quinta-feira, 25 de junho de 2009

O ‘ASTRO’ DO SÉCULO

Quando o cinema ainda não tinha aprendido a falar, o “astro” era o embonecado Rudolph (ou Rodolfo) Valentino. Quilos de vaselina nos cabelos, lábios e sobrancelhas pintadas, gesticulando para suprir as falas (que restavam escritas nas intercessões de quadro escuro) o galã fazia as melindrosas da platéia desmaiarem. Contam que em Belém um namorado chegou a dar um tiro na tela (não se de qual cinema) porque a garota dele, sua acompanhante numa sessão de “O Águia”, derramava elogios românticos a Valentino e não deixava nem mesmo que ele, o seu eleito, pusesse um braço sobre seu ombro.
Depois que chegou o som o público aplaudia quem soubesse gravar juras de amor. Clark Gable, Gary Cooper. Gary Grant, e até “caras de mau” como Humphrey Bogart, sabiam dizer “I love you” e com isso receber respostas das mocinhas abaixo da tela (“We love you too”).
Hoje um artista suplanta todos esses. Chama-se Computador. Ele faz o charme dos filmes de verão, esses que custam mais de 200 milhões de dólares, ganham mídia na base do “chem” e atraem quem na bilheteria já sabe como o filme começa e termina.
Quem, afinal, poderia fazer as continuações de “O Exterminador do Futuro”, “Transformers”, “Uma Noite no Museu”, e até mesmo animações como “A Era do Gelo” ?
O critico que vai ver esses filmes, mesmo não pagando ingresso, deve matutar que está perdendo, em cada um, no mínimo duas horas de sua vida. E para escrever o quê? Dizer que o roteiro é arranjado, que os atores estão péssimos, que os tipos seguem modelos ultrapassados, que a linguagem linear é cafona como se usava nos primórdios da industria do gênero?
Mr. Computer faz e acontece na tela que hoje volta a exigir óculos bicolores para disseminar a ilusão de 3 dimensões, aumentando os desastres cênicos e a barulhada que deixa um trio elétrico baiano com jeito de segredos sussurrantes de enamorados.
Para se ter uma idéia do absurdo que é este cinema feito com e para S. Majestade Computador, os roteiristas dos filmes mexem com o tempo através de brechas para o filho do futuro salvaguardar a barriga da mãe que o suportou no passado. É a explicitude da chula mensagem “guarda a puta que o pariu”.
Peter Bogdanovich (diretor de “A Última Sessão de Cinema”) escreveu que os melhores filmes já foram feitos. A gente não crê nesse tipo de bruxa, mas dizer taxativamente que elas não existem é arriscar queimar a mão no fogo. Pelo menos no plano comercial, onde cinema ombreia com qualquer produto de venda em loja (e não é à toa que cinema, agora, é coisa de shopping ).
Ah sim: “O Exterminador do Futuro 4” tem o subtítulo de “A Salvação” e Transformer 2” de “A Revolta dos Derrotados”. Entendam: a salvação está em se abster dessa coisa, e só quem é “looser” (perdedor, derrotado) se arrisca a brigar com latas que se transformam. (Pedro Veriano)

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