quarta-feira, 17 de novembro de 2010

"LUZES NA ESCURIDÃO" ENCERRA TRILOGIA DE HELSINKI

"Luzes na Escuridão" encerra trilogia de Helsinki
Um certo mal estar contemporâneo se apodera do filme “Luzes na Escuridão”, da Aki Kaurismaki, com imagens escuras, penumbras e a suave narcose das fumaças no tragar dos personagens.
O diretor finlandês traduz em imagens o clima gélido em planos longos, elaborados com o cuidado da luz, posição dos móveis e quando, movimentos de personagens secundários. Cinema contemporâneo que optou pelo minimalismo em planos propositadamente saturados e direção de atores em que os olhares nunca se cruzam.
As influências mais óbvias remetem a incomunicabilidade de Antonioni ao niilismo descarado de Fassbinder, e como este, a obsessão estética no uso das cores, no rigor coreográfico dos personagens, contrastes e encenação pelo automatismo; alienação nos gestos, composição física estática, inércia e outros procedimentos.
A chamada trilogia de Helsinki ainda reclama a não exibição de “Nuvens Passageiras”, inédito no circuito alternativo, porém disponível para download, o que não justifica o ineditismo em tela grande, no cinema, o lugar exato para assistir filmes.
O desemprego em “Nuvens Passageiras”, as pulsões de identidade em “O Homem sem Passado”, e a impossibilidade do amor em “Luzes na Escuridão”, têm como cenário uma Finlândia noturna em eterno inverno, com seus outsiders no centro da tela, indiferentes, sem brilho nos olhos e poucas falas.
A trilogia de Helsinki também pode ser uma aula de cinema: o climão do cinema noir, a incomunicabilidade e seus tempos mortos, a revisão do gênero policial; tudo a favor de um estilo que a princípio pode causar estranhamento, que depois superado, proporciona o prazer de acompanhar as belas imagens de “Luzes na Escuridão”.

Augusto Pacheco

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