quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Por Trás das Câmeras

Em 1952, ano de produção de “Assim Estava Escrito”(The Bad and the Beautiful), Hollywood experimentava a liberdade com a perda da rigidez do Código Hayes,aquela censura interna que modulava os filmes de forma a proibir, por exemplo, amostragem de cama de casal (Frank Capra levou isso na gozação numa cena do seu “Nada Além de Um Desejo”(Hiding High). O público pedia ousadia e o neo-realismo italiano, paupérrimo, começava a faturar como coisa de rico. A idéia de um filme que criticasse o sistema de produção de Hollywood surgiu quando o roteirista Charles Scheer leu um conto de autoria de George Bradshwa publico na “Ladie’s House Journal” o arremedo norte-americano do nosso, então, “Jornal das Moças” (no fim do ano ganhava status de “Anuário das Senhoras” – como se as moças de todo mês casassem antes de dezembro). Nesse conto o chefão (tycoon) de um grande estúdio pedia para uma atriz, um roteirista e um desenhista de produção que ajudassem um produtor antes de renome e hoje amargando o ostracismo num hotel em Paris. A trinca guarda mágoas desse cara. Dentre muitas sacanagens que ele fez, há um empurrão na mulher do roteirista para os braços de um galã mexicano para deixar o maridão trabalhar em paz. O ato rendeu azar: cai o avião em que o par viajava e o roteirista só permanece trabalhando para o produtor até quando este solta a língua e,brincado, conta que”ainda bem” a madame foi passear com o latino. E também a atriz amarga um romance fortuito que o cara alimentou até quando ela lhe servisse como intérprete. A história deu no roteiro premiado com o Oscar do ano. E no filme que Vicente Minnelli dirigiu com aquele talento que tinha (duvidar é meter o rabo entre as pernas vendo “Sinfonia de Paris”, “Sede de Viver” e “Gigi”). A Metro, que na época era a mais festejada fábrica de sonhos, ousou brincar com o seu umbigo. Walter Pidgeon como o dono da bola, digo do estúdio, seria uma espécie de Irving Thalberg; Lana Turner, a imagem da própria; Dick Powell a lembrança de Faulkner e Kirk Douglas, no papel central, um David O. Selznick, inteligente e ambicioso a provar que essas qualidades é que fazem (ou faziam) cinema classe A.
“Assim Estava Escrito”rendeu 5 Oscar e boa renda. Bastou para muita gente seguir a trilha e choveram filmes sobre fazedores de filmes. Um foi radical: “A Grande Chantagem”(The Big Knife) de Robert Aldrich. Neste havia uma cena em que um personagem perguntava:”-Quem faz bom filme aqui ? Stanley Kramer ? “(Kramer era o mais festejado independente, na verdade muito hábil ao dar chance a novos diretores e trabalhar com baixo orçamento).
Mas vale a pena rever hoje o filme de Minnelli. Mostra que os deuses das telas não são como os do Olimpo que geraram os super-heróis dos gibis modernos. A gente que lia Cinelândia e Filmelandia não imaginava Lana Turner fazendo cocô. É claro que Minnelli não chegava a tanto, mas tirava da estrela uma aura de impecável em formosura. A maquilagem conseguia o milagre de fazê-la parecer sem maquilagem. E que prazer ver uma chance à Gloria Grahame (Oscar de coadjuvante), grande atriz sempre relegada a papéis de vamp no desvio. Ela e Gilbert Roland dizem que a turma do segundo escalão pesava muito.
Sei lá, mas o leão da Metro, a partir daí, passou a urrar diferente. Até que ficou rouco.
Ons- "Assim Estava Escrito"será exibido na 3aFeira, dia 24-11 às 18,30 no Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem-av Nazaré esq. de Assis de Vasconcelos. Entrada Franca.Promoção da ACCPA

(Pedro Veriano)

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