CONFLITOS FAMILIARES
Paul (Romain Duris) e Jonathan (Louis Garrel ) vivem com o pai (Guy Marchant) num apartamento em Parris. Paul sofre a despedida de Ana (Joana Preiss), sua mulher. Jonathan apresenta aos espectadores a família e introduz todos à história que passa a ser contatada. Aliás, “Em Paris” (Dans Paris/França,2006), não apresenta propriamente uma história tradicional. Basta dizer que trata de personagens que vivem remoendo emoções. Enquanto Paul curte a “fossa”, Jonathan programa diversos encontros com mulheres e o pai deles, Mirko(Guy Marchant), separado da mulher (Marie-France Pisier), procura manter uma rotina onde faz a vez de dono da casa, inclusive cozinhando para si e para os filhos. Quando a mulher o visita, lembranças conflituosas logo a afastam. E todos sentem sempre a ausência da irmã/filha que se matou há três anos.
O filme escrito e dirigido por Christophe Honoré segue uma narrativa muito próxima dos primeiros trabalhos de François Truffaut, vale dizer dos primeiros exemplares da “nouvelle vague”, movimento de renovação estética que sacudiu o cinema francês no final dos anos 50 e expandiu a sua característica por diversos paises, inclusive o nosso (“cinema novo”).
A narrativa permite alguns “flash-backs” e nem sempre se deixa escravizar pela continuidade do plano. Isto quer dizer que se você está vendo uma figura em determinado ângulo na próxima tomada ela pode estar em outro ângulo. Não importa. O que vale é a dimensão da afetividade de cada um, de como se constrói as personalidades e se estuda o comportamento.
A ação tem lugar no tempo de Natal e isto reforça o quadro familiar proposto. Um plano de Mirko arrumando a árvore natalina com Paul é bem ilustrativo do que o cineasta deseja que se observe. O velho ressalta o tempo em que ele e os filhos festejavam o Natal, armando arvore e trocando presentes, coisas que de há muito deixaram de fazer. Lembram de que a alegria da festa esmaeceu com a morte de uma pessoa querida. E acabou, praticamente, quando a matriarca deixou a casa e passou a fazer parte de outra família.
Dissabores testam quem vive em um pequeno espaço, mas de onde se vê a Torre Eifell, símbolo da capital francesa. O enfoque urbano é realçado para se definir a classe social e a vivência cultural. Quem no começo do filme Jonathan se posta como um corifeu, pretendendo contar tudo e acabando por considerar que “não é figura principal da narrativa”, é uma referencia para o que menos importa(ou aparece). Talvez por ele ser o tipo que não sofre com amores contrariados.
O desfecho é como um dia que termina na cidade grande. A vida continua nas ruas, as pessoas estão preocupadas com os encontros de fim de ano, o trio de homens que dividem um apartamento vão continuar pedindo por melhores tempos. Não confessadamente, mas sempre tentando.
“Em Paris” não chega a ser “retrô” ou um simples aceno a um tipo de cinema. Tem luz própria numa direção que utiliza uma linguagem moderada, procurando sempre os caminhos da poesia como uma saída para as crises existenciais. Por isso é um filme bem interessante embora não emocione com um potencial melodramático nem estimule um distanciamento bretchiano, restringindo-se à missão de tratar de certos habitantes de Paris no inicio deste século da forma mais livre possível. .
VIAGEM DRAMÁTICA
Um operário nascido em Cabo Verde, antiga província portuguesa na África sofre um acidente em uma mina, em Lisboa, e é internado em estado de coma. Os médicos não conseguem reverter o quadro e se espantam quando chega um pedido para que ele seja devolvido à sua terra natal, atendendo aos familiares. Nesse momento é designada uma enfermeira, Mariana (Inês de Medeiros ) para acompanhá-lo.
“A Casa de Lava” é uma observação de culturas dispares. Através de Mariana o espectador vai conhecendo gente de uma vila africana, ao tempo em que se acompanha o problema de Leão (Isaach De Bankolé ) o enfermo.
Numa linguagem que retira o estilo documental para a observação introspectiva o diretor-roteirista Pedro Costa exibe a condição da moça da cidade grande que procura se ambientar num espaço primitivo (nesse ponto o filme mostra Cabo Verde como um lugar selvagem) , ao mesmo tempo em que se volta para o drama do doente que ela ajuda, apresentando amores contrariados e também outros doentes a quem Mariana auxilia na medida em que pode.
Há uma distinção bem nítida entre etnias, com um esboço de romance da lisboeta com um rapaz branco que mora na aldeia para onde se internar o operário Leão. Também se observa o comportamento da sociedade local, e faz-se uma analogia da região com o vulcão das proximidades (daí “A Casa de Lava”).
O filme é mais curioso por ser o primeiro de um diretor jovem mas desconhecido por aqui a chegar a um dos nossos cinemas. Ele como tantos de Portugal & adjacências passam ao largo da programação de rotina que privilegia o que vem de Hollywood e de estúdios europeus mais aquinhoados.
Outro ponto a se visto: a fotografia exuberante de Emmanuel Machuel. (Luzia Alvares)
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