Voltando aos DVDs: continuam chegando às locadoras, filmes não lançados nos cinemas locais. Um destes é “Por Amor” (Personal Effects/EUA,2009), de David Hollander com a veterana Michelle Pfeiffer e Ashton Kutcher. De certa forma uma surpresa. Kutcher interpreta Walter, um jovem treinador de luta livre que se desorienta quando sua irmã gêmea aparece assassinada de forma brutal. O provável assassino é preso e levado a julgamento. Ele torce, assim como sua mãe, Gloria (Kathy Bates), para que este homem seja condenado. Mas não há provas suficientes e o veredicto contraria a expectativa dos parentes da vitima. Por outro lado, o jovem conhece a viúva de homem também assassinado, Linda ( Michelle Pfeiffer), outra pessoa que clama por justiça, alimentando o drama ao criar um filho deficiente de audição e fala. O garoto Clay (Spencer Hudson) ao receber ajuda de Walter através do desporto, se torna visceralmente ligado ao apoio moral e afetivo que este lhe dá. E sensibiliza-se tanto a ponto de tentar associar-se a dor do amigo, vingando-se da não condenação do homicida.
O diretor e roteirista David Hollander adapta convenientemente uma história curta de Rick Moody, usando uma fotografia com predominância de tons sombrios e um sublinhamento musical bastante sóbrio. Mas é nos atores que o diretor consegue firmar o seu trabalho, dando o cunho de realismo (mesmo com um final “arranjado”), que faz do filme um dos bons programas deste ano. Michelle Pfeiffer aos 50 anos demonstra que nada perdeu de talento e charme; o novato Spencer Hudson impressiona no difícil tipo do surdo & mudo. E o mais difícil cabe a Ashton Kutcher, saído de um papel cômico em “What Happens in Vegas”, com Cameron Diaz. Neste filme o ator se esforça para deixar a imagem de um jovem marcado pela morte da irmã, incapaz de tirar da memória a cena do crime. O seu desempenho ganha uma dimensão patética quando ele surge vestido de frango, na rua, divulgando as qualidades de um restaurante. O tipo de publicidade humilha e lhe cai bem na forma como a tragédia familiar o marca, tentando liberar-se no relacionamento com Linda, muito mais madura, mas a lhe dar, até por isso, a necessária experiência.
De um modo geral um bom filme. Podia muito bem ter alcançado o público nos cinemas, mas a distribuição tem razões que a razão, de fato, desconhece. E a prova disso está em outro DVD lançado agora: “Território Restrito” (Crissing Over/EUA, 2009), dirigido por Wayne Kramer. Harrison Ford interpreta um inspetor alfandegário, responsável pela vigilância da imigração. No inicio do filme ele flagra uma adolescente numa fabrica e quer poupá-la de um flagrante, mas um colega também percebe a situação da jovem e leva-a para a prisão até posterior deportação. Este caso tem d desfecho trágico com a morte da personagem, sensibilizando o policial. Há outros casos, cada um deles reforçado por drama íntimo que traduz a esperança que os imigrantes ilegais mantêm em melhorar de vida no novo país. A narrativa é dinâmica embora o acúmulo de personagens e situações a deixe um pouco dispersiva (nem todo mundo tem o mérito de agregar “short-cuts” com dezenas de tipos a exemplo de Robert Altman). Mas há bons momentos e uma visão amarga do que seja a busca por um lugar na sociedade norte-americana.
Somente em DVD o documentário vencedor do Oscar da categoria este ano: “O Equilibrista”(Man on Wire), de James Marsh. Trata do francês que atravessou em uma corda bamba as duas torres do World Trade Center, na década de 1970. O filme concorreu com “Encontro no Fim do Mundo” de Werner Herzog, a meu ver bem melhor.
Outro título que ficou longe dos cinemas foi “A Viagem do Balão Vermelho” (Le Voyage du Balon Rouge/França, 2007) do chinês Hsiao-Hsien Hou. O filme é uma homenagem ao curta-metragem “O Balão Vermelho” (Le Balou Rouge) de Albert Lamorisse (1923-1970) de 1956. O roteiro do diretor e de François Mogolin trata de um menino que passa a ser como que perseguido por um balão vermelho e deixa a sua impressão também com a empregada tailandesa encarregada de lhe tomar conta. O tom poético do filme de Lamorisse não se transfere para este longa, mas há muitas seqüências interessantes que exploram o realismo fantástico. Um verdadeiro campeão de prêmios internacionais.
Apesar de antigo “Mulheres No Front” (Le Soldatesse/Itália, 1965) de Valério Zurlini, diretor de muitos filmes consagrados como “A Moça com a Valise”, “Duas Vidas”(obra-prima que ainda não foi editada em DVD) e “Deserto dos Tártaros”) , não conseguiu distribuição para os cinemas brasileiros. O roteiro de Leonardo Benvenuti, Piero de Bernardi, Franco Solinas e do próprio Zurlini aborda os últimos anos da 2ª.Guerra Mundial quando um grupo de prostitutas é convocado para “distrair” soldados italianos na frente grega. As mulheres tentam se ajudar umas as outras e contam com a generosidade de um tenente interpretado por Tomas Milian. Mas a maioria morre em ataque dos “partisans” (resistentes ao fascismo). No elenco, Lea Massari, Ana Karina, Marie Laforêt e Mario Adorf. Com todas essas estrelas, conhecidas na época, o filme foi ignorado. Hoje pode estar um pouco envelhecido, com detalhes incômodos como a maquilagem das mulheres intocável no meio hostil. Mas é muito interessante e com um ritmo ágil convidativo à qualquer público.
“Legalmente Morto” (Dead Cool/Inglaterra, 2007) é outro inédito nas telonas. Uma comédia bem inglesa (a começar pelas falas), mostrando apenas o quanto o humor britânico difere, hoje, do que era no passado quando empresas como o Ealing Studio de Malcom Balcon produzia comédias como “As 8 Vitimas” (Kind, Hearts and Coronets), e “O Quinteto da Morte”(The Ladykillers). Neste exemplar, escrito e dirigido por David Cohen, um advogado especializado em imigração morre em um desastre deixando dois filhos adolescentes. O mais velho passa a ver o espírito do pai e vai sendo guiado por ele. Nessa condição, o então jovem se opõe firmemente ao novo relacionamento amoroso da mãe com um homem separado e pai de duas meninas. As situações nem sempre se situam como comédia, deixando um teor dramático predominar. Com isso, o objetivo é distorcido e uma visão real dos acontecimentos torna-se anacrônica. Embora também se estenda nas observações de intrigas familiares, mesmo assim há um certo interesse a permanecer nas quase duas horas de narrativa. O elenco tem apenas uma atriz conhecida dos espectadores locais: a norte-americana Rosana Arquette.
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