quinta-feira, 17 de novembro de 2011

"A ÁRVORE DA VIDA" EM DEBATE NO CINE LÍBERO LUXARDO DIA 19/11




Existência Repleta de Significados
“Arvore da Vida”, um dos filmes mais vistos e comentados do ano, será exibido e debatido neste sabádo, dia 19/11, no Cine Líbero Luxardo com a participação de críticos da ACCPA.O debate acontecerá após o término da sessão deste sabádo.
Um homem de setenta anos que em quarenta de carreira fez seis filmes, pode não ser um exemplo de operário padrão do cinema, mas é, pela natureza e qualidade das obras que se propôs realizar, um dos grandes cineastas americanos da história. E com “Arvore da Vida” o texano Terrence Malick escreve mais um capítulo – quem sabe o último – na sua filmografia. Desta feita um capítulo mais ambicioso, perturbador e espiritual do que tudo que havia feito antes.
Ter arrebatado uma Palma de Ouro em Cannes dá a esse filme o status de obra-prima? Não necessariamente. Cannes pode ser um festival badalado, mas dificilmente premia os melhores filmes em competição de uns anos para cá. A cancha de ‘termômetro’ para o que de mais relevante e interessante vem sendo produzido na cinematografia mundial repousa em Veneza e Berlim.
Porém, “Arvore da Vida” merece os louros dourados e todas as críticas entusiasmadas. É um filme maduro, contundente, ainda que em alguns momentos pareça um ‘loop infinito e filosófico’ sobre a vida, o amor, a família e o sentido de existir, ele faz sentido e mexe com alguma coisa lá dentro, no âmago do nosso ser. Por mais que não se saiba explicar, não tem como negar.

Vã Filosofia
“Existem dois caminhos na vida: o caminho da natureza e o caminho da graça. Você precisa decidir qual dos dois seguir”. Assim é o início, com a narração da mãe (Jessica Chastain) que nos leva até uma típica família classe média do Texas em meados dos anos 50, que dá frutos, floresce e cresce como a árvore localizada no quintal. O fio condutor da trama é o filho mais velho, Jack (Hunter McCracken) e através dele vamos descobrindo os pequenos dramas da infancia e as mazelas da vida adulta, tendo como ponto fundamental a morte de um ente querido.
Nesse retrato particular, reside uma das maiores virtudes do filme. Brad Pitt e Jessica Chastain entregam atuações magistrais e os três irmãos dão a exata medida entre melancolia, alegria, inocência e o conflito entre o bem e o mal que repousa neles. É angustiante ver Jack e os irmãos quebrando a vidraça do vizinho sabendo que podem sofrer as conseqüências nas mãos do pai. Assim como a cena do almoço onde o patriarca tem um ataque de fúria e a mãe parece uma frágil criança.
Ali tudo ganha sentido e permanência, com a vida da família sendo desenhada e comungando com as nossas percepções de o que é a vida e o que estamos fazendo nesse mundo. Jack adulto procura as respostas a essas perguntas e uma forma de ficar em paz e fazer as pazes com suas origens, sua família.

Graça ou perdição?
Jack menino descobre a vida entre dois pilares, o pai e a mãe, o amor e a rigidez sacralizados. “É preciso muita determinação para se conseguir o que quer nessa vida”, tenta ensinar o pai (Brad Pitt). Para a mãe, “a menos que você ame... sua vida passará rapidamente”.
A nostalgia e o remorso que inundam os planos de “Árvore da Vida” quando Jack lembra de sua família, de seu irmão morto e aparecer na praia em busca de respostas para o quebra cabeças emocional que o aflinge, é algo que Malick já havia explorado em “Além da Linha Vermelha”. O toque suave das mãos, a água molhando os corpos, o bater de asas da borboleta, o tremular das folhas da árvore no quintal da família, são fragmentos de memórias e sensações que muitos de nós já compartilhamos.
Malick buscou uma reflexão filosófica e teológica que, apesar da carcaça ‘épica’, comunica com muita simplicidade. Intenção de um cineasta livre, cujas ideias, sentimentos e mensagens encontram uma porta aberta na consciência de cada um que se deixa permitir envolver por esse “Árvore da Vida”. Esse objetivo também é alcançado não só pelas atuações e enredo, mas também por elementos como a trilha sonora de Alexandre Desplat, que havia sido indicado ao Oscar por “O Discurso do Rei”. Aqui ele faz o seu melhor trabalho, se igualando as melodias climáticas e grandes composições que arrebatam o público em momentos dramáticos, como o fez em “O Despertar da Paixão” – filme pelo qual ganhou o Globo de Ouro. A música de Desplat, que ainda ganha o reforço de composições de Bach, Mahler e Brahms, entra em sincronia com a rotação do nosso planeta, a hora de trazer uma vida ao mundo, fazendo o casamento entre som e imagem absolutamente fascinante.
Outro que colabora muito para o deslumbramento da platéia com o que se apresenta na tela é o fotografo Emmanuel Lubezki (que trabalhou com Malick em “O Novo Mundo”), que desenha imagens acrescidas em alguns momentos dos efeitos especiais de produzidos artesanalmente por Donald Trumbull e Dan Glass, nas sequencias que tratam do universo. Esse material produzido com excelência foi levado para a ilha onde foi montado por seis editores e Malick, que deram a ordenação impressionante da história de Jack, um adulto perdido num mundo moderno por ter sua alma pressa no passado, em suas origens. O recado do filme, poderia se resumir simplesmente a “veja e sinta”, nada menos e muito mais do que isso. (Lorenna Montenegro)

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