quinta-feira, 25 de junho de 2009

MORANGOS DE BERGMAN

Quando eu vi pela primeira vez “Morangos Silvestres”(Smultronstallet/1957) fiquei impressionado com a idéia de Bergman em botar uma figura do presente dentro de um passado (no caso o passado desta figura).O velho professor Bjork(Victor Sjöstrom) entra na casade sua infância, acompanha os passos de seus pais e irmãos, vê todo mundo tomando banho no lago próximo. Ele se deita na mata próxima e vai colhendo e comendo os morangos do titulo. Não deve ter sido a primeira vez em que se fez flashback desse tipo, ou seja, se botou a imagem de um tempo dentro do outro. Mas depois disso virou moda.
Também em “Morangos Silvestres” há uma seqüência original que recebe a seiva do expressionismo. É quando o professor se vê numa rua deserta, onde existe um relógio sem ponteiro, e surge uma carroça que quase lhe atropela. Tudo isso em imagem estourada para o claro. Por aí surge a figura do morto (no caso, ele), e esta figura reaparece, como outro morto, na seqüência onírica em que o mestre é testado como no tempo de aluno do curso médico. Nesse momento de lembrança, ao dizer que o doente que examina é um cadáver, surpreende-se quando o “cadáver” dá uma gargalhada. Os momentos de pesadelo acompanham a viagem do homem idoso que vai receber uma homenagem de onde estudou. É a coroação de uma vida profissional. Mas a autocrítica é muito forte. Ele cita em imagens o que estava escrito nos pórticos do Templo de Apolo e Sócrates adotou (e a gente lê no anfiteatro quando estuda anatomia): “Nosce te Ipsum”(Conhece-te a ti Mesmo). Ele se conhece ? Para o herói criado à imagem de Victor Sjoström, não é bem assim. Médico, desconhece a si e aos outros e ao constatar isso, num fim de vida, questiona a honraria que vai receber e se esforça para fazer feliz a nora que se queixa do casamento.
Emblemático em muitos momentos, o filme trata ainda das idades, Um casal jovem que pede carona no carro do professor expande uma alegria que ele não vê a não ser nas imagens do passado por onde adentra nos primeiros momentos do (quase) road-movie. Seria a alegria de viver, ou seria o conceito que o personagem passa a ter de quem é simplesmente jovem?
“Morangos Silvestres” é um dos melhores filmes de Ingmar Bergman. Um dos mais acessíveis ao espectador que não comunga de suas imagens densas apresentadas em filmes posteriores. Talvez até por isso seja um de seus títulos mais imunes ao tempo. (Pedro Veriano)

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