Imaginem as caravelas de Cabral naufragando (todas) antes de Porto Seguro. A piada de que o Brasil sofre por estar descoberto, pegando sol e chuva, desde 1500, ganha suavidade. Diriam que as alterações na História (com H maiúsculo) é coisa de cinema. Pois é coisa de cinema “Gloriosos Bastardos” de Quentin Tarantino. Neste filme de mais de duas horas de projeção em que a 2ª.Guerra Mundial ganha foro de combate entre cow-boys e índios (nada de Little Big Horn mas de faroeste da Republic Pictures) , Adolf Hitler nem chega a se chamuscar com aquela bomba que se viu em “Operação Valquiria”. O “fueher” morre num cinema francês posto que em cinema deve haver participação do que se projeta com o que se olha, ou seja, a ficção é parte intrínseca da realidade (ou como diria Edmond O’Brien em “O Homem que Matou o Facínora”: “quando a lenda é mais forte que a ficção que se imprima a lenda”).
Os bastardos do titulo são mercenários franceses que desejam vingar as vitimas dos invasores de sua terra. Chefiando-os, um norte-americano chamado Aldo e apelidado de Apache, manda que se escalpe os nazistas aprisionados. Bom “índio” na pele de Brad Pitt. Mas a estrela é o vilão, Cel. Hans Landa,(Christophe Waltz)um oficial nazi conhecido como “Caçador de Judeu” . Estereotipado como deve ser num filme de aventuras, faz toda sorte de maldade e ainda quer tirar o corpo fora quando as coisas pendem para o lado contrário ao seu, tentando puxar o saco dos aliados e acabando cedendo a cabeleira para o mocinho.
Tarantino esboça a cada filme a cultura adquirida na locadora de vídeo onde trabalhou, nos “pulp fictions” que leu, no mundo “pop” que hoje vende ingresso até por efeito mimético. Se “Kill Bill” refletia os filmes de caratê, este “Bastardos...” vai à fonte dos “Doze Condenados” e vê a guerra com ironia. E é por aí que o filme cresce e aparece. O humor por trás da violência, a caricatura pondo para escanteio os tipos históricos, a ação bem jogada (até pelos intervalos de muita conversa), tudo contribuiu para que haja cinema na expressão mais simples do termo (“a mentira 24 vezes por segundo”).
OK, um garoto moderninho depois de ver “Bastardos...” escreve na prova de seu colégio que a guerra contra os alemães terminou em 1944 com Adolf Hitler, Josef Goebbles, Martin Borman e outras estrelas do nazismo virando torresmo num incêndio de fitas velhas (aquelas de nitrato) em território francês. Nada de suicídio em Berlim. Tarantino evitou, por exemplo, que Goeblles incitasse a mulher a matar os filhos menores no “bunker”. Aquilo que se viu em “A Queda” é que é ficção. Se a “tia” der nota zero o menino manda que ela se atualize. Afinal, cinema é o melhor dos “tios”. E quando passa na televisão é também baba.
Cultura e curtura é coisa do Cebolinha. (PV)
domingo, 1 de novembro de 2009
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