A revisita a “Fogo de Outono”(Dodsworth) deve sugerir uma visão mais ampla da obra de William Wyler um dos mais talentosos cineastas americanos da fase “de ouro”de Hollywood.
Wyler visitou Belém já aposentado. Veio com a esposa e hospedou-se no Hotel Grã Pará. Pensei em entrevistá-lo. Mas antes de mim foi o Ubiratan de Aguiar (Pierre Beltrand). Começou chamando-o de diretor de “...E O Vento Levou”(confundiu o filme com “O Morro dos Ventos Uivantes”). Depois disse logo que não se expressava em inglês, espanhol ou francês, opções do visitante. Gripado, Wyler despachou o jornalista e pediu aos norte-americanos que trabalhavam no escritório do USIS (United States Information Service),ao lado do consulado ianque, que não mais o incomodassem. Naquele tempo ainda havia uma brecha oferecida por meus amigos do mesmo departamento: uma viagem de iate que o diretor em volta da cidade. Não fui. Lamentei. Wyler morreu pouco tempo depois.
Mas há muito a ver e falar dele. Diretor preferido de Bette Davis, li de sua simplicidade ao comentar uma seqüência de um filme com Bette, “Pérfida”(The Litlle Foxes)em que ela era sempre focalizada da cintura para cima.Um espectador pensou que a tomada queria dizer do caráter malévolo da personagem. Wyler riu. Bette havia batido a perna e não podia ficar de pé. Filmou sentada. Só isso.
Em “O Morro dos Ventos Uivantes” reclamaram que o filme só focou uma parte do romance de Emile Bronté. Wyler não deu bola. Fez a melhor das versões do trágico romance do pobretão(mais tarde milionário) Hatchcliff e a aristocrata Cathy (Laurence Olivier e Merle Oberon). Basta o plano de Cathy ao dizer para a criada “I am Hatchcliff!”(Eu sou Hatchcliff) e um raio iluminar seu rosto. A escritora não teve esse poder de síntese.
Em “Perdição por Amor”(Carrie) a sutileza foi ao máximo no final, quando o fracassado amante(ainda Olivier) da atriz que dá nome ao texto original de Theodor Dreiser (Jennifer Jones), vai pedir à ela um pouco de comida e, ao sair do camarim da jovem abre a torneira de gás. Está implícito que ele vai se matar. Nada de falas ou filmagem explicita.
Neste “Fogo de Outono” a saída do empresário da fabrica que ajudou a criar e agora abandona na aposentadoria, com os empregados fazendo fila para ele passar, é um prodígio. A câmera segue atrás de Dodsworth (Walter Huston), o personagem.
Não vi um só filme ruim deste grande diretor. E ele esteve em vários gêneros, do introspectivo como o citado “Carrie” ao megalômano “Ben Hur”.Trabalhava para produtores que o prestigiavam e escolhia atores capazes para os papéis de seus filmes. E sabia narrar, sabia transmitir o que lhe era dado a transmitir.
Wyler jogava no time de Hitchcock, Hawks, Ford, Capra, McCarey, Lubitsch, Wilder, Dieterle, Wellman, King, Fleming, e poucos mais que faziam os gols do cinema americano de inicio da era sonora. Muito de sua obra já existe em DVD. Quem está aprendendo cinema que o conheça logo.(Pedro Veriano)
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
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