quarta-feira, 24 de março de 2010

"O FANTÁSTICO SR. RAPOSO" NO CINE ESTAÇÃO

Depois que Coraline e o mundo secreto foi solenemente ignorado pela Academia de Artes (?) e Ciências de Hollywood em favor de “Up - nas alturas” no Oscar 2010, eis que o Cine Estação programa para a o final de março outro preterido na festa da indústria na categoria de melhor animação: O Fantástico Sr. Raposo, de Wes Anderson.
O filme, com animação em stop motion propositadamente desacelerada para passar de qualquer semelhança com a velocidade dos pixels de seus similares, esta animação para adultos pede passagem para se filiar no grupo de animações não destinadas necessariamente ao público infantil, como Wall-e, As Bicicletas de Belleville, A Viagem de Chiriro, Calorine, A noiva cadáver, entre outros. Se pensarmos numa proposta mais radical: Planeta Selvagem, o Homem Duplo, e Valsa com Bashi e Fantasia. E se a proposta for anarquista: Wood & Stock – sexo, orégano e rock and roll, Re bordosa e outros trabalhos disponíveis na rede, o que também vale para os radicais.
Filmes com atores em cena, que podem até se valer de uma suposta perspectiva infantil, chamam atenção pela opção narrativa que dá ênfase aos conflitos psicológicos do duro adolescer e o perigoso (e por rico em símbolos) reconhecimento ou não das fronteiras da imaginação. Aqui, o que vale é a imaginação e capacidade de transpor em imagens a narrativa fabular sob o comando do regente, no caso, o diretor e sua equipe (num paralelo com o maestro e a sinfônica) na realização de filmes como História sem fim e Onde vivem os monstros. São filmes que chegam sob a pretensão do mercado total, ratificando que o cinema não pode ser engessado na direção unívoca do puro e mero entretenimento. É sempre bom pensar que os realizadores, produtores, público sempre querem mais que o mesmo para a própria continuidade e sobrevivência do cinema industrial, este dinossauro onipresente que hoje enfrenta o processo inexorável de downloads e provoca novas discussões sobre o direito autoral e o acesso gratuito à produção cultural.
Wes Anderson é um diretor que sabe muito bem do que estamos falando, pois parece não ter pretensões (pode ser que mude) de ser mais um funcionário das grandes produtoras deslumbrado com o avanço tecnicista impregnado de pretensões demagógicas, num enfeitiçamento da técnica pela técnica, espécie de neo-iluminismo de quinta categoria que embota os olhos do cinéfilo. Há necessidade de provocação que vai além da técnica em Os Excêntricos Tenenbaums, assim como as metáforas visuais de A vida marinha de Steve Zissou.
Depois de O Fantástico Sr. Raposo, é bom ficar com os olhos bem abertos para outro lançamento que se vale do imaginário infantil por meio da fabulação ao afirmar o poder do cinema como arte total: Alice, de Tim Burton.

Augusto Pachêco

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