terça-feira, 12 de agosto de 2008

LONGE DESTE INSENSATO MUNDO

James Hilton no prólogo de “Horizonte Perdido”(Lost Horizon) pergunta quem na vida não desejou, por um momento, ficar em paz no campo, criando galinhas. Eu jamais criaria galinhas, mas já pensei em morar no Mosqueiro da minha infância, hoje uma espécie de Brigadoon, aquela cidade encantada que surgia um dia em cada cem anos. A paz de espírito certamente está longe do barulho e da mediocridade. Naturalmente que a cada um cabe a sua Shangri-la, terra bem-aventurada de Hilton. E por aí se entende Chris O’Connel em sua viagem ao Alaska, base do filme de Sean Penn “Na Natureza Selvagem”(Into the Wild).
O fato e o filme distam apenas o mínimo para o espectador de cinema gostar do que está vendo. Com musica de Eddie Veder, fotografia esplendorosa de Eric Gautier, e um desempenho apaixonado de Emile Hirsch- além de uma ponta apaixonante do veterano Hal Holbrook – o que se vê é a tradução do sonho de um jovem estudante norte-americano que reage ao jugo paterno, que ele descobre mascarar um comportamento adultero e violento, que por essas e outras deixa tudo para se embrenhar no mato, ou melhor, seguir estrada, pensando no Alaska como o seu horizonte perdido, ou melhor, desejado.
O verdadeiro Chris morreu comendo veneno pensando em erva nativa. Ninguém o viu morrer, na carcaça de um ônibus, mas o filme mostra-lhe gritando. Nada mais criativo do que deixar o sonhador soltar a voz, em desespero, quando vê o sonho esvoaçar, como um despertar macabro. Aliás, pouco antes disso ele vê um urso. Está tão depauperado que fica inerte, deixando mo animal cheirar seu corpo e sair sem molestá-lo. A fantasia da natureza selvagem passa ao largo.
Um belo filme. Quando eu vejo um filme em que o conjunto me atrai, dispenso cochilos como o relógio do herói que ora está ora não está em seu braço. Vale seguir o caminho do relaxamento sem precisar criar galinha. Cria-se outros sonhos adiante da tela. (Pedro Veriano).

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