A SAÚDE AMERICANA
Creio que todos os países do mundo prezam, em suas Constituições, a saúde. É obvio que no momento em que se registra o “direito à vida” se menciona a saúde. Ninguém vive doente. E quando se vê um documentário como “Sicko, SOS Saúde”(Sicko) de Michael Moore, se sabe, se é que já não se sabia, que nem todo mundo cumpre preceitos constitucionais e nem por isso se acha (ou acham) criminoso.
Moore investe contra a política de medicina pública em seu país (EUA). Lá não existe um SUS, ou seja, todo mundo que deseja um plano de saúde tem que pagar por isso. Eles são vários, como aqui. Mas se aqui nos temos uma saúde pública (que bem ou mal funciona), lá não tem disso: ou se paga ou se morrer. A mesma coisa da educação superior: nada de universidade de graça: ou paga ou fica com o curso elementar (até a chamada “high school” requer grana).
Fica no mínimo esquisito ver paises de menos posses terem o que se vê como serviço médico socializado. Michael Moore focaliza 4 exemplos: o do Canadá, o da Inglaterra, o da França e o de Cuba. Ninguém chama, por exemplo, a medicina da rainha Elizabeth II de comunista. Nos EUA ensaiaram o apelido quando surgiu num projeto de tratamento médico gratuito a quem quer que seja. E nós, brasileiros? E nós paraenses que há pouco xingamos a Santa Casa sem alertar para o fato de que as pessoas que faziam serviço de puericultura e pediatria anos a fio foram despedidas porque não eram concursadas (e as teóricas substitutas eram). Morrem crianças no Pará, mas não se diz que nascem tão depauperadas que a morte lhes serve de madrinha. Enfim, se temos filas nas portas dos ambulatórios e falta de leitos em hospitais não quer dizer que negamos tratamento porque o doente não tem plano de saúde. Pode não ter é plano de vida. Sem alimentação adequada, sem higiene, sem moradia salubre, sem educação, o que esperar de adolescentes grávidas que não fizeram aborto porque não tinham dinheiro para pagar a “curiosa” que se arvora a parteira?
O filme de Moore está sendo visto mundialmente pelo tema. Ninguém diz que a linguagem é corriqueira, que há cenas posadas, que o cineasta é parcial na sua exposição. O tema toca a todos porque todo mundo adoece ou vê alguém da família adoecer e precisar de tratamento imediato e bom.
Acho Moore um jornalista apaixonado, um cara que sabe o que quer e faz cinema para que se acredite que “a sua verdade é a verdadeira”. Mas apesar de sua notória parcialidade em coisas como “Fahenreit 9/11” pesa aquele dito de que “onde há fumaça há fogo”. E se Moore sacaneou com Charlton Heston em “Tiros em Columbine”(o ator doente recebeu-o em casa e ele foi grosso na questão da venda de armas), ele ataca neste “Sicko” com casos surrealistas como o da moça que foi acidentada, tinha plano de saúde, mas o plano não pagou a ambulância que a levou para o hospital. Detalhes sórdidos fazem os latidos de um mundo cão que o cineasta gosta de focalizar.Que prossiga é o meu voto. A sua fumaça pode intoxicar os carrascos de tanta gente. (Pedro Veriano)
segunda-feira, 28 de julho de 2008
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