domingo, 9 de setembro de 2012

"INTOCÁVEIS"


“Intocáveis” mostra amizade que se inicia no choque de dois mundos
A trama (baseada em fatos reais) tinha tudo para dar errado. O tema do filme anunciava um sofrimento só. Mas o filme “Intocáveis”, direção de Eric Toledano e Olivier Nakache, em cartaz na sala 5 do Cinépolis Boulevard, é daquelas histórias memoráveis e que deixam na alma do espectador um sorriso de satisfação. O filme esteve presente na mostra do Festival Varilux de Cinema Francês, em Belém, no mês passado, e entrou no circuito normal, agora, graças ao grande sucesso que fez na França, seu país de origem. A trama é uma comédia que fala sobre um assunto que poderia cair na pieguice, mas da qual escapa lindamente. Philippe (François Cluzet) é um aristocrata rico que, após sofrer um grave acidente com um parapente, fica tetraplégico e preso a uma cadeira de rodas. Sem poder se mover, Philippe tem um exército de pessoas para cuidar dele, mas há a necessidade de um “assistente pessoal” que fique com ele as 24 horas do dia. É quando entra na vida dele Driss (Omar Sy), um jovem negro, imigrante do Senegal, que tem lá seus problemas, sendo um deles o de ter acabado de sair da prisão, acusado de roubo a uma joalheria. Quando Driss chega à casa de Philippe, ele deseja apenas uma assinatura de comparecimento à entrevista de emprego para assim continuar receber o seguro desemprego. A conversa de Driss e Philippe é quase trágica, tanto é a inabilidade do rapaz em lidar com aquela situação. Talvez por isso, Philippe pede para Driss voltar no dia seguinte e decide dar-lhe o emprego. Driss, que mora no subúrbio de Paris como seus muitos irmãos e a mãe, quase não acredita naquela oportunidade de trabalho e as condições favoráveis que terá (ele fica alucinado quando vê que terá um quarto e um banheiro só para ele). Mas o desafio que Philippe lhe faz, de que ele não ficará duas semanas no emprego, determina a aceitação do emprego por Driss. A partir daí, os dois homens passam a conviver e Philippe terá que aturar os maus modos de Driss e a forma como ele trata o patrão, muitas das vezes caindo diretamente no tal politicamente incorreto, como quando Driss insiste em passar o celular para que Philippe o pegue e atenda. Aos poucos, Driss aceita as ordens e recomendações da governanta da casa, Yvonne (Anne Le Ny), mas não deixa de dar cantadas a toda hora na secretária de Philippe, Magalie (Audrey Fleurot), e vai ficando no trabalho, mas sempre contestando todas as suas obrigações de enfermeiro. Mas os choques, cultural e pessoal, entre os mundos em que vivem os dois homens é inevitável. Philippe é um intelectual, amante das artes, em especial a música e a pintura. Já Driss não consegue entender como um quadro com respingos de tinta (segundo ele) possa valer tantos euros, e ainda comenta que pode fazer um igual ou até melhor. Driss começa a se envolver com a rotina da casa e passa até a questionar, por exemplo, as atitudes de Elisa, a filha adolescente de Philippe. Tal proximidade faz com que Philippe conte como chegou a tetraplegia e da saudade imensa que sente da esposa que morreu. Já Driss não fala de sua vida, até que conta sobre a chegada dele a Paris, vindo do Senegal, depois de ter sido adotado pela tia (a quem considera como mãe) com quem morava, junto com os filhos dela, mas sem uma figura paterna por perto. Talvez resida aqui a “química” entre os dois homens: Driss sente a falta da figura paterna e a compensa com o patrão, e Philippe gosta (e muito) da forma como Driss o trata, como ele mesmo diz “sem a menor misericórdia”. “Intocáveis” é uma comédia mesmo, daquelas que provocam sonoras gargalhadas no cinema. É uma história que mostra como dois homens podem se ajudar, de uma forma eficiente e humana, mesmo quando aquela situação teria tudo para dar errado. Um filme para ver e rever. (Dedé Mesquita)

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