Depois de “Hiroshima Mon Amour” e “L’Anée Dernière a Marimbad” dizia-se que Alain Resnais era um diretor de bons roteiros (ou roteiros de forte inspiração literária). Os seus filmes de curta-metragem desmentem. Mas não resta dúvida de que o texto de Margherite Duras é a mola mestra de “Hiroshima...” assim como “Mariembad” de Alian Robbe-Grillet, este, considerado o criador do “noveau roman”, também cineasta.
Resnais prosseguiu com bons escritores como Jean Semprún (“A Guerra Acabou”, “Stavisky”), autor de pelo menos dois sucessos do cinema político de Costa-Gavras: “Z” e “A Confissão”, Jacques Sternberg (“Je T’Aime, Je T’Aine”), David Mercer (“Providence”) e Jean Grault (“Meu Tio da América” e “A Vida é Um Romance”). Realmente o melhor do francês que engajaram no movimento “nouvelle vague” sem ele ser do grupo, ou sem surfar nessa onda, foi bolado por outras cabeças. Mas nem sempre um bom roteiro dá um bom filme. Se “Mariembad” fosse dirigido pelo próprio Grillet certamente seria ainda mais pesado (eu ia escrever indecifrável). Resnair fez aqueles “travellings” pelo hotel-palácio que uma voz diz com decoração barroca e o nosso Francisco Paulo Mendes remendava que era rococó, fez aqueles grande planos do jardim, botou Dephyne Seyrig vestida como um ganso negro a dar mais densidade no tipo que podia ou não podia ter encontrado o amante um ano antes no mesmo lugar, enfim, dimensionou com imagens um texto que podia ser tratado até como teatro, com os personagens falando em plano médio de seu encontro atemporal, ou da amnésia de cada um ou o mais que se quisesse ver desse affaire.
O que eu gosto de Resnais é “Providence”, aquela narrativa do sofrido John Gielgud, um canceroso terminal, das viagens no tempo mais físicas de “Je T’Aime...”, do frio “A Guerra Acabou”, e dos curtas que eu vi, como “Nuit et Bruillard”.Não gosto nada de seus musicais, nem do dialogo sobre o fumo ou deste abomivavel “A Vida é um Romance”.
Mais recente, “Coeurs”(Medos Privados em Lugares Públicos), confirma um talento adormecido. Mas o que ficará é o que eu citei. Fixado na abordagem do tempo, o cineasta deixou como selo esta faculdade de usar o relógio, ou o calendário, como o seu principal ator.
Um programa dedicado a ele, aqui e agora, é um achado.(Pedro Veriano)
quinta-feira, 30 de abril de 2009
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