O cinema é uma arte ingrata. Sofre a ação do tempo na emulsão da película ou na dissolução das cores quando expresso na forma digital e perde força quando algumas temáticas exemplificam ações restritas a um tempo. Isto sem falar na estratificação da linguagem, com alguns filmes espelhando a data de suas confecções no modo de tratar um drama, uma comédia, até mesmo a exploração documental de um assunto (é sempre bom lembrar que mesmo no documentário o que se vê é o que a pessoa que está com a câmera quer que se veja).
Mas há filmes que ficam retidos na memória. Centros de emoções podem refletir o que se passou em uma data, a lembrança de um momento vivido pelo espectador, ou tocar de tal forma o coração e a mente a ponto de serem lembrados por suas qualidades intrínsecas, seja o tema, seja a narrativa, seja a empatia que o elenco veio a provocar.
Os críticos de cinema de Belém estão devotados, agora, a exibir filmes que marcaram época. Nas diversas fontes onde atuam, programam títulos que mereceram prêmios ou que fizeram filas quando foram lançados nos cinemas da cidade.
“O Corcunda de Notre Dame”(foto),versão de 1939 dirigida por William Dieterle, é um bom exemplo. Ninguém esqueceu Charles Laughton como Quasimodo, o personagem-título. No filme ele termina abraçando uma estátua da monumental igreja francesa dizendo: “-Por que eu não nasci de pedra como tu ?”(Why I din’t born a stone, like you) Isto depois de ter tocado em seu rosto disforme e afirmado: “-Eu sou feio...como o homem da lua!”(I’m ugly... like the man of the moon).
Maureen O’Hara fazendo a cigana Esmeralda é a bela a contrastar com a fera. Se ela acaba nos braços do poeta Gringoire (Edmond O’Brien), contradizendo o livro de Victor Hugo de onde o roteiro do filme se origina, isto não é só perdoado como amado pelo público. O mau Frollo ( Cedric Hardwick) paga com a morte o seu ciúme doentio pela cigana.
A direção de arte, os atores, a cinegrafia, tudo impulsiona o feitiço que este filme gerou em gerações de espectadores. É um desses títulos raros que prosseguem grandes nas revisões.
“A Bela e a Fera”(La Belle et la Bête) é o melhor que o poeta Jean Cocteau fez em cinema. Ele que trabalhou com o surrealismo em coisas como “Sangue de um Poeta”- ou quis passar só o poema para as imagens a exemplo de “Orfeu”, -sublimou a paixão de um monstro por uma linda donzela na linha do conto de fadas de Mme. Leprince de Beaumont. Foi um filme tão lírico que a platéia ficou triste ao ver “a fera” virar um príncipe com a cara de Jean Marais (o amor de Cocteau). Desmentiu-se o que dizia o personagem: “-Pobre de nós as feras que só sabemos sofrer e morrer”(Pour de nous, la bêtes que nous ont soufrir et mourir”).
“Meu Tio da América”(Mon Oncle D’Amerique), de Alain Resnais, está entre o poucos exemplos de narração dramática com base cientifica. Através de exemplos de reflexos condicionados vê-se 3 histórias, seguindo os tipos com um humor inteligente que dilui qualquer resquício melodramático vulgar. É um modelo de linguagem cinematográfica.
“Matar ou Morrer”(High Noon) está entre os grandes westerns. O filme usa do difícil recurso de ação cronometrada, ou seja, o que se vê se passa no tempo em que se está vendo. Gary Cooper é o xerife que recebe um aviso desafiador: bandidos que ele prendeu estão soltos e chegam de trem para matá-lo. E isto acontece na hora de seu casamento. Resta apelas para os amigos mas, nesta hora, os amigos se escondem. Fica o caubói sozinho diante de pistoleiros malvados.
Fred Zinnemann dirigiu esta obra-prima que deu um Oscar a Cooper.
“Morangos Silvestres”(Simultronställe) é Ingmar Bergman dissertando sobre a relatividade da sabedoria. Um velho médico (o cineasta Victor Sjoström)vai receber uma comenda e no caminho lembra de sua vida e carreira com isenção de animo, ou melhor, revisando criticamente a sua postura profissional. Um raro exemplo de abertura no cinema introspectivo do cineasta sueco. Todos entendem o drama do mestre Isaac, que entre pesadelos do passado vê-se reprovado ao examinar um paciente...morto.
E ainda tem um Fellini que os que viram não esqueceram : “Na Estrada da Vida”(La Strada). É aquele filme em que uma garota deficiente é entregue por seus pais a um saltimbanco e corre estradas entre pouco riso e muitas lagrimas. O filme que celebrizou Giulietta Masina, mulher do diretor. E para Anthony Quinn, que fez de tudo em cinema, foi o seu melhor momento.
São filmes realmente duráveis.Estarão nas diversas salas programadas pela ACCPA (Olympia, Libero Luxardo, IAP) Todos rodados em preto e branco, mas com as cores da alma a brilhar na mente de quem os viu ou vai ver. (Pedro Veriano)
Mas há filmes que ficam retidos na memória. Centros de emoções podem refletir o que se passou em uma data, a lembrança de um momento vivido pelo espectador, ou tocar de tal forma o coração e a mente a ponto de serem lembrados por suas qualidades intrínsecas, seja o tema, seja a narrativa, seja a empatia que o elenco veio a provocar.
Os críticos de cinema de Belém estão devotados, agora, a exibir filmes que marcaram época. Nas diversas fontes onde atuam, programam títulos que mereceram prêmios ou que fizeram filas quando foram lançados nos cinemas da cidade.
“O Corcunda de Notre Dame”(foto),versão de 1939 dirigida por William Dieterle, é um bom exemplo. Ninguém esqueceu Charles Laughton como Quasimodo, o personagem-título. No filme ele termina abraçando uma estátua da monumental igreja francesa dizendo: “-Por que eu não nasci de pedra como tu ?”(Why I din’t born a stone, like you) Isto depois de ter tocado em seu rosto disforme e afirmado: “-Eu sou feio...como o homem da lua!”(I’m ugly... like the man of the moon).
Maureen O’Hara fazendo a cigana Esmeralda é a bela a contrastar com a fera. Se ela acaba nos braços do poeta Gringoire (Edmond O’Brien), contradizendo o livro de Victor Hugo de onde o roteiro do filme se origina, isto não é só perdoado como amado pelo público. O mau Frollo ( Cedric Hardwick) paga com a morte o seu ciúme doentio pela cigana.
A direção de arte, os atores, a cinegrafia, tudo impulsiona o feitiço que este filme gerou em gerações de espectadores. É um desses títulos raros que prosseguem grandes nas revisões.
“A Bela e a Fera”(La Belle et la Bête) é o melhor que o poeta Jean Cocteau fez em cinema. Ele que trabalhou com o surrealismo em coisas como “Sangue de um Poeta”- ou quis passar só o poema para as imagens a exemplo de “Orfeu”, -sublimou a paixão de um monstro por uma linda donzela na linha do conto de fadas de Mme. Leprince de Beaumont. Foi um filme tão lírico que a platéia ficou triste ao ver “a fera” virar um príncipe com a cara de Jean Marais (o amor de Cocteau). Desmentiu-se o que dizia o personagem: “-Pobre de nós as feras que só sabemos sofrer e morrer”(Pour de nous, la bêtes que nous ont soufrir et mourir”).
“Meu Tio da América”(Mon Oncle D’Amerique), de Alain Resnais, está entre o poucos exemplos de narração dramática com base cientifica. Através de exemplos de reflexos condicionados vê-se 3 histórias, seguindo os tipos com um humor inteligente que dilui qualquer resquício melodramático vulgar. É um modelo de linguagem cinematográfica.
“Matar ou Morrer”(High Noon) está entre os grandes westerns. O filme usa do difícil recurso de ação cronometrada, ou seja, o que se vê se passa no tempo em que se está vendo. Gary Cooper é o xerife que recebe um aviso desafiador: bandidos que ele prendeu estão soltos e chegam de trem para matá-lo. E isto acontece na hora de seu casamento. Resta apelas para os amigos mas, nesta hora, os amigos se escondem. Fica o caubói sozinho diante de pistoleiros malvados.
Fred Zinnemann dirigiu esta obra-prima que deu um Oscar a Cooper.
“Morangos Silvestres”(Simultronställe) é Ingmar Bergman dissertando sobre a relatividade da sabedoria. Um velho médico (o cineasta Victor Sjoström)vai receber uma comenda e no caminho lembra de sua vida e carreira com isenção de animo, ou melhor, revisando criticamente a sua postura profissional. Um raro exemplo de abertura no cinema introspectivo do cineasta sueco. Todos entendem o drama do mestre Isaac, que entre pesadelos do passado vê-se reprovado ao examinar um paciente...morto.
E ainda tem um Fellini que os que viram não esqueceram : “Na Estrada da Vida”(La Strada). É aquele filme em que uma garota deficiente é entregue por seus pais a um saltimbanco e corre estradas entre pouco riso e muitas lagrimas. O filme que celebrizou Giulietta Masina, mulher do diretor. E para Anthony Quinn, que fez de tudo em cinema, foi o seu melhor momento.
São filmes realmente duráveis.Estarão nas diversas salas programadas pela ACCPA (Olympia, Libero Luxardo, IAP) Todos rodados em preto e branco, mas com as cores da alma a brilhar na mente de quem os viu ou vai ver. (Pedro Veriano)
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