O MAU PRESSÁGIO DE CASSANDRA
Cassandra na mitologia grega era irmã gêmea de Heleno. Um dia ela foi brincar com ele no Templo de Apolo e acabou dormindo. Na manhã seguinte a ama encontrou as crianças envolvidas por duas serpentes. A serpente que passou pelos ouvidos de Cassandra não lhe feriu, mas deixou uma faculdade na menina: ela passou a ouvir a voz dos deuses. Crescendo muito bela, ganhou a simpatia do próprio Apolo que lhe deu o dom da profecia. Mas como ela se negou a dormir com ele, castigou-a fazendo com que as pessoas desacreditassem de suas predições.Foi por isso que Tróia perdeu a guerra, não se acreditando na estratégia de Ulisses e o cavalo de madeira.
A personagem mitológica serviu ao novo filme de Woody Allen no titulo,”O Sonho de Cassandra”(Cassandra’s Dream). É o nome de um barco que os irmãos Ian (Ewan McGregor) e Terry (Colin Farrel) compram com as suas minguadas economias, como símbolo da fuga de uma rotina que não lhes dá chance de subir socialmente ou satisfazer as suas ambições.Esses irmãos são ingênuos e muito unidos, um apegado à uma atriz de teatro, outro ao jogo, endividando-se de tal forma que tudo o que possuem (ele e o irmão) passa a ser alvo de dividas.É aí que entra em cena um irmão da mãe deles, o Tio Howard (Tom Wilkinson). Médico de sucesso nos EUA, o homem é procurado para ajudar os manos no pagamento das dividas de Terry. Mas o parente faz uma contra-proposta: pode ajudar, mas quer ser ajudado de forma que eles façam “desaparecer” uma pessoa que vigia os seus negócios e sabe de suas mutretas. Começa, então, uma nova fase na vida dos irmãos: matar quem não conhecem para ter acesso ao âmago da história de Cassandra, ou seja, receberem a serpente que lhes dá poderes e outra vez enfrentarem Apolo. Sob as bênçãos, no caso do roteiro de Woody Allen, de Feodor Dostoiewski posto que o filme lembra sempre “Crime e Castigo”, a obra ais conhecida do escritor russo..
A narração é do tipo “moto-continuo”, como se o cineasta tivesse pouca produção para rodar mais seqüências (ou alongar algumas). Mas é este ritmo de contar ligeiro uma história de palpitante interesse que ajuda o filme. Ninguém desliga a atenção da trama, afinal um modelo de narrativa cinematográfica acadêmica. Tudo corre bem e economicamente. Nada é supérfluo e a própria conclusão não deixa muitas imagens e sons.
Woody Allen repete a sua abordagem na ambição desmedida que deu o seu excelente “Ponto Final” (Match Point) há três anos. Naquele filme uma personagem lia Dostoiewski. Aqui não é há uma menção explicita, mas o enredo é de um crime e um castigo moral, com desfecho cruento. E não se diga que é de hoje a inspiração do cineasta. Em seu(Crimes and Misdemeanors/ 1989) ele já abordava o tema.
Allen está fazendo uma comédia entre dois dramas. Tomara que siga o ritmo, pois o seu filme anterior, “Scoop, O Grande Furo”(Scoop/2006) foi uma deliciosa sátira aos crimes em série e fantasmagorias. Sempre inteligente, o comediante-ator-diretor está filmando na Europa há algum tempo. Os seus conterrâneos não lhe dão valor. Eles que perdem: os filmes de Allen já são clássicos de nascença. É um prazer ver um deles por ano.(Pedro Veriano)
segunda-feira, 28 de julho de 2008
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