domingo, 6 de setembro de 2009

'FROST/NIXON" EM DVD


“FROST/NIXON” de Ron Howard. Com Frank Langella e Michael Sheen. Depois do escândalo do caso Watergate em 1974, o presidente dos EUA Richard Nixon foi obrigado a renunciar seu cargo entrando na história da política americana como um símbolo do abuso de poder e da corrupção. Após sua renúncia, Nixon se tornou uma pessoa rejeitada pela mídia e pelo povo americano. Por quase três anos, suas histórias e versões não interessavam ninguém até que o improvável aconteceu: David Frost, um apresentador de um programa de entretenimento da TV britânica, tem a idéia de entrevistar Nixon para ouvir suas versões. Inicialmente impulsionado pela possibilidade de dar um grande salto na sua carreira, Frost acaba se envolvendo com as questões políticas dos assuntos abordados e numa série de entrevistas, procura confrontar Nixon com os fatos da sua carreira e os motivos que o levaram a renunciar. Com o roteiro de Peter Morgan, baseado na peça teatral de sua autoria, “Frost/Nixon” é um filme surpreendente. Primeiro, pelo forte conteúdo político que o filme tem e segundo pela direção excelente de Ron Howard. Afinal, Howard nunca demonstrou nenhum talento especial em seus filmes mais aqui, ele foi inteligente e soube trabalhar os elementos da linguagem cinematográfica com competência, a partir de um roteiro onde basicamente dois personagens se confrontam o tempo todo e onde as palavras têm um peso maior que as imagens, necessitando de um diretor que respeitasse essa dinâmica no filme. Equilibrando todos esses elementos (em especial com a colaboração do grande diretor de fotografia Salvatore Totino), Howard consegue realizar um painel da política americana dos anos 70 de uma forma realista, procurando mostrar a figura de Richard Nixon e David Frost sem maniqueísmos. O roteiro permite que Howard humanize especialmente Nixon, marcado pela sua renúncia mais que na realidade era mais uma peça de uma grande engrenagem dentro da política americana de seu tempo. Humanizando Nixon, revelando aspectos da vida de Frost, o filme literalmente revela a sabedoria destes personagens dentro da sua retórica, provocando no espectador um sentimento de interesse e curiosidade sobre os fatos abordados e que tem aqui suas questionáveis versões. No final, não interessa quem “ganhou” na entrevista. No final, descobrimos que o homem Nixon era muito mais interessante que o político Nixon e que sua inteligência talvez tenha sido desperdiçada e mal usada dentro de um sistema político que até hoje provoca dúvidas e incertezas. Definitivamente marcada na história da TV americana, esta entrevista revela também personagens de um marketing político que apesar de decadente, ainda gera bons resultados. Neste sentido, pode-se ver em “Frost/Nixon” um belo exemplar de estudo sobre este assunto. Com interpretações fantásticas dos dois atores principais, “Frost/Nixon” impressiona e me lembra o melhor do cinema político americano como “Todos os Homens do Presidente”(1976) de Alan Pakula que mostrava detalhes do caso Watergate. Tomara que outros bons filmes com temas políticos voltem a ser feitos nos EUA e claro também no Brasil. Afinal, assuntos para novos roteiros não faltarão.
Marco Antonio Moreira

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