"A CAIXA” de Richard Kelly. Com Cameron Diaz, James Marsden e Frank Langella. Um conto do excelente escritor Richard Matheson chamado “Button, Button” é o ponto de partida de “A Caixa”, filme de Richard Kelly (que dirigiu “Donnie Darko”). A história básica do filme é simples: um casal com dificuldades financeiras recebe misteriosamente uma caixa que aparentemente não significa nada demais. Horas depois, um homem se apresenta ao casal e diz que se eles apertarem o botão dentro da caixa, eles ganharão 1 milhão de dólares mas em compensação, uma pessoa em algum lugar do mundo morrerá. O dilema do casal sobre tomar a decisão certa em 24 horas é a primeira parte do filme, aliás muito bem construída pelo diretor. O problema do roteiro e da direção começa com as tramas paralelas que vão surgindo, todas inegavelmente interessantes mais que com tantas informações, acaba confundindo o espectador. Particularmente, gosto muito de filmes imprevisíveis e sem dúvida, “A Caixa” é imprevisível, mas esse elemento não é o suficiente. Com uma trama que mistura ficção científica e suspense, tentando seguir o melhor do trabalho do escritor Matheson (que realizou trabalhos na TV como em “Além da Imaginação” e recentemente teve outra história de sua autoria adaptada no cinema em “Eu sou a Lenda” com Will Smith)), o filme acaba perdendo o foco principal da história: a questão ética, de valores, de referências de um casal que pode se tornar rico às custas da morte de alguém. Esse enredo poderia ter originado uma série de situações interessantes, sem necessariamente envolver aspectos tão inesperados (que não citarei aqui em respeito aos espectadores que não viram o filme). Acredito que o roteiro de “A Caixa”, caberia perfeitamente num formato de mini-série, onde tudo que foi proposto em termos de história poderia ter sido mais bem definido e desenvolvido. Mesmo assim, é um filme surpreendente em vários momentos sendo impossível prever o que acontecerá no fim com o casal e com a trama geral que envolve vários personagens. É um filme acima de média, que procura provocar o espectador a pensar e acompanhar seu enredo atentamente, e isso pode não agradar alguns espectadores que preferem histórias mais simples. E de simples, “A Caixa” não tem nada, assim como em todas as obras de Richard Matheson que renderam bons trabalhos na TV e cinema. Por isso, vale a pena ver o filme.
“O LIVRO DE ELI” Albert Hughes e Allen Hughes. Com Denzel Washington. É cada vez mais freqüente no cinema de hoje filmes que falam sobre o fim do mundo, o fim da nossa civilização. Os últimos sucessos de bilheteria de filmes deste tipo só incentivam mais produções. Afinal, ver o fim do mundo do cinema mexe com o imaginário de todos e nesse momento, os produtores aproveitam e criam as suas versões de como seria o fim. Em “O Livro de Eli” vemos um drama pós-apocalítico e acompanhamos a jornada de um homem solitário (vivido por Denzel Washignton) em direção ao norte, numa missão que somente ele sabe o significado. Na sua jornada, ele cruza com a violência várias vezes encontrando pessoas tentando sobreviver até chegar numa cidade onde um homem procura um livro enigmático, que somente ele tem. O poder do livro, seu significado, é o tema central do filme. O filme é construído em torno da jornada de um homem que acima de tudo, tem uma missão e sabe que tem que chegar ao seu objetivo, apesar dos obstáculos. Procurando ser diferente dos filmes que abordam este tema, os irmãos Hughes (que dirigiram “Do Inferno” com Johnny Deep) tentam fazer uma abordagem diferente, com toques de religiosidade, de esperança e de fé no mundo que virá depois do fim. Mas sem ser mais consistente no roteiro e usando muitos clichês até visuais de filmes como “Mad Max”(inevitável lembrar principalmente “Mad Max 3”), “O Livro de Eli” fica na superfície. Algumas cenas previsíveis acontecem e o final do filme é digno das intenções dos diretores, ficando mesmo assim um gosto de “déja vu” que poderia ter sido evitado caso o final do filme tivesse sido melhor explorado, sendo mais conclusivo, mais amplo, menos tendencioso. Sendo claramente bem intencionado e tentando ser um filme “pós-apocalítico” acima da média, “O Livro de Eli” poderia ser melhor mas pelo menos revela que temas tão repetitivos como este ainda podem (e devem) render boas idéias e quem sabe bons filmes. Destaque especial para a excelente fotografia do filme que consegue ser funcional e colabora diretamente no clima proposto pelo roteiro do filme.
Marco Antonio Moreira
Nenhum comentário:
Postar um comentário