O ESCAFANDRO E A BORBOLETA
Jean Michel Basquat comparava a sua situação depois de um derrame como um escafandrista dentro d’água. Procede a idéia de prisão: restou-lhe apenas o movimento de uma pálpebra. Uma borboleta seria quem o ajudasse a se comunicar com o mundo.Pode ser a sua esposa, de quem estava se separando, como pode ser a sua fonoaudióloga, que lhe ensina a usar cada mexer de pálpebra como uma letra do alfabeto. Dessa forma Basquat consegue até escrever um livro, “O Escafandro e a Bprboleta”(L’Escaphandre et le Papillon) afinal o titulo de um filme..
O fato é real. O filme, dirigido por Julian Schnabel, tempera o drama com requisitos capazes de atender ao público de cinema. Mas no começo faz-se apenas “câmera olho”, ou seja, se vê o que Basquat vê. É incômodo tantos minutos, num cinema, olhando imagens distorcidas ou deslocadas. E o ângulo visual é restrito. É preciso abandonar o doente e passar a visão para quem atende ao doente. Isso e as lembranças, que furam o bloqueio orgânico e levam o paralítico, ex-redator da revista “Elle”, para cenários que lhe fizeram feliz.
Há momentos marcantes. Um deles é num domingo, quando Basquat se refere à solidão que fica no hospital e a gente o vê numa cadeira de roda em um salão imenso. A tomada evidencia bem a pequenez do homem diante do espaço que ele não pode desfrutar. O drama é de uma solidão imensa deixada pela imobilidade física. E é pontuado pela canção “La Mer” que traduz melhor a metáfora da situação do personagem (o homem imóvel no fundo do mar).
Desníveis rítmicos podem ser considerados naturais. A hesitação de usar a primeira pessoa é compreendida na necessidade de narrar em imagens, embora não se despreze a “voz do pensamento” do literal paciente.
Um bom filme que entre nós inaugurou um programa dedicado ao que se chama de “filme de arte”. (Pedro Veriano)
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