FIM DE UM TEMPO
Havia uma foto no escritório do Cinema 1 em que apareciam pessoas ligadas ao projeto de 2 salas de exibições e que naquele instante assistiam a cerimônia de colocação da pedra fundamental dessas salas. Podem-se ver o dono do espaço, Alexandrino Moreira, sua esposa Lourdes Moreira Carvalho, os jornalistas Edwaldo Martins, “Mano”Flores, e Rafael Costa, o advogado José Augusto Affonso II (seria juiz do trabalho anos depois), o engenheiro Gelson Silva, o pai dele, Ofir, o cineasta Januário Guedes, e os amigos dos Moreira e críticos de cinema Luzia Miranda Álvares e Pedro Veriano. Do grupo, só restam os três últimos. A maioria está vendo as estrelas mais de perto. Como os cinemas que nasciam.
Não é só nos discursos de presidentes que se diz que “o mundo mudou”. Ontem, cinema era disposto em filas de poltronas quase na horizontal, com os espectadores rezando para que nenhum “gigante” sentasse na sua frente. Hoje o modelo “stadium” põe uma fila em cada degrau de escada. Ontem, o som era mono ou estéreo, percebendo-se mais os agudos na medida em que os operadores que faziam tudo mecanicamente. O “dolby” com suas vertentes para saída de som em caixas laterais exigiu mais dos técnicos e esses culparam a flutuação de energia para dissonâncias como o aumento do som grave a difícil percepção de detalhes. Ontem se podia entrar numa sala pelo meio de um filme e ficar para ver a outra sessão. Hoje os “borderôs” (relatórios do movimento financeiro das casas) são feitos pela Internet, a aferição de ingressos através de códigos de barras, não se podendo dividir público de uma sessão para outra. Ontem era possível ir a uma sessão tarde da noite e sair fagueiro para casa a pé, de ônibus ou de carro particular. Hoje o medo de assalto impede muita gente de fazer programas noturnos de longo alcance. Ontem as distribuidoras de filmes acatavam os exibidores que programavam títulos, datas e horários. Hoje, se um filme está fazendo uma bilheteria compatível com a média estipulada pelo distribuidor ele não pode ser retirado do cartaz. E vice-versa: se um bom filme obteve fraca receptividade na primeira semana de exibições não se tenta uma segunda mesmo sabendo que pode ser descoberto pelo público.
O mundo realmente mudou. A própria industria hoje elimina certos limites entre o que se chamava “comercial” e “artístico”. O nome “cinema de arte” acabou na prática (só os exibidores ainda o consideram). Quem fazia cinema experimental, como, por exemplo, o alemão Werner Herzog, hoje faz trabalhos versáteis como “ O Sobrevivente”. E filmes antes considerados herméticos, hoje são considerados ingênuos.
Belém dos anos 1970 abrigava 4 empresas exibidoras: Severiano Ribeiro, Livio Bruni (que adquiriu a Cardoso & Lopes), Ópera e Cinema de Arte do Pará Ltda. Em 2009 só existem Ópera e Moviecom, este último com sede no sudeste do país.
E o gosto do público é que não mudou tanto. Comédias românticas e aventuras de grande porte de produção ainda atraem. Temas densos são preteridos. A idéia de “diversão” permanece. Com o velho argumento de que “já basta a vida ser difícil para se pensar nisso no escurinho de um cinema”.Argumento que muda um pouco com a juventude mas não desvia gêneros: importa o que seja “legal” (cool). Tendo por isso qualquer ritmo (a música influi) que “badale”, que empolgue.
E amanhã? Bem, amanhã é outro dia...(Pedro Veriano)
domingo, 1 de fevereiro de 2009
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