição da historia ao ator principal, Eddie Redmayne, que apresenta rara semelhança fisica com o biografado. “A Teoria de Tudo” sacrifica um pouco o trabalho cientifico de Stephen Hawking pela proposta romântica que certamente dá ao filme um tom mais emotivo. Mesmo assim não assinala a separaçao de Jane Wide como uma “ingratidão” ou uma carencia afetiva. Tudo é visto de uma forma linear como se os fatos fizessem parte de uma historia pousada entre a realidade e a lenda. Afinal, Hawking é considerado hoje um dos nomes proeminentes da fisica & astronomia. Suas teorias sobre a origem do universo e do tempo, aludindo à fisica quântica, estão na ordem do dia mesmo quando contestadas por outros pesquisadores. O titulo do livro da propria Jane (Wide) Hawking diz bem da abrangencia do estudo do ex-marido. Desconhecendo esse livro fica-se com o que escreveu o roteirista do filme. E o diretor não demonstra vontade de ir dentro do trabalho do biografado ou de mergulhar mais fundo em sua personalidade. O interessante de “A Teoria de Tudo” é caminhar pela fórmula de um gênero muito abordado pela indústria cinematografica ao longo dos anos sem se conformar com os clichés e sem exagerar no acabamento ficcional para tornar o tema mais acessivel ao grande público. Para valorizar o trabalho de James Marsh (e ele não está entre os candidatos a Oscar) basta uma ligeira comparação com biografias consideradas clássicas como a de Marie Curie, de Alexander Graham Bell, de Louis Pasteur ou de Thomas Edison. Há muito mais consistência e uma preocupação em mostrar um Hawking como esteve e está garantindo o realismo de um drama pessoal de grande dimensão. O filme concorre aos Oscar de melhor filme, ator, atriz (Felicity Jones), roteiro de música (de Johan Johannsson). Pode não ganhar em nenhuma das categorias a começar por não ser o favorito das principais. Contudo, a aposta no ator, certamente o ponto alto do filme, tem uma forte concorrencia em Michael Keaton (Birdman), Steve Carrel (Foxcatcher) e Benedict Cumberbach (O Jogo da Imitação).(Luzia Álvares)

Um comentário:

Osvaldo Aires Bade disse...

Quanto mais se aproxima da realidade muito melhor se torna a obra o resto é pura vaidade

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