Engraçado: no tempo em que a critica nacional era capitaneada por Moniz Vianna (“O Correio da Manhã”) ele e colegas mais velhos (Alex Viany) ou mais novos (Sérgio Augusto, Paulo Perdigão), abominavam os melodramas dirigidos pelo alemão Douglas Sirk. O último de uma série, “Imitação da Vida”(Imitation of Life) refilmagem em 1959 de um romance de Fannie Hust (o filme anterior, de 1935, era dirigido por Joseph M. Stahl e tinha Claudette Colbert no papel que depois foi de Lana Turner), foi odiado. Eu fiz coro. Quando via a coisa no Olímpia, quase dou vaia no fim, quando aparece o funeral da mãe negra da mocinha branca (que a rejeitava). Mas o tempo mudou tudo. O cineasta Rainer Werner Fassbinder, um dos cabeças da nova onda alemã, disse que Sirk era um gênio e “Imitação...” a prova disso. Seguiram-se ovações internacionais no mesmo tom. Hoje, aplaude-se tudo que Sirk fez na Universal para o produtor Ross Hunter, inclusive os títulos interpretados pelo apático Rock Hudson (lembro de um debate no Colégio Santa Rosa em que as alunas bombardearam Orlando Costa que exibia “Amanhã Será Tarde Demais” de Leonide Moguy, dizendo que o melhor era “Sublime Obsessão”na versão de Sirk).
Quem está certo? O tempo ou os velhos críticos?
Nem tanto ao mar nem tanto a terra. O melodrama é um gênero. Criticar certos filmes por serem melodramas é criticar a base, o argumento. Naturalmente que o melodrama se alimenta das emoções despertadas. Visa as lágrimas do espectador. E força a barra para que isso aconteça. Mas entre alguns, especialmente nos de Sirk, cabe a excelência de uma história factível, de dores que podem ou não se só de cotovelo. O caso de “Chamas que não se Apagam” (There’s Allways Tomorrow), a meu ver o melhor do diretor e um titulo que eu sempre defendi.
Bárbara Stanwyck faz a velha namorada de Fred McMurray que reaparece quando ele está casado, com filhos adolescentes, mas prisioneiro de uma família que pouco se dá aos seus anseios. É uma carta a mais no jogo de interesses domésticos. Por isso, a volta da amiga, agora uma mulher independente e rica, é um choque. As tais chamas do titulo em português, a meu ver um raro caso de melhor do que o original (“Há sempre um amanhã”).
Não é um enredo, ou um melodrama em que um lar é desfeito por uma lembrança. No fim tudo volta ao que era antes. Nada muda. Mas para mostrar isso em cinema do melhor há um plano em que McMurray aparece de costas no fim de uma mesa e um brinquedo, um pequeno robô, sai andando de onde ele está até às proximidades da câmera. Vai andando até cair. Nada mais se mexe. A metáfora é clara, mas a exposição muito inteligente. Mais adiante ele ouve o ruído de um avião. A velha amada está indo embora.
Sirk sabia fazer chorar em cinema. Se hoje se reconhece, muito bem. Custou a se entender que as “fitas lacrimosas” são válidas.(Pedro Veriano).
domingo, 6 de setembro de 2009
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