Richard Matheson fará 84 anos no dia 20 de fevereiro. Roger Corman, o prolífico cineasta que se vê como “o pai da B Picture”, é um dos entusiastas do que ele escreveu (ou escreve pois ainda não está caduco). Quando se fala em cinema fantástico é imprescindível tratar das idéias de Matheson expostas em filmes como “Encurralado”, “Em Algum Lugar do Passado”, “Eu Sou a Lenda” (refilmagem de “The Omega Man”), e, para resumir, episódios da série de TV “Além da Imaginação” e também de “Histórias Extraordinárias”(Amazing Stories). De tudo isso se tira com prioridade o descartiano “O Incrível Homem que Encolheu”, história de um sujeito que pega um banho de radioatividade e vai diminuindo progressivamente e sem limite. O texto de Matheson deu origem ao melhor filme do diretor Jack Arnold, “O Incrível Homem que Encolheu”(The Incridible Shrinking Man/1957) e, por tabela, uma das mais interessantes “sci-fi” de qualquer época.
Eu digo sempre que o filme é descartiano pois usa o pensamento de Descartes: “Penso, logo existo”. Ganhando o tamanho de uma bactéria, prometendo chegar ao vírus, o herói da história gaba-se de que pensa. No fim do filme, um dos melhores que vi até hoje, ele passa pela grade do porão de sua casa e diz que vê a estrelas mais próximas de si. Explicita a relação do infinitamente grande com o infinitamente pequeno. Na promessa de entrar no mundo do átomo, quem sabe de chegar a um outro universo, o homem que encolheu sente-se o representante de sua espécie numa outra dimensão. Mais do que a vã filosofia costuma dissertar.
Quando eu exibi o filme no meu cineminha, o Bandeirante, lá por volta de 1970, um grupo de amigos cinéfilos, gente que só aparecia na pequena sala, ou garagem, para ver clássicos carimbados, foi ver duvidando. No encerramento da sessão todos exibiram surpresa. Ali estava uma obra-prima. Na simplicidade narrativa, fez-se uma aventura pela descoberta da consciência. Se o cérebro funciona, o ser inteligente vive. E se vive, pensa. E se pensa, arquiteta o seu modo de viver no espaço que lhe cabe –ou lhe dão.
Há momentos belíssimos. Um deles é quando o jovem que está encolhendo passa por uma fase em que o processo de diminuição física se detém e ele ganha uma anã de circo como a sua melhor amiga. Mas chega o dia em que, conversando com ela, percebe que está menor em estatura. Sai gritando que “o processo voltou”. Isso é mostrado em um grande plano onde se nota a distorção da perspectiva comparando as personagens. Tudo muito sutil, sem jogar com o sensacionalismo que poderia resultar num impulso ao “timing” do filme, ou no que de espetáculo ele pudesse oferecer.
A luta do homem diminuto com a aranha comum que lhe parece um monstro gigante impressiona até porque na época da filmagem o que se usou foram miniaturas e truques de exposição. Não havia computador, não se conhecia tela verde para se inserir imagens digitadas. Rodado em preto e branco e sempre de forma artesanal, o filme de Jack Arnold impressionou tanto que os executivos da Universal Pictures acharam por bem lançá-lo no arremedo anamórfico, o “superscope”(nada mais do que uma impressão anamórfica forjada no negativo para se usar em cópias adaptáveis à lente de Henri Chrétien : a tela era quase toda iluminada, sobrando apenas pequenos espaços laterais. O filme foi vendido desse jeito considerado “moderno”. Mas a bobagem não o danificou seriamente. A relação das imagens restou em qualquer quadro. Foi um gol de placa da turma que fez a direção de arte.
Grant Williams, o intérprete até então desconhecido, não teve sorte. Morreu jovem. Não fez outro filme que expusesse seu talento. Arnold, diretor de coisas como “Tarântula” e aquele cômico “O Monstro da Lagoa Negra”(uma espécie “amazônida”), só faria mais um bom trabalho: “O Rato que Ruge”(The Mouse that Roared/1959), a anedota de um pequeno país exportador de vinho que brigava com os EUA e resolvia invadir o país com seus arcos e flechas chegando em um feriado nacional na “terra inimiga” e por isso se achando vencedor. A história era de Roger MacDougall autor da peça “O Homem de Terno Branco” que resultou numa das melhores comédias dos estudiso Ealing de Michael Balcon sob a direção de Alexander Mackendrick com Alec Guiness encabeçando o elenco. Por sinal que o comandante em chefe dos “ratos” era Peter Sellerss.
“O Incrível Homem que Encolheu” ainda está inédito em DVD no Brasil, Mas chega à sessão Cult da ACCPA no Cine Libero Luxardo. Um dos melhores momentos desse programa.(Pedro Veriano).
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
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