PARANOIA AMERICANA
“Queime Depois de Ler”(Burn after reading/EUA,2008) é uma volta dos irmãos Joel e Ethan Coen à comédia de erros, linha que trilharam desde “Arizona Nunca Mais”, um de seus primeiros filmes.
O roteiro é a grande estrela do trabalho. Amarra de forma inspirada elementos que traduzem a mania de perseguição que segue o americano médio desde 11/09/2001. Basta citar a seqüência em que George Clooney pensa que Frances McDormand, com quem tem um caso, está ligada a CIA e por tabela à morte de uma pessoa a quem ele, de alguma forma, acabou ligado. Apavorado, afastando-se dela,ele olha para os lados em um parque de Washington (onde se vê ao longe o Obelisco e o Capitólio), pensa que as pessoas o estão observando, ora fotografando, ora filmando, ora simplesmente direcionando olhar, e sai correndo aos gritos. Frances, por sua vez, ao dirigir seu carro, pensa a mesma coisa e vê até no vôo de rotina de um helicóptero um “espia” de seus movimentos.
Toda a parafernália começa quando um agente da CIA (John Malkovich) resolve se despedir e escrever as suas memórias. No bojo disso, ele que está com um casamento em ruínas, faz um inventário de seus bens pesando no divorcio iminente e coloca os dados num CD. Quando ele perde o disco, quem acha, um garotão que trabalha numa academia de ginástica (Brad Pitt excelente), pensa que se trata de dados ligados a espionagem e passa a dica para a colega Frances, que no momento quer dinheiro para fazer cirurgias plásticas impensadas por seu plano de saúde. Os dois começam a chantagear o ex-agente, e como este sabe do que se trata, fica furioso por ser importunado por besteira. Mas quando a chantagem não dá certo, Brad (ou Chad, o personagem) e Frances (Linda) resolvem entregar o CD para os russos. Um diplomata russo sentencia: “- Vocês não são nada patriotas...”
Como tudo se trata de bobagens, o giro das coisas traz o ridículo mesmo quando alguns tipos passam a morrer. Os Coen brincam com essas mortes (que não chegam a ser detalhadas). A violência não cabe numa comédia de erros. Para rir basta a cupidez de alguns, a paranóia social, a instabilidade afetiva em casais desencontrados ou pares que se buscam.
O filme é muito engraçado, bastante engenhoso, e pela construção impecável, mesmo usando de caricaturas (Francês McDormand exagera, assim como George Clooney) lembra as “screwball” do tempo de Cary Grant & Priscilla Lane & Kate Hepburn & Howard Hawks & Leo McCarey e o hoje esquecido imerecidamente Gregory La Cava.
O cinema sempre precisa de comédias inteligentes. Esta é uma delas, valendo como um remédio nos dias de hoje onde as coisas estão sendo levadas muito a sério.(Pedro Veriano).
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
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