quarta-feira, 31 de março de 2010

O Segredo da Caixa

William Friese-Greene, inglês que descobriu o cinema no seu país, ganhou um filme em sua homenagem chamado “A Caixa Mágica”(The Magic Box/ 1951). Realmente o cinema nasceu numa caixa. Tanto o Vitascope de Edison como o Cinematographo dos Lumiére, eram caixas. O Kinetoscopio, então, era não só produzido, mas visto em uma caixa.
O filme “A Caixa”(The Box) evoca esta e outras coisas. Um personagem diz que nós vivemos numa caixa, quando morremos somos colocados dentro de uma caixa, e passamos em seguida para outra caixa. Sabe-se que Pandora trazia a caixa onde estavam os males do mundo. Quando esta caixa abriu, a inveja, a violência, as taras diversas, tudo apareceu. E é numa caixa que se mede, segundo o roteiro do diretor Richard Kelly e do escritor Richard Matheson, o tamanho da ambição do ser humano. No filme vindo das cabeças dos dois roteiristas (Matheson desta vez foi só autor do conto “Bottom Bottom” publicado em 1970 visando a série “Além da Imaginação”), uma caixa é oferecida a um casal “modelo”, ela professora ele funcionário da NASA desejando ser astronauta, com um estranho jogo. Se eles apertarem no botão inserido na parte superior ganharão um milhão de dólares e deixarão que morra uma pessoa desconhecida. Se recusarem , tudo bem, o remetente, chamado Steward, vem buscar o objeto.
Mas a caixa chega no momento em que a jovem professora perde o seguro saúde do filho e o marido é reprovado no exame psicológico para ir ao espaço. Nada mais certo do que a mulher apertar o botão. E se morre uma desconhecida, outras desgraças vão cercar o casal que evoca, desta forma, o “pecado da ambição”.
O filme está cheio de insinuações. Até se vislumbra a vida depois da morte para abrir um espaço menos traumático que não vale a pena ser contado aqui.
Não é à toa que se chama “caixa alta” para os ricos, “caixinha” pra quem angaria dinheiro e “caixa dois”para uma maracutaia tão conhecida de nós, brasileiros. Também não é à toa que as coisas difíceis a gente ache que devam Ir “para a caixa prego”.
A idéia de Matheson se inseria na conquista do espaço e naquele sermão de Klaatu, ou seja, o aviso dos ets de que os humanos precisam primeiro a aprender a viver em paz na Terra antes de se aventurar pelos planetas alheios. Kelly foi além, e dissertou sobre a vingança (do dono da caixa, que também foi funcionário da NASA) , a cobiça(capaz de desestabilizar um lar perfeito) e o papel bíblico da Eva que age na frente de Adão (se a primeira mulher colheu a maçã, a do filme aperta o botão da caixa).
O problema é que todo esse corolário de símbolos, com aspectos semelhantes aos sonhos de David Lynch, não ganha uma linguagem de cinema à altura. Mas se ganhasse é possível que não víssemos o filme. Nada melhor para uma charada cinematográfica do que se contar o desfecho. Afinal,“A Caixa” é uma exceção no panorama dos blockbusters. Mas será que o leitor apertaria o botão se o prêmio fosse uma coleção de filmes. De Godard ?(Pedro Veriano)

Um comentário:

Anônimo disse...

O que para mim, torna-se terrível é sempre a analogia sobre a mulher...
A criatividade se tornaria melhor se não tivesse isso...
Ou até seja uma forma de crítica acerca disso...
O que acham?

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