quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Cinemas que acabam

Cinema de rua morreu. O exibidor alega os motivos: praticidade, segurança, custo operacional menos aflitivo, capacidade para mais de uma sala (os chamados multiplexes).
O novo funeral em Belém é do trio da rua S. Pedro: Cinemas 1, 2 e 3. O primeiro e o segundo foram inaugurados no dia 29 de junho de 1978. O último em agosto de 1987. Eu estive presente na geração e no parto. Antes, dirigia um cine-clube e tinha Alexandrino Moreira como referência. Era não só o mecenas, mas o apaixonado pela arte cinematográfica, o bastante para empregar dinheiro de seu bolso na construção de cinemas.
Em principio seria uma sala. Depois, seguindo conselho de um distribuidor de filmes radicado em S. Paulo, o projeto abriu espaço para mais uma. O terreno já era de Alexandrino, na então desprezada S. Pedro, rua de terra batida, cheia de buracos que formavam “piscinas” em época de chuva.
A idéia era tão utópica que a firma criada para construir os cinemas ganhou o nome de Cinema de Arte do Pará Ltda. E eu programei as salas por 1 ano, fazendo até mesmo os anúncios para jornal. Quase as matava com a minha rigidez em passar só clássicos da chamada Sétima Arte.
Felizmente saí em tempo. Veio o meu compadre Hailton Magalhães, que era funcionário da empresa Severiano Ribeiro. A Columbia Pictures passou a ser a base dos lançamentos. O aspecto comercial ganhou tempo e espaço. E muitos sucessos aconteceram, até quando a concorrência passou a racionar os filmes e todos os motivos que maculam uma cidade grande, como a insegurança, foram chegando.
Alexandrino jogou a toalha em 2006. Mas a Moviecom pediu para arrendar as salas e as manteve até 21 de agosto de 2008.
Hoje tudo é história. Mais títulos para o “já teve” de uma Belém que se recicla, que certamente não é mais a mesma de quem, como eu, passou dos 70.
Mas a vida continua. A própria firma Moviecom abriu 5 cinemas na mesma rua, no shopping Iguatemi-Belém. Outro shopping a chegar deve ter mais 7 salas. Cinema persiste. Como dizia Lavoisier, “nada se perdem tudo se transforma”. O que se perde, e isto não foi deduzido pelo pai da química, é o amor por um feito. E é uma coisa tão subjetiva que nem a História grava. (Pedro Veriano).

2 comentários:

Mateus Moura disse...

"De seu corpo desperte paralisado, e você vire uma presa viva de vermes, ratos e baratas. Isto vai acontecer se você não assistir Encarnação do demônio." (Zé do Caixão jogando praga)

esse recado faz parte da minha campanha "Traga o Zé de qualquer jeito".

Ronaldo Passarinho disse...

Domingo que vem é a vez do Paissandu, emblema de uma geração antes da minha, fechar as portas aqui no Rio de Janeiro. O cinema de rua acabou.

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