 "Tio Boonmee que pode recordar suas Vidas Passadas” de Apichatpong Weerasethakul.
 "Tio Boonmee que pode recordar suas Vidas Passadas” de Apichatpong Weerasethakul.É cada vez mais raro ver no cinema de hoje um filme que procura encontrar na narrativa cinematográfica uma magia e um significado mais abrangente e complexo. Às vezes, tenho impressão que para a maioria dos cineastas, o cinema já esgotou todo o seu potencial e o melhor a fazer e se repetir, fazendo mais do mesmo. Mas felizmente, bons filmes ainda estão sendo feitos, os cineastas ainda podem arriscar e o público pode/deve alcançar as novas idéias/intenções/objetivos dos cineastas que arriscam. Por isso, “Tio Boonmee que pode recordar suas vidas Passadas” é tão importante pois resgata esta esperança de que o cinema como arte ainda está apenas começando. Ao mostrar a história do Tio Boonmee (Thanapat Saisaymar), que resolveu passar os últimos dias de sua vida ao lado de seus amigos e parentes recolhido em uma casa perto da floresta,o diretor escolhe o caminho do surreal, do delírio, valorizando a vida e a natureza e ao mesmo tempo questionando seus paradigmas. Tio Boonmee não apenas está morrendo nesta vida que conhecemos, mas consegue ver suas vidas passadas, entrando em contato com seu filho e esposa, já falecidos, que vem lhe ajudar a fazer a passagem deste mundo real para outro mundo, desconhecido.
Neste contato com sua família, a relação com sua história de vidas passadas, a morte à sua frente, a natureza mostrando o seu equilibro, Tio Boonmee delira e pacientemente aceita este caminho de vida/morte/real/imaginário que agora vive. O diretor reforça esta passagem do personagem com longas cenas, mostrando a paz da natureza versus a ansiedade de ser humano como Tio Boonmie. E esta naturalidade que o personagem principal tem de lidar com o que está lhe acontecendo, nos é mostrada sem mêdos. Tudo é natural. Ver o filho de Boonmee aparecendo em outra forma que não humana, é natural. Ver a história de uma princesa que dialoga com um peixe, é natural. Por isso, o olhar do espectador ao ver este filme, não pode ser o mesmo olhar de sempre.
Em “Tio Boonmee” somos forçados a ver o filme, o cinema, com outros olhos, outra interpretação, quebrando nosso paradigma pessoal em relação à sétima arte. Ao procurar entender essa viagem do Tio Boonmie, mudamos e de alguma forma, entendemos mais uma vez a força que o cinema tem de nos impressionar, surpreender. “Tio Boonmie” é isso e muito mais. É um filme sobre a vida e a morte, que valoriza a nossa passagem neste mundo e revela novas visões e siginificados do que é a vida e o que e a morte. É um filme que nos provoca com estas questões e nos pertuba com suas intenções. Os bons filmes são assim. Resta-nos alcançá-los. Basta querer. (Marco Antonio Moreira)
 










