O Olympia faz aniversário (98) e o público ganha presente. Nada mais cristão: dia 25/12 comemora-se o nascimento de Jesus e quem ganha presente são os outros.
Dez filmes estão programados para representar as 10 décadas que a casa já viveu. Difícil foi achar o primeiro. “Lírio Partido”(Broken Blosson) de 1918, ganhou a tela do então Largo da Pólvora em 1919. Já representando os anos 20 foi fácil: “Ben Hur” de Fred Niblo com Ramon Novarro fez filas de homens com chapéu de palha e mulheres com chapelões e vestidos compridos. Meus pais e tios falavam dessa estréia. O ator virou um ídolo das mocinhas que ensejavam os versos de Rocha Moreira, o editor do “Olympia Jornal” (tablóide distribuído na entrada do cinema). Mal sabiam elas que Ramon gostava de homens. E acabou sendo assassinado por um de seus amados.
Representando os 30 está um filme produzido em 28: “Alvorada do Amor”(The Love Parade). É uma opereta dirigida por Ernst Lubitsch com Maurice Chevalier e Jeanette MacDonald. Ele era considerado o “chansonnier” que Hollywood importou para fazer os amantes franceses de filmes que exploravam a chegada do som na película (o processo movietone). Fez também “A Viúva Alegre” com a mesma equipe e andou cantando anos afora até em 1958 quando trabalhou com Vincente Minnelli no premiado (e ótimo)”Gigi”. Chevalier chegou a ser hostilizado em sua terra natal quando cantou para os ocupantes de Paris, os nazistas. Mas pelo menos os produtores de cinema o perdoaram com filmes de bom nível como “O Rei” (Le Roi/1950).
Importante é considerar que “Alvorada do Amor” inaugurou o cinema falado em Belém. Foi no dia 30 de novembro de 1930. No Olympia.
“As Aventuras de Robin Hood” de Michael Curtiz com Erroll Flynn e Olívia de Havilland foi feito em 1938, mas repercutiu por aqui em 1940. O gênero “capa e espada” atraía multidões e desta feita ainda teve o recurso da cor (technicolor). Flynn era o herdeiro de Douglas Fairbanks no malabarismo e esgrima.Tinha fã clube. Chegou a vir à Belém hospedando-se no Grande Hotel. Bebeu o que era de seu costume. Pouco apareceu às fãs que fizeram “sereno” adiante do hotel.
“A Princesa e o Plebeu”(Roman Holiday) lançou Audrey Hepburn um raro tipo de beleza sem “sex appeal”. Era a garota que a geração dos 50 queria ter como namorada. E ela, como uma princesa de reino hipotético, namorava o repórter Gregory Peck até ir embora de Roma, onde, como dizia o titulo original, passou suas breves férias.
Nos 60 aconteceu o raro fato de “filme de arte” virar moda. A critica local e seu recém-criado cineclube, sensibilizou a empresa exibidora Severiano Ribeiro (ainda a dona do prédio do Olympia) através do gerente local Adalberto Affonso.Nasceu a sessão “cinema de arte” aos sábados pela manhã. Prezando a História é bom dizer que em 1955 houve uma tentativa do gênero com a exibição da versão russa de “Os Irmãos Karamazov”. Quem foi o pai da criança foi Orlando Costa com o seu cineclube “Os Espectadores”. Mas o exemplo não medrou. O sucesso de “Viridiana” de Luís Buñuel manteve o tipo de sessão até se mudar para o Cine Palácio em 1970, atuando às 22,30 das 6as Feiras (hoje não dá nem para pensar numa coisa dessas...). O programa virou moda. Quem freqüentava passava direto para as colunas sociais. E quem ia ver dava parte de erudito. Tudo bom até cansar. Só o cineclube APCC durou até 1986 quando surgiu o Cine Libero Luxardo do Centur.
“Viridiana” responde pelos anos 60.
Os 70 são de “Um Estranho no Ninho” de Milos Forman. Foi o Oscar do ano, estendido a Jack Nicholson e Louise Fletcher. Ser diferente, na época era ser visto como louco. Caía bem no tempo dos hippies, de Woodstock, da liberdade sexual, dos Beatles, de James Bond e da mini-saia.
Os 80 homenageiam Woody Allen, que nunca teve grande público em Belém, Mas “Hannah e Suas Irmãs” foi um de seus filmes mais vistos. Jazz, neurose, traição conjugal, tudo está presente, com um epílogo que “receita” os Irmãos Marx como a melhor terapia.
Os 90 são dos espíritos, assim como os dos primeiros anos do novo século. “O 6° Sentido” revelou o diretor M. Night Shymalan e o garoto Halley Joel Osment. Ele dizia baixinho: “-Eu falo com os mortos”. Bruce Willis acreditava. E tinham por onde. Mas em “Os Outros”, de Alejandro Amenábar, Nicole Kidman é quem pensa que os seus filhos, alérgicos à luz, é que vêem fantasmas. Os dois filmes fizeram sucesso merecido. Não chegaram a “Ghost”, mas ganharam a simpatia de uma platéia que, nesse ponto, não mudou.
Assim o Olympia festeja seus 98. E para completar ganha vesperais domingueiras com sucessos na párea infanto-juvenil. Os vovôs de hoje eram crianças quando aplaudiram “O Mágico de Oz”,.”O Ladrão de Bagdá” e “O Pássaro Azul”. Eu vi todos nas estréias e no caso de “O Ladrão..” acharam “impróprio até 10 anos” e minha madrinha teve de enfrentar um pretenso fiscal que certamente queria era uma paquera, sentando-se atrás dela para reclamar a minha presença. Seria um terrorista alertando ao trailller de “Guerra ao Terror”. (Pedro Veriano).
terça-feira, 6 de abril de 2010
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