Dois gêneros cinematográficos chamam a atenção o chamado cinema de autor de Pedro Almodóvar em “Abraços Partidos”, exibido no cinema Centur; e o drama “O Solista”, de Joe Wright, exibido no Cine Estação.
“O Solista”, esnobado no mercadão do Oscar 2010, respeita a métrica clássica do cinema americano, tem a presença de Robert Downey Jr., e o respeito adquirido por Wright nos filmes “Orgulho e Preconceito” e “Desejo e Reparação”, dois dramas pontuados com belos planos longos e o uso certeiro do flash back.
Enquanto o filme de Almodóvar é uma verdadeira declaração de amor ao próprio cinema por meio da metalinguagem, duplicação de personagens e afirmação do princípio de montagem (mesmo às cegas) numa arte necessariamente visual, “O Solista” investe na narrativa clássica no sentido de não deixar nenhuma dúvida quanto ao pacto lúdico (ou da imaginação visual) a ser trabalhado pelo espectador e filme.
As cores de Almodóvar estão na tela com o vermelho dos saltos altos, das roupas femininas, dos tomates com as lágrimas; o laranja da natureza morta que preenche o quadro fílmico. Há também o embaralhar do tempo com ações em 1992, 1994 e 2008.
Em O “Solista” estamos diante de um filme de personagens. O repórter Steve Lopez e esquizofrênico Nathaniel Ayers são solistas, egoístas, individuais e solitários convictos sob a regência de Joe Wright, o que resulta em plano sequência do alto de Los Angeles, gruas impecáveis, com direito a momentos de pura informação visual e sonora, colorida e musical. Filme de narrativa clássica, com música de Beethoven e com momentos de epifania, o que remete ao cinema mais sensorial.
Enquanto “O Solista” e “Abraços Partidos” chegam ao circuito alternativo da cidade (uma força-tarefa, diga-se), o circuito comercial ainda exibe exemplares como Avatar, Alvin & Esquilos e similares, lembrando sempre que o espectador é o maior responsável por idas e não idas a sala escura do cinema, o que acaba se traduzindo em números que nunca mentem, ao contrário da frivolidade desonesta e desinformada.
Cuidado! Há filmes que lotam e não são cinema. Há filmes que não lotam e são puro cinema. Há filmes que lotam e são a afirmação desta arte marcada pela pelo corte e montagem. Maldita e bendita Revolução Industrial.
Por fim, o descaso e o ócio das férias continuam a obstruir a passagem de “Aconteceu em Woodstock”, “A Fita Branca”, entre outros.
Augusto Pacheco
sábado, 27 de março de 2010
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