segunda-feira, 24 de setembro de 2012

45ª EDIÇÃO DO FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO



" Diário do Festival de Brasília 2012"
Acompanhando a 45ª Edição do Festival de Brasilia do Cinema Brasileiro, publico a primeira parte das matérias produzidas e editadas sobre o festival e publicadas no portal ORM:
1) Com uma homenagem ao crítico de cinema Paulo Emílio Salles e a a apresentação da orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claúdio Santoro, começou dia 17/09 a 45ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. A sala do Teatro Nacional estava completamente lotadas com várias pessoas ligadas ao cinema, teatro e televisão. Críticos de cinema de vários estados marcaram presença, a grande maioria filiada a ABRACCINE (Associação Brasileira dos Críticos de Cinema) que vieram para acompanhar as mostras competitivas de longa e curta-metragem e também para participar dos seminários que vão debater sobre a critica de cinema feita no Brasil ontem e hoje, analisando também as influências do crítico Paulo Emilio Salles, que faleceu em 1977 e que foi um dos fundadores do festival de Brasília.Depois da apresentação da orquestra sinfônica, foi exibido o filme de abertura do festival (que não faz parte da mostra competitiva) chamado "A Última Estação" de Marco Cury, que procura fazer um resgate histórico da imigração libanesa no Brasil a partir de um personagem que é testemunha de várias mudanças no país durante várias décadas e que inicia uma busca pelo seu passado a partir do momento que fica doente.
2) Na terça,feira, dia 18, o destaque da noite foi para o longa metragem pernambucano "Eles Voltam" de Marcelo Lordelo. É conhecido de todos do meio cinematográfico que o cinema pernambucano pulsa criatividade e inteligência nos últimos anos e aqui não foi diferente. O filme começa com um carro parando e deixando dois irmãos na estrada, sem maiores explicações.A partir desse acontecimento, os dois jovens ficam esperando a volta dos pais que não acontece. Os dois irmãos acabam se separando e a irmã acaba percorrendo a estrada sozinha procurando alguém que ajude. Essa trajetória de busca e sofrimento, é narrada de forma cadenciada, sem pressa ou malabarismos formais desnecessários. O diretor Marcelo Pedroso evidencia nos poucos diálogos, a expressão dos atores com enquadramentos próximo, quase "closes", sem utilização de música, criando uma atmosfera de solidão e dúvida pulsantes. A trajetória dessa jovem, que vai testemunhando diversas situações de solidariedade, dúvidas, mudanças e sofrimentos, vai lentamente mudando sua personalidade até um final que surpreende. "Eles Voltam" é um filme sobre esta busca de identidade e o que fazer quando se começa a encontrar o seu caminho, especialmente dentro de um núcleo familiar desgastado e falido, onde a comunicação e o sentimento mútuo desapareceram há muito tempo mas que pode ser resgatado, reerguido, transformado. Belo filme que desde já é um dos favoritos do festival.
3) No segundo dia da mostra competitiva, os destaques foram o documentário "Kátia" de Karla Holanda e "A Memória que me Contam" de Lúcia Murat. ."A Memória que me Contam" é um olhar amargo sobre a geração que lutou contra a ditadura militar e que hoje luta para entender e justificar tudo o que aconteceu neste período. A partir de morte eminente de um dos personagens, um grupo de amigos se reúne para tentar ajudá-la e acabam mostrando conflitos internos ainda muito presentes sobre tudo o que aconteceu na época quando lutaram contra a ditadura  e sobre o real resultado destas ações. Inicialmente posso dizer que é um filme que procura dialogar com esta geração dos anos 60/70,ao mesmo tempo que tenta explicar para outras gerações quais foram os motivos desta luta. Procurando às vezes ser didática demais nos diálogos, Murat claramente mostra boas intenções no filme mas peca na construção da história que muitas vezes parece ser presa demais a uma época que passou e marcou a sua geração. Fazendo uma ligação deste período com os tempos modernos, de uma forma menos emocional, talvez ela tivesse dado um filme uma dimensão mais poética e menos tendenciosa e até mesmo menos maniqueísta sobre este período histórico do Brasil. De qualquer forma, Lúcia Murat volta ao tema depois de "Que Bom te Ver Viva" e "Uma Longa Viagem" e dá sua visão sobre um período importante da história do Brasil que ainda aguarda a realização de um grande filme.

*Marco Antonio Moreira, direto da 45ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

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