segunda-feira, 22 de junho de 2009

EXTRAS VAGANTES

Vi duas vezes “A Partida”, filme japonês vencedor do Oscar. Sei que muitos coleguinhas odiaram, taxando a obra do diretor Yojiro Tanika de “lacrimogêneo”, “dramalhão”, “brega”, o que mais irmane o resultado ao que se fazia para as platéias chorarem nos tempos idos. O engraçado é que hoje o que o diretor Douglas Sirk dirigia sob contrato com o produtor Ross Hunter na Universal, odiado na época pelos que se diziam entendidos em cinema, é cultuado como obra-prima. Bastou o alemão Rainer Fassbinder confessar que gostava desses filmes (especialmente da versão de “Imitação da Vida”). Não quero dizer que “A Partida” seja do gênero. Mas comove com a história do modesto preparador de corpos para incineração ou sepultamento que acaba por trabalhar no cadáver do pai, o homem que abandonou a mulher e filhos por outra saia e a quem ele não vê desde os 6 anos de idade. Para chegar até aí, o roteiro exibe diversas cerimônias fúnebres e esmiúça as reações de parentes dos mortos às vezes até com um certo humor. Pode-se criticar é o contraponto com garças e céu azul. A vida seria um belo cenário que a morte esconde. Mas Tanika nunca pinta a morte de cores pesadas. O filme inteiro é claro, bonito, tratando a profissão do herói como uma qualquer. Isso deve ser observado antes de se atacar o que estimule lágrimas de espectadores sensíveis. “A Partida” faria a sessão Moviecom Arte de fim de junho., Ficou para o começo de agosto. Que chegue mesmo antes que parta de vez para o mercado de vídeo.
Outro programa da ACCPA é “A Estrada da Vida”(La Strada) de Fellini, exibido na Sessão Cinemateca. Creio que as pessoas que lêem coluna de cinema sabem do filme. É desses clássicos básicos. Também faz chorar (do protagonista ao fã das primeiras filas). Mas ninguém chama de piegas. Mostra que os brutos também amam, os loucos valorizam a vida e os ingênuos entoam melodias como a de Nino Rota que se ouve para nunca esquecer. É o que se apelida de cult.Para além desses títulos programados há o “Ninotchka” de Lubitsch onde Greta Garbo ri pela primeira e ultima vez adiante das câmeras. Há “Os Boas Vidas” que é um dos meus Fellinis prediletos. Há o “noir” de Robert Siodmak “Assassinos”(The Killers) que reúne Burt Lancaster (estreante) e Ava Gardner no auge da beleza. Há o instigante “Z” de Costa Gavras e há a seqüência de Frankenstein, chamada “A Noiva de Frankenstein”, onde se mostra como Mary Shelley concebeu o personagem. É um filme de James Whale muito elogiado desde que estreou. E ainda, para julho, comparecerão “O Homem Que Caiu na Terra”, brilhante sci-fi de Nicholas Roeg com o roqueiro David Bowe,e “Monsieur Vincent, O Capelão das Galeras” de Maurice Cloché, aquela abordagem na vida de Vicente de Paula em que Pierre Fresnay dá um banho de desempenho. São filmes rotulados de clássico sem que o apelido pese como um respeitoso mimo ao que é idoso (as datas de produção variam de 1936 a 1986).

Pedro Veriano

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